Volume 2
Capítulo 3: Ensinando no Palácio Interno
— O que, em nome do céu, está acontecendo lá dentro?
— Não faço ideia.
A pergunta viera de Gaoshun; a resposta seca, de Jinshi. Estavam diante de um salão de palestras no palácio interno. Lá dentro, as concubinas de mais alta posição recebiam algum tipo de lição, supostamente para ajudá-las a cumprir suas funções.
Ao redor, eunucos e servas de menor importância, que haviam sido sumariamente expulsos do salão, permaneciam de pé, tão perplexos quanto Jinshi. Alguns até encostavam os ouvidos à porta. Nada desperta mais a curiosidade de uma pessoa do que ser informada de que algo é segredo. Mas afinal, qual poderia ser esse segredo?
Um motivo especial para tamanha curiosidade era o fato da instrutora ser uma jovem criada sardenta. Ninguém sabia dizer ao certo o que ela fazia ali.
Tudo tinha começado cerca de dez dias antes...
○●○
Ainda de pijama, Jinshi observava Maomao limpar, apenas o prelúdio de mais um longo dia de trabalho árduo. — Se está à procura de seu desjejum, a senhora Suiren está preparando ele neste momento — disse ela. Uma pessoa era mais do que suficiente para cuidar da refeição matinal, e enquanto Suiren se encarregava disso, Maomao começava a limpeza do quarto. Qualquer tempo desperdiçado significava não conseguir concluir todas as tarefas do edifício antes do meio-dia. A velha dama de companhia sabia aproveitar muito bem sua nova assistente.
Será que fiz algo para aborrecê-lo? Maomao pensou. Se tivesse feito, provavelmente fora por ter plantado, em silêncio, algumas ervas medicinais no jardim, embora acreditasse que ninguém soubesse disso ainda. Seu coração acelerou, mas então Jinshi disse: — Com a chegada da nova Concubina Pura, o palácio interno solicitou a educação das concubinas.
A Concubina Pura era uma das quatro damas de mais alta posição no palácio interno, título que permanecia vago desde o final do ano anterior.
— É mesmo? — respondeu Maomao sem interesse, enquanto continuava a tirar o pó. Ela esfregava o pano no assoalho com tanta força que parecia se vingar das tábuas como se elas tivessem matado seus pais. Isso fazia parte de sua rotina diária desde que fora designada para servir pessoalmente a Jinshi. Provavelmente poderia executar outras tarefas, mas o serviço doméstico era o único que conhecia, e, francamente, não conseguia imaginar quais outros trabalhos poderia realizar. Assim, realizava as limpezas como se sua vida dependesse disso. Jinshi, por vezes, lhe dirigia olhares de desaprovação, mas Maomao acreditava que, se ele não lhe desse instruções específicas, não tinha obrigação de fazer nada além do que sabia.
Agora Jinshi se abaixava até que seus olhos ficassem no mesmo nível dos dela. Ele segurava um tipo de pergaminho. — Elas querem uma professora.
— Ah, é? Já têm alguém em mente?
— Você.
Maomao lançou a Jinshi um olhar fulminante. Talvez não fosse apropriado que uma criada olhasse para seu empregador como se enxergasse sujeira em um canto, mas velhos hábitos são difíceis de mudar. O gesto provocou uma expressão enigmática em Jinshi.
— Bela piada, senhor.
— Quem está brincando? — Jinshi mostrou a ela o pergaminho que segurava. A expressão de Maomao ficou sombria ao lê-lo, pois o que estava escrito ali era muito inconveniente. Na verdade, ela gostaria de fingir que o documento não existia.
— Não adianta tentar se livrar fingindo que não leu.
— O que quer dizer?
— Vi você lendo agora mesmo.
— Foi imaginação sua, asseguro-lhe.
Jinshi desenrolou o pergaminho e apontou justamente para a parte mais inconveniente, empurrou a carta na direção de Maomao. Teimoso como sempre.
— Veja aqui. Um pedido direto.
Maomao permaneceu em silêncio. As palavras “Concubina Sábia, Lihua” pairavam bem ao lado do dedo de Jinshi.
Agora ela fez isso, pensou Maomao. — Não conte comigo — disse apenas, e assim, por aquele dia, o assunto foi encerrado. Mas não duraria muito...
No dia seguinte, outro pergaminho chegou com o mesmo pedido. Desta vez, o pedido vinha da Concubina Gyokuyou. Com duas das grandes concubinas assinando tais solicitações, nem mesmo Maomao poderia ignorá-las. Era fácil imaginá-la, a concubina de cabelos vermelhos, rindo alegremente sozinha. Desta vez, o pedido ainda estipulava que seria pago um honorário adequado.
[Kessel: Amo a Gyokuyou. Ela SEMPRE se diverte às custas da Maomao e do Jinshi. kkkkk]
Maomao, embora a contragosto e entre muitos suspiros, resignou-se. Enviou então uma carta para casa, um passo necessário nos preparativos para a tarefa que lhe havia sido imposta. Por “casa”, não se referia a Luomen, mas às cortesãs que haviam sido como família para ela.
