Desertor do Caos Brasileira

Autor(a): Morrigan


Volume 1

Capítulo 16: Entre Raízes e Canções

 

O nome reverberou em sua mente, fazendo sua cabeça vibrar como se estivesse no meio de um enxame de abelhas. Uma dor aguda atravessou o torso de Arthur, como se uma pedra tivesse caído sobre ele, trazendo à tona a lembrança da ferida que ele havia esquecido no caos.

 ― Está bem, criança? ― Perguntou Gemma. As raízes que formavam seu corpo se estenderam até Arthur, explorando cada detalhe.

Ao perceber a ferida na lateral do torso, os galhos folhados se entrelaçaram ao redor de seu tronco e começaram a emitir um brilho verde, emanando uma energia que o acalmou e fez sua pele formigar no local onde o brilho alcançava.

As raízes finalmente se afastaram, deixando uma pele reestruturada, limpa como se jamais tivesse sido maltratada antes.

― Não sabia que podia fazer isso ― disse Arthur, observando o local curado com suas pupilas dilatadas em surpresa.

― Sou um guardião para os animais, minha função é proteger e ajudá-los.

― Mas sou humano. ― Franzindo a testa. A confusão se espalhava no rosto de Arthur.

― Apesar de se acharem acima de outros seres, sempre serão uma parte da fauna. Arthur encarou Gemma, seus olhos se arregalando com a revelação. Ele sempre se considerou diferente dos animais, superior de alguma forma. Mas as palavras de Gemma o fizeram questionar essa crença.

― Então, somos todos iguais? ― perguntou Arthur, sua voz cheia de incerteza.

Gemma sorriu, um sorriso que parecia mais uma curva suave em sua casca do que uma expressão humana.

― Não iguais, Arthur. Cada criatura tem seu próprio papel a desempenhar. Mas todos somos parte do mesmo todo.

De repente, o Sylvancient se agitou, suas folhas estavam farfalhando como se uma brisa tivesse passado. Se virou em direção a um som distante, um som que Arthur não conseguia ouvir.

― Sua carona chegou, Arthur ― disse Gemma, sua voz soando como o sussurro do vento através das folhas.

Arthur se levantou, surpreso. escutou atentamente e, depois de um momento, também ouviu ruídos longínquos.

― Eu tenho que ir ― disse ele, sua voz cheia de relutância. Seus olhos cheios de gratidão e uma pitada de tristeza.

Gemma assentiu, um movimento suave que parecia mais um balanço suave de seus galhos do que um aceno humano.

― Entendo, Arthur. Lembre-se do que aprendeu aqui. Você sempre será bem-vindo.

Arthur assentiu, dando um último olhar para a floresta antes de se virar e caminhar em direção ao som. Arthur ficou em silêncio, absorvendo as palavras de Gemma. Observou a floresta ao seu redor, vendo-a com uma nova perspectiva. Não era apenas um visitante aqui; era parte disso.

 

(…)

 

Dentro da carruagem, a penumbra alcançou o rosto do rapaz, enquanto refletia sobre tudo que aprendeu, uma nova visão de vida se formou em um curto espaço e tempo, o fazendo repensar em verdades antigas, e o quão tolas pareciam.

         A carruagem balançava suavemente enquanto Arthur se acomodava no assento acolchoado. Ele olhava pela janela, observando a floresta se afastar, as árvores se tornando manchas verdes borradas. Ele sentia falta da presença reconfortante de Gemma, mas sabia que tinha uma jornada a seguir.

         Enquanto a carruagem avançava, refletia sobre as palavras de Gemma. Sempre se considerou superior aos animais, mas agora, não tinha tanta certeza dos animais que encontrava em meio a viagem, cada um com seu próprio papel a desempenhar no grande esquema das coisas. Ele pensava em si mesmo, um humano, e se perguntava qual era o seu papel.

         Ele foi interrompido de seus pensamentos pelo cocheiro.

― Estamos chegando à muralha, senhor ― disse o Sebastian, sua voz rouca quebrando o silêncio.

O Umbra olhou pela janela e viu a grande muralha cinza com milhares de tochas acesas que delimitava a floresta, sentindo a tensão crescente.

― Como chegou aqui e como vamos passar?

― Foi me pedido fazer o necessário para o salvar ― respondeu o homem enquanto amarrava seus longos cabelos brancos em um rabo de cavalo.

― O que significa?

― Infelizmente fui obrigado a forçar a passagem, acredito que não poderei ser tão educado dessa vez.

―  O que? ― O rapaz levantou uma das sobrancelhas enquanto franzia sua testa.

― Se segure jovem senhor. ― O homem bateu as rédeas, acelerando em um caminho direto ao enorme portão de ferro em meio àqueles enormes muros de pedra que pareciam impenetráveis.

