Desertor do Caos Brasileira

Autor(a): Morrigan


Volume 1

Capítulo 1: Melodia da Morte

 

 

Wadun era uma cidade pacata e esquecida no reino de Olirion. Ela só era lembrada por ser um ponto de passagem obrigatório para viajantes que desejavam alcançar a cidade de Asminter, a capital do comércio e da cultura. Suas tavernas animadas e acolhedoras comportavam aqueles que desejavam descansar antes de continuar suas viagens, oferecendo-lhes comida farta, bebida barata e histórias divertidas.

Na taverna mais famosa da cidade, um bardo de cabelos negros, fazia a festa dos homens bêbados que mal conseguiam se equilibrar. Ele tocava com fervor, fazendo a música subir e descer com o ritmo contagiante. O som do alaúde se misturava com as risadas, os gritos e os brindes dos homens que se divertiam sem preocupação.

O cheiro de cerveja, de carne assada e de fumaça de tabaco enchia o ar, criando uma atmosfera aconchegante e familiar. Ao terminar seu primeiro ato, ele agarrou a cerveja que estava no balcão ao seu lado e virou-a de uma vez, sentindo o líquido gelado descer pela sua garganta e aliviar a sua sede de dias.

― Bravo, Bravo! ― gritavam os homens, batendo palmas e jogando moedas para o bardo.

― Obrigado, obrigado ― dizia o bardo, sorrindo com animação. Ele pegou as moedas e as jogou no balcão, pedindo mais bebida. Aproveitando o momento para flertar com a mulher que o atendia usando seus lindos olhos verdes. Ele não se importava com o dinheiro dos bêbados. Só queria cantar e beber enquanto esperava quem veio ver chegar. Daniel havia recebido uma carta de uma organização que lutava contra a tirania do rei Olirion. Eles lhe ofereceram uma missão perigosa: descobrir informações comprometedoras sobre o ministro das finanças.

Ele aceitou sem hesitar. Mas havia um problema: ele não podia fazer isso sozinho. Teria um parceiro que chegaria naquela noite na taverna. Ele tinha a outra parte das informações que faltava, e teria um mapa do local que iriam invadir. Pensou no que poderiam encontrar no escritório do ministro: documentos secretos, cofres cheios de ouro, provas de corrupção… Ele sentiu uma pontada de medo e de excitação ao mesmo tempo.

― Outra música! ― gritou um homem bêbado, agarrando o braço do bardo. ― Cante aquela do dragão vermelho! O bardo se soltou com um sorriso forçado. Ele pegou seu alaúde e se preparou para tocar a música mais pedida da noite. Ele odiava essa música. Era uma mentira inventada pelo rei para enganar o povo sofrido de Olirion.

Ele sabia bem quem era o rei: um tirano cruel e sanguinário que explorava os seus súditos sem piedade. Mas ele tinha que fingir que admirava o rei, para não chamar atenção dos espiões do palácio. Ele começou a cantar com uma voz irônica e sarcástica: ― Escutem essa história de coragem e glória de como o nosso grande rei enfrentou a fera que ameaçava o nosso reino com sua fúria E como ele voltou triunfante da guerra.

 

O Rei de Olirion, valente e destemido,

Nenhum inimigo ou fera o tinha vencido.

Um dia, rugidos ecoaram pelo ar,

Era o dragão vermelho, pronto para desafiar.

 

O Rei empunhou a espada de luz fulgurante,

Partiu corajoso, enfrentar o dragão flamejante.

Chamas rugiam, fumaça dançava no ar,

Mas o Rei se esquivava, determinado a lutar.

 

Golpe certeiro atingiu o peito da fera,

O dragão vacilou, a batalha estava à espera.

Quedou-se sem forças, uma visão abatida,

Enquanto o Rei triunfante selava a partida.

 

Com garra e bravura, ele venceu,

O coração dos súditos por ele tremeu.

Casa retornou, com a medalha cintilante,

Um herói aclamado, em seu reinado radiante.

 

Os homens aplaudiram e cantaram junto, sem perceber a ironia do bardo. Ele terminou a música e olhou para a porta da taverna, esperando ver seu parceiro chegar. Mas em vez disso, ele viu um grupo de soldados do rei entrando na taverna, com espadas nas cinturas e olhares severos. Ele sentiu um frio na barriga. Será que eles sabiam da sua missão? Eles chegaram para prendê-lo?

Ele não tinha certeza do que fazer. Ele considerou fugir, mas era tarde demais. Eles se aproximaram do palco onde ele estava, o deixando nervoso ao pensar que tinha caído algum tipo de armadilha, criando mil cálculos de como poderia sair limpamente daquela situação. Os homens finalmente pararam em sua frente e sem qualquer apresentação, se dirigiram a ele.

