Dominação Ancestral Brasileira

Autor(a): Mateus Lopes Jardim

Revisão: Bczeulli


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Vila Fashr

A carruagem de Fashr viajou mais algumas horas, durante todo esse tempo, Namhr ficou com Mythro no colo e limpou o sangue de sua cabeça, e a lama de seu corpo. Ela o cobriu eventualmente, pois ao prosseguir do caminho, um congelante frio os ataca.

— Quando chegarmos em casa, eu vou limpar você corretamente, assim está muito perigoso para você pegar alguma doença.

Mythro olha para Namhr e a abraça. Fashr observa e fica quieto.

Eventualmente a carruagem diminui a velocidade.

—  Senhor Fashr, chegamos!

— Ótimo.

Fashr então se levanta na carruagem e abrindo a porta, ele desce.

— Eu voltei, todos!

— Vamos pequeno.

Namhr se levanta com Mythro no colo e também desce da carruagem, rapidamente uma aia chega perto dela.

— Srta Namhr, quem é este?

— Ah, ele é…

— My… thro

Fashr se vira e dá um leve sorriso.

— Ho, ao menos o nome dele ele sabe dizer? Isso não prova que ele tem pais que o nomearam Namhr?

– Hmph! Tire esse sorriso do rosto, não vamos jogá– lo de volta ao vale. Eu vou ensinar a ele tudo, o Senhor pode ficar despreocupado.

— Ora Namhr!

Namhr ignora seu pai e junto com a aia passa pelos portões da vila, fazendo seu caminho em meio da multidão.

Logo alguns homens chegam perto de Fashr.

— Senhor Fashr, quem era aquela criança?

— Encontramos ele no chão, machucado, sua Srta é bondosa e trouxe ele para cá. Ele trabalhará como qualquer um de nós para sobreviver aqui, então não se preocupem com sua entrada em nossa vila.

— Senhor Fashr é justo!

— Sim!

Fashr é um homem sábio, as vilas do abismo, são pobres e dependem muito dos homens que trabalham duro para poder se manter no árduo e frio ambiente.

O frio deste lugar vem de uma fenda com um enorme abismo.

— Senhor Fashr, como foi a viagem?

— Ótima! Eu tinha razão em levar aquelas pedras para a cidade imperial, fomos bem recompensados!

Fashr então tira um saco grande da traseira da carruagem, onde tem um guarda volumes e mostra seu conteúdo.

Diversas notas de diferentes cores são mostradas.

— Senhor… Isso são notas vermelhas de gradães?

— Sim, lá nós vimos a grande fortuna que podia ser feita com aquele pouco de pedra azul. O seu nome é pedra cósmica, é uma acumulação de energia cósmica em pedras que só são solidificadas após muitas dezenas de anos! Seu valor é inestimável, nos rendeu 3 anos de trabalho.

— 3 anos?

Todos os homens ficam espantados.

— Sim, voltem a vila, chamem suas mulheres, filhos, filhas e idosos, hoje, comemoramos! Todas as dívidas serão pagas e tornarei nossa vila mais rica.

— Senhor Fashr!

Todos os homens começam a chorar, vivendo no abismo é uma tarefa árdua, poucos tipos de alimentos conseguem suportar ao frio intenso, sem contar a terra pouco fértil. Os animais vivem doentes devido ao pouco que são alimentados, devido a escassez de comida. Muitos da vila morrem ao comer estes animais, pois preferem arriscar com doenças, do que a fome.

— Vamos! Foi uma viagem longa, nosso povo precisa da gente.

Fashr e os homens então atravessam os portões, que logo se fecham.

No meio da vila, há uma casa, seu formato é o de dois L’s opostos. Esta casa pertence a Fashr, que é o atual líder da vila. No lado esquerdo da casa há uma mulher que espera à tricotar.

— Senhora! Senhora!

Uma aia entra correndo no lado esquerdo da casa à gritar.

— Ora, acalme-se. O que acontece? Você viu o porquê do alvoroço lá fora?

— Senhor Fashr voltou!

A mulher para de tricotar imediatamente e se põe de pé. Ela joga seu trabalho na cama e corre à porta de sua casa.

Quando ela está prestes a abrir, a porta abre, e do outro lado da porta há uma bela jovem, com cabelos negros, porém com as pontas roxas.

— Namhr!

— Mãe!

A senhora não perde tempo e logo abraça a filha, mas muito de seu aperto é mitigado pois há uma criança nos braços de sua filha.

— Quem é este pequeno?

— Mythro! Encontramos ele no chão, na passagem do vale, aquela que pegamos para ir para à cidade imperial.

— Sei… Seu pai concordou com isso?

— Sim e não.

— Ora Namhr!

— Eu vou cuidar dele!

