Desertor do Caos Brasileira

Autor(a): Morrigan


Volume 1

Capítulo 4: Desacreditado

 

 

Uma mulher com seus longos cabelos negros caindo sobre seus ombros como uma cascata de seda, e seus traços delicados esculpidos como uma obra de arte. Sentada à mesa de madeira maciça, ela se entregava à leitura de um livro antigo, cuja capa de couro desgastado guardava a história dos viajantes de outro mundo. Seus olhos brilhavam com intensidade, percorrendo as páginas amareladas com avidez, absorvendo cada palavra como se fosse um tesouro escondido. 

A história sobre os viajantes que chegaram a eras atrás em seu mundo encantava ela, era incrível imaginar como toda construção do mundo que conhecia, tinha estreita relação com outra terra desconhecida.

A atmosfera tranquila do aposento era quebrada apenas pelo som suave do folhear das páginas e pelo crepitar da lareira próxima, que espalhava um calor aconchegante pelo ambiente.

Interrompendo sua leitura, uma batida ressoou na pesada porta de madeira, fazendo com que a mulher levantasse levemente o olhar dos escritos antigos, não querendo desistir de sua leitura, ela manteve-se imóvel, seus olhos ainda presos às palavras impressas na página, relutante em ser arrancada de seu mundo literário.

― Senhora Jasmine, sou eu, Sebastian ― sussurrou o homem por detrás da porta.

A mulher ergueu uma sobrancelha, tendo sua atenção picada ao escutar seu nome, mas não fez nenhum movimento para se levantar. Ela permaneceu imóvel, deixando claro que não tinha intenção de ceder à interrupção.

― Me perdoe novamente, mas não tenho apetite para descer e compartilhar a refeição desta noite ― respondeu com uma voz suave.

Jasmine permanecia absorta naquele mundo literário, seus olhos fixos nas palavras, mas seus lábios se curvavam sutilmente em um sorriso à medida que ela mergulhava nas aventuras dos viajantes do passado.

― Não posso mensurar sua dor, minha querida, mas peço que me escute ― sussurrou o mordomo.

Ao perceber que ele não desistiria facilmente, ela finalmente, com um leve movimento, depositou o exemplar sobre a mesa, deixando-o repousar com cuidado. Em seguida, caminhou em direção à porta. Era como se a própria existência dela desafiasse as leis da acústica, envolvendo-a em um manto de sigilo enquanto se aproximava da porta.

Jasmine abriu a porta majestosamente, revelando o mordomo de cabelos brancos amarrados em um rabo de cavalo impecável e uma barba bem aparada que realçava sua expressão serena.

― Sei que você se preocupa comigo, mas não me sinto à vontade para participar do banquete desta vez ― disse ela, com um tom de voz firme e decidido.

Sebastian inspirou profundamente, como se estivesse buscando paciência e compreensão. Ele continuou tentando uma maneira de despertar o interesse de Jasmine, e de trazê-la de volta ao convívio familiar.

― Dessa vez trago notícias que podem animá-la para a ocasião, minha senhora. O senhor Daniel finalmente chegou da missão ― disse o mordomo, mantendo sua postura impecável.

Um lindo sorriso floresceu no rosto delicado de Jasmine, iluminando seu olhar com uma mistura de alívio e felicidade.

O mordomo, com hesitação ao observar a animação de sua senhora, continuou a falar: — Minha cara senhora, trago uma notícia que talvez lhe cause… surpresa. Fiquei sabendo por meio dos murmúrios dos servos, que ele retornou de sua missão com… uma criança.

— O quê! Uma criança? Ah, claro, porque falhar em cuidar de si não é o suficiente, agora ele resolveu se aventurar como babá também! ― arregalou os olhos, incrédula.

— Bem, pelo visto, ele encontrou a criança durante a missão e sentiu-se compelido a trazê-la consigo.