Em frente a muralha era possível ver soldados enfileirados e prontos para frear a investida da solitária carruagem negra.

O mordomo pegou uma katana e subiu para o topo da carruagem, enquanto desembainhava a lâmina, fazendo o som pesado do tilintar do metal ressoar de maneira sobrenatural, um verdadeiro aviso aos inimigos.

Os homens que guardavam o portão, preparam uma posição defensiva com suas lanças apontando para o veículo.

A voz do velho apesar de baixa, era facilmente audível e soava como as águas do mar em um dia ensolarado: ― Primeira forma do lobo branco, Corte do lobo prateado.

A energia que irradiou pela sua lâmina, cobriu todo o seu corpo, criando uma sensação que ele brilhava com a luz do luar, reverberando por todo o ambiente e ofuscando momentaneamente a visão de todos ali.

Um estalo sônico surgiu como um estrondo, fazendo ele surgir frente aos soldados que antes que pudessem reagir, viram sua arma sobrenaturalmente alcançar a carne dos homens e partir ao meio tudo que pudesse ser visto pela frente, dividindo até o portão ao meio.

Os guerreiros que sobraram, estavam de bocas abertas, atônitos observando o massacre deixado por onde o golpe dele passou, se assustando quando uma forte ventania da energia residual os arremessou para longe.

O mordomo que estava no centro do desastre, a katana ainda cintilando com o resquício da energia. Os seus olhos, agora brilhando intensamente, varriam os arredores, examinando os soldados atordoados e o portão partido.

“Caralho, que foda” Arthur observava tudo, uma mistura de admiração e apreensão preenchendo seus olhos. Aquela cena era além do que ele poderia imaginar, um vislumbre do poder que existia além dos limites do que conhecia.

A imagem do cocheiro piscou e reapareceu no comando dos cavalos, quebrando o silêncio tenso, disse com uma voz rouca.

― Devemos aproveitar a oportunidade, senhor Arthur. O caminho está aberto, mas não por muito tempo.

Guiando os cavalos através do portão partido. A paisagem além da muralha se estendia vasta e misteriosa, com sombras dançando entre as árvores.

Subitamente, uma sombra se projetou sobre a carruagem, interrompendo seus pensamentos.

Uma criatura alada pairava acima, as asas batendo lentamente contra o céu noturno. Seus olhos, luminosos e penetrantes, encontraram os de Arthur, como se lessem os segredos enterrados em sua alma.

Sebastian manteve a calma, mas um ar de precaução envolveu a carruagem. A voz rouca do cocheiro ecoou novamente.

― Uma sentinela da floresta. Está nos observando.

Percebendo a presença imponente da criatura alada, o coração de Arthur acelerou, trocando um olhar rápido com Sebastian.

― Sebastian, abandone a carruagem. Precisamos seguir adiante a pé, sem chamar atenção.

Ele assentiu, guiando os cavalos para fora da estrada principal. A carruagem foi deixada à sombra das árvores, oculta da visão curiosa. Juntos, mergulharam na escuridão da floresta, guiados apenas pela luz tênue da lua filtrando através das folhas.

À medida que se afastavam da carruagem e da criatura alada, os músculos faciais perdiam tensão, mas uma nova energia pulsava no ar.

A cidade, com suas luzes distantes, parecia um farol de esperança. Passaram por trilhas sinuosas, contornando obstáculos naturais e mantendo-se fora do alcance de olhares indiscretos.

Ao se aproximarem da cidade, o rapaz levou uma mão ao peito, sentindo os batimentos irregulares. A floresta os havia testado, mas agora enfrentavam os desafios urbanos que aguardavam.

Em meio aos becos, Sebastian conduziu Arthur até uma taverna na periferia da cidade. Uma construção modesta, iluminada por tochas tremulantes, onde sombras dançavam ao som de risadas abafadas. O mordomo indicou a entrada, sugerindo: ― A Taverna da Lua Serena. Um lugar discreto onde nossas presenças não chamaram a atenção. Adentramos, combinei de encontrá-lo aqui.

O interior da taverna era envolto em uma penumbra suave, com mesas dispostas de maneira irregular e um aroma aconchegante de fumaça de madeira queimada. Uma mistura de risadas abafadas e sussurros preenchia o ar.

E uma música familiar enchia o ar como um complemento que enchia o lugar de animação, todos começaram a acompanhar a melodia com um sorriso no rosto e bebidas em mãos.

Ele é um bardo valente, que percorre o mundo

Com sua lira em punho, ele toca e seduz.

Ele ama a bebida, a risada e o amor.

 Mas também a batalha, a defesa e a honra.

Ele desafia monstros, magias e riscos.

