Vol 1
Capítulo 17: A Festa no Jardim (Parte Dois)
A celebração aconteceu em uma área de banquete montada nos jardins centrais. Tapetes vermelhos foram estendidos por grandes pavilhões a céu aberto, e duas longas mesas foram colocadas uma em frente à outra, com os assentos de honra em cada extremidade. O próprio Imperador ocupava o lugar central, tendo a Imperatriz Viúva de um lado e o irmão mais novo do Imperador do outro. No lado leste da mesa estavam sentadas a Consorte Preciosa e a Consorte Virtuosa, enquanto no lado oeste estavam a Consorte Sábia e a Consorte Pura. Para Maomao, aquele arranjo parecia ter sido deliberadamente projetado para provocar desavenças. Era algo que só poderia alimentar ainda mais as rivalidades entre as “quatro damas” de Sua Majestade.
Com a morte do jovem príncipe, o irmão mais novo do Imperador agora era o primeiro na linha de sucessão. Embora ele fosse, assim como o soberano, filho da Imperatriz Viúva, parecia raramente aparecer em público. Um assento de honra havia sido preparado para ele, mas estava vazio. Diziam que, frequentemente doente, quase nunca deixava seus aposentos e não desempenhava funções oficiais.
As explicações variavam: alguns afirmavam que o Imperador tinha grande afeição por seu irmão bem mais novo e preferia mantê-lo em paz, em nome da saúde; outros acreditavam que era uma forma de isolá-lo propositalmente; havia ainda quem dissesse que a própria Imperatriz Viúva, excessivamente protetora, não permitia que o jovem saísse.
De todo modo, nada disso tinha qualquer relação com Maomao.
A comida só seria servida após o meio-dia; por ora, os convidados se entretinham com apresentações musicais e danças. A Consorte Gyokuyou estava acompanhada apenas por Hongniang; salvo se houvesse alguma ordem especial, as outras damas de companhia permaneciam atrás de uma cortina, à espera de instruções.
A Imperatriz Viúva embalava a pequena princesa nos braços. A mulher exalava uma classe e uma beleza imutável que se destacava até mesmo diante das quatro consortes reunidas. Tão jovem parecia, que, sentada ao lado do Imperador, poderia facilmente ser confundida com a própria esposa de Sua Majestade.
E a Imperatriz Viúva era, de fato, relativamente jovem. Quando Yinghua contou a Maomao a real idade dela — e quando Maomao fez as contas, comparando com a idade do atual Imperador para deduzir quantos anos sua mãe tinha quando o deu à luz — foi o bastante para deixá-la profundamente desconfiada do soberano anterior. Havia aqueles com uma estranha inclinação que os levava a preferir meninas muito jovens — mas como reagir quando o próprio governante tinha tal predileção? De todo modo, a Imperatriz Viúva suportou tudo e deu à luz ao filho; só por isso, Maomao a respeitava.
Enquanto pensava nisso, uma rajada de vento soprou. Ela estremeceu. "Nem uma tenda eles se preocuparam em montar?", pensou. A cortina atrás da qual estava era apenas o suficiente para esconder as damas de companhia, mas não servia para bloquear o vento. E se Maomao e as outras criadas, mesmo com suas pedras aquecidas, sentiam frio, quanto pior não estaria sendo para as damas das outras consortes? Muitas tremiam visivelmente, algumas já ficando de pernas juntas. Não parecia haver nenhum problema em se retirar para o toalete naquele momento, mas talvez houvesse certas aparências que precisavam ser mantidas sob o olhar das demais.
Era um problema, esse impulso das damas de companhia de travar batalhas indiretas em nome de suas patroas. E como as damas-chefes estavam ocupadas ao lado das consortes, não havia quem controlasse as subordinadas.
Naquele momento, era como se houvesse duas pinturas opostas: uma poderia se chamar "As forças de Consorte Gyokuyou contra as de Consorte Lihua", e a outra, "As forças da Consorte Pura contra as da Consorte Virtuosa". Vale lembrar que o "exército" de Gyokuyou tinha apenas quatro mulheres, menos da metade das adversárias. A desvantagem era clara, mas Yinghua se esforçava para compensar.
"O que foi? Simples? Você é burra? Damas de companhia existem por uma razão: servir sua senhora. De que adianta ficarem se exibindo e fazendo pose?"
