Volume 1
Capítulo 8 — Máscaras
A Casa Branca convocou uma coletiva de imprensa de última hora diante dos atuais acontecimentos. O porta-voz da presidência sobe ao púlpito para encarar as câmeras do mundo inteiro. Com uma expressão cuidadosamente neutra, ele iniciou o discurso — claramente ensaiado e roteirizado:
"O Governo dos Estados Unidos declara, que não possui qualquer tipo de envolvimento no incidente ocorrido recentemente em solo italiano. Tais eventos, embora dirigidos a indivíduos acusados de crimes hediondos, levantam preocupações profundas quanto aos limites da justiça e ao valor da vida humana.
Este episódio, que ceifou 4.444 vidas, atinge não apenas a Itália, mas toda a comunidade internacional. Afeta crianças, pais, mães, avós — famílias que, independentemente do passado de seus entes, choram hoje por sua perda.
Para as famílias em luto, nossa mais sincera solidariedade. O Governo norte-americano reforça seu compromisso com os valores e o direito à vida com o julgamento justo. A justiça, para ser verdadeira, deve ser cega — mas jamais insensível."
Após as falas, apesar dos repórteres implorarem por respostas, o presidente visivelmente assustado, se retirou rapidamente indo em direção aos seguranças, que o escoltaram para longe das câmeras.
Os agentes da SPK assistiam à cena ao vivo pela TV. O silêncio metódico preenchia a sala, cada olhar busca qualquer pista na transmissão ou, no pior dos casos, uma “mensagem” de Kira.
Por outro lado, Near não demonstrava interesse. Deitado sobre o chão, alinhava seus antigos bonecos cuidadosamente enquanto conversava com a voz distorcida de “R” pelo notebook, sobre cada pessoa conhecida que já tocou no Death Note.
— Por que estamos revendo essa lista? — Ryuzaki perguntou.
— O Rei dos Shinigamis quer alguém que seja parecido com Yagami, mas as personalidades dessas pessoas são muito distintas. Isso não faz sentido. Não existe um padrão “como Kira”.
— Talvez seja por causa que os Shinigamis não entendem sentimentos ou reações humanas.
A conversa se desenrola com os atos de cada portador, até chegarem novamente ao acontecido de 2019 com A-kira. O que fez “R” levantar a seguinte questão:
— Afinal, qual era o objetivo do Tanaka vendendo o Death Note… Ele realmente queria quebrar a economia do Japão ou só ignorou o óbvio?
— Mortos não dão esse tipo de resposta, Ryuzaki — tirou o cabelo da frente do rosto. — Sabemos o motivo de quase todos os portadores. Como Kyosuke Higuchi que só queria dinheiro ou Alexey Ivanov, que matava pessoas que queriam morrer, por achar ser uma coisa boa. Mas Taro Kagami foi induzido por Ryuk. Isso sem contar as pessoas que nem temos conhecimento.
— Mas Kyosuke Higuchi, foi escolhido pelo Ryuk, a pedido do Light. Alexey Ivanov nós não sabemos ao certo, mas Taro Kagami foi escolhido antes mesmo do Light ter pego o Death Note. Qual seu ponto, Near?
— Quando recuperamos o caderno de Safa El-Rashid, em Al-Minyan, ela afirmou que o deus da morte, Kira, exigia sacrifícios. Cada assassinato, segundo ela, era parte de um ritual de devoção.
— Isso, com certeza deve ter sido invenção do Shinigami. Como já falamos antes.
— Mas Yoon Ji-woo matava pessoas relativamente boas na Coreia — Encarou a tela com a letra “R”.
— Sim, ele disse que aquelas pessoas eram más, só fingiam ser boas.
— Exatamente. No caso, se uma pessoa era grosseira, ele matava. Não havia distinção de certo ou errado, era puramente pessoal.
“R” questionou se Near achava uma boa ideia tocar nos cadernos e pedir explicações aos próprios Shinigamis, mas o próprio explicou que já havia feito isso, e ao confrontar o ser assombroso, ele se negou a dar explicações ao sucessor do L.
Safa El-Rashid e Yoon Ji-woo negaram a posse de seus respectivos cadernos, perdendo assim suas memórias em troca de suas liberdades. Infelizmente, como o Death Note era um artefato “mágico” ou “divino”, não existia lei no mundo que mantivesse eles presos.
Sem poder divulgar conhecimento da “causa”, não tinha como impedir o feito. Near teve que aceitar apenas ficar com a posse de ambos os cadernos e ver assassinos sendo liberados, por não ter jurisdição alguma em qualquer outro país fora do “Tratado de Segurança e Identidade Pública” — TIPS.
— Até mesmo em vitórias como essas, é difícil comemorar — Disse Near com tom amargo.
Nesse instante, Rester recebeu um e-mail, onde dizia terem achado o homem que vazou o documento com os nomes e rostos das vítimas na Itália: Era um advogado frustrado pela soltura do homem que matou sua filha. A mensagem também dizia claramente que o homem iria ser julgado como cúmplice dos assassinatos.
Rester respirou fundo com o pensamento de: Todos os atos têm consequências e temos que arcar com elas. Tomou um gole de café e continuou seu trabalho.
— Como andam as investigações por aí, Ryuzaki? — Near segurava o brinquedo que representava Kyosuke Higuchi.
— A polícia continua no monitoramento de qualquer sinal de anormalidade nos templos Kiraístas, mas nada de anormal. Na internet também. Como estou fazendo todo o trabalho sozinho, está bem complicado conciliar tudo.
— Como a SPK não pode trabalhar legalmente no Japão, não tenho como arrumar uma equipe para você facilmente.