Com sua espada aguda, ele fere e fura.

Ele lança sua magia, sua arte e sua manha.

Para fugir do mal, para socorrer e para sarar.

Ele é um aventureiro, que busca a emoção.

Com seus amigos fiéis, ele divide e auxilia.

Ele almeja a glória, a fama e o tesouro.

Mas também a justiça, a paz e o bem comum.

Ele é o bardo valente, que anima e comove.

Com suas histórias incríveis, ele conta e cativa.

Ele é uma musa épica, que toca e seduz.

Ele é o bardo valente, que vive e que luta.

O Bardo Valente entoava suas canções, o alaúde em suas mãos produzindo notas que envolviam a taverna como um manto sonoro.

Os lábios do jovem Umbra se curvaram e seus músculos relaxaram, era seu amado tio Daniel, que mesmo com todo o caos, mantinha uma aura animada, poesia em suas falas e um bom copo de cerveja em uma das mãos.

À medida que o último acorde se dissipava, a figura familiar de tio Daniel emergia do fundo da taverna. O bardo, com seus cabelos escuros e sorriso cativante, encontrou os olhos do seu sobrinho. Um brilho de reconhecimento, seguido por uma faísca de surpresa, acendeu-se em seu rosto.

Arthur, mal conseguindo conter a emoção, lançou-se nos braços do tio. A abraço foi como um elo perdido reencontrado, um abraço que transcendeu o tempo e a distância. Daniel, surpreso, mas feliz, retribuiu o gesto, patenteando uma alegria genuína.

O tio afastou-se, mas manteve as mãos nos ombros do sobrinho, examinando-o com ternura.

― Você cresceu, Arthur, tanto em estatura quanto em espírito. Conte-me tudo. ― O músico abriu espaço enquanto apontava para uma mesa em um canto afastado de olhares curiosos.

Arthur narrou as incríveis reviravoltas desde sua ida a favela até o encontro com Gemma. Daniel ouvia atentamente, seu rosto alternando entre expressões tensas e olhos brilhando de orgulho.

― Gemma hein, foi o guardião que eu esperava, antes do esperado.

Após o caloroso reencontro com seu tio Daniel na Taverna da Lua Serena, sentiu o peso das preocupações sobre os ombros. Entre risos e músicas, ele não pôde deixar de questionar sobre quem deixou na favela. Ele olhou para o tio com uma expressão séria.

― Tio Daniel, como estão Lucy e Laís? O que aconteceu com elas depois que parti?

O Bardo, com um olhar que mesclava melancolia e compreensão, colocou uma mão reconfortante no ombro de Arthur. ― Na verdade, já a conhecia antes mesmo de você aparecer na favela. Ela foi a médica na guarnição, e eu fui o superior dela na guerra.

― E onde elas estão? Estão bem?

― Levei ela e as crianças para Shakil.

 O rosto do rapaz relaxou, mas logo inquiriu seu tio novamente: ― E Laís?

― Voltou para a casa dos Viribus, provavelmente em busca de uma solução para você.

Saber que todos estavam seguros, limpou a mente do rapaz que tanto estava estressado com isso, e saber que não foi abandonado por sua amiga que estava tentando o ajudar, aqueceu seu coração que tinha descoberto o quão frio e duro o mundo poderia ser.

 Ele então sentiu suas mãos e pés suarem frio ao perceber todo o trabalho que deu a todos, especialmente a seus familiares que devem ter escutado por terceiros o que aconteceu nas favelas.

― Tio eu....

Daniel que estava virando um copo cheio, bateu a cerveja na mesa com força, mostrando um verdadeiro deleite com a bebida: ― Não se desculpe garoto, ninguém fere meu menino e sai ileso.

― Como assim? ― Arthur virou a cabeça para o lado, confuso com aquelas palavras.

― Dei um descanso para uma alma cansada ― respondeu o bardo com um sorriso encantador.

 


Caro leitor,

 

Chegamos ao final deste capítulo emocionante! Espero que tenha desfrutado desta jornada tanto quanto eu. Se você gostou do que leu ou se tiver alguma sugestão para melhorar a história, por favor, compartilhe seus pensamentos nos comentários abaixo. Seus feedbacks são fundamentais para me ajudar a criar uma narrativa mais envolvente e personagens memoráveis.

 

Além disso, se houver alguma teoria intrigante, ou se quiser discutir possíveis desdobramentos da trama, estou ansioso para ouvir suas ideias brilhantes. Sua participação é vital para o progresso desta história épica!

 

Agradeço imensamente por dedicar seu tempo a ler minha obra. Seus comentários e apoio são a verdadeira força motriz por trás deste projeto. Mal posso esperar para compartilhar o próximo capítulo com você em breve!

 

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