— Ah, sim, claro! Porque quem melhor para confiar uma criança do que um idiota impetuoso, sempre se metendo em confusões e encrencas! Deve ser muito reconfortante saber que o bem-estar da pobre criança está nas mãos de um “herói” como ele! ― falou com um riso sarcástico

Jasmine começou a caminhar de um lado para o outro dentro do seu quarto, combinando com sua face repleta de estresse, deixando claro como as novidades a perturbaram e retirou toda a inocente animação que a chegada de seu irmão trouxe previamente.

— Perdoe-me, minha senhora, mas talvez…

— Talvez o quê? Talvez ele esteja disposto a ensinar a criança a lutar contra dragões e montar em unicórnios? Ah, sim, a educação perfeita para qualquer criança! ― interrompeu com ironia.

— Minha senhora, talvez seja melhor… ― continuou tentando.

— “Melhor” é uma palavra muito otimista para descrever a situação! Estou ansiosa para ver como Daniel equilibrará sua vida de aventureiro e de babá! Quem sabe ele até escreva um livro sobre isso: “Como Derrotar Monstros e Trocar Fraldas”!

Com um suspiro resignado, desistiu de tentar acalmá-la.

— Entendo sua preocupação, minha senhora. Vou informá-lo de sua… reação.

— Por favor, faça isso! E diga a ele que estou esperando ansiosamente para ver suas habilidades maternais em ação! Certamente será um espetáculo divertido! ― ainda rindo.

Após um momento de reflexão, ela mudou de ideia e disse com determinação.

― Sabe de uma coisa, esqueça o que eu disse antes. Me leve até ele imediatamente, antes que ele tenha a chance de inventar mais desculpas! Não darei a ele um segundo sequer para pensar!

― No momento, ele deve estar a caminho do escritório de seu pai.

Sem pensar duas vezes, Jasmine seguiu em direção a Daniel. Seu passo era rápido e determinado, enquanto ela percorria os corredores do imponente castelo. Era uma construção antiga e majestosa, erguida com pedras negras como obsidiana, que brilhavam sob a luz da lua. As paredes eram altas e grossas, protegendo o castelo de invasores e intempéries. Nas paredes, havia janelas estreitas e arqueadas, que permitiam a entrada de uma luz tênue e misteriosa. Ao longo dos corredores, havia tochas acesas, que lançavam sombras dançantes pelo chão de mármore.

Enquanto avançava, algo estranho aconteceu. A figura de Jasmine pareceu se misturar com as sombras que se estendiam ao longo dos corredores. Sua forma se fundiu com a escuridão, permitindo que ela se movimentasse com uma velocidade surreal e sem realizar qualquer som. Ela era como uma sombra viva, deslizando pelos corredores do castelo com uma destreza sobrenatural.

Ele tentou acelerar o passo, mas suas pernas pesavam como chumbo em comparação com a leveza e fluidez dos movimentos de Jasmine. Ela era como uma sombra viva, deslizando pelos corredores do castelo com uma destreza sobrenatural.

Enquanto avançava cada vez mais rápido, a escuridão parecia ser sua aliada, envolvendo-a em um manto de mistério e permitindo que se movesse sem ser percebida. Finalmente, ela alcançou Daniel, que ainda estava próximo à fonte no pátio interno. Era um lugar belo e tranquilo, cercado por árvores e flores que exalavam um perfume suave.

No centro do pátio, havia uma fonte de mármore branco, esculpida em forma de cisne, de onde jorrava uma água cristalina que caía em uma bacia circular. A luz do luar se refletia na superfície da água, criando um efeito cintilante. Com um movimento gracioso, Jasmine emergiu das sombras, retornando à forma física. Seu rosto expressava uma mistura de raiva e diversão.

Ao encontrar Daniel, que estava distraído, ela se aproximou abruptamente, lançando um olhar furioso em sua direção.

— Ah, olá, querido Daniel! Vejo que você trouxe uma companhia muito interessante de sua missão. Uma criança, não é? 

