Demon And Human Brasileira

Autor(a): The_Mask

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Volume 2

Capítulo 26: A volta do tormento

— Ilja! Espera!

A voz de Arnok soou pelos corredores da casa dos prazeres. Seu amigo, o jovem Demonkin, apenas o ignorou. O passo de ambos soavam alto demais para uma manhã calma como aquela, e vários rostos curiosos aparecerem por pequenas frestas de porta dos vários quartos daquele lugar. Todas as mulheres e jovens ali presentes olhavam curiosas e apreensivas para Ilja, mas quando seu olhar repousava no asa negra, o culpava pela situação do velho conhecido. 

Todas ali tinham algum nível de amizade com o Demonkin, todas o viram em algum momento de sua vida e ganharam em seus corações um apreço pelo rapaz. Ilja era este tipo de figura e Arnok sabia disso. Alguém que poucos odiavam, alguém que não podia odiar, e o mesmo se aplicava para o jovem Demonkin. 

Um demônio amado por todos, e que amava a todos também. 

Mas ali estava ele, ignorando Arnok e obviamente irritado com ele. Estavam agora no salão principal da casa dos prazeres, seguindo pelo caminho da onde vieram. 

Arnok ouvia de trás dele, uma quantidade numerosa de passos. Aparentemente, a curiosidade venceu todas elas e agora se agitavam para entender o que havia acontecido. Queria sentir algum alívio ao pensar que logo estaria fora dali, mas logo próxima a entrada, ele viu a senhora Derra, carregando um olhar irritado. Ela podia não saber o que Arnok fez, mas sabia que ele fez algo. 

Correu o mais rápido que pôde atrás de Ilja, ignorando o olhar daquela enorme mulher. Olhos de fúria como nunca antes havia sentido queimavam em sua nuca, quando saiu do salão principal e caminhou pelo corredor da saída. 

Enxergava apenas a silhueta de Ilja no fundo daquele corredor e agora apenas temia perdê-lo quando os becos da cidade baixa se mostrassem. 

— Ilja! Por favor!

Os cheiros começaram a surgir e ainda que a luz do sol não estivesse presente, o calor que ele emanava chegava ali nos apertados becos da cidade baixo. O sol estava em seu pico naquele instante, e nada poderia ser mais cansativo para Arnok que caçar Ilja num calor como aquele e numa multidão como estava a surgir. 

E quanto mais próximos do centro eles se aproximavam, mais pessoas surgiam e mais densa se tornavam aquelas ruas. Cabeças de tantas formas diferentes, e cabelos tão semelhantes, Arnok já começava a perder o amigo de vista. Sua voz soava fraca em meio a todos os sons daquele lugar lotado e quente. Os odores e as sensações húmidas do seu suor e o suor de outros encostando em seu corpo lhe davam arrepios, mas acima de tudo, o aperto que sentia em suas costas era pesaroso demais. 

Suas asas se espremiam pela multidão, tanto quanto se destacavam, e os olhares longos que recebia, de estranhamento e raiva, eram uma ocorrência comum, mas nunca se acostumou a ela.

Estava se distraindo. Por pouco que perdia a cabeça de Ilja de vista, mas espera, era mesmo sua cabeça? Ilja é uma demonkin sem chifres, agora então com a maior parte da pele branca. Seu cabelo podia até ser escuro nas pontas, mas quem enxergaria as pontas de um cabelo tão bagunçado e descuidado como aquele, numa multidão tão imensa quanto esta?

Tarefa árdua, que se tornou impossível quando Arnok foi esbarrado com força. Antes que pudessem reclamar, sentiu algo ser posto com força em seu bolso. Seu primeiro instinto não foi o de ver o que era, mas procurar na multidão seja lá quem tivesse esbarrado nele. Enxergou então os chifres longos e pontiagudos, de uma figura que conhecia das arenas. Um garoto de recados de Serra. 

Reclamaria com seu empregador depois quanto a maneira que entregava suas mensagens, agora tinha de procurar seu amigo, mas era impossível. Haviam cabeças novas demais ao seu redor para ele discernir qualquer coisa. Havia perdido Ilja de vista. 

Com problemas demais em sua cabeça e dores além do que eram saudáveis em seu corpo, decidiu sair dali e seguir em direção à academia. Seu quarto parecia um lugar muito mais confortável naquele instante. Enquanto caminhava, abriu o recado de Serra. Era apenas uma frase simples, luta grande hoje a noite.