Dias depois, chegaram os itens que solicitara, acompanhados de uma fatura da senhora do bordel. Maomao achou que a velha inflou seriamente o preço, mas, ainda assim, acrescentou discretamente um zero a mais antes de entregar a conta a Jinshi. Ele examinou o papel e parecia prestes a aceitar o valor, quando Suiren surgiu do nada e comentou com um risinho: — Acho que a tinta desse número tem um tom ligeiramente diferente do restante. Ela tomou a fatura das mãos de Jinshi e a devolveu a Maomao.
Velha astuta, pensou Maomao. Enquanto Suiren estivesse por perto, seria difícil enganar seu jovem mestre protegido. Sem escolha, Maomao teve de admitir o preço original. Se quisessem, Jinshi e Suiren poderiam alegar que ela mesma deveria arcar com as despesas; por isso, ficou até satisfeita quando eles pagaram sem reclamar.
Quando os itens das cortesãs foram entregues, Maomao praticamente empurrou Gaoshun para o lado e os pegou pessoalmente. Jinshi, curioso como um cãozinho intrometido, queria espiar o conteúdo, mas ela recusou-se a romper os lacres; requisitou rapidamente uma carroça e levou tudo embora.
— Quer que eu a ajude? — perguntou Gaoshun. Mas Maomao recusou educadamente, levando as aquisições para seu quarto. Jinshi exigiu ver o que ela recebera, mas ela arregalou os olhos e o fitou fixamente até que, após um momento, ele se retirou em silêncio.
Não podia, de forma alguma, mostrar-lhe o seu material de ensino. Maomao havia decidido: se era para fazer aquilo, faria direito.
Finalmente, o dia chegou. Pela primeira vez em muito tempo, Maomao pisava novamente no palácio interno. O suave perfume feminino que impregnava o lugar lhe pareceu estranhamente reconfortante.
O salão preparado para a aula era, na verdade, bem grande, capaz de acomodar algumas centenas de pessoas. Antes servira de dormitório para criadas, durante o reinado do imperador anterior, quando a população do palácio havia crescido tanto que não se construíam aposentos individuais com rapidez suficiente. Agora, porém, estava praticamente em desuso. Seria um desperdício deixá-lo vazio, mas seria desperdício ainda maior derrubá-lo. Muitos edifícios assim pontilham o palácio interno.
Não preciso de todo esse espaço, pensou Maomao. Não ensinaria nada de extraordinário, então por que tamanha plateia? Concubinas de posição média e inferior, acompanhadas de suas comitivas, praticamente cercavam a sala de aula, enquanto várias criadas espiavam de longe.
O tema da instrução, naquela ocasião, era de grande importância para as concubinas. De certo modo, poderia até influenciar o futuro do império. Mas, para Maomao, tudo aquilo não passava de motivo para um suspiro prolongado.
— Muito bem, escutem — anunciou Jinshi. — Apenas as concubinas de alto escalão receberão instrução.
Era de se esperar que as concubinas de menor posição ficassem desapontadas, mas, ao contrário, muitas pareceram satisfeitas por simplesmente vislumbrar Jinshi. Ao menos metade parecia ter vindo apenas para vê-lo ou ouvi-lo. Agarravam-se a colunas e corrimãos, em cenas que para Maomao soam exageradas, mas não eram poucas as que faziam isso. Às vezes, ela se perguntava se aquele eunuco não seria algum espírito maligno que enfeitiça quem estivesse à sua volta.
Quando o momento chegou, Maomao entrou no salão e percebeu Jinshi andando bem atrás dela. Ela cerrou os dentes e lançou-lhe um olhar com raiva. — O que foi? — ele perguntou. Maomao simplesmente o empurrou para fora. Seu corpo esguio escondia a força necessária para colocá-lo porta afora.
— Mas por quê?
— Porque o que ocorrerá aqui é secreto, confidencial, e absolutamente não destinado a estranhos. Fui encarregada de instruir as concubinas honradas e, da última vez que verifiquei, Mestre Jinshi, o senhor não era uma delas.
E fechou a porta, trancando-a.
Respirou fundo e lançou um olhar avaliador ao salão. Havia nove pessoas: as quatro grandes concubinas, cada qual com uma dama de companhia, e Maomao.
Um murmúrio audível vinha do outro lado da porta. Sem dúvida por ter expulsado Jinshi. A sensação clara era de que alguém, ou vários, se esforçavam para escutar.
Maomao empurrou seu carrinho para o centro da sala e inclinou a cabeça. — Minhas cordiais saudações a vós, ilustres senhoras. Eu, Maomao, humildemente me apresento como sua instrutora.
A concubina Gyokuyou, bela como sempre, acenou amigavelmente. Sua dama de companhia, Hongniang, observou a cena com desconfiança.
A concubina Lihua havia enfim recuperado boa parte da antiga vitalidade, e observava Maomao com serenidade. O mesmo não podia ser dito de sua dama de companhia, cujo rosto se contorceu ao ver Maomao. Maomao saboreou o momento.