― O ministro ficou sabendo da presença de um bardo talentoso na região, e requisitou sua presença ― disse um dos soldados, com voz autoritária.

Ele ficou confuso e assustado. O que o ministro queria com ele? Será que ele tinha alguma relação com a sua missão? Ele tentou disfarçar o seu espanto e disse com voz educada e hesitante: ― Eu me sinto honrado com o convite do ministro, mas tenho outros compromissos na cidade. Talvez em outra ocasião…

― Não é um convite, é uma ordem ― disse outro soldado, puxando o braço do bardo com força e grosseria. ― Você vem conosco agora, ou vai se arrepender.

O bardo não teve escolha. Ele pegou o seu alaúde e deixou os soldados o arrastarem para fora da taverna. Ele olhou para os lados, procurando uma forma de escapar ou de pedir ajuda sem lutar. Mas ninguém se moveu para socorrê-lo. Os homens que antes aplaudiam e cantavam com ele agora o ignoravam ou o olhavam com pena. Ele se sentiu abandonado e traído. Ele não sabia o que o esperava no palácio do ministro. Mas ele tinha certeza de que não seria nada bom.

Foi então que ele notou um dos soldados dando uma piscadela sutil para ele, o fazendo compreender que ele era o tal parceiro que esperava, e entendeu o porquê ele teria um mapa preciso de onde iria invadir. Ele ficou surpreso e aliviado ao mesmo tempo. Era tudo parte do plano. Ele tinha sido enganado para ser levado ao palácio do ministro sem levantar suspeitas. Ele só esperava que o seu parceiro soubesse o que estava fazendo. Ele pensou: “Espero que esse filha da puta saiba o que está fazendo.”

Saindo da taverna, acompanhados pelos outros soldados. Eles montaram em cavalos e seguiram em direção ao palácio do ministro, que ficava no centro da cidade. Ele olhava para o soldado que era o seu parceiro, tentando se comunicar com ele sem chamar a atenção dos outros. Queria saber qual era o plano, como iriam prosseguir, o que iriam procurar, como iriam sair. Mas o soldado não lhe dava nenhuma pista. Ele apenas mantinha uma expressão séria e concentrada, como se fosse um verdadeiro soldado do rei.

Eles chegaram ao palácio do ministro, que era uma construção imponente e luxuosa, cercada por muros altos e guardas armados. Eles desmontaram dos cavalos e entraram no palácio, seguindo um dos soldados que parecia ser o líder. O bardo olhava em volta, admirado com a riqueza e a beleza do lugar. Ele via quadros, estátuas, tapetes, lustres, móveis, tudo de alto valor e bom gosto. Ele pensava no quanto o ministro devia ser corrupto e ganancioso para ter tanta riqueza às custas do povo. Sentia um misto de raiva e inveja.

Foi conduzido até uma sala ampla e elegante, onde o ministro os esperava. Era um homem de meia-idade, com cabelos grisalhos e um bigode fino. Ele usava uma roupa cara e ostentava vários anéis nos dedos. Tinha um ar de superioridade e arrogância, como se fosse dono de tudo e de todos. Ele se levantou ao ver os soldados entrarem na sala, e sorriu ao ver o bardo.

― Então esse é o famoso bardo que tanto me falaram ― disse com voz melosa e falsa. ― É um prazer conhecê-lo. Sou o ministro das finanças do rei de Olirion, o homem mais poderoso e respeitado deste reino.

Percebendo não ter muita escolha além de se adequar o momento, curvou diante do ministro, fingindo humildade e admiração.

― Eu é que me sinto honrado em conhecer o senhor ― disse ele, com voz submissa e mentirosa. ― Sou apenas um simples bardo que viaja pelo mundo, cantando as glórias do nosso grande rei Olirion.

O ministro riu, satisfeito com a resposta, o fazendo crer que havia achado a pessoa correta para os seus planos, mas ainda queria testá-lo.

― Eu ouvi falar muito bem de você. Me disseram que você tem uma voz maravilhosa e um talento incrível para compor músicas. Sou um grande apreciador da arte musical, e gostaria de ouvir você cantar para mim.

Logo se surpreendeu com o pedido. Ele não esperava que ele quisesse ouvi-lo cantar. Ele pensou que talvez fosse parte do plano do seu parceiro, uma forma de se infiltrar. Tinha que manter o seu disfarce e seguir o plano.

― Eu não tenho nenhuma música preparada para esta ocasião.

― Não se preocupe ― disse o ministro. ― Você pode cantar qualquer música que quiser. Eu só quero apreciar a sua voz.

