Desertor do Caos Brasileira

Autor(a): Morrigan


Volume 1

Capítulo 11: O Despertar na Escuridão

 

 

Arthur sentia o suor frio escorrer pelo seu rosto, enquanto era arrastado pelos corredores sombrios e úmidos da prisão. Cada passo ecoava como um prenúncio de seu destino incerto. O chão de pedra fria raspava contra suas botas gastas, o cheiro de mofo e desespero impregnava o ar.

O guarda penitenciário o empurrava com um sorriso sádico, no rosto, uma máscara de crueldade. Seus olhos brilhavam com prazer enquanto fazia comentários sarcásticos sobre o destino de Arthur.

― Você vai se dar bem aqui, moleque. Tem muita gente querendo te conhecer melhor ― disse ele, apontando para as celas escuras e sombrias.

Arthur foi jogado em uma cela escura, a porta se fechou com um estrondo. Ele olhou em volta, seus olhos se ajustando à escuridão. Um som de murmúrios e respirações pesadas enchia o espaço confinado. De repente, uma voz áspera e zombeteira cortou o ar.

― Olha só, temos um novato! ― Gritou um preso, batendo nas grades. ― Vem cá, bonitinho. Deixa-me te mostrar como é que se faz aqui dentro.

O guarda rosnou e deu um soco no preso, silenciando-o. A tensão no ar era palpável, e Arthur sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele sabia que estava condenado a um inferno sem fim.

Enquanto ele tentava se ajustar à escuridão, uma figura emergiu das sombras. Um homem sentado em uma cama no canto, um único olho brilhando na escuridão.

O guarda hesitou por um momento, seu rosto revelando uma tensão mal disfarçada. Ele começou a abrir a porta, mas a voz do homem na cela cortou o silêncio.

― Pode deixar o moleque.

O guarda trancou a porta com um estalo e partiu dali, deixando Arthur sozinho com o homem misterioso.

O homem voltou a sua leitura, Arthur se aproximou lentamente. Ele engoliu em seco, sentindo-se atraído pela calma estranha do homem.

― Obrigado... ― agradeceu Arthur, enquanto se sentava no chão.

O homem parou de ler por um momento e olhou para Arthur, com seu único olho fixando-se nele com uma intensidade penetrante.

― Você parece inocente demais para estar aqui, criança. O que você fez? ― perguntou ele com uma calma perturbadora.

A pergunta atingiu Arthur como um golpe e ele se viu lutando para encontrar as palavras certas. A confissão veio com dificuldade.

― Acabei matando dois guardas... ― murmurou ele, com pesar na voz.

O homem soltou um leve sorriso, antes de mergulhar de volta em seu livro. A troca de olhares entre os dois foi carregada de significado, deixando Arthur inquieto e incerto sobre o que viria a seguir.

― Dois guardas hein, sua vida vai ser um inferno aqui.

― Ele não pode fazer nada contra mim, tem que esperar o julgamento ― respondeu Arthur com um olhar duro e focado, mas suas mãos suadas não mostravam o mesmo.

― Um assassino inocente, que curioso. Cuidado para não perder a inocência e a virgindade juntos.

― O que quer dizer?

O homem direcionou um olhar estranho para ele: ― Sabe como é, muito homem e pouca mulher. Está em um zoo, onde a atração principal é o homem na sua forma mais primitiva.

Apesar de não compreender por completo, Arthur engoliu em seco novamente, pensava no que iria fazer para sair dali “tio Daniel ou mãe já sabem que estou aqui? Podem fazer algo?”, com sua mente correndo freneticamente.

Dentro de sua mente frenética, percebeu que iria muito provavelmente passar a noite com esse sujeito aterrador e nem sabia  porque ele estava ali.

― E-e v-oce, porque está aqui, matou alguém?

O homem sem tirar seus olhos do livro, respondeu com uma voz despretensiosa: ― Não estou aqui por ter matado ninguém.

O rapaz suspirou ao escutar aquela afirmativa, mas lembrou-se do assunto anterior e um calafrio navegou pela sua espinha, fazendo-o perder a sobriedade que acabará de conquistar, olhou com os cantos do olho para o homem e perguntou enquanto parecia querer esconder seu corpo: ― Tem fetiches estranhos?

― Tá me estranhando, pirralho? ― respondeu o homem perdendo a concentração de sua leitura e mostrando um olhar atravessado ao rapaz. ― Tenho uma linda mulher fora daqui.

― Se não matou e nem é desse tipo de gente, o que fez para te colocarem aqui?

― Talvez eu quisesse estar aqui.

― Quem em sã ... 

Antes que o rapaz pudesse terminar sua frase, o homem fechou o livro com força, e olhou de forma intensa para o rapaz, como se estivesse o avisando que estava farto. ― Você é curioso demais.

Arthur sentiu o ar pesado na cela, a tensão entre ele e o homem misterioso era quase palpável. Seus olhos se moveram nervosamente pela cela, observando as sombras que dançavam nas paredes de pedra fria. O silêncio era ensurdecedor, apenas interrompido pelo som ocasional de respirações pesadas e o ranger distante das grades da prisão.

