Desertor do Caos Brasileira

Autor(a): Morrigan


Volume 1

Capítulo 15: Cavalo de Troia

 

 

Sentado na palma da mão daquele ser ancestral, Arthur ainda estava tentando se adaptar ao momento inusitado em sua vida, estava à frente de uma colina verdejante viva, e abandonado pelo corvo.

Adaptar-se à maneira gentil como ele o tratava era um tanto complicado. Isso contradiz todas as histórias que eram frequentemente transmitidas em livros no reino. As narrativas descrevem essa raça como seres que detestavam humanos e se comunicavam em uma língua que apenas elfos e outras criaturas poderiam entender.

Olhando para aqueles olhos verdes gigantes, que mostravam o quão grandioso a criatura era, pensou em como seu tio fez amizade com ele e o porquê de trazê-lo, ao invés de deixá-lo na floresta de Shakil.

― Por que me chamou de jóia? ― Perguntou Arthur, com um rosto cheio de incertezas.

O Sylvancient parecia relaxado, com as raízes e árvores circundantes se movendo em sincronia com seus movimentos. Mesmo quando se sentou, o movimento continuou. Em seguida, ele prosseguiu com a conversa: ― A última vez que conversei com meu salvador, ele mencionou um menino que trouxe um novo propósito para a sua vida. O garoto estava repleto de esperança.

Arthur, fixado no verde cintilante da criatura. Pensou nas palavras do Sylvancient, sobre como seu tio havia mencionado um menino cheio de esperança.

― Esperança… ― Arthur murmurou para si. Ele pensou em sua jornada até agora, nas dificuldades que enfrentou e nas pessoas que conheceu. Ele pensou também em seus familiares que o ensinaram.

Ele então se virou para o Sylvancient, seus olhos brilhando com determinação.

― Eu não entendo tudo o que está acontecendo, mas sei que tenho um propósito. Se meu tio acredita em mim, então eu também devo acreditar.

O Sylvancient olhou para Arthur, seus olhos verdes brilhando com uma luz suave. Ele então assentiu lentamente, parecendo satisfeito com a resposta de Arthur.

― O que aconteceu para vir parar aqui? ― O rapaz olhou para os muros da prisão que podiam ser vistos de longe.

A Colina viva então começou sua história, onde há duas décadas, seu povo era comumente encontrado nas florestas pelo reino de Elion, os guardiões da floresta que traziam a segurança e prosperidade para o verde do mundo.

Eram devastadores para aqueles que destruíram a fauna e a flora, mas não causavam problemas para os cidadãos. Até mesmo ajudava aqueles que, por algum motivo, se perderam nas densas florestas e necessitavam de ajuda. Além disso, mantinham uma relação de cooperação com os elfos que viviam na floresta, sempre buscando o melhor para a vida naquele lugar.

Todavia, o povo de Elion decifrou uma parte da tecnologia dos viajantes, trazendo uma era industrial para todo o país, uma grande evolução econômica e tecnológica e grandes riquezas para os comerciantes.

Logo suas terras originais se tornaram pequenas para suas grandes ambições e começaram a direcionar seus esforços para as matas próximas, desmatando tudo que fosse um empecilho para o que acreditavam ser a sua própria revolução industrial, buscando serem os filhos de Henry Ford.

Claramente isso desencadeou uma era de conflito com os povos das florestas, que tinham raízes milenares nelas, que se juntaram com os seres místicos e elfos que viviam em harmonia.

Até que os grandes comerciantes, apoiados pela família Aqua, adentraram com um pedido ao governo contra esses povos e instituíram uma verdadeira caça às bruxas. Os rotulando como filhos do diabo, aqueles que tentavam impedir a nova etapa de evolução que estavam predestinados. Criando inúmeros pedidos de caça aos monstros nas guildas dos aventureiros.

                        Arthur demorou um pouco para processar aquela história que destoava da que conhecia previamente e com uma face tensionada questionou: ― Eu não sabia dessa história, mas isso não explicou como veio parar aqui.

― Em meio a todos aqueles conflitos, uma figura de outro reino surgiu com uma proposta. ―  Respondeu Gemma.

― Olirion?

― Sim, um príncipe, ele apareceu com um dos elfos e nos ofereceu uma revolução.

― Revolução?

― Ele dizia buscar uma era de paz, mas precisava destruir para construir. ― As raízes que compunham o corpo dele, pareciam se movimentar de maneira tensa.