— Não preciso, trabalho melhor sozinho, você sabe.
Near refletiu consigo mesmo: Trabalhar com uma equipe menor também é mais seguro e evita vazamento de informações. O maior problema, é checar o mundo todo com apenas cinco pessoas. O que o L faria?
— As peças mudam, mas o jogo é o mesmo — deu um peteleco no brinquedo escrito "Light Yagami" o fazendo voar para longe. — Vinte anos e essa história não tem um final definitivo.
— Isso não é um jogo, sim um teatro, Near. Os atores nunca mudam. Só tiram a máscara no ato final. — “R” desligou a chamada.
O maior problema, é que o palco está em chamas, foi o pensamento que recaiu sobre Rester em meio ao silêncio de todos, concentrados em buscar pistas, até que o som de uma notificação lhe prendeu a atenção:
— Near, acho que você deveria ver isso aqui — Exclamou confuso.
Ao ler, Near ficou em choque. O texto dizia: Aqui é o “T”. Encontrei indícios de mais um Death Note e está aqui mesmo, nos Estados Unidos. Esse Kira faz com que os criminosos sofram acidentes, por isso não conseguimos rastrear o padrão. Mas ao que tudo indica que ele está agindo há pelo menos cinco meses.
Near prontamente respondeu, pedindo para que “T” o enviasse os dados de sua investigação, para que ele desse continuidade, mas contra todas as expectativas, “T” negou.
“Como assim, T?” Near enviou. Com o cenho franzido, aguardou a resposta que parecia nunca chegar. “Se você fosse realmente o ‘L’, teria encontrado esse padrão, não eu. Estava na sua cara, nesse tempo todo, e você não viu. Te mostrarei como o L REALMENTE faria.” foi o que recebeu, mas apesar de sua insistência, Near não recebeu nenhuma outra notificação.
De costas, Near se afastou do computador, com os dedos enredados entre os longos fios de seu cabelo branco. O gesto era automático e repetitivo — como se quisesse arrancar de si algum pensamento incômodo.
Não sabia nomear o que sentia. “Nervosismo” parecia banal demais, mas havia algo. O leve incômodo no estômago. Não era medo. Ou será que era? A incerteza era o que Near mais odiava.
— Near, nós estamos nos esforçando para… — foi interrompido.
— Eu sei, Rester, não é culpa de vocês — coçou o cabelo com raiva e suspirou. — É culpa minha.
Gevanni explicou que poderia ser um bom plano, deixar a investigação desse Kira com “T”, já que eles mesmos estão focados no “Kira Genocida”. Mas Near retruca: — Se qualquer um pode investigar o Kira, pra que serve a SPK?
Um silêncio desconfortável permeou os agentes. Near se desculpou e voltou para seu canto escuro em meio aos brinquedos. Lidner se levantou e foi até ele conversar, mas o detetive pediu um tempo para colocar sua cabeça no lugar.
Ele está nervoso com ele mesmo por não ter percebido esse Kira ou com medo que T morra? Foi o que a mente de Lidner ao voltar para sua cadeira. Gevanni percebeu o incômodo sutil no rosto da colega, pelo modo como ela olhava para Near antes de sentar.
Sem perguntar nada, saiu por alguns instantes e retornou com um copo de suco. Sem palavras, apenas pousou o copo ao lado dela. Lidner ergueu os olhos, encontrou os dele, e por um segundo, ela apenas acenou com a cabeça com um leve sorriso.
Rester notou o comportamento de ambos com um olhar de canto, deu uma leve tossida antes de dizer: — Bom, é hora do almoço, vou na frente. Licença.
Silencioso como um trator, Rester. internou Gevanni enquanto Lidner, por outro lado, mantinha sua postura séria, fingindo não notar a atitude de seu colega. Mas ao perceber a saída de Rester, sorriu quase imperceptivelmente e deu uma leve penteada em cabelo loiro com seus dedos, os pondo atrás da orelha.
Near permanecia imóvel, mais ao fundo da sala, cercado por seus brinquedos desalinhados. Um deles, nas mãos pálidas do detetive, carregava no peito o nome “Yuki Shien”. Porém, ainda mais adiante, estirado no chão frio como um cadáver, outro, escrito “Light Yagami”, tinha um sorriso esculpido, como se gargalhasse em silêncio para Near.
Desviou o olhar com um suspiro, mas o riso permanecia, dentro de si. Aquilo não era um jogo. Não era sequer um teatro. Eram as consequências dos atos de um maníaco com complexo de deus, mas quem carregava a “cruz”, o título de maior detetive do mundo, era ele próprio.
Como você conseguia lidar com isso? O pálido detetive, visava a figura de L em sua mente. Yagami caiu em um truque fácil, mas não posso arriscar a vida de uma pessoa no corredor da morte, como você. Eu não sou assim. Também não posso ficar parado, esperando as ações calculadas de alguém com sede de sangue, como esse Kira.
Preciso fazer ele dar um passo em falso… preciso fazer ele mandar uma mensagem pra mim… Mas como? Uma ameaça como sempre? Vai ser arriscado, mas é a alternativa mais viável e com tempo de reação curta. Saberei que tipo de pessoa estou enfrentando e poderei moldar seu perfil com mais detalhes…
Quanto ao T, vou deixar ele continuar a investigação por hora. Ele é impulsivo, mas tenho certeza que não vai fazer nenhum movimento precipitado e isso pode nos levar a mais um Death Note.
Near deitou-se, com o olhar para o teto e cercado por seus brinquedos. Suspirou angustiado, vendo-se rodeado por vários “mas” e “poréns”. Já o boneco de Light Yagami, continuava a rir no fundo da sala.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios