Volume 1
Capítulo 2: O Musicista Sombrio
O soldado avançou sobre o ministro com a espada em punho. Desferiu um golpe brutal, dilacerando o peito. O sangue jorrou do ferimento, manchando o chão de vermelho.
― Aaaah! — O ministro soltou um urro de agonia e tombou no chão, ensanguentado.
O homem soltou uma gargalhada sádica, enquanto esfregava a lâmina no manto do cadáver. Olhou para Daniel, que estava petrificado de horror. O rapaz tremia em uma mistura de ódio e pavor. Não compreendia o que estava acontecendo. Quem era ele? O que ele queria?
― Vem comigo! ― ordenou o falsário, agarrando-o pelo braço. ― Não dá para ficar aqui. Temos que encontrar os outros e fugir do palácio.
Enquanto avançavam pelos corredores, cenas de carnificina se alastraram pelo palácio. Não somente guardas foram mortos, todos os servos também, criando uma verdadeira cena de horror. O cheiro de sangue e o som dos gritos enchiam o ar. Daniel não pôde conter a repulsa ao ver aquela cena macabra. Antes mesmo de conseguirem alcançar a saída que estava próxima deles, ele reduziu seus passos até parar e, com um tom de voz completamente diferente, ordenou:
― PARE AGORA!
O homem, ao escutar aquelas palavras de fúria contida, parou e se virou para ele de maneira confusa.
― Que diabos você está fazendo? ― ele perguntou, irritado. ― Temos que sair daqui logo e nos reunir com os outros para colocar fogo no palácio, antes que a notícia se espalhe e uma cavalaria chegue aqui.
― Você está louco? ― retrucou, indignado. ― Você matou o ministro e todos os inocentes que estavam aqui. Você é um psicopata!
― Não me julgue, Umbra ― falou o falsário com desprezo. ― Você não sabe nada sobre o que está acontecendo aqui. Aqueles que se submetem a tal lixo, ou se acovardam perante a ele, não são inocentes. Você não sabe o que é lutar por uma causa.
Ao escutar seu sobrenome, ele compreendeu que caíra em algum tipo de armadilha, sendo levado a ser colocado em meio aquela confusão como cúmplice.
― E qual é a sua causa? ― perguntou, irritado. ― Quem são os outros? Quem está por trás disso tudo?
― Você vai saber em breve ― o homem respondeu, com um sorriso de deboche. ― Mas agora, você tem duas opções: ou você vem comigo e se junta a nós, ou você fica aqui e morre com eles.
Antes mesmo que Daniel pudesse responder, ele escutou, em meio àquele caos bizarro, o choro de uma criança. Aquele som era como facas cortantes para ele, criando uma sensação de culpa pela criança estar naquele lugar que agora parecia mais um abatedouro.
― Vai se foder seu merda, essa é a minha resposta.
Após suas palavras, sua sombra se ampliou de maneira antinatural e o engoliu como se fosse um rio escuro, o fazendo simplesmente sumir.
Daniel sentiu um arrepio na espinha e um vazio no peito, enquanto a sua sombra o envolvia. Ele só sabia que tinha que alcançar aquela criança, o mais rápido possível. Após fechar os olhos como se fosse hipnotizado pelo som, fluiu pelas sombras, como se fosse um rio escuro e silencioso. Ele não sabia onde estava indo, mas confiava no seu instinto. Quando sentiu uma leve claridade tocando a sua pele, ele abriu os olhos e emergiu em um lugar completamente diferente.
Quando abriu os olhos novamente, ele se viu em um ambiente completamente diferente. Estava em um cômodo simples, pequeno e escuro. Não tinha móveis, apenas baús e cestos para guardar seus pertences e uma cama de palha no canto.
O aroma de sangue invadia as narinas de Daniel, que logo avistou um casal de servos estendidos no chão, sem vida. Na única cama do cômodo, um bebê chorava desesperadamente, enquanto um homem com as mesmas vestes dos outros guerreiros se aproximava da criança com uma expressão fria. Daniel não hesitou em intervir.
Ele disparou até o bebê e o arrebatou nos braços, afastando-o do soldado como se fosse um leão protegendo seu filhote. A criança se assustou com o movimento brusco e inesperado, mas logo se acalmou ao sentir o calor reconfortante do músico. Ela encarou seu rosto com curiosidade e admiração, esboçando um leve sorriso, que parecia de gratidão. Era um menino de cabelos pretos como a noite e olhos castanhos como o mel.
― Ei, calma, eu não vou te machucar ― disse ele, aproximando-se do menino e pegando-o no colo. ― Eu vim te salvar. Você é muito pequeno para estar aqui.
― Umbra! ― o soldado gritou, reconhecendo o bardo. Ele brandiu a espada contra ele com fúria. ― O que você está fazendo aqui? O que aconteceu com Arbus?
