Volume 1 – Arco 1
Capítulo 3: Trovões, Relâmpagos e Raios
Depois de decidirem ficar com Mythro, algumas regras foram impostas à Namhr. Sendo Mythro um homem, ele teria que aprender a fortalecer seu corpo e logo cultivar, pois ele teria que trabalhar como qualquer outro na vila, isso é algo que não podia ser discutido.
Ela teria que ensiná-lo a falar, escrever e os costumes das pessoas no abismo.
– Tudo isso será feito pai, agora, Mythro, vamos brincar!
Fashr entrega Mythro no colo de Namhr e ela sai correndo pelo corredor que dá passagem à sala, e eventualmente à saída.
Ela finalmente abre a porta, e dá de cara com um homem.
– Namhr, seu pai está?
– Senhor Mitri. Sim, ele está.
Namhr se vira para ir buscar seu pai, mas o encontra, já atrás.
– Pode sair Namhr, eu resolverei as coisas aqui.
Namhr sem demora então passa da porta e sai correndo pela terra da vila.
– Fashr, como foi a viagem?
– Recompensante. Finalmente poderei pagar aquela velha dívida.
– Eu recebi esta carta ontem. – Mitri tira uma carta do bolso de seu casaco de pele de lobo.
– Sim, eu a mandei, enviei por meio de Josom, um bom homem.
– Ele me entregou com lágrimas nas mãos.
Ambos riem.
– Entre, venha. Krima, faça chá, temos um convidado.
Krima aparece rapidamente na sala e quando confirma quem é o convidado, sai aos fundos para preparar algo no pequeno fogão a lenha.
Fashr leva Mitri até as cadeiras da sala, ambos sentam e começam a conversar.
**
Namhr leva Mythro pelos caminhos de terra e eventualmente outras crianças começam a segui-los.
– Srta Namhr, quem é esse?
– É o Mythro, ele vai morar com a gente.
Eles correm e conversam, cheios de energia.
– Ele não tem as marcas no pescoço!
– Eu ainda vou lhe ensinar.
– Mas nós não somos marcados desde nascença? Como ele ainda não tem?
– Eu não sei, mas não se preocupem, Mythro é homem e vai cultivar para poder trabalhar como todos nós quando crescermos!
– Eu quero cuidar do numial!
– Eu quero caçar animais!
Na vila de Fashr, todos começam a cultivar desde jovens, mas todos tem pouco talento. Então eles se focam nos trabalhos do dia-a-dia. Tudo foi implementado para que eles entendam que trabalhar para melhorar a vila é equivalente a viver melhor e aproveitar melhor a vida.
Namhr, finalmente para quando eles sobem um pedaço de terra vermelha com diversas árvores, e então ela coloca Mythro no chão.
– Primeiro vamos ensinar você a andar!
– Ele não sabe andar?
– Com essa idade?
As crianças começam a rir.
– Parem de rir, Mythro vai tirar isso de letra. Na verdade, eu e Mythro seremos os adultos mais fortes da vila no futuro!
– Isso eu quero ver!
– Hmph!
As crianças então se dispersam e começam a brincar em seus respectivos grupos.
– Mythro, você não pode deixar que ninguém fale assim com você, todos eles são bobos! Vem.
Ela coloca o pequeno Mythro em uma posição ereta e começa a guiá-lo sobre como andar.
Em apenas alguns minutos Mythro já está andando normalmente.
– Isso… Parece que você só tinha esquecido.
– Talvez.
– Hm?
Namhr então começa a encarar Mythro fundo nos olhos, ela olha para ele inteiro e então pergunta:
– Você falou?
– Sim.
– Ora seu!
Ela começa a bagunçar os cabelos dele.
– Namur, para, para!
– Não é Namur, é Namhr, Namhr!
Então gotas de chuva começam a cair.
– O que é isso?
– Chuva, vamos indo.
– Chuva? Machuca?
– Não, mas você pode ficar molhado e se resfriar, e pode pegar alguma doença séria.
– Doença?
– É quando você fica ruim.
– Não to entendendo nada. Por que eu ficaria doente se é algo que vem do céu?
– Ai, você pergunta demais!
Diversos relâmpagos e trovões começam a soar e Namhr pega Mythro pela mão e ambos correm para a casa de Fashr.
– Namhr, Mythro!
Krima já está na porta os esperando. Eles chegam rapidamente e lhe são dados panos para se secarem.
Namhr se vira para o céu e fica olhando os relâmpagos.
– O que foi?
– Veja, Mythro, se um dia virarmos super experts, eu quero praticar o poder de relâmpagos!
– Por quê?
