Volume 1

Capítulo 18 – Luz

Naquele mesmo prédio inacabado, Clara estava chorando. Ruan, o garoto de cabelo platinado, havia acabado de tirar a foto dela e a enviar para Marcos. Um deles, o único mascarado, carregava o revólver consigo, não falava nada, mas era musculoso. Os outros quatro que os acompanhavam, eram os mesmos daquele fatídico dia. 

A luz vindo de duas torres de iluminação viradas para eles em cada ponto da garagem dá uma claridade boa pelo menos naquele ponto, transformando o local em um palco grotesco.

— Por favor, me deixe ir — Clara implorava no chão.

— A gente só vai te deixar ir quando o arrombado do seu namorado chegar — Ruan segurou o rosto de Clara — Olha pra mim quando eu estiver falando!

Ele a soltou, deixando o rosto da menina marcado.

— Esse filho da puta merece uma lição. 

— Cara, calma aí, Ruan.

— Cala a boca, Talison! Já falei que eu não vou deixar isso barato.

Talison abaixou a cabeça e o loiro o colocou para trás com um empurrão leve. Evitando uma briga entre eles e dizendo: — Deixa ele pra lá. O que a gente vai fazer?

— A gente só vai dar uma liçãozinha nele.

Clara abraçava a mochila e o pensamento de que “a culpa era dela e que ela tinha que arrumar um jeito de salvar Marcos”, mas suas mãos estavam trêmulas e ela não tinha forças como seu amado.

Não vou deixar fazerem mal a ele.

— Sabe que se matar ele, vai dar merda, não é? — O loiro questionou.

— Não vou matar ele, mas ele vai querer que sim. Depois, a gente joga ele no carro e some com esses dois em algum lugar.

Enquanto o tempo passava, Ruan caminhava de um lado para o outro impacientemente como um leão enjaulado e sem tirar os olhos de Clara que o encarava com uma mistura de medo e raiva. O cheiro de areia e cimento contrastavam com o ambiente abandonado. 

— Engraçado... Parou de chorar, Clara?

Ruan, em um surto, pegou a arma da mão do mascarado e apontou para a cabeça de Clara. A garota fechou os olhos e se encolheu, mas não derramou nenhuma lágrima.

— Ruan, toma cuidado com essa porra, caralho! — Exclamou o mascarado.

— Eu sei o que eu tô fazendo, Bruno. Cala a boca e tira logo essa máscara de bitola.

— Eu não. Vocês que querem se vingar dele, se meu pai souber que eu to envolvido nisso aqui, eu to fodido.

— Gente, se ele chamar a polícia? — Perguntou Talison.

Ruan o encarou sem proferir uma única palavra, fazendo Talison se encolher no fundo.

— Aquele arrombado gosta de bancar o heroi. — Arthur apontando a arma para Clara. — Não é Clarinha?

Clara o encarou sem responder. O ruivo, que até então estava em silêncio, se aproximou.

— Cadê aquele merda? Eu quero que aquele amigo dele venha também. Filho da puta, me pegou na trairagem.

— Te pegou por trás, com gosto. — O moreno falou rindo. — Fica tranquilo. Esse a gente pega depois.

Ruan olhou para Clara com um sorriso e chutou levemente umas pequenas pedras que quicaram perto dos pés da garota.

— Será que a gente tem que mandar mais uma foto, pra ele vir mais rapido? 

— Que tal rasgar a roupa dela? — Disse o moreno.

— Gostei da ideia. — Respondeu o ruivo.

Talison, aflito com a situação, falou: — Ruan tá com essas ideias porque ainda tá puto por não ter comido a Bia.

Todos começaram a rir de Ruan, que apontou a arma para ele e exclamou: — Escuta aqui, caralho…

— Isso que dá querer ser amigo. Tem que botar logo pra fuder. — Disse o ruivo o interrompendo.

O som de alguém correndo ecoou de fora da garagem. Os garotos encaram a única entrada do lugar esperando Marcos aparecer.

