Demon And Human Brasileira

Autor(a): The_Mask

Revisão: Alluna Idle


Volume 1

Capítulo 13: Lua Negra

Lira acordou com o barulho repentino de algo quebrando. Ela levantou-se da cama e desceu correndo as escadas, enquanto vestia uma camisa. Quando chegou no térreo, sentiu um cheiro forte de queimado vindo da cozinha. Foi correndo, até que viu Philip balançando as mãos desesperado e com um olhar irritado.

“O que aconteceu?” Perguntou a menina, preocupada.

“Nada.” Respondeu irritado. “Apenas derrubei a panela. Estava muito quente quando peguei.” 

Philip agachou e começou a limpar a bagunça que havia feito. Lira foi ajudar, mas ele a recusou com o olhar.

“Sente-se na mesa. Vou preparar algo para você comer.” Philip disse sem, nem olhá-la nos olhos.

Estranho... Com o que ele está tão irritado? Ela pensou. Sentou-se na mesa e ficou olhando-o conforme trabalhava.

Depois de algum tempo, ele pôs na frente dela um pedaço de bolo com algumas frutas.

 “Coma.” Falou, sem enrolações, e sentou-se longe da mesa de jantar, lendo as cartas e jornais do dia. Um silêncio desconfortável ficou entre os dois e a respiração irregular e obviamente irritada dele a fazia estranhar ainda mais este comportamento.

“Como está a Merlin?” Ela perguntou, tentando quebrar o silêncio.

“Ainda está dormindo.” Philip respondeu, parecendo apreensivo em falar.

“O que aconteceu para ela ficar daquele jeito ontem?” Lira perguntou, já que havia ficado sem resposta e estava preocupada com Merlin, além de sua curiosidade, que estava indo aos céus para saber o que aconteceu.

“Qual o motivo de tantas perguntas? Tentando me fazer desviar do seu treino?” Ele tentou soar engraçado, mas no fundo de sua voz era perceptível um tom fúnebre.

“Que treino?”

“Oras... Que treino, hoje você vai para a floresta, não lembra?”

Um flash cintilou fugazmente pela mente dela, e de súbito, lembrou-se.

Hoje era segunda-feira, dia dela ir para a floresta e voltar somente na quarta: o seu treino de sobrevivência. Lira estremeceu ao lembrar-se deste amargo detalhe.

“Lembro, contra a vontade, mas me lembro.”

“Que bom. Então coma rápido para...”

Um barulho de sino veio da porta e cortou a fala de Philip, que ficou alarmado.

“Eu não esperava visitas em uma segunda-feira. Lira, venha comigo.” Falou ele, conforme levantava-se.

“Por quê?” 

“Porque sim.” Falou, grosseria em seu tom. “Vou ver seja lá quem estiver aqui, e depois disso você vai começar o treino.”

Lira o seguiu relutantemente. Ela estava ficando irritada com ele, pois parecia que Philip estava culpando-a de alguma forma... ou não sabia em quem jogar a raiva e estava descontando nela.

“Por que está tão irritado?” Lira perguntou, enquanto ia para o lado de fora da casa, no encalço dele.

“Você não entenderia.”

 “Não entenderia?!” Gritou indignada. “Eu perdi meus pais para demônios!” Estranhou quando disse isso e não sentiu dor alguma.

“Não é você que tem uma esposa doente com algo que só demônios contraem!” Philip gritou também, o ódio vindo de sua voz era imenso, e seu olhar irado fez Lira estremecer. Ele suspirou e massageou suas têmporas. “Desculpe, é só que... tem sido difícil.”

Ele voltou a caminhar com os ombros cabisbaixos. Se antes emanava um ar de fúria, agora emanava decepção e tristeza.

Quando os dois começaram a se aproximar do portão de entrada, viram um sujeito virado para sua carroça enquanto acariciava seu cavalo, trajado de um sobretudo marrom com capuz, que impedia de ver a parte de trás da sua cabeça.

“Quem é você?!” Philip gritou para o sujeito encapuzado.

O forasteiro virou-se conforme tirava o capuz. O seu enorme sorriso fez seus olhos de um azul limpo terem um grande destaque, e sua pele negra fez Lira prestar mais atenção nas suas diversas cicatrizes.

“Yoooooo!” Ele cumprimentou Philip, acenando com uma das mãos.

“Lua Negra?” Philip parecia surpreso. “Digo... Deviam? O que faz aqui?” 

“Oras, vim visitar um velho amigo e trazer algumas notícias!” Deviam parecia animado e seu sorriso não sumiu em momento algum. Philip caminhou até o portão e liberou passagem. Quando passou para o outro lado, os dois apertaram fortemente as mãos.

Foi quando Deviam viu a jovem ao lado e uma incógnita apareceu em sua face.