Amassou o papel e devolveu para o bolso. Mais uma luta, a segunda consecutiva daquela semana. Arnok suspirou, enquanto achava que teria um momento de paz, onde não precisaria se preocupar com machucados ou esparadrapos. Mas não podia ser tão simples assim, não é mesmo?

Se pegou pensando contra quem poderia ser a luta daquela noite. O confronto de ontem terminou na morte de um antigo "rival". Entre aspas pois Irimum havia sido um poucos demônios que venceu Arnok na arena. Agora a lista diminuía ainda mais. 

Talvez fosse um nome grande de outra região, ou mesmo um militar que devia dinheiro para alguém e agora pagava com apostas em sua cabeça. Havia várias possibilidades, mas não importava de fato. Arnok lutaria de toda forma. 

Servia apenas para isto, não é? Isso era o que fazia de melhor. Não importa o que os outros pensem a seu respeito, os boatos que digam ou o quanto suja seu próprio nome ao matar um homem naquela apertada arena de areia. A sensação que sentia em seguida era uma coisa imensurável e estranha. Como um sentimento de culpa por ter feito algo bom, ou a falta dele ao ter feito uma coisa ruim. 

Mas sentindo culpa ou não, teria de lutar hoje, como lutou quase todas as noites nos últimos três anos ao lado de Serra. Arnok não tinha a melhor das noites, ou o melhor dos sonos. 

No que pareceu um passe de mágica, ao pensar em suas noites de sono mal dormidas, estava perto do seu dormitório na academia. Sequer percebeu a distância que havia percorrido, mal havia suado também, mesmo num sol escaldante como aquele. No entanto, não estava sozinho. 

Um Homalupo estava parado à porta da construção, de expressão apreensiva enquanto via Arnok se aproximar. 

— O que aconteceu entre você e o Ilja? — Kaesar perguntou, seguindo Arnok ele entrou no prédio. — Ele me disse pra te esperar aqui, e não parecia nada feliz. 

— Cometi um erro, Kaesar… — Arnok respondeu, parando no meio da escadaria e encarando o amigo. — E agora preciso descansar. 

— Aposto que precisa… — Ele comentou, ainda em seu encalço. — E antes que se pergunte, o Vincent já está de pé e fora da enfermaria.

Ele não havia se perguntado isso. Na verdade, em algum momento da última hora de caminhada ele havia pensado no que havia feito? Pensou muito no fato de ter irritado o próprio amigo, talvez pior ainda, decepcionado ele. Mas e quanto ao resto? 

E quanto a tudo que havia feito naquele dia?

— Eu vou visitar ele depois… — Começou a dizer, finalmente chegando ao andar de seu quarto. Caminhou pelo pequeno corredor até chegar a sua porta e a escancarou, com Ilja ainda em seu encalço. Se acomodou na própria cama, para largar o corpo inteiro sobre os lençóis e a coberta bagunçada, que não havia se dado de arrumar de manhã. 

Ilja observava da porta aquilo tudo, obviamente preocupado.

— Quer falar sobre? 

— Não… — Mentiu Arnok. Queria muito jogar tudo aquilo para fora, mas conhecia uma forma melhor e mais gratificante. A noite estava chegando e logo teria de partir para a cidade baixa mais uma vez. — Apenas… me deixe sozinho por enquanto. 

— Certo… mas fala com o Hiotum o mais rápido que puder, okay? — Ele avisou, já saindo e começando a fechar a porta do quarto. — Ele disse que precisava muito falar com você. 

Arnok não respondeu, apenas ouviu a porta do seu quarto se fechar e o cômodo de um instante para o outro pareceu se tornar uma jaula. Como um quarto do pânico, de paredes lisas e infinitamente altas. O pé direito do cômodo parecia ter aumentado, a janela, antes entreaberta, se fechou com o vento e tornou o lugar abafado. Dificil de até mesmo suspirar. 

O tempo pesou, o ar se tornou visível e as asas de Arnok pareciam ser feitas de chumbo. Não conseguia levantar- se  da cama, muito menos mover a cabeça. O desespero tomava conta de seu cerne enquanto o ar escapava de seus pulmões e não retornava. Sua mente era nada além de frangalhos desorganizados em uma infinitude de culpa. 

Foi quando o rosto dele apareceu em seu campo de visão. O cabelo liso marrom, a farda preta e com botões de um dourado fosco. Um humano que aparecia em seus melhores sonhos, fadados a se tornarem pesadelos com sua presença. Maike o atormentava mais uma vez, depois do que pareceu uma calmaria antes da tempestade. 

Sentiu minha falta, peninha?

 



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