Ao chegar, ele caminhou lentamente para o centro do galpão, com a respiração cansada e suando. Marcos não falou uma única palavra, mesmo diante das provocações que mais pareciam zumbidos em seu ouvido.

— Tava quase achando que tu não vinha — Ruan comentou.

— Marcos, cuidado, por favor!

— Cala a boca! Cadê aquele seu amigo?

— Clara, não se preocupa. Vai ficar tudo bem — As palavras estranhamente calmas de Marcos fizeram Clara se acalmar, mas ao mesmo tempo, suar frio.

Os olhos de Marcos varriam os seis garotos, podendo ver nitidamente seus nomes e expectativa de vida.

Eduardo Nascimento Fagundes: 9.500 dias.

Ruan Oliveira Santiago: 8.200 dias.

Pablo Costa Neto: 10.800 dias.

Talison Gama Coelho: 11.200 dias.

Arthur Medeiros Queiroz: 10.100 dias.

— Vou pedir só uma vez. Deixem a Clara em paz.

— Tá achando que pode pedir alguma coisa? — Ruan virou a arma para Clara.

Os garotos se aproximaram lentamente um a um. Marcos respirou fundo, e em um movimento lento, puxou o caderno que estava escondido na parte de trás da bermuda. Todos estranharam aquilo, inclusive Clara. Ruan virou a arma para ele, assustado.

— Que isso? Um caderno e uma caneta? Tá achando que é o John Wick?

Começaram a rir enquanto Marcos escrevia e olhava o relógio.

— Se é pra morrer, que seja escrevendo um testamento. 

Esse que tá usando máscara, com certeza vai correr assim que ver eles desmaiando do nada. Preciso dar um jeito nisso depois. Talvez eu use ele no meu plano… Mas primeiro o mais importante… A arma.

Assim que terminou de escrever, olhou novamente para o relógio.

— Acabei. Você tá bem, Clara?

Clara só afirmou com a cabeça com as sobrancelhas franzidas.

— Cara, você não é normal, sabia? — Pablo, cercando Marcos junto com os outros enquanto Ruan, continuava na mesma posição com a arma apontada para Clara.

— Quer dizer mais alguma coisa? — Ruan perguntou.

— Só uma — Marcos ergue a cabeça como um rei e proclama. — Sintam a ira de um deus.

Todos riam de suas palavras enquanto Pablo pegou Marcos pelo colarinho da camisa. Mas quando estava prestes a soca-lo, um silêncio reinou. Virou para trás e seus amigos caíram no chão.

— Ei! Caralho… O que tu fez com eles? — Balançando Marcos pela camisa.

O sorriso de Marcos era assustador enquanto ele pensava que Pablo iria correr, mas contra quaisquer expectativas ele partiu para cima de Marcos com um soco, o derrubando no chão.

— Filho da puta! O que tu fez com eles?

Pablo se colocou em cima de Marcos e o enforcou. 

Caralho… fudeu…

O mascarado jogou todo seu peso em cima do pescoço de Marcos, que não conseguia se desvencilhar. A vista começou a ficar escura e o rosto vermelho. Marcos tentou socar Pablo mas nada adiantava.

Um som de estalo rompeu o local como o chicote rasgando o ar. Marcos finalmente conseguiu respirar, mas Pablo caiu por cima dele e junto, sentiu o sangue quente escorrer pelo chão.

Marcos jogou o corpo para o lado e se sentou para recuperar o fôlego com a respiração pesada. Olhou Pablo sem vida, com um buraco na parte de trás do seu crânio e mais atrás, Clara com a arma em punho.

Ela jogou a arma e correu para Marcos, selando um beijo com sangue.

— Amor, você tá bem? Eu fiquei com tanto medo… Achei que você ia morrer..

Clara o beijou novamente enquanto as mãos de Marcos percorriam a cintura dela como se tocasse em um pedaço do céu.

 

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