Vol 1
Capítulo 16: A festa no jardim (parte 1)
Faltava cerca de uma hora para a festa começar. Consorte Gyokuyou e suas damas de companhia passavam o tempo em um pavilhão aberto no jardim. O lago à frente estava cheio de carpas pulando, e as árvores deixavam cair as últimas folhas vermelhas do outono.
"Você realmente nos salvou."
Apesar do sol ainda brilhar, o vento era frio e seco. Normalmente, as garotas estariam tremendo de frio, mas, com as pedras aquecidas sob as roupas, não estava tão ruim assim. Até a pequena princesa Lingli, que era motivo de preocupação, dormia tranquila no berço, com sua própria pedra de aquecimento.
"Troquem a pedra da princesa de tempos em tempos e verifiquem o pano ao redor. Se não, ela pode se queimar. E vão com calma nos docinhos — em demasia podem deixar a boca dormente." Maomao tinha preparado várias pedras sobressalentes num cesto, junto com fraldas e roupas extras. A pedido dos eunucos, o braseiro usado para aquecer as pedras já tinha sido colocado discretamente atrás do local da festa.
"Entendido. Mas ainda assim..." Gyokuyou sorriu, meio provocando. As outras damas também mostraram sorrisos contidos. "Você é minha dama de companhia, lembra?" Ela apontou para o colar de jade.
"Sim, milady." Maomao decidiu aceitar aquilo como um elogio.
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Gaoshun observava seu mestre cumprimentar, com toda gentileza, a Consorte Virtuosa. Com aquele sorriso encantador e voz suave, Jinshi parecia até mais bonito que a própria consorte — que, por sinal, era considerada uma das mais lindas da corte, apesar de ainda muito jovem. Mesmo vestido apenas com algumas bordas bordadas e prendedores prateados no cabelo, Jinshi quase ofuscava a beleza dela.
Qualquer um poderia ficar com inveja — menos ela, que o olhava como se estivesse hipnotizada.
"É praticamente um crime..." Gaoshun pensou, suspirando.
Depois de visitar as outras três consortes, Jinshi finalmente chegou até Gyokuyou, que ainda estava no pavilhão. Em teoria, ele deveria dividir o tempo igualmente entre as quatro, mas ultimamente parecia dar mais atenção a Gyokuyou. Claro, ela era a favorita do imperador... Mas havia outras razões óbvias também.
Pelo visto, ele nunca superou o hábito de brincar com os brinquedos favoritos. "Problemático", pensou Gaoshun, balançando a cabeça.
Jinshi cumprimentou a consorte, elogiando seu traje escarlate. De fato, ela estava linda, e até Gaoshun reconhecia isso. Havia algo quase mágico na beleza dela. Era talvez a única na corte que podia rivalizar com Jinshi em elegância.
Claro, as outras mulheres também tinham seus encantos, e Jinshi sabia muito bem como elogiá-las. Era um de seus talentos: destacar o melhor em cada uma. E sempre com sinceridade — ou quase. Às vezes, deixava de dizer a verdade completa. Quando o canto esquerdo da boca se curvava levemente, Gaoshun sabia o que aquilo significava: brincadeira à vista.
E ali estava ele, usando a princesa como desculpa para se aproximar de uma dama de aparência indiferente. Uma desconhecida para Gaoshun, mas com um ar de desprezo contido.
"Boa noite, Mestre Jinshi." Maomao cuidou para não deixar escapar o pensamento: Ele não tem nada melhor pra fazer? Ainda mais com Gaoshun de olho. Precisava manter a calma.
"Passou um pouco de maquiagem, foi?" Jinshi perguntou, como se não ligasse.
"Não, senhor."
Ela tinha usado apenas um leve toque de vermelho nos lábios e no canto dos olhos. O resto era completamente natural. Algumas sardas ainda eram visíveis, mas quase imperceptíveis.
"Mas suas sardas sumiram."
"Sim. Eu tirei."
As poucas que restavam eram tatuagens feitas com agulha muito tempo atrás. Eram superficiais e desapareceriam em cerca de um ano. Seu velho tinha detestado, afinal, era o tipo de coisa feita em criminosos.
"Quer dizer com maquiagem, certo?" Jinshi estreitou os olhos, desconfiado.