― Então foi assim que a guerra se iniciou?

― Não exatamente, ele contou sobre como mataram o ministro das finanças do seu reino e usou como demonstração que tínhamos um inimigo em comum.

Arthur havia escutado essa história, mas era amplamente disseminado pela sua família, que não passava de uma falsa imputação, que gerou um grande desconforto para eles, já que o reino de Olirion, culpava sua família pelo ataque.

O usando como força motriz para invadir o território de Elion, ganhando proporções inimagináveis com o levante dos elfos, povos da floresta e criaturas que se aliaram ao reino intruso e iniciaram uma verdadeira insurreição.

― Eu não entendo, você diz que não foi assim, mas não foi esse príncipe que causou a guerra? ― Arthur parecia confuso.

― Você é jovem, não entende as nuances. ― O Sylvancient falava com o um ar de um pai que tentava mostrar a loucura do mundo para o filho.

― Como assim?

― A nossa guerra começou quando invadiram e mataram os nossos e nós suportamos a cada dia que passava.

― …

―  Esse homem, só foi o diabo que nos encontrou em tempos de caos e nos usou.

― Usou? ― O semblante do rapaz mostrava como buscava elucidar sobre esse passado que agora parecia desconhecido para si.

― No fim, só fomos o peão em seu tabuleiro, sacrificados para um rei que não era o nosso e escravizados na penumbra.

Arthur pôde entender essa parte, já que era conhecimento popular, que apesar do tamanho da guerra, o reino de Olirion praticamente não teve perdas, os insurgentes foram à linha de frente do seu lado, tentando sucumbir Elion com sua própria implosão.

No conhecimento do rapaz, a salvação foi atrelada a recuperação do rei de Olirion que ao reassumir seu trono, desencorajou as invasões, diminuindo significativamente as tropas que estavam estacionadas nas divisas territoriais, prontos para o momento oportuno.

Aqueles que se tornaram os heróis, não só de sua família, mas de todo o reino, frearam o levante popular, os fazendo recuar ao ponto de serem expulsos do território. Mas era muito vago essa parte da história.

Gemma, que ainda estava conectado a Arthur, recebeu o conhecimento que o rapaz mostrou deste evento, o fazendo tomar uma postura semelhante à de um humano suspirando.

― Provavelmente querem esconder o fim sombrio dessa história.

― Está errada a história que conheço?

― Errada não está, mas omite a terceira via crucial para o fim mais pacifico.

― É a parte que explica como veio para aqui? ― Arthur, que já tinha até esquecido sua posição inicial, mostrava sinais de cansaço.

― Não se preocupe, mandei uma mensagem para sua família sobre você. ― O Sylvancient falou enquanto galhos cresciam pelo seu corpo, como resposta, inúmeros pássaros pousaram como se tivessem recebido um comando.

Observando aquela cena mística, que era uma clara demonstração do porque ele era conhecido como um guardião da floresta e parte dela.

― Esse velho esteve sempre curioso sobre você criança, posso ter te sobrecarregado com minha animação. ―  Apesar do tamanho e aparência que estava longe de um ser humano, Arthur pôde notar um olhar que denotava lamentação.

― Não, não! Pode continuar, só tem sido muita informação de uma vez ― respondeu o rapaz, com o corpo e braços sacudindo em negação e apaziguamento.

― Então continuarei.

Gemma retomou o raciocínio anterior, contando como um acordo entre o rei de Olirion, que foi salvo por um milagre e o conselho de Elion foi iniciado, onde nada foi pedido para cessar as ameaças territoriais, até mesmo um novo vínculo entre eles, gerando um acordo de livre troca entre eles e um torneio marcial para celebrar essa nova união.

Foi o príncipe que antes os convocará para a revolução, que agora propôs esse torneio, incentivando que os insurgentes fossem escravizados e usados como exemplo, insinuando que fomos nós os que os evocaram para aquele conflito.

― Eu fui um daqueles, que foram capturados e estavam prontos para serem usados por Bryan nesse circo. ― A energia do ambiente naquele momento ficou densa, evocando os sentimentos de Gemma.

― Bryan… ― Arthur buscou fixar esse nome em sua mente, pois sentia que era um personagem que já tinha lido sobre anteriormente, um personagem intrigante da família Imperium.

― Foi quando seu tio novamente intercedeu.

― Tio Daniel? ― O rapaz finalmente mostrou mais curiosidade ao escutar tal menção.

