Volume 1
Capítulo 28: Mel (Parte 2)
— Admito que a brincadeira do mestre Jinshi tenha ido um pouco longe demais, mas foi realmente apenas uma travessura. Talvez consiga encontrar em seu coração um meio de perdoá-lo? — disse Gaoshun, conduzindo Maomao até o Pavilhão de Diamante, onde vivia a concubina Lishu. Seu mestre já havia sido duramente repreendido no Pavilhão de Jade pelo incidente em questão.
— Muito bem. Se o senhor lamber no futuro, mestre Gaoshun, não prevejo nenhum problema.
— L-lamber... — Gaoshun pareceu dividido. Suas inclinações eram, por assim dizer, bastante modestas, e ele não tinha a menor disposição para lamber coisa alguma das mãos de outro homem, nem mesmo de Jinshi.
— Se entendeu o que quero dizer, então basta isso. — Maomao, de lábios cerrados, seguiu à frente em um passo apressado.
O homem era um pervertido impertinente. Um rosto tão bonito para uma personalidade tão repulsiva. Maomao tinha certeza de que ele já havia enganado inúmeras outras pessoas com o mesmo truque. Descarado: essa era a palavra que melhor o descrevia. Se ele não fosse tão importante, ela teria seriamente considerado lhe dar um chute entre as pernas. Ficava um pouco mais satisfeita ao pensar que não se podia chutar o que não estava lá.
Por fim, chegaram ao Pavilhão de Diamante, um edifício novíssimo, adornado com auspiciosos bambus nantian que são símbolos da sorte.
A concubina Lishu os recebeu vestindo um traje rosa-cereja, o cabelo preso por um grampo decorado com ornamentos florais. Maomao achou que o conjunto juvenil lhe caía muito melhor do que a elaborada vestimenta usada na festa no jardim.
Depois que a concubina Gyokuyou se envolvera, Maomao solicitara uma audiência com a concubina Lishu, na esperança de esclarecer algo que vinha lhe incomodando.
Lishu não se preocupou em esconder a decepção ao perceber que Jinshi não estava com eles. Era até difícil culpá-la, afinal, ele ao menos tinha aquele rosto bonito.
— Posso saber o que deseja me perguntar? — Lishu recostou-se em uma chaise longue, ocultando a boca atrás de um leque de penas de pavão. Faltavam-lhe a autoridade e a presença das outras concubinas; na verdade, parecia até nervosa. Ainda era tão jovem. Sim, era bela, não a chamavam de “princesa adorável” à toa, mas ainda não havia alcançado a plenitude de sua feminilidade. De fato, era até mais reta que Maomao, que era magra como um frango.
Duas damas de companhia permaneciam apáticas atrás da concubina. A princípio, Lishu olhou para a mulher sardenta e desconhecida com irritação, mas então pareceu reconhecer Maomao como uma das damas que estiveram na festa no jardim. Seus olhos se arregalaram, e seu humor pareceu melhorar um pouco.
— A senhora não gosta de mel? — Teria sido igualmente adequado começar com alguma gentileza ou conversa fiada, mas aquilo seria cansativo, então Maomao dispensou as formalidades.
Os olhos de Lishu se arregalaram ainda mais. — Como soube?
— Estava claro no seu rosto. — Qualquer um com olhos poderia ter percebido, pensou Maomao. A concubina Lishu parecia cada vez mais impressionada. Maomao raramente encontrava alguém tão fácil de ler. E prosseguiu: — Alguma vez ficou enjoada por causa do mel?
A concubina Lishu pareceu ainda mais surpresa, o que Maomao tomou como um “sim”. — Não é incomum que uma pessoa que sofreu intoxicação alimentar desenvolva aversão ao alimento que lhe causou isso.
Dessa vez, Lishu balançou a cabeça. — Não é isso. Eu não me lembro. Eu era apenas um bebê na época. — Quando ainda era um bebê, Lishu quase morrera por causa de um pouco de mel. Hoje, tinha dificuldade em comê-lo porque, durante toda a sua vida, suas amas e damas de companhia haviam lhe dito para evitá-lo.
— Escute, sua pequena atrevida — disse uma mulher, com grosseria. — Como ousa entrar aqui e começar a interrogar a senhora Lishu?
“Olha quem fala”, pensou Maomao. A mulher estivera na festa do chá; era uma daquelas que não fizera o menor esforço para ajudar sua senhora, que detestava mel. Não finja que agora é amiga dela.
