Desertor do Caos Brasileira

Autor(a): Morrigan


Volume 1

Capítulo 13: A Sombra da Liberdade

 

 

Arthur piscou várias vezes, sua visão turva se ajustando à fraca luz que penetrava nas barras de ferro da cela. Um formigamento doloroso percorria seu corpo, lembrando-lhe da luta exaustiva. Ele ergueu seu corpo com dificuldade, apoiando-se na parede úmida. Seus olhos se fixaram na figura desgastada do corvo, observando-o silenciosamente no canto da cela.

Um murmúrio abafado chamou sua atenção e ele notou Arbus, em uma conversa tensa com o guarda do outro lado das grades. A expressão séria dele contrastava com a inquietação do guarda, o ar ao redor parecia eletrificado com tensão.

Enquanto a consciência de Arthur retornava lentamente, ele captou fragmentos da conversa. O guarda questionava sobre os detalhes do incidente na cela, pressionando por explicações sobre porque ele se intrometeu e não poderia continuar cobrindo-o. O tom incisivo de Arbus e a postura firme do guarda sugerem uma dinâmica de poder complexa e potencialmente perigosa.

Arthur sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto observava as trocas de olhares carregados de desconfiança entre os dois. Uma sensação de apreensão começou a se instalar e ele se viu questionando a verdadeira natureza das intenções do seu salvador. A ideia de ter sido salvo por alguém tão enigmático e imponente despertou um misto de gratidão e preocupação em seu coração.

Enquanto a conversa se desenrolava, levou a mão em sua ferida e olhava para o bracelete com consternação. Refletia se poderia lidar com um possível conflito e sobre os possíveis riscos. A dúvida pairava em sua mente, alimentando uma crescente inquietação sobre o que o futuro reservava.

A situação o fez pensar em sua mãe, tio e Laís, se estavam bem e o que pensavam sobre sua situação, seu tio deveria estar em missão e sua mãe também, já sua amiga, deve ter auxiliado os que ficaram na favela, para depois procurar um meio de ajudá-lo.

Esperava que seu tio-avô não soubesse do ocorrido ainda, ou faria um estardalhaço sobre o assunto, acusando aqueles que amava de ter trazido um sangue impuro que desonrou a família.

Não podia morrer ali, sem explicar corretamente o que ocorreu e envergonhar aqueles com que mais se importava. Foi perdido nesse conflito interno que notou como intensificou a conversa dos dois homens e ficou mais fácil de compreender a conversa deles.

― Você não me deixou escolhas! Se descobrirem, eu serei executado por ajudar terroristas ― disse o guarda com um olhar tenso.

― Eu já paguei adiantado, se vira ― Arbus tinha um semblante calmo e com uma postura forte, denotando sua inflexão nesse assunto.

― Porque caralhos se meteu nesse assunto, eles querem ele morto de qualquer forma, e você nada tinha com isso.

― Capricho.

A resposta desagradou claramente o guarda, o deixando com uma cara azeda ― Bem, acharam estranha a forma que detonou aquele idiota e vão querer ver seu bracelete.

― E?

― Se eu não colocar um real, como explicarei?

A face de Arbus mostrou um sorriso irônico como resposta, mas logo seu semblante rapidamente mudou, deixando um ar de simpatia.

― Então depois da ronda, vai retirar ele?

― Claro, confie em mim ― respondeu o guarda balançando a cabeça com seriedade.

Arbus manteve o mesmo semblante, olhou para cintura do guarda que tinha uma espada que todos usavam como se estivesse refletindo algo, mostrou seus braços como sinal para o homem.

O carcereiro suspirou, e começou abrir a cela, deixando Arthur nervoso, sentindo um nó se formar em seu estômago. Não sabia ao certo o que pensar sobre o que escutou, só se atentou ao detalhe que o queriam morto de qualquer forma, agora parece que nem o corvo vai ajudá-lo.

Continuou olhando para o desenrolar da cena, onde o homem puxou um novo bracelete de sua calça, retirando o velho do pulso de Arbus e posicionando para colocar o novo, acompanhou o movimento em que os braços do corvo rapidamente tocaram o peito do homem, que arregalou os olhos em espanto, tentou gritar, mas nenhum som saiu.