— Eu e seu pai ainda vamos discutir sobre isso.

— Eu não vou abandonar ele, eu que trouxe.

— Ele não é um gato menina, pessoas precisam de muito mais do que simples atenção.

— Eu sei, eu vou cuidar dele, como você cuida de mim, que tal?

A mãe de Namhr suspira e afaga a sua cabeça.

Enquanto elas conversam, a volta de Fashr é muito bem-vinda pelo seu povo, e todos se preparam para poder comemorar. Muitos homens vão às suas famílias e trazem as boas novas.

— As pedras que achamos deram muito dinheiro! Nossa vila vai mudar!

— As dívidas que temos com a vila dos caçadores será totalmente paga, e poderemos melhorar nossa vida aqui na vila!

Naquela noite todos se esbanjaram na amarga bebida, que não traz nem sensação quente ou prazerosa, mas mascarava a fome. Os animais saudáveis foram abatidos, e suas carnes foram ao fogo, para alimentar toda a vila, em sua conquista.

No dia seguinte, Namhr acordava com Mythro nos braços, este que já estava usando roupas limpas e tinha tomado um bom banho.

— Mythro, Mythro. Acorda.

Namhr balança o pequeno em seus braços suavemente, tentando acordá-lo com o menor esforço possível.

Mythro abre os olhos vagarosamente, ele enxerga a jovem ao seu lado e a abraça forte.

— He, está tudo bem, nada vai te fazer mal.

Namhr começa a fazer cafuné nos longos cabelos de Mythro, ela olha fundo em seus olhos, inseguros e ativos, desvendando cada canto da casa, como um bebê.

— Olhos dourados… Você deve ser de alguma raça especial fora do abismo, né?

— Nam

— Você quase falou meu nome! Mas tem som de URN no final, vamos Nam-urn.

— Nam…hr!

De maneira arrastada, Mythro consegue falar.

— Isso, você aprendeu!

Namhr ri contente, e um ar de satisfação e inspiração enche seu peito.

— Vem, vamos andando.

Namhr pula da cama e troca seu vestido de dormir para uma calça laranja e uma camisa preta.

Mythro está vestindo a mesma coisa, só que para seu tamanho. Ele encara o que Namhr faz, mas não desce da cama ainda.

— Vem, vem!

Namhr vai puxá-lo pela mão, só que ele acaba caindo da cama.

— Desculpa, você está bem?

— Namhr!

Uma voz forte atravessa o corredor, do outro lado da casa é possível ver uma figura de um homem magro, porém forte, andando com uma mulher de seu lado.

É Fashr e sua esposa.

— Pai…

Um suspiro sai da boca de Fashr, ele se aproxima e pega Mythro que caiu e está com algumas lágrimas nos olhos.

— Tem que ter mais cuidado com ele, ele deve ter esquecido de como é andar.

Namhr olha para Mythro com um rosto choroso e começa a chorar também.

— Calma pequena, ser mãe é algo que toda mulher tem dentro de si, mas leva tempo para amadurecer esse lado.

— Mas eu não quero ser mãe dele, nós somos que nem… irmãos!

— Somos muito diferentes dele, veja, ele é queimado pelo sol, e tem uma…

Fashr para de falar por um momento e encara a testa de Mythro.

—  O quê? E daí que ele é queimado pelo sol, se eu sair mais um pouquinho eu também fico!

— Marido?

— Ele tem uma marca na testa. Nunca vi nada parecido.

— Talvez um machucado?

— Como eu não posso saber o que é um machucado? Veja, é como duas pedras em fogo colidindo, e então uma explosão. Krima, olhe, olhe!

Fashr então vira Mythro para sua esposa Krima, e tira os cabelos da testa dele.

— Isso… –  Krima fica sem resposta após ver a marca.

— Ele deve ser de alguma raça especial de fora do abismo.

— E isso é preocupante filha, fora do abismo, as pessoas são muito mais fortes do que nós, nosso cultivo é impedido por que temos sangue, ossos e carne suja. Como nos foi falado na capital por diversos experts.

— É culpa do abismo né?

— Sim…

— Mas bem, o clã dele deve ter sido exterminado, os clãs do norte estão sempre lutando por recursos.

— Então ele é órfão?

Os três ficam quietos por alguns instantes, como se decidindo as próximas palavras.

— Vamos ficar com ele.

Fashr e Namhr ficam surpresos, pois é Krima quem finalmente quebra o silêncio.

— E por quê?

— Fashr, eu não sou a mãe verdadeira de Namhr, mas a amo muito. Eu já acolhi uma filha de outra mãe, por que não posso ter um filho também?

Fashr olha para Namhr e então para Krima. Ele então ri um pouco e joga Mythro no ar.

— Então assim será!

Mythro fica super espantado.

 



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