― Então Arbus era o nome daquele merda ― respondeu ele com ironia.
Umbra olhava para o soldado com desprezo e ódio. Com o estalar dos dedos, uma sombra próxima a ele se expandiu, criando um buraco sem luz alguma no meio daquele cômodo. O buraco era grande o suficiente para caber uma pessoa e parecia um portal para um abismo sem fundo. Não emitia som algum, mas emitia uma aura sinistra que arrepiava os pelos da nuca. O bardo olhou para a sombra como se estivesse insinuando que tinha alguém dentro.
― Posso até responder suas perguntas, mas quero que responda duas minhas antes.
O homem que tinha sido pego de surpresa, com a aparição repentina, não demorou para acenar pesadamente, mostrando o quão ansioso e perturbado estava, o impulsionando-o a reagir de maneira irracional, claramente acreditando que seu companheiro foi pego.
― Quem são vocês?
― Os corvos que trazem a chama da revolução! ― respondeu, com orgulho
― Certo… vocês realmente acreditam que podem ser melhores que um governo tirano, matando como eles? ― perguntou o músico mostrando uma clara incredulidade.
― Estamos fazendo o expurgo dos covardes e os coniventes.
― Hahaha… você quer dizer, se livrando de quem não concorda com sua causa.
― Estamos em guerra! É óbvio que sacrifícios precisam ser feitos, para termos resultado.
Daniel achou aquilo ridículo. Tinha se metido em uma seita de loucos e contribuído com suas loucuras. Mas antes que pudesse tomar uma atitude de como iria prosseguir naquele contexto, uma estranha ventania tomou conta do ambiente. Junto dela, Arbus, o soldado que ele havia abandonado, surgiu como se estivesse surfando no ar.
O corvo que caiu na farsa do bardo, ao perceber a chegada de seu parceiro, ficou irado ao sentir, que foi feito de idiota e olhou cruelmente para ele.
― O que foi? Eu nunca disse que ele estava ali, só queria te mostrar o quão maneiro era minha sombra. Você me respondeu porque quis ― falou enquanto dava de ombros com um sorriso debochado.
― Seu desgraçado! Você pagará por isso! ― o corvo gritou e, chamas irromperam de suas mãos envolvendo a espada, emanando um calor insuportável.
Ele se viu em uma situação complicada, pois não podia usar o seu mundo das sombras, consecutivamente. Esse era o nome que ele dava à sua habilidade de viajar e manipular as sombras, mas ela demandava mais da metade da sua força primordial para viajar dentro dele e precisava de tempo para recuperar.
Vendo-se em um cômodo sem janelas e com uma única saída, ele sabia que tinha que lutar. Colocou o menino em um casulo formado pelas trevas que emergiram de seus pés e o fez desaparecer nelas. Em seguida, arrancou uma espada completamente preta, que se moldava a partir da escuridão dele e apontou para os dois homens os desafiando a avançar.
Daniel estava pronto para enfrentar os dois corvos, segurava com firmeza e determinação a sua espada. Sabia que não podia perder tempo, pois o seu mundo das sombras poderia se dissipar a qualquer momento. Tinha que ser rápido e preciso.
― Quem gostaria de fazer as honras ― Olhou para os corvos com desafio e provocação. Queria que atacassem primeiro, para poder aproveitar a sua vantagem de surpresa e agilidade. Sabia serem fortes e experientes, mas também sabia que não conheciam ou compreendiam o seu poder.
Daniel esperou o momento certo para agir. O corvo avançou com a espada em chamas.
Fwosh!
O fogo iluminava o seu rosto louco. Era um dragão de fogo prestes a devorar a presa. Mas Daniel não se intimidou. Ele desviou do golpe com um zás! E cortou o braço do corvo com a sua espada.
― Aaargh! O corvo urrou de dor e raiva, enquanto o sangue esguichava. Mas logo foi silenciado ao ter sua cabeça decepada.
Aproveitou a distração para atacar o outro, que estava mais atrás. Saltou por cima do corvo de chamas e disparou em sua direção, que estava atordoado com a situação. Daniel não lhe deu chance de se preparar. Cravou a sua espada nas sombras que criou na sua frente, fazendo-a emergir na própria sombra do Arbus, o pegando de surpresa.
Arbus demonstrou um reflexo assustador, usando uma corrente de ar para se impulsionar para trás, ajudando-o a desviar por pouco. Ao bater as costas com força na parede do pequeno cômodo, recuperou seus sentidos e olhou cruelmente para o bardo, deixando claro suas intenções assassinas.
Todavia, o bardo não lhe deu tempo para pensar e executou a sua habilidade, lâmina das sombras, fazendo-a sumir de sua mão. Logo depois apontou em direção ao homem que ficou confuso e alerta, esperando de onde viria o golpe.