O homem misterioso voltou a sua leitura, ignorando completamente Arthur. A luz fraca da cela refletia em seu único olho bom, dando-lhe uma aparência quase sobrenatural. Ele parecia completamente à vontade naquele ambiente hostil, como se pertencesse àquele lugar.

Arthur sentou-se no chão frio da cela, abraçando os joelhos. Ele podia sentir o frio da pedra através de suas roupas finas, fazendo-o estremecer. Seus pensamentos estavam em turbilhão, tentando entender como tinha acabado naquela situação.

Olhou para o bracelete em seu pulso, um lembrete constante de sua perda de liberdade. Podia sentir a energia dentro dele pulsando contra a barreira do bracelete, uma sensação estranha e desconfortável.

Enquanto Arthur lutava com seus pensamentos e emoções, a vida na prisão continuava ao seu redor. Podia ouvir os sons distantes de vozes e risadas, o barulho ocasional de grades sendo abertas e fechadas e o som constante de passos nos corredores.

Ele passou o resto do dia tentando se ajustar à sua nova realidade. Ele observou os outros prisioneiros, tentando aprender as regras não escritas da prisão. Ele notou que havia uma hierarquia clara entre os prisioneiros, com alguns claramente no topo e outros na parte inferior.

Arthur também passou algum tempo explorando a cela. Era pequena e espartana, com apenas duas camas e um balde para as necessidades. A única janela estava alta na parede, permitindo apenas um pequeno feixe de luz entrar e um pouco de ar fresco passar.

A noite caiu, mergulhando a cela na escuridão. A única luz vinha do alto da parede, lançando sombras dançantes pela cela. Arthur encolheu-se no canto da cela, tentando se aquecer no frio penetrante.

Enquanto a noite avançava, Arthur se encontrava cada vez mais perdido em seus pensamentos. As horas pareciam se arrastar, cada minuto uma eternidade de incerteza e medo. E assim, Arthur passou sua primeira noite na prisão, sozinho com seus pensamentos e a companhia silenciosa do homem misterioso.

Os primeiros raios de sol alcançaram o rosto do rapaz, o incomodando um pouco, mas não o suficiente para acordá-lo, foi quando um barulho bizarro soou por todo o ambiente e acordou o rapaz que tinha apagado sentado sem nem perceber.

Olhou de um lado para o outro assustado, buscando algum tipo de perigo que nunca veio, e percebeu aquele rosto marcado abrir os olhos, se espreguiçando com calma, claramente teve uma ótima noite de sono.

― Passou a noite toda aí? Sabe que a cama de cima está desocupada né?

― Não sabia se poderia, nem você ou o guarda me avisou.

― Porque ninguém é seu pai aqui, e para de olhar como se estivesse procurando um dragão furioso, é ridículo.

― O que é isso?

― O alarme de chamada?

― Alarme?

― Hahaha, um pirralho idiota, pense que entrou no exército, isso é o toque de chamada para o banho de sol e o café.

Foi quando o guarda surgiu pelos corredores com uma espécie de bastão e passou arrastando pelas grades enquanto gritava em alto e bom som: ― Acordem porcos imundos, aqui não é a casa da puta das suas mães.

 Arthur levantou-se lentamente, seus músculos doloridos pela noite desconfortável no chão frio da cela. Ele olhou para o homem misterioso, que parecia completamente indiferente ao barulho e à agitação.

Os prisioneiros começaram a se mover, saindo de suas celas e formando uma fila desorganizada no corredor. O guarda passou por eles, seu rosto contorcido em um sorriso cruel. Ele parecia se deliciar com o poder que tinha sobre os homens ali.

Arthur se juntou à fila, sentindo-se deslocado e assustado. Ele olhou ao redor, tentando memorizar os rostos e as tatuagens dos outros prisioneiros. Ele sabia que precisava aprender rápido se quisesse sobreviver naquele lugar.

O sol estava alto no céu quando eles foram levados para o pátio da prisão. O calor era sufocante e Arthur podia sentir o suor escorrendo pelas suas costas. Ele olhou ao redor, observando os prisioneiros agrupados em diferentes áreas do pátio.

Alguns estavam jogando cartas ou dados, outros estavam fazendo exercícios físicos, enquanto alguns simplesmente estavam sentados em silêncio, olhando para o nada. Arthur notou que o homem misterioso estava sentado sozinho em um canto, lendo seu livro como se estivesse em um parque tranquilo e não em uma prisão.

 Percebendo que poderia ter que passar outra noite com ele, decidiu tentar se aproximar novamente, provavelmente precisaria de uma espécie de aliado naquele ambiente hostil, o homem com o qual seria seu parceiro de cela, deveria ser o melhor, até para garantir alguma segurança.

A arte da guerra, é um livro muito interessante mesmo ― tentou puxar assunto enquanto sentou perto dele.

Em resposta, o homem parecia ter desistido de ignorá-lo, descansando o livro ao seu lado.

― Uma pessoa importante é ficcionada por ele, aproveitei o tempo livre para tentar entendê-lo.

― Tempo livre... maneira estranha de se referir...

― É tudo uma questão de perspectiva ― o homem respondeu com um olhar significativo.

― Hmm, aquela mulher que você se referiu é a pessoa importante? É sua esposa?

― Não. E ela não é minha esposa.

― Oh, seu pai?

― Pode se dizer que sim ― o homem não parecia que daria mais explicações.

― Gosta de alguma outra obra? ― Arthur tentava manter a conversa viva.

O príncipe, gosto da ideia de os fins justificam os meios.

― Maquiavel nunca disse isso.

― Mas de certa forma, a síntese é essa ― o homem continha um olhar distante enquanto divagava sobre a questão. ― Sempre existirá sacrifícios para alcançar um fim.

― Você pode estar certo, mas um meio contaminado pode contaminar seu fim.

Um brilho de interesse acendeu no olho do homem. Coçando o queixo pensativamente, ele surpreendeu Arthur com uma pergunta inesperada.

― Porque matou os guardas?                 

A pergunta pegou Arthur de surpresa, fazendo seu coração acelerar. Ele ainda não tinha se acostumado com a ideia de ter sangue em suas mãos. Ele temia o julgamento e o olhar de repulsa que poderia receber por suas ações. No entanto, ele estava em uma prisão, talvez o único lugar onde não seria julgado por seus atos.

― Não tive a intenção... estava ajudando uma menina, ela foi espancada nas favelas, e bem....

O olhar do homem se iluminou ao ouvir as palavras de Arthur. Parecia que ele tinha visto algo de valor nas informações que acabara de receber.

―  Interessante...

Vendo que tinha conquistado alguma proximidade com o homem, Arthur sentiu que era o momento perfeito para ganhar um pouco mais de intimidade e conseguir informações cruciais.

― E você, porque está aqui?

― Sou um olheiro ― respondeu o homem, claramente tentando ser o mais enigmático possível.

― Olheiro? De quem ou o que, e em uma prisão?

― Bem, seria nas favelas ou na prisão, mas achei que o perfil que procurava, poderia ser mais fácil de achar aqui.

― Qual?

― Revoltado com a sociedade e sem medo de lutar.

Isso fugiu completamente do que Arthur esperava. O homem, parecendo perceber a estranheza e confusão do rapaz, continuou. ― Já ouviu falar dos corvos?

― Os terroristas de Olirion?

― Hahaha, o governo nos chama assim mesmo, mas cá entre nós, as autoridades têm parecido tão confiáveis assim?

Apesar de querer contestar com todas as forças a fala do homem, suas experiências recentes o diziam o contrário, o fazendo ficar em silêncio como resposta. Foi quando o guarda surgiu próximo a eles sem que percebessem, com um tom grosseiro se direcionou ao rapaz.

― Ei pirralho, venha comigo, tenho algo para resolver com você.

Apesar de saber que nada de bom viria daquela cara cruel, era uma autoridade que não poderia questionar naquele momento e sob um olhar suspeito do homem com cicatriz, acompanhou o oficial em silêncio até chegarem em um corredor vazio, outro guarda que ficava na esquina, impedia a passagem de outros detentos.

Então, quando estavam longe das vistas dos outros, Arthur sentiu todo o ar de seus pulmões se esvair e, o pesado golpe que acertou seu estômago, o fez se ajoelhar e cuspir sangue. Logo em seguida, o guarda se agachou de forma que seus olhos ficassem na mesma altura.

― Achou mesmo que poderia matar um dos nossos e sair ileso?

Arthur entendeu que nada que falasse teria efeito, estava à mercê dele, todas suas crenças sobre certo e errado, de nada valiam ali, era uma selva de pedra, quem tinha poder, mandava.

Percebendo que o rapaz não falaria nada, o homem se levantou e disse enquanto tirava o cinturão: ― vou te dar duas escolhas, voltar para sua cela agora ou... ― olhava para seu cinto com um olhar lascivo.

Arthur só conseguia sentir repulsa naquela situação, buscou forças para se levantar e fazer a resposta óbvia para as tais escolhas que lhe foram dadas.

― Vai descobrir rápido que o tenente não vai te esquecer.

Arthur entendeu que ele poderia ser o superior dos guardas e queria vingança sobre o que ocorreu. Não querendo dar a chance do homem voltar atrás, saiu correndo em direção a sua cela, deixando o guarda com seu sorriso sádico para trás.

Finalmente alcançando a cela, Arthur sentiu um alívio que não imaginaria ter nem em seus piores pesadelos, por entrar em uma.

E como estava vazia, não teve medo de subir na cama, e tentar se aconchegar naquele ambiente insalubre, quando seu coração mostrou sinais de se acalmar, um som nojento ressoou pelo ambiente.

― Olá bonitinho, está até me esperando na cama?

 


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Chegamos ao final deste capítulo emocionante! Espero que tenha desfrutado desta jornada tanto quanto eu. Se você gostou do que leu ou se tiver alguma sugestão para melhorar a história, por favor, compartilhe seus pensamentos nos comentários abaixo. Seus feedbacks são fundamentais para me ajudar a criar uma narrativa mais envolvente e personagens memoráveis.

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