― Sim, surgiu com uma proposta para os insurgentes, que estranhamente o rei de Olirion ajudou a ser aceita.

Arthur estranhou o que parecia um furo bizarro nessa história, não entendia porque o monarca se aliaria a ele, contrastando com toda a situação.

― E qual foi a proposta?

― Ao invés de escravizar todos, exigiu expulsá-los de Elion, os mandando para outro reino distante daqui, onde um homem que ele trouxe, chamou de novo Edhen.

― Já escutei rumores sobre esse lugar, mas não sabia dessa história e nunca ouvi menção a esse homem ― disse Arthur enquanto encarava fixamente o horizonte, perdido em sua mente.

― Bem, foi quando Daniel e o homem misterioso surgiu nos campos de concentração e fez uma proposta para o nosso povo.

― Que proposta?

― Nos disseram que estavam criando um novo reino, aquele que seria o encontro de raças e precursor de uma nova era.

Arthur ficou realmente surpreso com aquela história, não havia escutado nada do tipo de seu tio, uma história totalmente nova da guerra, que trazia uma perspectiva completamente nova.

― Em troca, pediu a alguns de nós para ficarem, para ajudar no futuro e eu fui um dos que aceitei e fiquei.

― E te pediram para ficar aqui?

― Disseram para mim que eu seria o Cavalo de Troia que precisavam, ofereceram aos conselheiros de Elion, que eu pagaria pelos pecados do meu povo, sendo um eterno guardião à seu serviço.

Arthur olhou para Gemma, seus olhos cheios de compreensão e simpatia. Ele não conseguia imaginar o que Gemma e seu povo passaram.

― Então, você aceitou o acordo e se tornou um guardião para Elion? ― perguntou Arthur, sua voz cheia de admiração.

O Sylvancient assentiu lentamente, suas raízes se movendo em um ritmo suave. ― Sim, eu aceitei. Eu sabia que era a única maneira de proteger meu povo. Eu me tornei o guardião desta floresta, até minha verdadeira função ser cumprida.

Arthur ficou em silêncio por um momento, absorvendo a história de Gemma. Ele pensou em seu tio Daniel, no papel que ele desempenhou na história de Gemma e sentiu uma nova onda de respeito.

― O que aconteceu com o resto do seu povo? Eles foram para o novo reino? ― perguntou Arthur, curioso para saber mais.

Gemma fez uma pausa antes de responder. ― Sim, eles foram para o novo reino. Eles encontraram um novo lar, longe da guerra e do conflito. Eles estão seguros agora.

Um pássaro parecido com os anteriores, posou em um dos galhos em seu corpo, o fazendo ter sua atenção voltada para a pequena criatura, antes de retornar para o Umbra: ― Parece que já estavam à sua procura rapaz.Enviaram esse pequeno, buscando informações sobre você.

Arthur rapidamente entendeu que a notícia de sua fuga deveria ter se espalhado pelo reino e seus familiares tomaram conhecimento. O fazendo retornar para a realidade perigosa que se encontrava.

― Eles estão perto?

― Sim! Irei enviar uma resposta, para virem te buscar à noite, cuidarei de você, enquanto isso.

― Obrigado, serei eternamente grato.

O olhar do guardião recaiu sobre o rapaz, evocando uma sensação de satisfação sobre a postura do rapaz: ― Não se preocupe, sempre quis conhecer a jóia que Daniel tanto queria proteger.

Um sorriso iluminou o rosto de Arthur, que logo se encheu com uma fagulha de curiosidade, ao perceber que não sabia o nome de uma figura que parecia importante em toda essa história: ― O nome do homem do outro reino, qual era?

Gemma, que devido sua aparência, era difícil saber qual era seu sentimento, ele refletiu um pouco antes de responder.

― Se não me engano, seu nome era David.

 


Caro leitor,

Chegamos ao final deste capítulo emocionante! Espero que tenha desfrutado desta jornada tanto quanto eu. Se você gostou do que leu ou se tiver alguma sugestão para melhorar a história, por favor, compartilhe seus pensamentos nos comentários abaixo. Seus feedbacks são fundamentais para me ajudar a criar uma narrativa mais envolvente e personagens memoráveis.

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Agradeço imensamente por dedicar seu tempo a ler minha obra. Seus comentários e apoio são a verdadeira força motriz por trás deste projeto. Mal posso esperar para compartilhar o próximo capítulo com você em breve!

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