Daniel sorriu com confiança, sabendo que tinha a vantagem. Ele controlava as sombras do cômodo, podendo atacar de qualquer ângulo. Arbus estava em desvantagem, pois não tinha espaço para usar o seu poder de vento com eficiência. Além disso, ele estava ferido.
Fez a sua espada de sombra reaparecer em suas mãos e a lançou na direção dele, que se esquivou com dificuldade. Mas era uma armadilha. A espada se desfez e ressurgiu da sombra por trás de sua cabeça, o pegando de surpresa. Ele desviou por pouco, mas a lâmina rasgou o seu rosto, criando uma profunda ferida em seu olho esquerdo. Sorrindo ao ver o sangue escorrendo pelo rosto de Arbus. Ele sabia que tinha levado vantagem naquele duelo.
― E aí, como você está se sentindo? ― Ele perguntou com sarcasmo. ― Você ainda consegue me ver direito? Ou será que fiquei meio turvo?
Arbus rosnou de raiva e dor. Ele mal conseguia enxergar devido à pálpebra inchada e ensanguentada. Sabia que tinha perdido um olho naquela briga.
― Seu bastardo! ― ele gritou carregado de ódio. ― Você pagará caro por isso! Você implorará pela sua vida antes que eu te mate!
Daniel riu da ameaça de Arbus. Ele não tinha medo dele. Ele sabia que era mais forte, mais rápido e mais esperto do que ele. Tinha a vantagem da espada de sombra, que podia se transformar em qualquer forma.
Mas para sua surpresa, ainda restavam forças no usuário de vento, que se impulsionou com uma velocidade assustadora em direção a jugular do músico.
Ao invés de tentar se esquivar desesperadamente daquela espada, não se moveu. Firmou sua guarda e esperou calmamente a aproximação da lâmina. Quando estava próximo o suficiente, ele agarrou o braço do corvo para redirecionar sua espada longe do seu corpo e chutou seus pés com extrema destreza, o lançando para o abismo que havia criado anteriormente.
Daniel olhou para aquele poço sem fundo, com a intenção de confirmar a morte de Arbus. Mas antes que desse um passo, escutou sons de cavalos se aproximando. Ele tinha que salvar o bebê, precisava sair logo dali. Ele pegou a espada que o falso soldado segurava e a guardou na sua cintura, pensando que poderia ser útil. Não se sentiu culpado por roubar aquilo, pois achava que ele não precisava mais daquilo. Sorrindo, ele falou com desprezo:
― Espero que seja atormentado pela eternidade, filho da puta.
Ele saiu do cômodo e correu pelos corredores do castelo, procurando uma forma de escapar. Ao usar seu mundo das sombras para elevar suas capacidades sensoriais, descobriu que havia uma passagem secreta por trás de uma tapeçaria no salão principal, que levava aos estábulos. Esperava que ninguém tivesse descoberto ainda.
Chegou ao salão principal, e percebeu que estava vazio. Correu até a tapeçaria e a afastou, revelando uma porta escondida. Abriu a porta e entrou na passagem secreta, fechando-a atrás de si.
Seguiu pelo túnel escuro até chegar aos estábulos, onde havia vários cavalos presos nas baias. Escolheu um cavalo preto e forte, parecia resistente e veloz. Soltou o cavalo da baía e montou nele, segurando o bebê com uma mão.
Saiu dos estábulos pela porta dos fundos e galopou pelo campo aberto, em direção à floresta. Olhou para trás para ter certeza que ninguém os seguia. Ele conseguiu escapar do castelo, respirou fundo e sorrindo para o bebê, perguntou:
― Qual é o seu nome, pequeno?
O bebê, com um olhar sonolento para ele, respondeu:
― Arthur.
Daniel gostou do nome. Achou combinar com ele.
Entrou na floresta, seguindo por um caminho pouco usado pelos viajantes. Sabia que havia uma pequena vila escondida entre as árvores, onde tinha deixado um velho cocheiro que trabalhava para sua família e o trouxe até Wadun. Assim poderia retornar a Shakil em segurança e informar os Umbras o que ocorreu em sua missão.
As missões que sua família aceitava, sempre tinham uma ampla pesquisa para saber sua procedência, facilmente perceberiam a farsa, algo estava fora do lugar.
Só tinha um problema, o que iria fazer com a criança.
Caro leitor,
Chegamos ao final deste capítulo emocionante! Espero que tenha desfrutado desta jornada tanto quanto eu. Se você gostou do que leu ou se tiver alguma sugestão para melhorar a história, por favor, compartilhe seus pensamentos nos comentários abaixo. Seus feedbacks são fundamentais para me ajudar a criar uma narrativa mais envolvente e personagens memoráveis.
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