Daniel, surpreso com a aparição repentina, tentou explicar.

— Jasmine, eu posso…

— Não precisa se explicar, meu bravo aventureiro! Compreendo perfeitamente! Aposto que você é o melhor do mundo em trocar fraldas sujas enquanto se embriaga e luta por aí!

— Jasmine, eu tive minhas razões para trazer a criança…

— Oh, tenho certeza de que suas razões foram as mais nobres possíveis! É realmente admirável como você consegue equilibrar em suas aventuras e cuidar de uma criança! Quase um super-herói!

Ele, agora compreendendo o tom de sarcasmo, decidiu entrar na brincadeira.

— Você sabe, ser pai é uma vocação que descobri recentemente. Estou considerando abrir um curso para ensinar aventureiros a trocar fraldas enquanto duelam com dragões.

Jasmine, rindo alto, não conseguia conter o humor diante da situação.

— Ah, irmão, você sempre surpreende! Tenho certeza de que será o melhor pai aventureiro que o mundo já viu!

Enquanto brincavam e trocavam provocações com risos sinceros, ela percebeu algo peculiar. A criança repousava tranquilamente em seu colo, seus olhos curiosos vagando pelo ambiente desconhecido sem um traço de medo.

Ela se aproximou do pequeno, abaixando-se levemente para ficar à altura da criança, e estudou seu rosto com olhos brilhantes de curiosidade, como se estivesse tentando decifrar um enigma. Uma sensação de encantamento tomou conta dela.

Enquanto recordava a ferida em seu coração que ainda possuía resquícios, esticou sua mão, querendo tocar no rosto da criança.

No entanto, antes que pudesse fazê-lo, escutou uma voz calma, porém resoluta vindo da direção do escritório de seu pai.

― Vocês dois parem com isso e entrem logo antes que eu perca minha paciência.

Rapidamente retirou sua mão, lançando um último olhar curioso para a criança, e então, decidida, seguiu em direção à voz.

Eles se dirigiram ao escritório de seu pai. Era um aposento que respirava luxo e poder, com móveis de madeira nobre e tapetes de seda. Nas paredes, quadros de antepassados ilustres e troféus de caça de suas missões. 

Atrás da mesa, uma estante de livros ocupava toda a parede, guardando volumes antigos e raros. Lá, encontraram-no sentado em sua imponente cadeira de couro, com uma expressão séria e os braços cruzados. Jasmine foi a primeira a falar.

― Papai, o que está acontecendo? ― indagou ela, visivelmente intrigada.

Marcos suspirou e olhou para ela com uma expressão mista de cansaço e preocupação, parecia tão intrigado quanto ela. Ele levantou-se da cadeira e olhou para seu irmão mais novo.

Seu pai suspirou e apontou para a criança.

― Parece que você trouxe uma pequena surpresa para casa. Quero que me conte tudo sobre.

Daniel coçou a cabeça, parecendo um pouco desconcertado.

― Bem, papai… é uma história um tanto complicada ― Daniel respirou fundo antes de continuar. ― A missão foi uma farsa, e em meio a loucura, não pude deixá-lo para trás.

Daniel explicou o ocorrido em Olirion, detalhando com exatidão como chegou na situação que se encontrava atualmente.

Seu pai suspirou novamente, parecendo mais aliviado por ter algum esclarecimento, mas intrigado com a história da missão.

― Entendo… é uma situação delicada, mas precisamos fazer o que é certo. Cuidaremos dela enquanto procuramos por respostas. Entrarei em contato com o conselho para lidar com o caso. Mas, por enquanto, devemos garantir que ela esteja em segurança e bem cuidada.

Jasmine assentiu, sentindo uma mistura de curiosidade e responsabilidade.

― Contem comigo, papai e maninho. Descobriremos a verdade e ofereceremos o melhor para essa criança.

Seu pai a olhou com uma expressão de dor e compaixão, compreendendo a perda que ela havia enfrentado.

― Minha querida filha, sei que essa situação pode ser especialmente difícil para você. Mas, apesar de tudo, vejo em você uma força admirável.

 Jasmine sentiu um aperto no peito ao ouvir as palavras de seu pai, que tentava encorajá-la com um olhar bondoso. Sabia que ele também estava magoado pelo genro, que a deixou sem compaixão depois da perda do neto. Se culpava por acreditar no marido. Ela se refugiou em seu quarto, se perdendo em universos literários.

Se lançou nos braços de seu pai e se abraçou a ele, soluçando alto. Ele a acolheu com carinho e acariciou seus cabelos, dizendo palavras de consolo. Eles se abraçaram por um longo tempo, compartilhando a dor de sua perda e encontrando alívio em sua presença.

― Obrigada, papai.

Seu pai assentiu, segurando as mãos de Jasmine com ternura.

― Estamos juntos nessa jornada, minha filha.

Daniel, tossiu levemente, deslocado da cena emocional entre eles. Ele olhou para a pequena criança que estava em seu colo, pensativo e preocupado.

― O que faremos então? ― indagou ele, com uma mistura de ansiedade e medo da responsabilidade.

Antes que ele pudesse continuar com suas preocupações, sua irmã o interrompeu, colocando uma mão gentilmente em seu ombro.

― Quero ficar com ele e educá-lo. Serei sua mãe.

As palavras dela foram como um raio caindo no ambiente, trazendo surpresa por aquela decisão que poderia ser precipitada. Seu pai foi o primeiro a se manifestar, mostrando uma clara preocupação com a ideia.

Compreendendo como sua decisão repentina poderia ressoar para eles, ela decidiu se explicar: ― Sei que soa uma decisão estranha, e posso estar tentando usar essa criança para curar a dor da falha de ter perdido o meu no filho ventre.

Ela respirou profundamente ao tocar nesse assunto que tanto teve em vista dissipar de sua mente.

― Você não teve… ― antes que Marcos pudesse terminar sua frase, Jasmine levantou sua mão para interrompê-lo, e continuou a falar.

― No entanto, acredito que posso ser o que essa criança precisa, e que posso ser a mãe que sonhei em ser, para ela.

Ao escutar o sincero desabafo de sua filha, Marcos mostrou um semblante emocionado, sabendo o quão importante isso poderia ser para ela, após fechar os olhos e contemplar por um instante, tomou sua decisão.

― Parece que sou vovô agora.

Ela sorriu e pulou em seus braços, claramente feliz por ser compreendida.

Daniel se aproximou deles, e após entregar a criança aos braços de Jasmine, sem demonstrar nenhuma divergência a irmã, simplesmente se aproximou e falou:

― Cuidaremos dela como se fosse nossa família.

― Ele já é parte da família agora ― Ela respondeu com um sorriso que poderia aquecer até um lago congelado, enquanto olhava para o pequeno, o ajeitando em seu colo.

Sabendo que poderiam contar um com o outro, os dois se esforçaram para educar Arthur, tornando ele um verdadeiro membro de sua família, e assim passaram-se quinze anos.

 


Caro leitor,

Chegamos ao final deste capítulo emocionante! Espero que tenha desfrutado desta jornada tanto quanto eu. Se você gostou do que leu ou se tiver alguma sugestão para melhorar a história, por favor, compartilhe seus pensamentos nos comentários abaixo. Seus feedbacks são fundamentais para me ajudar a criar uma narrativa mais envolvente e personagens memoráveis.

Além disso, se houver alguma teoria intrigante, ou se quiser discutir possíveis desdobramentos da trama, estou ansioso para ouvir suas ideias brilhantes. Sua participação é vital para o progresso desta história épica!

Agradeço imensamente por dedicar seu tempo a ler minha obra. Seus comentários e apoio são a verdadeira força motriz por trás deste projeto. Mal posso esperar para compartilhar o próximo capítulo com você em breve!

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