Volume 1
Capítulo 12 – Persona
A aula acabou, mas Clara continuou com a cabeça apoiada sobre seus braços em cima da carteira, sem conseguir lembrar uma única frase dita durante a explicação da professora.
O martírio daquela manhã ecoava sobre suas súplicas de amor. Mesmo que Marcos a aceitasse, não mudaria nada na bagunça que sua vida se encontrava. Foi só uma confissão jogada no meio do caos e mais uma dor de cabeça carregar sozinha.
Por que eu disse aquilo? suspirou, O Marcos deve achar que eu estou louca por atenção… Sou tão idiota… Deixei me levar pelo que minha mãe disse… ai, Deus, me mata…
— Clara? Você tá bem? Se estiver com dor de cabeça eu tenho remédio.
— Oi, Isa, eu tô bem sim. Só dormi pouco essa noite — Respondeu com um sorriso.
— Não vai me dizer que você e seu namorado discutiram por você ter bebido?!
— Ele não é meu namorado…
— Se ele não é? vocês terminaram?
Clara não respondeu de imediato. A voz de Marcos fluiu em forma de lembrança: Tua amiga tava mais preocupada com o carpete do que contigo.
— Quando eu tava mal... o que aconteceu?
— Ué, você não lembra? Fiquei falando com você e te pedi pra parar, mas você não estava muito afim de escutar. Foi então que o Marcola te reconheceu e ligou pro seu “não namorado”.
Clara ficou pensativa sobre as duas versões da história. Talvez Marcos só tenha imaginado ou exagerado e Isa permaneceu comigo até o final da festa. Mas no final, eu acabei tendo que ser carregada pra casa dele…
— Enfim, vamos comer? — Clara disse com um sorriso — Tô morrendo de fome. não tomei café.
Entre conversas supérfluas sobre músicas e lançamentos de filmes, a doce menina usava sua máscara de normalidade. A simpatia em sua face disfarçava perfeitamente seus pensamentos de outrora.
Às vezes olhava o celular esperando alguma notificação, mas então logo o guardava com um simpático riso.
Isa chamou Clara para ir para a sua casa, para revisarem seu TCC. Sem hesitar, Clara aceitou, não pelo estudo em si, mas para não ter que ir à sua própria casa.
Já no local, elas fizeram tudo, menos tocar em um livro sequer. Assistiram filmes, dançaram e fizeram brigadeiro enquanto Isa fazia de tudo para descobrir se Clara estava ou não
namorando.
— Por que você tá tão interessada nisso?
— Sabe o que é? Tem um garoto que eu tô muito afim, o nome dele é Talison. Moreno, alto e com cara de malvado, do jeito que eu gosto. Ele quer sair pra uma festa comigo… e eu queria saber se você iria comigo…
— Sei não, Isa. Não tô afim de ficar de vela.
— Você não vai ficar de vela. Vai ter uns amigos dele lá e a Bia também vai com a gente. Por favoooor?
Clara hesitou, mas uma memória silenciosa retornou à mente assim como um sopro de coragem repentina.
— A gente vai. Mas vou logo te avisar, eu não vou ficar com ninguém.
Isa pulava em comemoração em direção ao guarda roupa.
— Por isso que te amo Clara, você é a melhor. Escolhe uma roupa aqui, tenho certeza que tem algo pra te agradar. Enquanto isso vou ligar pra Bia.
— Você não disse que a Bia ia?
— Ela vai, só não sabe ainda.
Clara suspirou balançando a cabeça, foi até o guarda roupa e se deparou com uma camisa preta. Uma memória pairou: “Você fica linda de preto. Combina com seu cabelo e destaca sua pele”, mas então, escolheu uma blusa vermelha com estampa de ursinho.
O tempo passou, Clara estava encostada numa parede grafitada, entre luzes coloridas, gente falando alto por causa da música barulhenta, pessoas dançando e muita cerveja. Suas duas amigas riam, animadas, conversando com três dos garotos enquanto outros dois estavam mais próximos a ela, tentando puxar assunto.
— Você não é daqui, né? — Perguntou um deles, cabelo platinado e pulseiras nos braços.
— Sou sim.
— Jura? Achei que você era do tipo... sei lá, de outro estado. Você parece tão misteriosa e bonita, achei que você tinha saído de um filme.
Ela apenas balançou a cabeça com um sorriso forçado.
— Você não curte festa, não é? — tentou o segundo, um loiro, que a ofereceu uma latinha de cerveja.
— Já tô aqui, né? — Mostrou sua latinha de refrigerante.
— Verdade. Mas tá com uma cara de “quero sair correndo”.
— Quer dar uma “passeada”, hein? Só nós dois? — O platinado perguntou, colocando a perna de Clara.
— Não, valeu — Tirando a mão dele, tomou um gole da própria bebida e vagou seu olhar pelo local.
O platinado riu e se aproximou mais.
— Talvez você só precise de um… “incentivo” pra relaxar — puxou do bolso um pequeno pacotinho embalado — Quer um teco?
— …Não.
— Isso vai te relaxar…
Isa virou-se e notou o que era aquilo.
—Você trouxe, Ruan? Bola aí pra gente — tentando não falar alto.
— Tem outro com o Caio. Esse aqui é pra Clara.
Bia interveio, falando que elas poderiam fumar, mas que Clara não era disso.
— É, e ela não quer ficar com ninguém, né amiga? — Disse Isa.
O que será que o Marcos faria? Pensou Clara. Talvez experimentar não faça mal… tudo já tá uma merda mesmo…
— Tudo tranquilo. Se não quiser, de boa — Afirmou Talison — Depois eu levo vocês pra casa.
Clara exitou por mais alguns segundos, refletindo sobre aquilo e então aceitou fumar. Todos comemoram e ela ficou com um sorriso sem graça. A garota deu uma tragada forte e engasgou com a fumaça, mas riu junto com as amigas.
Os olhos dela estavam mais fechados que o normal e um sorriso largo tomou seu rosto. Se levantou com as meninas, levantou os braços e dançou no ritmo da melodia. As cores estavam mais vivas e a música parecia mais lenta. Tudo parecia girar, mas não de um jeito desagradavel. Era como um puro sentimento de liberdade.
— Tá bem amiga?
— Tô ótima! — Clara respondeu com o cabelo bagunçado de tanto dançar.
As três ficaram juntas, até que Talisson puxou Isa para dançar uma música mais lenta, assim como o garoto moreno — que assim como todos, Clara não fez questão de lembrar o nome — chamou Bia. Clara continuou ali, curtindo a música sozinha, sem nem notar que suas amigas se afastaram. Como se não existisse mais ninguém em volta.
— Já que suas amigas estão se divertindo, deixa que eu cuido de você.
Clara se virou a quem perguntou e de súbito, beijou o rapaz. Ela ficou na ponta dos pés enquanto seus lábios percorriam a boca dele, para então recostar sua cabeça no peito dele e dizer bem baixinho: — Te amo, Marcos.
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