Arthur sentiu o nó em seu estômago se apertar ainda mais enquanto observava a cena se desenrolar diante de seus olhos. O guarda caiu no chão, como um boneco de pano que perdeu as cordas, havia um buraco sangrento em seu peito. O silêncio que seguiu, foi ensurdecedor.

O rapaz não conseguia tirar os olhos do corpo do guarda, que estava sendo saqueado. Ele sentiu uma onda de náusea subir por sua garganta, mas lutou para mantê-la sob controle. Mortes pareciam ter se tornado parte do seu cotidiano agora.

Uma mistura de medo e confusão inundou seus olhos, quando escutou a voz baixa do corvo soar ― Não fique parado aí, vou adiantar meus planos, venha.

Arbus se virou para Arthur, seus olhos frios e calculistas brilhando na escuridão da cela.

― Vamos! ― ele exclamou, sua voz estava tão dura e implacável, quanto o ferro das grades que os cercavam.

Arthur engoliu em seco, lutando contra o medo que ameaçava consumi-lo. Ele lançou um último olhar para o corpo no chão antes de se levantar, suas pernas tremendo levemente. Ele não tinha escolha a não ser segui-lo, apesar do medo que sentia.

Eles se moveram silenciosamente pela prisão, a única luz vinha das tochas fracas que iluminavam o corredor. O silêncio era quase ensurdecedor, o único som era o eco dos seus passos contra o chão de pedra.

De repente, o corvo parou, seu corpo estava tenso. Ele fez um sinal para Arthur se esconder na sombra de uma cela vazia. O coração de Arthur batia forte enquanto ele observava seu parceiro confrontar outro guarda que apareceu no corredor.

A conversa foi breve. Ele falou algo em voz baixa, suas palavras eram quase inaudíveis para Arthur. O guarda aparentando não gostar da presença de Arbus, claramente intimidado por ele. 

Arthur assistiu ao corvo desviar facilmente de um golpe de espada, usando a arma que pegou do outro carcereiro, cortou o braço do guarda com extrema facilidade, logo após, cravou sua espada em uma das pernas do homem e quebrou seu pescoço. Arbus voltou para Arthur, um sorriso sombrio em seu rosto, enquanto mostrava as chaves que pegou.

― Não encontrei muitos candidatos decentes, mas é hora da fase dois.

― O que pretende fazer?

― Observe.

O corvo se movimentava com agilidade entre as celas, destrancando cada uma delas com uma rapidez, fazendo-o lembrar dos corredores de cem metros rasos. Após abrir todas, começou a bater sua arma contra as celas, fazendo o som ressoar por todo ambiente e acordar todos no recinto.

Voltou até Arthur, o liberou do bracelete que restringia sua energia primordial e lançou para o meio do corredor que estava sendo tomado pelos detentos com um grito: ― Aproveitem, que sobrevivam os mais fortes!

(…)

A confusão se instalou na prisão. Os detentos, libertados de suas celas, correram para o corredor, seus rostos iluminados pela fraca luz das tochas. Gritos de alegria e raiva ecoavam pelas paredes de pedra, criando um caos estrondoso.

Arthur observava a cena com um misto de medo e fascínio. Podia sentir a energia primordial pulsando em suas veias, liberada pelo bracelete que Arbus havia removido. Sentia-se mais forte. Arbus estava ao seu lado, observando a cena com um sorriso sombrio no rosto. Parecia estar se divertindo com o caos que havia criado.

― Agora é a hora de agir ― disse ele, sua voz quase inaudível acima do barulho. ― Siga-me e faça exatamente o que eu disser.

Arthur assentiu, apesar da incerteza que sentia. Ele seguiu Arbus pelo corredor, tentando se manter perto dele enquanto evitava os detentos que corriam em todas as direções.

Eles se moveram rapidamente, desviando dos detentos e dos carcereiros que tentavam restaurar a ordem, muitos morreram no caos, de ambos os lados. Arbus parecia saber exatamente para onde estava indo, guiando Arthur por uma série de corredores e escadas até chegarem a uma porta de ferro pesada, parou diante da porta, olhando para o rapaz com um olhar sério.

― Está pronto? ― perguntou ele.

Arthur engoliu em seco, sentindo o medo se agitar em seu estômago. Mas ele assentiu, determinado a seguir em frente.

