Dívida a Quitar Brasileira

Autor(a): The Mask


Volume 1 – Parte 3

Capítulo 15

Algo, uma vez, se moveu dentro da casa…

Por aqueles corredores estreitos e de madeira polida, suas vestes serpentearam e tatearam o chão, arrastando a pouca poeira ali presente. O ambiente era mal iluminado, sendo a única fonte de luz o pequeno candelabro, folheado a ouro, na mão daquela figura. Seu longo vestido de seda parecia brilhar com o luzir das chamas. 

Os passos que dava eram curtos. Lhe faltava a pressa para retornar a cama e sobrava em seu cerne a vontade de andar. Ansiava por um tempo de pé, distante de tudo, mas seria impossível cumprir a segunda parte deste anseio. 

Presa ali dentro, então, caminhou por vários metros do primeiro andar, andando em círculos e de tempos em tempos, sentando-se nas poltronas da sala ou nas cadeiras da cozinha. Procurava pelos funcionários, quando sabia que eles não mais estariam ali. Limpava o pó dos quadros, mesmo eles mal estando sujos. 

Quando as observou, sobre as chamas que ela produzia, as pinturas pareciam ganhar profundidade, peso e sombra onde nada devia haver. As curvas de seu busto, na pintura feita a sua imagem e semelhança, pareciam maiores e menos humanas. Seus olhos, com a luz avermelhada das chamas, pareciam sedentos por algo e o restante do seu rosto mal podia ser visto com a pouca iluminação, no entanto se enxergava a parte inferior em detalhes — queixo, boca e parte do nariz — como ansiando para dizer alguma coisa. 

Suspirou, agarrando com paciência e familiaridade o candelabro em sua mão. Belo… pensou. A mais simples das descrições para ele, também a mais precisa. 

A mulher voltou a serpentear pela casa, arrastando consigo brasa, cera, poeira e sombras, quando enfim parou diante da porta de entrada. A maçaneta de prata reluziu com perfeição o calor daquelas pequenas chamas. Momento irreal como aquele… pôde até mesmo abrir um sorriso. 

Porém, soando como frangalhos em seu ouvido, vinha vindo uma voz do andar de cima. Grito estridente, unilateral, que ela reconhecia. Caminhou até a escadaria que levava ao segundo andar e, dali, observou o andar de cima, notando os lustres e lampiões ainda acesos, o fogo de seu candelabro tremeluzindo a cada novo berro de seu marido.



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