"Não. Foi ao tirar a maquiagem que elas desapareceram."
Talvez fosse melhor ter apenas concordado. Mas agora já era tarde. Explicar tudo seria um saco.
"Não faz sentido nenhum."
"Na verdade, faz todo sentido, senhor."
Maquiagem não servia só pra embelezar. Mulheres casadas às vezes usavam para se tornarem menos atraentes. Maomao usava argila seca e pigmentos ao redor do nariz todos os dias. Combinado com as tatuagens, parecia algo natural — manchas, marcas de nascença. Algo feio. Algo comum. Uma garota cheia de sardas e manchas. Desinteressante.
Mas bastava um toque de vermelho para mudar tudo. De comum, ela passava a diferente. E isso era perigoso.
Jinshi colocou as mãos na cabeça. "Mas por quê usar maquiagem assim? Qual o motivo?"
"Pra não ser arrastada pra algum beco escuro."
Mesmo nos prostíbulos, havia homens desesperados. Gente pobre, violenta, muitas vezes com doenças. A farmácia do pai dela ficava bem na entrada de um desses lugares, então não era incomum acharem que ela estava "em exposição". Maomao queria se proteger. E uma garota franzina, cheia de sardas, não chamava muita atenção.
Jinshi ouviu em silêncio, visivelmente abalado. "E você já foi...?"
"Alguns tentaram." Maomao entendeu o que ele quis dizer e o encarou com raiva. "Mas no fim, foram os sequestradores que me pegaram."
Naquele dia, ela tinha esquecido de se maquiar. Estava na floresta procurando ervas — e tintas para retocar as tatuagens. Por pouco não escapou de ser vendida.
Jinshi cobriu o rosto. "Desculpe. Isso é uma falha minha como responsável pelo harém."
Era claro que ele se sentia mal. Não gostava de ter mulheres ali contra a vontade, mesmo que fossem bonitas. A luz nos olhos dele parecia ter sumido.
"Não faz diferença se fui vendida por sequestradores ou pela família. Dá no mesmo."
Uma coisa era crime, a outra era legal. Mas, se o comprador alegasse ignorância, saía impune. Muitas mulheres chegavam ali por essa brecha. Bastava que uma chamasse a atenção do imperador, e o lucro ia direto para os sequestradores.
Maomao continuava usando maquiagem no palácio pelo mesmo motivo que fingia não saber ler e escrever: para não chamar atenção. Agora já não importava tanto, mas ela nunca soube como revelar seu rosto real. Acabou seguindo o fluxo.
"Você não está com raiva?" Jinshi parecia confuso.
"Claro que estou. Mas não é culpa sua, Mestre Jinshi."
Ela sabia que não se podia esperar perfeição dos governantes. Mesmo com barragens, sempre viria uma tempestade grande o bastante pra romper tudo.
"Entendo. Me perdoe." A voz dele saiu sem emoção, como se estivesse esgotado.
Maomao estava prestes a responder, mas algo cutucou sua cabeça. "Ai! Isso dói, senhor." Dessa vez, ela não escondeu a irritação. Queria saber o que ele tinha feito.
"É? Eu te dou isso." Ele não sorriu como de costume. Parecia entre constrangido e triste. Maomao levou a mão até o cabelo e tocou em algo frio e metálico.
"Nos vemos no banquete." Jinshi se afastou, acenando por cima do ombro.
Era um palito de cabelo masculino. Devia ser um dos que ele mesmo usava. Simples à primeira vista, mas cheio de detalhes. Provavelmente valeria um bom dinheiro.
"Uau, que sorte a sua," disse Yinghua, com os olhos brilhando. Maomao pensou em dar o presente a ela, mas as outras duas também a olhavam com expectativa. Quando estendeu a mão, Hongniang segurou seu braço e balançou a cabeça, sorrindo como quem diz: "Não se desfaz tão rápido de um presente desses."
"Lá se foi a promessa. Isso foi rápido", comentou Consorte Gyokuyou, quase fazendo bico. Ela pegou o palito e o colocou direitinho no cabelo de Maomao. "Acho que você já não é só minha dama de companhia."
Maomao não sabia o que aquilo si
gnificava. No fim, ela não era muito versada nos costumes da corte — especialmente os mais refinados.
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