O bardo pensou rápido em uma música que pudesse cantar para o ministro. Ele lembrou da música que cantou na taverna, sobre o rei Olirion enfrentando o dragão vermelho. Ele achou que seria uma boa escolha, pois era uma música que enaltece o rei e que talvez agradasse ao ministro.

Pegou o seu alaúde e começou a cantar aquela música que tanto detestava novamente. Ao término, o ministro aplaudiu e elogiou a música do bardo.

― Você tem uma voz maravilhosa e um talento incrível para compor músicas. Você é um verdadeiro artista.

― Obrigado, senhor ― disse ele. ― Eu me sinto honrado com os seus elogios. Eu só tento fazer jus à grandeza do nosso rei de Olirion.

― Você merece mais reconhecimento e recompensa pelo seu trabalho. Tenho uma proposta para você.

Se surpreendendo com a proposta. Não sabia do que se tratava. Mas pensou que talvez fosse uma oportunidade de se aproximar mais dele e cumprir sua missão.

― Que proposta, senhor?

O ministro se levantou e caminhou até uma janela que dava para o jardim do palácio. Ele olhou para fora, como se estivesse admirando a paisagem. Mas, na verdade, estava olhando para os guardas que se retiraram para vigiar o local. Ele queria ter certeza de que ninguém estava ouvindo a sua conversa.

― Quero que você seja o meu bardo pessoal ― disse ele, baixando a voz. ― Quero que você cante para mim sempre que eu quiser. Que você componha músicas sobre mim e sobre o meu trabalho como ministro das finanças. Espalhe essas músicas pelo reino, para aumentar a minha fama e a minha influência. Quero que você seja o meu porta-voz e o meu aliado.

Ficou chocado o bardo com a proposta do ministro. Não esperava por isso. Ele percebeu que o ministro tinha ambições políticas e que queria usar o seu talento musical para promover os seus interesses. Ele sentiu repulsa e indignação pelo ministro.

Apesar de sentir que era uma ótima oportunidade para se aproximar dele e conseguir o que procurava, ainda queria se reunir com o soldado que criou toda aquela situação e compreender corretamente seu plano.

Ele parecia ter percebido sua hesitação e se aproximou colocando uma mão em seu ombro, e dirigiu a ele como um velho amigo que legitimamente se importava com ele.

― Escutei detalhes sobre a complicada situação financeira dos seus familiares, tenho certeza de que com minha ajuda, poderá dar uma vida honrada a eles.

Confuso ao escutar as palavras proferidas por ele, não sabia como continuar o ritmo daquela conversa, que parecia parte da história plantada pelo infiltrado. Mas para sua sorte, ele viu o homem que seria seu parceiro se aproximar em ritmo acelerado com um olhar repleto de medo.

Ao perceber o soldado correndo exasperado na direção deles, o ministro o parou antes mesmo que pudesse se aproximar mais e perguntou claramente com irritação.

― Espero que tenha um bom motivo para atrapalhar meu assunto e possa lhe salvar de tal ofensa ― falou com uma crueldade que fugia da pessoa simpática que apresentou anteriormente.

Respirando ofegantemente como se tivesse percorrido uma maratona onde sua vida dependia disso, o homem começou a falar desesperadamente.

― Um assassino daqueles revolucionários se rastejou para dentro do palácio e começou uma chacina.

O bardo ficou surpreso e assustado com a notícia do soldado. Ele não sabia se era verdade ou se era parte do plano do seu parceiro. Ele olhou para o ministro que parecia uma folha branca tremendo ao vento.

 ― Um assassino? ― repetiu o ministro, com voz trêmula e incrédula. ― Como isso é possível? Quem é ele? Onde ele está?

E foi até a janela mais próxima verificar os soldados que deveriam estar realizando a ronda, e viu todos ao chão, claramente mortos.

― Como ele passou despercebido, cadê os outros homens que deveriam estar em guarda? ― perguntava freneticamente, claramente perturbado. Ao ponto que só conseguiu arregalar os olhos com horror ao sentir uma lâmina fria que atravessou seu peito.

― Estão lhe aguardando no inferno, desgraçado! ― disse o soldado ao pé do ouvido do ministro enquanto ainda estava segurando a lâmina ensanguentada. 

 


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Chegamos ao final deste capítulo emocionante! Espero que tenha desfrutado desta jornada tanto quanto eu. Se você gostou do que leu ou se tiver alguma sugestão para melhorar a história, por favor, compartilhe seus pensamentos nos comentários abaixo. Seus feedbacks são fundamentais para me ajudar a criar uma narrativa mais envolvente e personagens memoráveis.

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