Aparentemente, a discussão girava em torno das roupas. As damas em frente a Maomao e Yinghua serviam a Consorte Lihua e, por isso, seus trajes eram em tons de azul. Eram vestidos repletos de babados e acessórios, chamativos e muito mais espalhafatosos do que o conjunto simples da comitiva de Gyokuyou.
"Você é que é burra. Se uma dama não se veste bem, isso mancha a reputação da sua senhora. Mas também, o que esperar de alguém que contrataria uma desajeitada dessas?" As meninas do Pavilhão de Cristal soltaram risadinhas.
Acho que estão zombando de mim. O pensamento surgiu em Maomao quase como se fosse sobre outra pessoa. Sem dúvida, ela era a “desajeitada” em questão. Sabia muito bem que, pelos padrões do palácio traseiro, não passava de uma moça comum, sem nada que chamasse a atenção.
A orgulhosa jovem que fazia tais declarações era a mesma que já havia desafiado Maomao antes. Tinha presença e voz firme, mas sem nenhuma substância por trás: vivia repetindo “Vou contar para o meu pai!”. Para calá-la, Maomao a havia encontrado sozinha certa vez, encostado-a contra a parede, colocando o joelho entre suas pernas e roçando de leve a nuca dela com um dedo. "Ótimo. Então vamos deixar você envergonhada demais para contar qualquer coisa." Depois disso, a menina passou a manter distância.
Acho que o distrito da luz vermelha me deu um senso de humor um tanto peculiar.
Mas era um humor que claramente não funcionava com jovens nobres e protegidas demais. Agora, a garota sempre se afastava de Maomao, estremecendo como se tivesse medo do que poderia acontecer em seguida. Ingênua demais para entender uma piada como piada.
"Vejo que ela não está aqui. Imagino que a tenha deixado para trás. Uma boa escolha. Seria humilhante para a consorte ter ao lado uma criatura tão horrenda. Tenho certeza de que ela não ganharia nem mesmo um simples adereço de cabelo."
A criada aparentemente não tinha percebido que falava da própria Maomao.
Que indelicadeza. Depois de termos trabalhado juntas por dois meses...
Duas mulheres precisavam segurar Yinghua com força para evitar que ela se atirasse sobre a atendente insolente, e Maomao pensou que talvez fosse hora de encerrar aquela pequena disputa. Ela deu a volta, posicionou-se atrás de Yinghua e levou a mão ao rosto, escondendo o nariz, antes de encarar as jovens de azul. Uma delas a olhou desconfiada, reconheceu quem era, empalideceu e começou a cochichar para a outra. Com a mão cobrindo o nariz, perceberam que era Maomao mesmo sem as sardas.
A notícia correu entre as criadas como num jogo de sussurros, até chegar à jovem altiva da frente. O dedo que ela apontava de forma arrogante começou a tremer, e sua boca ficou entreaberta. Seus olhos encontraram os de Maomao.
Finalmente me notou, hein?
Maomao abriu seu sorriso mais largo, que para as damas de Lihua parecia o de um lobo encurralando a presa.
"Ah—Ah, ahh, cof cof!" A mulher estava tão atônita que mal conseguia formar palavras.
"Sim? O quê?" disse Yinghua, sem perceber que Maomao estava logo atrás dela sorrindo. A repentina docilidade da dama de companhia a deixou confusa.
"E-e-eu acho que já chega por hoje. S-só fique feliz que estou deixando passar."
Com essa despedida quase incoerente, a jovem disparou em direção ao outro extremo da área com cortinas. Havia vários espaços disponíveis, mas ela fez questão de escolher o mais distante de Maomao e das outras criadas de Gyokuyou. Maomao olhou para Yinghua e as demais, que a observavam de boca aberta. Engraçado. Ainda dói.
Yinghua recuperou a postura e então notou Maomao. "Ahh, eu sempre soube que ela era uma bruxa. Sinto muito que você tenha escutado aquilo. Que coisa horrível dizer sobre alguém tão doce." Sua voz soava realmente arrependida.
"Não me incomoda", respondeu Maomao. "De qualquer forma, você não quer trocar seus aquecedores de mão?"
E de fato, não a incomodava; não havia problema algum. Mas Yinghua continuava a franzir a testa, lançando olhares de pena.
