Volume 1 – Arco 1
Capítulo 1: Uma Vida de Tigre
– Ao mesmo tempo que o renascimento de Henry –
– Continente Rus’ka, ano 1721 d.P –
O céu havia escurecido repentinamente.
Nestas terras frias, as três luas que iluminavam o planeta à noite haviam enegrecido, tornando-se enlutadas e sem brilho.
Até mesmo as estrelas estavam sem vida, não havendo qualquer resquício de luminosidade. Apenas as velas podiam iluminar, fracamente, este breu aterrorizante.
Neste império, que o inverno assola todos anos, tal evento era sem precedentes. Os Rus’kans acreditavam que tudo que ocorria carregava um significado, principalmente os eventos inexplicáveis, e este, não seria diferente.
Ao mesmo tempo que as trevas tomaram esse continente, a filha do Imperador, a Grã-Princesa, havia nascido. Se esse caso tivesse ocorrido em alguma família pobre ou menos influente, talvez, seria interpretado como um mau presságio, e condenariam a criança.
Entretanto, como filha do Imperador, isso obviamente seria diferente.
De um mau presságio para uma benção.
Esse evento, nunca visto antes, durou alguns minutos e trouxe consigo medo, insegurança e muitas dúvidas.
Embora fosse o maior continente, Rus’ka era o que tinha a menor população. Um continente formado por reinos, servindo um único império.
A base desse continente era militar, todavia, suas raízes religiosas se mostravam tão firmes quanto qualquer outro continente.
Sua baixa população se devia ao fato de viverem sob um inverno sem fim, impossibilitando qualquer cultivo ou gado amplo, logo, as pessoas morreriam de frio ou fome.
Todos cidadãos ou soldados de Rus’ka eram reconhecidos como “Soldados da Neve” por todos os continentes. Soldados determinados e inigualáveis. Para sobreviver em tal ambiente e situação, eram mais do que dignos do título.
Nenhum outro continente, com seus soldados regulares, poderia invadir Rus’ka só por desejar. Se assim fosse, apenas o frio seria suficiente para destruir quase por inteiro o exército, antes mesmo de chegar em uma cidade.
Suas raízes religiosas se deviam ao seu profeta, Profenius, que uma vez desceu sobre esse continente e transmitiu a palavra do Deus Ne’var.
Ele provou ser capaz de fazer milagres em nome de Ne'var.
Comprovando ser o mensageiro do seu deus, os Rus’kans decidiram que o dia do nascimento de Profenius seria definido como o início do calendário de Rus’ka.
Embora tenha realizado grandes feitos nessas terras, nunca se soube o fim exato de Profenius.
Ele havia sumido sem deixar qualquer rastro de seu paradeiro final.
Nesse dia, em que a escuridão predominou e o medo imperou, um versículo de uma profecia, que jazia esquecido na memória de todos desse continente, foi lembrado mais uma vez, por meio desta catástrofe.
“Em meio à escuridão, três luas sumirão, suas luzes se extinguirão e os Seis levantarão. Este solo infértil, a Escuridão. Cada solo terá seu Número.”
Com este versículo, todas as pessoas na Corte Imperial interpretaram quem era o Número deles.
A nascida dessa escuridão, sua Grã-Princesa.
O Imperador, Iva’an II Nevsky, nomeou a Grã-Princesa de Tanya Nevsky, a qual, ao nascer, foi intitulada como “Fada das Três Luas”.
E, também, decretou que aos 15 anos de sua filha, a idade determinante como fase adulta no império de Rus’ka, chegaria a hora de erguer o estandarte da neve sangrenta e declarar supremacia sobre todos os outros continentes.
O planeta Saphir portava 7 continentes conhecidos: Rus’ka, Mendir, Brytia, Zazir, Beskin, Alran e Enir.
Em cada continente, houve catástrofes ou eventos sem precedentes na história, com exceção de um.
No continente de Mendir, todos os vulcões de seu território, que era formado por ilhas, entraram em erupção e, se não bastasse, alguns grandes vulcões simplesmente explodiram, fazendo chover pedras de fogo para todos os lados.
Um inferno havia se iniciado em Mendir.
Brytia, o continente mais afastado de Rus’ka, os três sóis que iluminavam o meio dia brilharam como nunca. Tão luminosos que cegavam qualquer pessoa que desse o menor vislumbre para o céu.
Sem calor, apenas luz, morna como sempre, mas incrivelmente perigosa. Era como a chegada de um Deus, que não permitia nenhum mortal encará-lo.
Em Alran, também conhecida como Terra Élfica, era o continente com maior ligação com a Mãe Natureza, e, mesmo ela, não foi perdoada pelas catástrofes.
Alran inteira foi assolada por furacões e ventanias extremas.
No continente mais selvagem, Zazir, gigantescas ondas e redemoinhos engoliram diversas ilhas e Bestas Mágicas Marinhas invadiram o continente adentro utilizando a maré alta.
Em Beskin, o continente dos Homens-Feras, lidou com uma catástrofe terrestre.
O continente foi abalado por um terremoto jamais visto antes, partindo o continente em quatro partes. Esse terremoto teve a força de partir o terceiro maior continente de Saphir em apenas alguns minutos.
Todos vivenciaram catástrofes e eventos diferentes, os quais não afetavam de maneira alguma os outros continentes.
A única ligação que tinham, era o fato de que todos os eventos ocorreram no exato momento do nascimento de algumas crianças.
Aqui estamos, bebendo o leite da minha mãe, o que é bem esquisito, já que ela, nesse momento, é uma tigresa enorme.
Estou aqui faz 1 mês e é o mesmo de sempre... mamar, fazer necessidades, dormir, acordar e mamar mais ainda. É cômico.
Atualmente me sinto naturalizado nesse corpo quadrúpede. Talvez seja o cérebro deste corpo agindo como natural e minha mente como humano que trouxe o problema de adaptação.
Ou, talvez nem seja minha mente aqui, e sim… meu espírito?
Bom, vou informar as coisas que estão ocorrendo agora: Estou eu, meu irmão e três irmãs, em um ponto um pouco acima do pé de uma montanha. Perto de nós tem uma caverna, onde a mamãe costuma dormir conosco, quando está muito frio.
Falando em frio, isso me lembra quando dei uma olhada para floresta mais à frente.
Nesse dia eu me aproximei da beirada da nossa “toca” — pelo que lembro é esse nome do “ninho” que os tigres fazem — e vi um cenário completamente branco! Sim! Tudo é coberto de neve nesse lugar!
Porém, houve uma coisa que mais se destacou nisso tudo, era uma enorme torre.
Uma torre solitária, construída de pedras roxas escuras, mesmo que estando a muitos quilômetros de distância, ainda dá para ver a forma e seu tamanho.
Não, deixe-me corrigir o que falei antes, não é apenas “enorme”, é EXTREMAMENTE ENORME.
Ela é tão alta que superou o tamanho da montanha que estou e ultrapassou até as nuvens!
Durante a noite, ela costuma iluminar e soltar pequenos brilhos. É incrivelmente lindo esse fenômeno.
Atrás dela, pelo que pude ver, há uma floresta e uma cordilheira que não se pode ver o fim, fora que há uma montanha gigantesca também.
Isso é tudo o que meus olhos conseguem enxergar até o momento.
Não sei bem se nosso crescimento é algo normal para tigres, já que pelo que sei, os felinos nascem “cegos” e só depois de um tempo, abrem os olhos. Entretanto, pelo que percebi, eu já “acordei” com os olhos abertos!
Isso me faz questionar, eu renasci depois do meu nascimento como tigre, quando já era capaz de enxergar? Ou já nasci com os olhos abertos?
Acho que a parte mais importante para se destacar aqui é o tamanho dos tigres em comparação aos tigres do meu mundo anterior. É coisa boba, minha mãe só tem tipo uns… CINCO METROS DE ALTURA!
Pois é, nada demais, ela é “apenas” enorme. Eu pude saber, mais ou menos, a altura dela por causa da caverna, que é a nossa toca. Agora, o comprimento dela, não quero nem imaginar.
Bom, meus irmãos e eu temos um pouco mais de 30 centímetros de altura, isso sendo que somos apenas filhotes… Realmente, seremos gigantes quando crescermos.
Uma coisa que notei, que parece ser bobo, é que cada um dos meus irmãos têm uns pontinhos brilhantes pelo corpo. Quando olhei de perto, pude perceber que cada um tem uma pequena pedra ou gema presa em seus corpos.
No caso da mamãe, é maior... Acho que é quase do tamanho da minha cabeça. Mesmo minha mãe sendo imensa, a pedra é minúscula em comparação e fica bem escondida debaixo do pelo.
Essa pedra fica na pata traseira esquerda dela e tem a cor laranja. O curioso nisso é que cada uma dessas pedras, que eles têm, não ficam no mesmo lugar.
Parece que cada um nasceu com ela em um lugar diferente do corpo.
Agora, você deve estar se perguntando onde a minha fica.
Bom, eu também queria saber! Sério, eu não consegui encontrar nada pelo meu corpo! Fora que, não sei se é por conta de ser um filhote, mas os movimentos que consigo realizar com a cabeça são bem desajeitados.
Deixando o papo de tigre de lado, é hora de falar a coisa que mais me surpreendeu nesse primeiro mês!
Eu aprendi como ativar minha Janela Geral!
Basicamente, não é preciso pensar algo como “abrir janela de personagem”, ou algo assim. Eu apenas preciso usar minha vontade de ver o que quero saber.
É melhor demonstrar do que apenas falar. Observem.
E dessa forma, uma “janela” se abriu na minha mente.
Viram? Fácil, né? Fora que essa janela é muito bonita.
Posso ter sido um artista marcial na vida passada, mas não significa que, quando menor, eu não tenha aprendido alguns conhecimentos de RPG! Meus “colegas” conversavam muito sobre jogos, e eu escutava muitas vezes.
E, algumas vezes, durantes as horas livres de descanso do treino do Mestre Zi, eu lia alguns livros fantasiosos, que algumas vezes tinham muito a ver com RPG.
Bom, vamos falar dessa maluquice de “Janela Geral”.
Basicamente, ela funciona por vontade, como já dito, mas tem um ponto importante. Se eu quiser ver apenas a Janela Habilidades, ignorando Janela Geral, Habilidades Especiais, apenas a Janela de Habilidades irá aparecer na minha mente.
Testei em ver apenas uma Habilidade Especial, e realmente só apareceu a que eu queria ver, então, é tudo por vontade! Isso é tão foda!
Reparei que não há MP ou HP... Acredito que só a parte do mundo e os Atributos sejam iguais a um RPG. Bom, seria um atributo inútil, já que não importa se a pessoa tenha 1000000 de HP, ela ainda morreria se cortasse a sua cabeça.
Sério, seria muito esquisito se eu não morresse, mesmo depois de ter a cabeça cortada!
Por sinal, há “Mana” como atributo, mas “Chi” não… Só que, esse mundo tem um Chi tão denso… Preciso descobrir o porquê disso.
A coisa que mais quero usar nesse momento é a “Mente Criadora”. Já que é a única Habilidade que parece que consigo ativar.
Desejem-me boa sorte.
Sério, é entediante demais ser um filhote de tigre! Tudo que fazemos é mamar, brincar com os outros, fazer necessidades e dormir!
Já estou no segundo mês nessa porcaria de segunda vida e não consegui nem utilizar a Mente Criadora!
Hah… Não adianta nada reclamar agora…
Bom, eu não gastei um mês inteiro apenas tentando ativar uma Habilidade. Testei outras coisas também.
No meu mundo anterior seria chamado de “Energia”, ou como o Mestre e eu chamamos, “Chi”. E isso serve para nos fortalecer e fornecer outros benefícios, mas nesse mundo também há Magia, pelo que foi dito pela Jeanne.
Entretanto, quando eu tentei usar o Chi da mesma maneira que eu utilizava no meu mundo anterior, o caminho foi muito diferente!
Primeiro de tudo, acho que isso se deve pelo fato de eu não ser mais humano, então a canalização deve ser diferente. Antigamente, meu corpo teria certos pontos que eram capazes de canalizar Chi, e esse Chi, circularia por todo meu corpo e concentraria perto do meu abdômen, mas agora… Ele entra pela minha cabeça! Mais especificamente atrás dela!
Sério, quando eu canalizei o Chi, toda essa energia foi direcionada para minha cabeça de uma só vez! Foi um puta susto!
Quando o Chi vem para minha cabeça, ele trava por algum tempo, começa a entrar no meu cérebro, e em seguida, circular por todo meu corpo, como de costume.
O que concluí com isso, foi: Meu corpo não tem entradas de Chi, além da minha cabeça.
Por sinal, parece que durante o segundo mês, é permitido sair da toca para brincar ou passear pelo território. Claro, a mamãe sempre nos acompanha.
Parece que ela tem algum problema sobre sairmos por aí. E sim, já me questionei: Onde está nosso pai?
Em dois meses nunca nem o vimos! Já conclui que algo aconteceu com ele, e, possivelmente, fora dessa toca seja perigoso para nós, filhotes.
Agora, sobre a “Mana”, eu testei, juro! Eu testei e tentei muito! Só que não deu em nada!
Eu deduzi que é diferente da energia Chi, que já tenho experiência.
Vou ir tentando até ver se algo acontece.
Certo, agora é meu terceiro mês, e finalmente “entendi” como a Mana funciona no nosso corpo. Claro, se eu não soubesse nem mesmo como funciona o Chi, não teria ideia de como sentir essa energia nova.
O nosso corpo é como um recipiente, assim como o Chi, só que diferente da canalização de Chi desse novo corpo, a Mana é puxada pelo meu corpo, como dois imãs se atraindo, sem qualquer ponto específico para entrar no corpo.
Como eu disse há um mês, o Chi na minha vida anterior tinha alguns pontos onde eu poderia canalizá-lo, ou em outras palavras, puxar para meu corpo. No caso da Mana nesse corpo, parece ser bem parecido com isso, só que por todo meu corpo.
Entretanto, canalizar a Mana não é muito confiável! Calma aí, já explico!
A Mana é… É difícil explicar… É como diversos tipos de energia… Imagine como um pó de diferentes qualidades e tipos entrando pelos nossos poros e invadindo nossa circulação sanguínea, isso é a Mana, até onde pude ver.
Quando comecei a treinar ou testar o uso da Mana, o resultado foi que meu coração começou a doer muito, como se algo estivesse querendo explodi-lo de dentro para fora!
Esse foi o ponto que quis dizer com “não é muito confiável” antes.
Toda vez que eu canalizava a Mana circundante, mais meu coração doía, então deixei isso de lado, vai que eu acabo morrendo por causa disso!
Sério, perder uma nova vida, com as memórias passadas, porque morri tentando canalizar Mana?! MAS NEM FODENDO ISSO VAI ACONTECER!
Cada mês que se passa, maiores ficamos. De verdade, acho que essa raça de tigres é especial, porque… CRESCEMOS MUITO RÁPIDO! Isso é normal em tigres por acaso?!
Já estamos com 1 metro de altura.
Com a chegada do quarto mês, nossa mãe, que só saía para caçar seu próprio alimento, começou a nos levar em caçadas e, desde que isso aconteceu, paramos de ser amamentados.
Uhu! Finalmente chegou a hora de caçar!
Como nós, filhotes, ficávamos brincando de “lutinha” na caverna, começamos a desenvolver um pouco nossos reflexos e sentidos.
Pode parecer fofo quando falo dessa maneira, mas não é!
Reparei algumas coisas peculiares nas nossas brincadeiras. No terceiro mês, conforme nossos corpos cresciam e deixamos de ser apenas “recém-nascidos”, nossas mordidas se tornaram muito perigosas.
Vou descrever melhor. Nossas mordidas são capazes de quebrar algumas pedras da montanha! E, se não bastasse, nossas garras conseguiam deixar pequenas marcas nas paredes da caverna!
Só de ver isso, já deu para perceber que realmente não somos tigres normais.
Devo dizer, esses 4 meses dentro daquela toca, com a mamãe nos mantendo apenas lá, foram chatos demais.
Toda vez que eu olho aquela maldita torre no horizonte, sinto uma necessidade de ir vê-la de perto imediatamente. A única distração foi treinar os usos básicos da Mana, Chi e tentar ativar a Mente Criadora, que foi mais uma tortura do que distração.
Ainda prefiro andar em duas pernas. Ser tigre é bom para correr, mas é ainda muito estranho andar assim.
Enfim, comentei isso porque a mãe está nos levando para alguns pontos do território, guiando-nos rapidamente até outra parte da floresta, que fica abaixo da montanha da nossa toca, e também mostrou o que iríamos caçar.
São coelhos, que por sinal, tão grandes quanto nós. Só que eles são muito velozes e completamente brancos... Quase não dá para enxergá-los nesse ambiente.
Então, a mamãe nos levou até um ponto alto, para que pudéssemos observá-los.
Ela saiu do nosso lado e, de uma só vez, entrou debaixo da neve, que tinha sido acumulada por muito tempo. Ela entrou na neve, porque o pelo dela chama muita atenção nesse ambiente.
Deu para perceber que a neve foi acumulada por muito tempo porque, para camuflar o gigantesco corpo dela, tinha que ter MUITA NEVE.
Entendo, ela já está mostrando como vamos caçá-los.
Conforme o tempo passou, mesmo que fizesse um frio desgraçado na montanha, nossos corpos se adaptaram rapidamente ao frio, então, ficar debaixo de tanta neve não deve ser problema para a nossa espécie.
Ela esperou pacientemente perto da toca dos coelhos brancos, e quando um estava indo direto para toca, ela, com uma mordida tão rápida que não pude sequer acompanhar, separou metade do coelho e atirou em nossa direção.
Após isso, ela saiu da camuflagem e veio em nossa direção, mas não parou ao nosso lado, e sim atrás.
Afastando-se de nós e ficando próxima, era como se dissesse que ficaria nos observando e avaliando, enquanto nos cuidava.
Entendendo dessa forma, passei a andar devagar pela neve, descendo do lugar onde estávamos.
Minhas três irmãs foram juntas, duas têm cor branca e a terceira é da mesma cor que eu e a mamãe, um laranja forte e único, que parece labaredas.
Por último eu e meu irmão, que é tão escuro quanto a noite, seguimos reto. Nem preciso dizer que as duas branquinhas têm vantagem nesse ambiente, né?
Como um predador, não como uma pessoa, eu sinto uma vontade sem igual de caçar, desde que essa caça fosse para algum objetivo.
Eu sempre odiei matar por motivos banais. Neste caso, a caça que eu matar, será usada para me alimentar.
Dando uma olhada para trás, só pude ver meu irmão, porque as minhas irmãs estavam indo na frente.
A minha irmã, que tem a mesma cor que eu, segue atrás delas, utilizando minhas irmãs como camuflagem. Isso não é muito inteligente para um tigre?!
As branquinhas seguem sem qualquer problema! Por que diabos eu nasci laranja em um lugar que só neva?! Elas são roubadas demais!
Pelo jeito, é apenas uma caça normal, sem qualquer perigo. Apressei meus passos e fiz diferente da mamãe.
Fui direto para cima da toca dos coelhos, que era um grande buraco no pé de uma colina cheia de árvores. Como eu sou muito menor que a mãe, não tive qualquer dificuldade em me esconder na pequena montanha neve, acima da toca.
Podem vir coelhinhos…
Enquanto isso, minhas irmãs repetiam o que minha mãe fez, sem qualquer erro. Parece que realmente somos muito inteligentes, porque foi apenas um exemplo rápido, e elas já conseguem replicar na primeira tentativa.