“Quem é esta, Philip?”

Lira estava prestes a se apresentar, mas Philip a cortou e falou em sua frente: “Minha filha.”

Ela ficou muito surpresa, mas não quis retrucar. Se Philip disso aquilo, era porque havia um motivo. 

“Sua filha? Não me lembro de você ter uma filha!”

“Ficou fora por algum tempo, estava com parentes meus.”

“Você tem parentes?”

“Velhos amigos, se preferir dessa forma.”

Os dois jogaram conversa fora enquanto se aproximavam da casa. Lira ficou sempre nos encalços, em silêncio. De vez em quando olhava na direção de ambos.

A seriedade dele com o assunto de antes parecia ter sumido, mas dava para ver seus ombros tensos. Deviam ainda mantinha o mesmo sorriso de antes.

Ou ele tem problema no rosto, ou esse sorriso é falso. Lira pensava.

Quando chegaram na casa, Philip abriu a porta e Deviam entrou sem pedir licença ou coisas do gênero. 

“Você decorou bem este lugar.” Seu sorriso ainda não havia desaparecido e aquilo já irritava a jovem ao lado.

“Não é nada demais, mas me orgulho da sala.” Comentou, com um sorriso sem graça no rosto.

“Sério? É aqui?” Ele começou a andar pela casa e foi em direção à sala de estar. “Olha só, você colocou um rádio aqui!?” Deviam gritou de onde estava.

“Sim!” Philip respondeu, gritando de volta. Em seguida, sussurrou para a garota: “Vá pegar dois copos e duas bebidas na adega da cozinha, por favor.”

“Certo.” Lira não queria fazer isso, mas Philip parecia querer manter a aparência de algo que ela não entendia direito o quê.

Ao chegor na pequena adega embaixo do balcão da cozinha, pegou uma das várias garrafas iguais que tinha nos suportes, juntamente com dois copos, e pôs a bebida em cada um. Um cheiro forte de álcool entrou em suas narinas.

Deviam e Philip apareceram na sala de jantar. Deviam se sentou na cadeira da mesa e Philip pegou as bebidas, entregando um dos copos para o amigo.

Lira ficou de longe, apenas observando as costas de um e o sorriso irritante do outro.

“Mas o que te trouxe aqui depois de tanto tempo, Deviam?” Philip deu um gole na bebida e perguntou.

“Quer que eu seja direto?”

“Como sempre, por favor.”

“Caim começou a missão dele.” Embora seu tom agora estivesse mais sério, os lábios arqueados e irritantes permaneceram no rosto de Deviam.

“Que missão?” Philip perguntou, confusão em seu rosto.

“Ele não te contou?” Deviam pareceu surpreso.

“Ele raramente fala sobre suas missões, se bem que faz uns dias que ele não me liga.”

“Ele foi implantar influências em Gaia.” Ouvindo isso, Philip ficou estupefato.

“E aquele desgraçado não me disse nada...” Falou, irritado. Alguns segundos depois, perguntou: “Ele enviou relatórios?”

“Enviou, e as coisas não parecem boas nesse começo.”

“O que aconteceu?”

“Maike matou um demônio e morreu em seguida.”

“Que merda! Treinei Maike por algum tempo.” Philip parecia um pouco fúnebre. “Ele era bem explosivo, mas um excelente assassino. Sabem como ele morreu?”

“Teve o rosto carbonizado até a morte.” Aquilo surpreendeu Lira. Este foi o único momento em que Deviam tirou o sorriso do rosto. “Demônios desprezíveis.”

“Não podemos culpá-los, já fizemos coisas piores.” Philip comentou, enquanto tomava o último gole da bebida.

“Eles são monstros, Philip, e você sabe disso.” Deviam soou irritado, e a ruiva, cujo escutava toda a conversa, concordou um pouco com ele.

“Demônios são seres vivos como nós Deviam, não culpe todos eles.” A tensão que havia nos seus ombros pareceu aumentar. “Afinal, fizemos tanta merda quanto.”

“Certo, não adianta discutir com você. Mas não foi para isso que eu vim, trouxe uma carta do Wiliam.” Deviam puxou um envelope do bolso entregou.

“Olha só, uma carta do rei em pessoa.” Ele começou a ler a carta, Lira não sabia o que estava escrito nela, ou como ele estava reagindo. 

Sua única forma de saber as reações de Philip eram pelos seus ombros e o resultado que eles causavam em Deviam. 

Na perspectiva dela, grande parte do tempo ele ficou impassível, mas chegou um momento que seus ombros mostraram a mesma irritação de hoje mais cedo.

“Como assim...” Seu tom era de raiva e indignação. “Me tornar o herói assassino?”