Já a concubina Lishu exalava o mesmo ar de nervosismo de sempre. Sem dúvida se esforçava em meio às três outras grandes concubinas. Sua dama de companhia não parecia mais à vontade do que a própria senhora, mas a determinação em protegê-la trouxe um sorriso ao coração de Maomao.
Por fim, a última das grandes concubinas. Um rosto que Maomao nunca vira. A jovem que substituíra uma das antigas concubinas de alto escalão tinha idade próxima à de Maomao. Era Loulan, a nova Concubina Pura. Seus cabelos negros estavam presos no alto, adornados não com um grampo, mas com a pena de uma ave das terras do Sul. Seu vestido sugeria tratar-se de uma princesa das regiões do Sul, embora seus traços fossem mais característicos do Norte. Sua dama de companhia também aparentava o mesmo, o que levou Maomao a concluir que o traje era apenas uma escolha pessoal.
Loulan não era tão sedutora quanto Gyokuyou, nem tão deslumbrante quanto Lihua. Diferente de Lishu, tinha idade apropriada para compartilhar o leito do imperador, mas, ao menos por ora, não parecia ameaçar o delicado equilíbrio do palácio interno.
Aquele traje, contudo, tornava-a a mais chamativa das quatro concubinas. Em especial, a maquiagem, que acentuava os cantos dos olhos de tal forma que era impossível dizer como eram de fato. Maomao não conseguia sequer imaginar a aparência da concubina sem maquiagem.
Não que isso importasse para mim.
Concluída a apresentação, Maomao retirou de seus materiais uma pilha de livros e os distribuiu, um para cada concubina. Cada uma reagiu de forma distinta: olhos arregalados, risadinhas, bochechas ruborizadas, sobrancelhas franzidas. Era o esperado, pensou Maomao. Em seguida, exibiu uma coleção de instrumentos. Metade dos presentes olhou para eles com confusão, enquanto a outra parecia saber muito bem para que serviam. Algumas, sem certeza, arriscaram adivinhar, e coraram.
— Desejo ressaltar que o que vou lhes ensinar são segredos comerciais do jardim das mulheres, e não devem ser revelados para pessoas de fora — disse Maomao. Então instruiu suas alunas a abrirem os livros na página três.
Duas boas horas depois, a aula finalmente chegava ao fim. Talvez eu tenha tentado abordar coisas demais de uma vez, refletiu Maomao; até ela estava um pouco exausta. Aproximou-se da porta e retirou a tranca.
— Demorou bastante. — O belo eunuco entrou, bastante à vontade. Parecia levemente aborrecido, e por alguma razão sua bochecha e orelha esquerdas estavam vermelhas. Maomao, ao menos, teve a gentileza de não acusá-lo abertamente de estar bisbilhotando.
Jinshi observou o ambiente com mudo espanto.
— Há algum problema, senhor?
— Você tirou as palavras da minha boca — disse ele, fitando-a de perto.
— Receio não compreender do que está falando. — Ela apenas havia instruído as concubinas com as informações necessárias, como foi solicitado a ela. Quanto às reações individuais, foram as seguintes:
Gyokuyou estava animada. — Finalmente, alguns truques novos — ela dizia. Hongniang a acompanhava com a costumeira expressão de cansaço. Às vezes parecia lançar olhares hostis a Maomao, mas a instrutora preferiu ignorar.
As bochechas de Lihua estavam ligeiramente coradas, mas seu dedo percorria as páginas enquanto revisava a lição. Parecia bastante satisfeita. Sua dama de companhia, vermelha como um tomate, mantinha os olhos fixos no chão, trêmula.
Lishu encontrava-se em um canto da sala com a testa encostada na parede, murmurando: — Eu não posso. Eu não conseguiria. É impossível! — Todo o sangue havia sumido de seu rosto. Sua acompanhante, recentemente promovida a dama chefe (que Maomao acreditava reconhecer como a antiga provadora de alimentos de Lishu), afagava-lhe as costas em consolo.
Loulan, por sua vez, permanecia distante, encarando o vazio. Maomao não podia adivinhar o que pensava. Sua dama de companhia, sem saber o que fazer com o livro, acabou, mesmo envergonhada, embrulhando-o em um pano.
Não me importa o que façam com isso, pensou Maomao, enquanto guardava seus pertences e aceitava um copo de água fresca. Suspirou. Estava cansada, mas a lembrança do envelope de pagamento amenizava o peso da fadiga.
Cada uma das concubinas pôde ficar com o material recebido. Algumas o seguravam com carinho; outras, com evidente receio. Em todo caso, Maomao insistiu para que os embrulhassem em panos de viagem, de modo a não serem vistos, e repetiu que não deveriam ser mostrados a ninguém. Jinshi e os outros, mantidos de fora da aula, observavam, intrigados.
— Afinal, o que exatamente você ensinou a elas? — perguntou Jinshi.
Maomao não o olhou diretamente para ele, mas sim para algum lugar atrás dele. — Da próxima vez que você ver o Imperador, pergunte o que ele achou da minha aula.
Quanto ao conteúdo da aula, ela deixaria isso para a imaginação de Jinshi.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios