Volume 1
Capítulo 6: Draco
Um grupo de quatro rapazes saiu do banheiro rindo maliciosamente, enquanto um deles era empurrado e xingado pelos demais. O que estava mais à frente do grupo se portava como líder do bando, ele tinha cabelos loiros e traços afilados, com olhos verdes que brilhavam como esmeraldas.
Arthur cessou seus passos e não pôde deixar de se sentir azarado por encontrar Draco e seu bando de puxa saco. Além disso, ao olhar o garoto no meio deles, que estava com os óculos tortos em seu rosto completamente encharcado, deixava claro que não tinha tido uma boa experiência naquele banheiro.
Conhecia a pobre figura, era Luiz, um nerd que tinha sido colocado como representante de turma da sua sala no ano anterior, era bem esforçado e sempre com boas notas.
Ssghnn... respirou fundo ao perceber que não poderia evitar a situação, ele pretendia passear com Laís pela cidade, e seria um saco se seu manto ficasse sujo por causa deles, mas ao olhar para o grupo, sabia que teria dificuldades.
Ele viu o rapaz parar e com aquele rosto repleto de arrogância que tanto o incomodava, se dirigiu a ele novamente.
― Está surdo, adotado? Não escutou eu falar com você?
“Porra. eu mereço...”, pensou ao ver que ele realmente estava com intenção de importuná-lo.
― Oh, olá Draco, não tinha te visto. ― disse Arthur com um sorriso irônico. ― Ainda não acredito que você consegue ser mais irritante do que ontem.
Draco franziu o cenho e respondeu: ― Pelo menos minha mãe não tentou me abortar e falhou miseravelmente.
Arthur riu e retrucou: ― Pode ser, mas pelo menos eu não preciso de um banquinho para alcançar as prateleiras mais altas.
Após ele ter mencionado a estatura econômica do rapaz, escutou o som de alguém que se segurou para não rir, era o menino que estava sofrendo bullying, que claramente se arrependeu logo após seu reflexo impensado, sua roupa que já estava molhada, ficou ainda mais. Deixando claro que estava suando frio ao ver aqueles olhos verdes como de uma cobra se virarem para ele.
Todavia, a situação se tornava mais constrangedora, quando os dois que o cercavam também tinham um leve arco em seus lábios, deixando claro que acharam graça do que escutaram.
Ele olhou para Draco sabendo que sua ira ia se escalar, o filhote de uma das famílias que faziam parte do conselho do reino, e com o orgulho frágil como o seu, não iria aceitar se sentir humilhado. Realmente estava correto, viu aqueles olhos verdes repletos de veneno, fazer seus seguidores abaixarem a cabeça por medo e vergonha, e sem dizer nada, socar Luiz no estômago com tanta força que o fez vomitar, o que provavelmente foi seu café da manhã misturado com sangue.
Ao ver aquela cena lamentável, sabia que não poderia mais ignorar a situação, tinha aprendido com seu tio desde novo, que aqueles que têm poder para mudar uma injustiça, mas escolhiam se fazer de cegos, não eram muito diferentes de quem praticou o ato, pois eram coniventes, e isso o faria ser desprezado por ele.
Arthur não tinha delírios de heroísmo em si, mas respeitava muito o homem que não só o salvou, mas sempre esteve presente na sua educação e convívio familiar.
Após ver Luiz que se inclinava no chão com as mãos na barriga, levar um chute que provavelmente destruiu seu nariz, sentiu que já tinha demorado muito para se meter.
― Seu problema é comigo, projeto de napoleão.
Quase que instantaneamente, viu aquele olhar venenoso se fixar nele, claramente seu ego tinha sido ferido e não tinha mais a intenção de manter seu confronto em palavras. Viu ele limpar o sangue de seus punhos com uma face repleta de nojo e falar.
― Vou fazer o que sua mãe não pode fazer ― disse Draco avançando sem deixar mais espaço para palavras.
Sua agilidade era realmente de se admirar, cortou a distância entre os dois em velocidade que era difícil de ter tempo para pensar, parecia um guepardo se lançando em sua presa, mas Arthur se manteve calmo, tinha treinado desde que podia se lembrar, com seu tio.
Ele viu o punho dele ser envolto pela sua energia primordial, evocando chamas que involucraram todo o seu braço direito, deixando claro que pretendia o ferir pesadamente. Ao sentir o calor ficar próximo de sua cintura e abaixo do seu ponto de equilíbrio, girou seu corpo em um movimento rápido, lançando um chute forte na lateral do rosto dele, o lançando contra a parede.
Os dois puxa sacos, ao ver a sequência de eventos que ocorreu, se entreolharam e lançaram um olhar maldoso para Arthur, que só deu de ombros e abriu os braços em tom de deboche.
O mais alto e parrudo correu como um touro na direção dele, parecia que ia na direção do toureiro, pronto para derrubá-lo.
Sabia que provavelmente tinha revestido seu corpo com energia, somado a seu peso e força natural, seria um impacto difícil de sair ileso, mas não poderia usar muitas das técnicas das sombras que tinha aprendido, pois, não foram feitas para uma batalha como essa. Decidiu intensificar a energia em seu corpo e criar uma camada de sombras para absorver parte do impacto.
Finalmente, a figura que parecia um trem desgovernado atingiu-o, o impacto fez seu corpo bambear, mostrando que não poderia repelir diretamente o ataque, então, mudando sua postura, jogou seu corpo para trás e estendeu uma das suas pernas a frente do rapaz parrudo, usando seu próprio impulso para derrubá-lo, fazendo-o capotar e bater as costas em uma parede.
Quando estava pronto para se virar, sentiu o impacto pesado no lado esquerdo do rosto na altura de sua têmpora, o fazendo se sentir desnorteado, era o terceiro rapaz que não tinha dado atenção.
Antes que pudesse recobrar a postura, um segundo golpe acertou seu estômago, o fazendo se inclinar de dor. “Porra, fui arrogante” foi a única coisa que conseguiu pensar ao ver seu agressor se aproximar pronto para chutá-lo novamente e assim o finalizar.
Buscando forças para se levantar, Arthur tentou acumular o máximo de energia pelo seu corpo, buscando maneiras de criar algum tipo de defesa e resistir ao iminente ataque, quando viu a perna esguia subir em preparação ao ataque, só teve o reflexo final de fechar os olhos e apertar os dentes.
Plaft!
Ao escutar um som de batida e perceber que o ataque nunca chegou, ele abriu seus olhos e ficou surpreso com a cena mais inesperada que poderia imaginar.
No chão desacordado, estava aquele que seria seu carrasco e em pé próximo a ele, seu salvador inacreditável, era Draco, que por algum motivo que não conseguia compreender, tinha o ajudado.
― Não entenda errado, só não quero que se metam em uma luta minha, seria vergonhoso alguém com berço como eu, terminar uma batalha sendo salvo, não preciso disso.
“Orgulho ou honra, não sei qual é desse maluco.” Pensou ao testemunhar a cena bizarra, mas não podia só ficar sentado ali e esperar qual seriam as próximas ações daquele rapaz que não conseguia compreender corretamente.
Levantou-se, limpou um pouco de sangue que tinha em seus lábios, e sem dizer mais nada, colocou novamente uma postura de luta, não sabia qual era a dele, mas entendia que não sairia sem finalizar isso.
Quando ele viu Draco novamente se lançar com agilidade em sua direção, estabilizou sua postura para receber o ataque vindouro, já deduzindo o que ele poderia tentar dessa vez, todavia, de forma inesperada e surpreendendo completamente os dois, uma barreira de fogo surgiu entre eles, impedindo qualquer passagem, o calor escaldante mostrava o quão perigoso seria não respeitar ela, e junto daquele empecilho, uma voz familiar ressoou pelo ambiente.
― PAREM!
Era Laís, que de maneira abrupta apareceu sem que os dois pudessem notar sua presença, já que estavam concentrados na batalha.
― Bem que estranhei a demora ― Ela falava com um tom de autoridade e reprovação.
― Quando venho ver, vejo dois bárbaros se enfrentando, então é assim que se porta quando não estou por perto Umbra?
Ao escutar ser chamado por seu sobrenome, Arthur sentiu um arrepio percorrer sua espinha, só era chamado daquela maneira quando ela estava zangada.
― E você pirralho, é assim que pretende suceder à família, se portanto dessa maneira? ― continuou a reclamar e se direcionando ao Draco.
Com um semblante de consternação, ele só abaixou a cabeça e virou o rosto, demonstrando que não pretendia responder.
Arthur sabia do profundo respeito que ele tinha por ela, já que desde que ela chegou em sua casa para fazer o intercâmbio, tinham desenvolvido alguma proximidade, principalmente quando eram mais novos, mas quando a conheceu e desenvolveu a relação que tinha hoje, naturalmente se afastaram por ter menos contato.
― Venha, estamos atrasados ― Laís puxou Arthur pelo braço, o arrastando para longe dali.
― Espera, o representante de classe ― tentou parar Laís, ao se lembrar do motivo da briga ter se iniciado.
― Quem?
O rapaz que a pouco tempo atrás estava cuspindo sangue no chão, já não estava mais ali, deixando-o confuso de quando ele partiu e nem percebeu.
Sem mais motivos para resistir, se deixou ser carregado para longe dali, sabia que contrariar ela só traria mais problemas.
Já fora da academia, em frente ao portão de saída do colégio, Laís cessou seus passos e olhou para o rapaz que tinha sido carregado até ali sem dizer nenhuma palavra de contestação.
Com uma face já esvaziada da dureza que mostrou anteriormente, olhou para ele e falou: ― Violência não é a resposta.
― Devemos escolher a submissão?
― Um bom estrategista, vence batalhas sem lutar.
― Em certas situações, o confronto pode ser inevitável ― retrucou o Umbra, com um rosto que refletia a confiança em suas palavras.
Ele a viu respirar fundo, deixando claro que não pretendia continuar o embate.
Quase como resposta ao fim da discussão, um som ressoou pelo ambiente, parecia um monstro faminto gigante, mas era só Arthur que estava morrendo de fome e não tinha comido até agora.
― Eu estou com fome...
― Problema é seu, ninguém mandou demorar.
― Mas...
― Não, você prometeu que iria comigo.
Ele só pode abaixar a cabeça, não queria quebrar sua promessa e deixar ela chateada consigo.
― Bem... talvez possa comer aonde vou te levar.
Isso foi música para os seus ouvidos, porém, ficou ainda mais curioso para onde ela queria levá-lo, já que só tinha aceitado acompanhá-la e não perguntou nem sequer aonde iriam.
Sem dizer mais nada, ela tomou a frente e saindo do ambiente escolar, adentrou na parte central da cidade de Valinde.
A cidade era um contraste desnorteante. De um lado, as torres de pedra e as muralhas medievais se erguiam, protegendo os habitantes dos perigos externos. No lado oposto, as fábricas de metal e as chaminés fumegantes revelavam o progresso industrial que transformava a sociedade.
No meio, uma multidão de pessoas se movia pelas ruas estreitas e pavimentadas, carregando mercadorias, negociando, conversando, rindo ou brigando. O ar estava cheio de sons, cores e odores variados, que criavam uma atmosfera vibrante e caótica.
Entre os edifícios antigos e modernos, havia também templos e igrejas de diferentes religiões, que disputavam a atenção e a fé dos cidadãos. Alguns pregadores se posicionavam nas esquinas ou nas praças, proclamando suas doutrinas com fervor e eloquência.
Outrossim, alguns fiéis se ajoelham diante dos altares ou das imagens dos seus deuses, rezando ou fazendo oferendas. Muitos participavam de rituais ou cerimônias coletivas, cantando ou dançando em louvor a suas divindades. Todavia, eles também enfrentavam conflitos e intolerâncias por causa das suas crenças.
Quando estavam passando por um dos maiores templos da cidade, um padre se aproximou deles e entregou a Laís, um folheto que continha uma passagem sagrada e horários de suas reuniões.
― Que o amor do criador, edifique seus corações.
Ela acenou com a cabeça de forma educada, e continuou a caminhar sem dizer nada, mais para frente, longe dos olhares religiosos e curiosos, a viu rasgar o folheto e queimá-lo com suas chamas.
― Se um deus tão bom e misericordioso existe, porque tantos morrem de fome? ― Questionou Laís, com um olhar de poucos amigos.
Arthur não tinha uma resposta correta para a questão levantada e nem sabia se deveria palpitar, era agnóstico e acreditava que simplesmente ninguém tinha a verdade.
― Acreditam que nos foi dado liberdade, e só sofremos com nossas escolhas.
Ela se virou para ele com um rosto de deboche e respondeu: ― Aquele que é conivente, é um cúmplice.
Ao escutar aquela fala familiar, se sentiu estranho, não podendo contrariar algo que fazia parte dos seus ideais, só podia tentar pensar e refletir com os olhos daqueles que acreditavam no poder de sua fé.
― Alguns necessitam acreditar em uma salvação.
― Poderiam lutar por ela, ao invés de esperar um julgamento divino.
― Bem, não acho que existe uma verdade absoluta, estamos todos tentando adivinhar o inimaginável.
― Vamos encerrar aqui, não tem futuro. Já estamos quase lá ― Ela falou apontando para uma viela escura logo a frente que ficava em uma região pobre da cidade.
Ele nem tinha reparado o quanto tinha se distanciado do centro da cidade e não conseguia compreender o que ela queria fazer naquela região rodeada por favelas.
Caro leitor,
Chegamos ao final deste capítulo emocionante! Espero que tenha desfrutado desta jornada tanto quanto eu. Se você gostou do que leu ou se tiver alguma sugestão para melhorar a história, por favor, compartilhe seus pensamentos nos comentários abaixo. Seus feedbacks são fundamentais para me ajudar a criar uma narrativa mais envolvente e personagens memoráveis.
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