“Nada mais que seu direito, Philip!” O sorriso de antes voltou à cara de Deviam. “Escute, você foi um dos melhores assassinos que já pisou na academia no seu tempo. Porra, é, até hoje.” Falou, gesticulando com as mãos. “Sabia que até alguns assassinos que usam mana não chegam aos seus pés?”

“Não adianta me bajular.” Seu tom agora parecia ainda pior. “Ninguém aceitaria um desertor como herói e eu não quero isso. Agora, se puder, já pode ir embora.”

“Escuta, Philip, a situação está uma porcaria para o lado do Caim. Já faz dois dias desde seu último relatório e as coisas estão ficando tensas para William achando que vai perder um dos seus heróis.”

“Pouco me importa o que o William pensa. Só porque é rei acha que pode obrigar as pessoas a lutar por uma causa que não acreditam?!” Ele disse, quase gritando.

“Philip, por favor, pense direito. Estaremos em maus lençóis se Caim morrer. William me fez vir até aqui, acha que ele não está desesperado?!” Deviam também aumentou o tom.

“Não me importo. Ele pode vir me implorar ajoelhado no milho, recusarei da mesma forma. NÃO VOLTAREI PARA O EXÉRCITO!”

“Philip...” Deviam tentava soar convidativo. “Qual é? Não vai ajudar seu país? A situação tá feia para o meu lado também. Faça isso por mim, você me deve.”

“Te devo?” Acima do tom de raiva, agora existia um tom de ódio e ameaça. “Você é o motivo da Merlin estar tão debilitada. FEZ MINHA ESPOSA SUCUMBIR PARA UMA DOENÇA DE DEMÔNIOS!”

“Para com isso, ela não ficou tão ruim assim.”

“Fora!” Deu apenas uma ordem clara, que se não fosse seguida, cabeças rolariam.

“Tá bom, mas não venha choramingando depois.” Deviam levantou-se e começou a sair de perto da mesa da cozinha, quando viu a garota, olhando para ele com ódio em seus olhos. “Vê se cuida bem dessa menina, Philip. Muita coisa pode acontecer.”

De repente Deviam sentiu uma dor lasciva e algo sendo enfiado perto do seu ombro. Ele gritou de dor e caiu no chão. Quando passou a mão perto de onde doía, sentiu algo semelhante a uma faca e sangue.

“Ora seu!” Deviam parecia prestes a ir pra cima de Philip, mas parou abruptamente. Ele olhava para algo com muito medo e horror.

“Você entra na minha casa...” O tom de Philip fez Lira estremecer. Era pesado e ameaçador. “Bebe da minha bebida... e tem a cara de pau de ameaçar minha discípula?”

“Sua o quê? Ela não é sua...”

“Saia daqui... AGORA!” Cada palavra soava como uma fornalha no seu máximo desempenho. O ódio estava impregnado até no teto.

“Philip, você não devia ter feito isso.” Deviam tentava sorrir arrogantemente, mas o medo estava escancarado. “Eu cresci e muito minha influência também. Você acabou de atacar um comandante de linha de frente.” Ele pareceu se gabar, mas Philip deu uma risada longa.

“Sério? Como você mesmo disse antes, sou um dos melhores assassinos que já pisou na academia, além de um dos melhores amigos do rei e do atual herói assassino. Tenho mais contatos que puta de bordel caro.” Ele empurrou Deviam contra a parede. "Esta é a última vez que vou dizer. Saia da minha casa agora ou você vai descobrir o porquê de eu ser chamado de Cavaleiro Rubro!”

Deviam se desvencilhou de Philip e saiu correndo, desesperado. Lira estava estupefata com aquela sequência de acontecimentos e saiu de trás do balcão, ficando atrás de seu mestre.

“Philip... Tudo bem?” Ela teve medo dessa pergunta.

Ele virou-se para ela, fazendo com que a garota tivesse um breve vislumbre do inferno.

Aquele olhar levaria o mais corajoso dos homens ao seu estado mais primitivo de medo. Faria com que o mais descrente rezasse para um deus que mal conhecia. Transformaria o diabo em um pesadelo passageiro. Aquele olhar frio, sombrio e, acima de tudo, assustador, marcou-a ainda mais que seu incidente com demônios.

Ele tentou disfarçar o mais rápido possível, mas o estrago já estava feito.

“Desculpe por ver isso.”

“Tudo bem...” Lira tentou disfarçar um sorriso, mas suas pernas tremiam tanto que era inútil fingir.

“Escute, esqueça seu treino individual. Vou ajudar você dessa vez.” Philip abriu o sorriso mais sincero que conseguia naquele momento, mas não fez diferença nenhuma.

Lira não sabia, mas uma nova porta surgia em seu inconsciente. Uma com muito mais trancas que a anterior e com um grande aviso em vermelho.

O demônio vive aqui.



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