O corvo sorriu e abriu a porta. Eles entraram em uma sala escura e fria, o som do caos atrás deles desaparecendo lentamente.

Atrás da porta, uma luz suave revelava um homem sentado atrás de uma mesa elegante, tinha uma placa com sua patente de tenente, seguida do seu nome. Ele estava em meio a uma pilha de papéis, sua expressão era séria e concentrada. A surpresa tomou conta de seu rosto ao ver os dois entrarem na sala.

― Você! ― exclamou ele, levantando-se abruptamente. Seus olhos se arregalaram ao ver Arthur ao lado dele. ― O que está acontecendo aqui!?

Arbus não respondeu. Em vez disso, avançou rapidamente, pegando o tenente de surpresa. O som de espadas se encontrando, ecoou pela sala, mas o corvo logo o desarmou com um movimento rápido.

Arthur estava paralisado, observando a cena com um misto de medo e surpresa. No entanto, quando o tenente se recompôs, avançando com uma clava de pedra recém-conjurada em punho contra ele, percebeu que não tinha outra opção. Ele se juntou na batalha, canalizando sua energia primordial para potencializar seus ataques.

O tenente cravou sua clava em uma das paredes da sala ao tentar acertar o corvo, mas ele não decidiu recuar a arma, arrastou pelas paredes com uma força colossal que destruiu tudo ao redor.

O corvo, percebendo o perigo iminente, se moveu em uma velocidade surpreendente. Ele desviou da clava, o ar ao lado dele vibrou, com a força do golpe. A mesa foi reduzida a pedaços, papéis voando como confetes.

Arthur, por outro lado, não teve tanta sorte. Ele mal teve tempo de reagir antes que a clava viesse em sua direção. Ele tentou se esquivar, mas não foi rápido o suficiente. A clava atingiu a parede ao lado dele, enviando uma chuva de detritos em sua direção.

Ele gritou, protegendo o rosto com os braços enquanto pedaços de pedra e madeira o atingiam. Ele podia sentir a dor aguda em vários pontos de seu corpo, mas sabia que não tinha tempo para se preocupar com isso.

Enquanto o tenente retirava a clava da parede, Arthur aproveitou sua chance. Ele canalizou sua energia primordial em seu punho e avançou. Seu golpe atingiu o tenente no peito, enviando-o para trás.

O tenente cambaleou, surpreso com a força do golpe, mas ele rapidamente se recuperou e voltou à ofensiva.

O tenente, recuperando-se do golpe de Arthur, lançou um olhar furioso para os dois. Ele girou a clava com uma habilidade impressionante, criando um redemoinho de energia ao seu redor. Com um rugido, ele avançou novamente, cortando o ar com um som agudo.

Arbus se moveu para enfrentá-lo, sua espada brilhando na luz fraca. O choque entre a espada e a clava fez surgir faíscas, iluminando a sala por um instante.

O Umbra, vendo uma abertura, canaliza sua energia primordial em seu punho e atacou novamente o tenente. Seu golpe atingiu o tenente nas costas, fazendo-o cambalear.

Aproveitando a oportunidade, o corvo avançou, sua espada cortando o ar em um arco perfeito. Com um grito abafado, o tenente caiu no chão, morto.

Arbus se virou para Arthur, seus olhos brilhando com uma luz feroz.

― Vamos ― disse ele, sua voz rouca pelo esforço da luta.

Arthur assentiu, ainda ofegante. Ele o seguiu para uma pequena porta atrás da mesa destruída do oficial, que só se tornou visível devido à destruição do lugar que a revelou.

Eles atravessaram a porta, entrando em um corredor estreito e mal iluminado. O ar estava frio e úmido, o cheiro de mofo enchia o ar. Arbus liderava o caminho, sua postura era rígida e alerta.

Arthur seguia de perto, seus olhos varriam o corredor à frente. Podia sentir a tensão no ar, cada sombra parecia esconder um perigo em potencial. O corredor levava a uma escada íngreme que descia para as profundezas da prisão. Desceram cuidadosamente, o único som era o eco de seus passos contra a pedra fria. No final da escada, encontraram outra porta.

Arbus abriu a porta, revelando uma passagem secreta que levava para fora da prisão, os primeiros raios de  sol começaram a iluminar o ambiente.

 


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