As damas de companhia pareciam ter um truque simples: tratavam os visitantes como vilões, fingindo defender a concubina Lishu. A jovem ingênua acabava acreditando que havia inimigos por toda parte. Suas criadas asseguravam-lhe que elas, e somente elas, eram seus aliados, e assim a isolavam. Então, a concubina não tinha escolha a não ser depender de suas damas. Era um ciclo cruel. E, enquanto a concubina não percebesse que tudo vinha da malícia de suas damas, ninguém jamais descobriria. As mulheres simplesmente cometeram o erro de se tornarem excessivamente confiantes na festa do jardim.
— Estou aqui por ordem do mestre Jinshi. Se você tem algum problema comigo, aconselho que resolva diretamente com ele — disse Maomao, emprestando, por assim dizer, a ameaça de um tigre, ao mesmo tempo em que dava às mulheres algo em que pensar. Certamente, ao menos isso ela poderia fazer.
Os rostos das damas estavam queimando de vergonha, e Maomao se divertia imaginando que pretexto usariam para se aproximar do pervertido eunuco.
— Mais uma coisa — disse Maomao, mantendo a expressão cuidadosamente neutra enquanto voltava o olhar para Lishu. — Você conhece a chefe das damas de companhia do Pavilhão de Granada?
O olhar chocado da concubina foi toda a resposta que ela precisava.
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— Há algo que eu gostaria que você procurasse — disse Maomao a ele, e foi isso que levou à presença de Gaoshun nos arquivos do palácio.
Maomao, uma dama de companhia no palácio interno, em princípio, não tinha permissão para se afastar de seu posto. Mas parecia ter descoberto alguma coisa: o que poderia ser? A profundidade de seu raciocínio e sua cabeça fria não pareciam as de uma garota de apenas dezessete anos. Chegava a dar a impressão de que tal capacidade de pensar racionalmente e resolver problemas era um desperdício vergonhoso em uma menina. (Embora alguns, com certas inclinações, pudessem discordar.)
Um peão tão fácil de usar. Se ao menos ele simplesmente o fizesse. Ela iria cooperar, embora talvez apresentasse uma ou duas objeções simbólicas.
Quem era “ele”? Quem mais? O mestre de Gaoshun, que não era tão maduro quanto aparenta à primeira vista.
— Fui negligente — murmurou Gaoshun. Talvez devesse ter interrompido seu mestre antes que aquela piada fosse longe demais. Mas o que ele poderia ter feito? Teria parado Jinshi e então... o quê?
Ao recordar o olhar ameaçador de Maomao, preocupou-se que ela ainda tivesse algo reservado para ele mais tarde. Gaoshun tocou a linha do cabelo, começando a se inquietar com a possibilidade.
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Maomao sentou-se na cama de seu quarto, folheando as páginas de um livro. O espaço apertado abrigava um braseiro e um almofariz com pilão para preparar remédios, enquanto algumas ervas secas pendiam da parede. Algumas das ferramentas ela conseguira arrancar de Gaoshun, outras “tomou emprestadas” do consultório médico.
— Dezesseis anos atrás, hein... — murmurou. Mais ou menos na época em que o irmão mais novo do Imperador nasceu.
Maomao segurava um livro encadernado, adquirido por Gaoshun para ela. O volume relatava os acontecimentos no palácio interno.
O imperador atual tivera apenas um filho enquanto ainda era herdeiro aparente. A mãe da criança era a então irmã de leite do príncipe, a futura concubina Pura. Mas o bebê morreu antes de ser desmamado, e o príncipe não teve mais descendentes até depois da morte de seu pai e da reorganização do palácio interno.
Ele teve apenas uma concubina durante todo o seu principado. Maomao achou isso estranho. Conhecendo aquele velho tarado, teria esperado que ele tomasse um bando de concubinas. Mal podia acreditar que ele fora fiel a uma mulher por mais de dez anos. Isso apenas provava que não se podia confiar em boatos; o melhor era conferir os registros pessoalmente.
Dezesseis anos atrás.
Uma criança morta na infância.
E...
— O médico da corte, Luomen, banido. — Maomao conhecia esse nome. O sentimento que a invadiu não foi exatamente surpresa, mas uma sensação de que algumas peças finalmente se encaixavam. Em algum nível, ela já suspeitava que algo assim devia ter acontecido.
Maomao fazia uso frequente das diversas ervas que cresciam ao redor do palácio interno. Elas não estavam ali naturalmente, alguém, sempre presumira, as havia plantado. Ela conhecia uma pessoa que cultivava uma variedade de ervas ao redor de sua casa.
— Eu me pergunto o que meu velho está fazendo... — pensou, lembrando do pai, que mancava ao andar como uma mulher idosa. Um praticante tão habilidoso e conhecedor, desperdiçado vagando pelo Distrito dos Prazeres.
De fato, o mentor de Maomao em medicamentos fora um antigo eunuco do palácio, sem osso em um dos joelhos.
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