"Não, tudo bem. Ainda estão quentinhos. Mas... não consigo deixar de pensar por que aquela garota começou a tremer de repente." As outras duas criadas também pareciam ter a mesma dúvida. As três do Pavilhão de Jade eram trabalhadoras dedicadas, mas tinham uma certa tendência a devaneios, o que as tornava alheias a algumas coisas. Mesmo assim, Maomao até gostava disso nelas, ainda que às vezes tornasse o trabalho um pouco mais complicado.
"Quem sabe? Talvez ela só tenha ido colher umas flores, se é que me entende", disse Maomao com uma ousadia pouco usual.
Para quem acompanhava sua história, a lenda de Maomao só crescia: a menina que havia sido maltratada pelo próprio pai, vendida ao palácio dos fundos, transformada em cobaia como provadora de venenos e, depois de tudo isso, obrigada a suportar dois meses de zombarias das damas do Pavilhão de Cristal. Contava-se ainda que desconfiava tanto dos homens que sentia necessidade de manchar o próprio rosto.
Para azar de Maomao, Yinghua e as outras tinham a imaginação fértil de qualquer jovem da idade delas. Até os sorrisos incansáveis de Jinshi eram interpretados como olhares de piedade para a pobre garota. Maomao não fazia ideia de onde tiravam tais conclusões.
Mas, como seria um enorme trabalho tentar corrigi-las, decidiu deixar que a história se espalhasse.
Enquanto isso, outro embate indireto seguia firme: sete contra sete. De um lado, as damas vestidas de branco, servas de Lishu, a Consorte Virtuosa; do outro, as mulheres de preto, a comitiva de Ah-Duo, a Consorte Pura.
"Elas também não se dão muito bem", comentou Yinghua, aquecendo as mãos sobre o braseiro. Aproveitava ainda para assar e comer castanhas que Maomao havia levado escondida. Como as mulheres do Pavilhão de Cristal mantinham distância, não havia ninguém com autoridade moral suficiente para repreendê-las. "A Senhora Lishu tem quatorze anos, e a Senhora Ah-Duo, trinta e cinco. São ambas consortes, mas com idade para serem mãe e filha. Não é de se espantar que não se entendam."
"De fato, não é de se espantar", acrescentou Guiyuan, uma dama mais reservada.
"Com a Consorte Virtuosa tão jovem e a Consorte Pura já mais velha, deve ser uma relação bem complicada de lidar."
"E a Consorte Virtuosa é praticamente a sogra da Consorte Pura", completou Ailan, a dama esguia, balançando a cabeça. Tanto ela quanto Guiyuan eram menos agitadas do que Yinghua, mas as três se mostravam bastante satisfeitas em fofocar, como qualquer jovem faria.
"Sogra?" repetiu Maomao, surpresa. Não parecia ser uma expressão muito usada no palácio dos fundos.
"Oh, sim. A situação é um pouco complicada..."
Maomao ficou sabendo, então, que Lishu e Ah-Duo tinham sido consortes do antigo Imperador e do jovem príncipe, respectivamente. Quando o antigo soberano faleceu, a Consorte Virtuosa deixou o palácio para cumprir o luto. Mas isso era, em grande parte, uma encenação: ao “abandonar o mundo” — isto é, tornar-se monja por um breve período — era considerado como se nunca tivesse servido o Imperador anterior. Assim, pôde casar-se com o filho do falecido governante. Não era exatamente correto, mas era o tipo de artifício que os poderosos podiam permitir-se.
"O antigo Imperador morreu há cinco anos", refletiu Maomao. "Naquela época, a Consorte Virtuosa teria apenas nove anos." Mesmo que fosse apenas um arranjo político, a ideia era perturbadora. Quando lembrava que a própria Imperatriz Viúva havia entrado no palácio ainda mais jovem, o desconforto beirava o insuportável; Maomao sentiu o estômago revirar. Isso fazia o atual Imperador parecer quase benigno. Tudo bem que tinha um gosto por frutos especialmente maduros, mas ao menos não compartilhava as depravações do pai.
Ele pode ser insaciável, mas pelo menos não chega a tanto. Em sua mente surgiu a imagem do soberano de barba espessa. Era impressionante o que se ouvia em conversas ao acaso.
"Isso não pode ser verdade, pode? Uma noiva aos nove anos?" disse Ailan, incrédula. Ainda bem.
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