– Porque o sol é uma fonte enorme de luz, que nos faz esquecer de qualquer escuridão. Isso deixa a todos com um sentimento maior de segurança. Mas somente os relâmpagos no céu, em um dia nublado e escuro, que iluminam os caminhos. Eu quero ser uma luz na escuridão, um brilho forte que todos iriam reconhecer, e eu serei aguardada, como a acompanhante da chuva. Eu quero ser os trovões, para intimidar meus inimigos, os relâmpagos que dão luz, e os raios que castigam!
– Então eu também vou ser assim!
– Então vamos nos esforçar!
Namhr ri enquanto abraça o pequeno pescoço de Mythro. Krima olha ambos com grande ternura.
Para Namhr, essas não eram palavras jogadas ao vento, se ela puder ser, ela será. E principalmente para Mythro, ele sente em seu ser que algumas palavras não batem bem em eloquência, mas a vontade de ser os trovões, relâmpagos e raios. Isso é algo que pode ser conquistado.
E assim dois anos se passaram, nesses dois anos toda a vila foi completamente mudada. Mais casas se ergueram, novos materiais, mais fortes e úteis foram comprados para fortalecer a vila e toda sua agricultura e pecuária. Mais jovens conseguiam cultivar e mulheres que antes eram deixadas de lado para tarefas do lar também entraram no ranque de experts de cultivação. Até o momento, somente Namhr conseguia cultivar, pois ela era a que tinha mais acesso ao conhecimento que seu pai tinha em relação a cultivo; livros e histórias que foram passadas de seus ancestrais.
Mythro aprendeu rapidamente a fazer tudo, e logo começou a ajudar na casa de Fashr, pois Namhr não gostava que ele trabalhasse com os outros rapazes e homens, pois eles sempre o irritava por ele só ter aprendido a andar com a altura de alguém de cinco anos.
E Mythro sempre os rebatia com as mesmas palavras.
– Eu serei os trovões, relâmpagos e raios dos céus! Eu serei o mais forte do abismo, junto com Namhr! Vocês vão me reconhecer!
E eles sempre riem dessas palavras.
– Você vai ter que começar a cultivar primeiro né? E isso só vai acontecer daqui a 3 anos, quando você tiver 10 e seu corpinho conseguir aguentar um pouco de energia cósmica.
– Eu já suporto energia cósmica, meu talento é superior! Vejam.
Mythro então se concentra e na sua mão, um pouco de brilho azul transparece.
– Isso!
Todos se assustam, começar a cultivar aos 7 anos, isso é algo que nenhum deles jamais conseguiu fazer!
– Isso só pode ser bruxaria, ninguém do abismo consegue fazer isso, nossos corpos são poluídos pela energia negativa que emana da fenda!
– Eu vim de fora, Namhr me disse que é por isso.
– Sim… você também não tem as marcas de método de cultivação, devia ser impossível, será que você é um meio-humano… um Markho?
– Há boatos que Markhos já nascem com cultivação!
– Verdade, eu nunca vi e nem ouvi ninguém dizer de Mythro cultivando, será que isso já estava dentro dele e ele escondeu de nós?
– Do que vocês estão falando? Eu não sou meio-humano!
– Isso mesmo! Mythro é diferente de nós, mas não é um assassino como os Markhos, parem de confundir o certo e o errado baseado no pouco que vocês sabem!
Uma voz feminina viaja, é Namhr, vindo proteger Mythro.
– Namhr! – Mythro fica alegre ao vê-la, momentos atrás ele tinha ficado muito nervoso com a conversa.
– Srta…
Os outros ficam mais repreensivos.
– Eu não quero mais ouvir vocês falando de Markhos, no abismo não há Markhos e nem jamais haverá!
Namhr então pega no ombro de Mythro e o leva para a casa improvisada pelos dois.
– Tch, embora a Srta diga isso, quem nos garante segurança se ele for?
Ainda assim, quando uma ideia falsa de perigo é implantada em mentes pequenas, elas assombram aqueles poucos cultos.
– O que são esses meios-humanos chamados Markhos?
– Eles são monstros que dividem genes humanos com monstros. O problema não é nem eles serem meio-humanos, mas sim a mente selvagem deles, eles matam tudo o que vêem. Então todos vieram a temê-los.
Mythro fica quieto enquanto escuta, ele se compara aos Markhos.
– Você não é um Markho, embora seu talento para cultivo seja enorme, você não é um assassino.
– Mas… E se um dia eu virar um? Eu vi em algumas lendas que um cultivador deve ascender em meio de muitos corpos.
– O caminho da cultivação é longo, se você matar quem quer te matar, é você o assassino?
– Não!
– Então, se os corpos se amontoarem atrás do caminho que você trilhou, azar o deles, mas se você buscar a morte de boas pessoas por poder, então isto é um outro caso.
– Sim, Namhr!