Meu irmão, diferente das minhas irmãs, seguiu o que eu fiz e se escondeu ao meu lado, debaixo da pequena montanha de neve. Heh. Parece que ele prefere fazer as coisas de um jeito diferente.
Diferente da nossa mãe, que era rápida e poderosa como um furacão, minhas irmãs mataram suas presas de maneira simples e rápida.
Elas só precisaram esperar um pouco, perto da toca, e quando algum coelho passasse, minhas irmãs, sem demora, iriam pular com a boca aberta no pescoço do coelho, sem dar chance de sequer tentar se soltar ou gritar.
Só que depois de matarem as presas, elas fizeram algo que me surpreendeu. Minhas irmãs esconderam os corpos dos coelhos mortos debaixo da neve, assim, ocultando o cheiro de sangue! Sério, como?! Eu me sinto menos inteligente que elas!
Foi uma morte limpa para cada uma das meninas, cada uma fez o mesmo movimento, se ajudando em conjunto, e quando todas terminaram de matar suas presas, voltaram para o ponto alto onde a nossa mãe estava.
A caçada não teve problemas, para minhas irmãs.
Agora, só falta meu irmão e eu.
Embora estivéssemos em um ótimo ponto para emboscar, todos os coelhos pareciam não sair da toca, na realidade, até agora parece que só entravam…
Depois de um tempo, um coelho botou a cabeça fora da toca. Meu irmão e eu nos preparamos rapidamente para o abate.
Ele colocou o resto do corpo para fora da toca, sem nem olhar para trás, onde estávamos.
Talvez fosse a mãe ou o pai dos coelhos, porque ele tinha 1,5m de altura e parecia estar esperando os outros voltarem. Suas orelhas eram diferentes dos demais, que eram totalmente brancas, elas tinham marcas cinzas nas pontas.
Ele saiu muito devagar da toca, parecia que suspeitava de algo.
Meu irmão e eu, com as garras para fora, saltamos em cima dele imediatamente. Com a boca aberta, visei o seu pescoço, enquanto isso, meu irmão já se agarrou em sua coxa, mordendo sua perna… Só que aconteceu algo que eu não esperava.
Mesmo comigo, com as minhas presas cravadas em seu pescoço, o coelho soltou um grunhido alto e rouco, que nunca ouvi algum animal soltar antes, e esse som bizarro ressoou por toda área.
Só após isso, o coelho caiu morto. E, na minha mente, parecia que um brilho apareceu e um som soou. Isso tudo foi muito rápido, mas não tive tempo para pensar sobre isso, porque minha mãe, rápida como nunca, pegou-nos pela pele das costas, com sua boca, e nos tirou de lá na mesma hora.
As orelhas dela estavam se movendo constantemente para ouvir algo.
Merda, algo está vindo, não pode ser outra coisa.
Então, ela nos levou a um ponto mais alto que antes, em uma velocidade absurda.
Nossas irmãs já estavam lá, e todos nós olhamos para o corpo morto do coelho, que eu e meu irmão matamos.
Repentinamente, da toca, começaram a sair coelhos cinzas, que eram ainda maiores do que aquele que matamos, e não eram poucos, pelo menos 10.
Se não bastasse só da toca, da própria colina começaram a aparecer outros.
Cada um mais assustador que outro, com olhos vermelhos como sangue, com suas bocas babando sem parar. Todos olhavam para o coelho morto. E, após isso, começaram a olhar para todos os lados, em busca do culpado.
Eu realmente não imaginava que essa caça ficasse tão perigosa.
Mãe, você não escolheu uma presa muito perigosa para nós?!
Agora que passei a analisar esses coelhos... posso concluir que os brancos são os filhotes, quando ficam mais velhos eles se tornam mais cinzas e na fase adulta se tornam esses monstros bípedes.
Vendo dessa forma, parece que a morte limpa era a melhor opção. Aquela merda de grito foi um pedido de ajuda para os mais velhos.
Quando estava prestes a relaxar um pouco, percebi que um dos coelhos nos avistou.
Merda.