Volume 1

Capítulo 12 – Naufrágio

A presidente do México levantou-se. Seu tom era firme, mas ponderado:

— Agradeço as palavras do rei, mas é inegável que o novo Kira, ao saber o codinome de Near, o colocou sob ameaça direta — e, com ele, toda a equipe global que atua na investigação. Estamos lidando com uma figura que opera acima da inteligência convencional. Precisamos considerar medidas extraordinárias.

O presidente da Espanha, então, fez um gesto educado pedindo a palavra. Quando lhe foi concedida, falou com clareza:

— Senhoras e senhores, peço apenas um minuto da vossa atenção. Dada a gravidade da situação, a Espanha está disposta a colaborar de maneira mais ativa. Propomos enviar o detetive conhecido como "I" para integrar a força-tarefa.

Um murmúrio percorreu a assembleia. O próprio ministro da ONU arqueou as sobrancelhas:

— "I"? Refere-se ao detetive que colaborou com L durante a adolescência, antes mesmo de ele assumir oficialmente o posto?

— Exatamente — respondeu o presidente espanhol. — I é uma mente brilhante, um dos poucos que conheceu de perto a forma de raciocínio de L. Trabalharam lado a lado em diversos experimentos de dedução. I sempre declarou seu desejo de honrar o legado de seu mentor. Acreditamos que ele poderá acrescentar profundidade e estratégia à investigação.

Near ergue os olhos por um breve instante. O desconforto é visível, mas ele tentou manter o tom impessoal:

— Com todo respeito à iniciativa espanhola, mas quanto mais pessoas forem incluídas na investigação, maior é o risco de exposição. Kira já demonstrou acesso a informações sensíveis. Expandir a força-tarefa pode comprometer a segurança de todos.

O ministro de Portugal o interrompeu, num tom mais direto:

— L... Ou melhor, Near. Não é mais uma questão de estrutura, mas de urgência. Esse Kira cometeu quantos atentados a nações? Quatro? Cinco? Ele é um terrorista e precisa ser detido o quanto antes — ele fez uma pausa breve. — Não estamos falando de alvos aleatórios. São execuções calculadas com impacto político global. A inércia também é uma forma de cumplicidade. — Falou olhando para o presidente estadunidense.

O ministro da ONU encerra as manifestações anteriores com um gesto sereno, mas firme:

— Muito bem. Entraremos em contato com o detetive I para iniciar as negociações. Que fique claro que sua participação será coordenada diretamente com a liderança da investigação, sob diretrizes da ONU e com suporte logístico das nações-membro.

Um leve burburinho de aprovação se espalhou pelo salão. Near, por sua vez, assente em silêncio. Ele sabe que não adianta resistir àquela altura.

A representante do Canadá, que até então se mantinha discreta, falou:

— Reiteramos nossa confiança em Near e na necessidade de métodos cuidadosos. Mas apoiamos a chegada de I desde que haja protocolos claros para proteger identidades e evitar novos vazamentos.

O embaixador da África do Sul complementa:

— Se Kira já tem acesso a nomes e rostos de lideranças, talvez seja hora de assumirmos que a segurança digital e informacional falhou. Precisamos de mentes que entendam a lógica por trás desses assassinatos — não apenas força, mas simulação, antecipação. Talvez "I" traga isso.

Então a primeira-ministra da França, com a postura impecável e o semblante carregado de indignação, pede a palavra. Sua voz ecoa com clareza:

— Com todo respeito aos colegas, há algo que não podemos relativizar: o que Kira fez foi um ultraje à honra de um país inteiro. Mesmo que os alvos fossem criminosos — e isso ainda está sendo investigado — foram mais de quatro mil vidas tiradas em menos de dois minutos. Nenhum Estado soberano pode aceitar que um justiceiro internacional decida, por conta própria, quem vive ou morre dentro de suas fronteiras. Isso é terrorismo de alta escala travestido de moralidade.

Um silêncio respeitoso se instaura por alguns segundos após sua fala. Muitos representantes assentem levemente, alguns trocando olhares entre si. A intensidade das ações de Kira começam a deixar de ser apenas uma questão policial para tornar-se um problema diplomático de primeira ordem.

O ministro da ONU, retomando o tom neutro, conclui:

— Que se registre em ata: a assembleia aprovou o envio do detetive I para colaboração direta na força-tarefa internacional de combate a Kira. A segurança da humanidade exige união acima de fronteiras e vaidades. Esta seção segue agora para a próxima etapa da agenda.

Near permaneceu imóvel. Ele sabia: dali em diante, não seriam mais peças de dominó — mas nações inteiras no tabuleiro de xadrez. Um erro dele ou de Kira é uma guerra que poderia se iniciar.

No dia seguinte, doze agentes do FBI que se atiraram do topo de um prédio em Seattle. A Morte foi instantânea, o chão foi banhado em sangue e tecido cerebral. Os agentes faziam de tudo para conter a propagação da notícia, mas já era tarde.

Vários vídeos e imagens começaram a circular como tudo aconteceu. Todos os homens caminharam de forma ordenada até o edifício com um olhar vago, subiram pelas escadas e então pularam, um a um.

Rester, voltou à questão levantada por Gevanni e questionou Near se ele realmente acreditava que eram dois Kiras depois desse incidente. Near por outro lado, reiterou que acreditava um pouco mais nessa hipótese, já que essas mortes não tiveram qualquer preparação para os “suicídios”, como foi o caso na Itália. 

A maior diferença, estava na forma. Os agentes se jogaram um após o outro, o que significava que os nomes foram escritos da mesma forma e naquela ordem. O massacre italiano foi instantâneo e todos fizeram o mesmo movimento ao mesmo tempo.

No último dia James Turner, um policial de Seattle, se pronunciou no mesmo púlpito que “T” estava a dias atrás. Um homem grisalho e forte, que apesar da voz aveludada, dava para sentir sua raiva através de cada palavra.

Seu discurso foi para intimar Kira a agir, dizendo que não importava se ele morresse, outro poderia tomar seu lugar e continuar a investigação. 

— Isso vai ser um problema — Disse Near ao coçar a cabeça, o que atiçou a curiosidade de todos.

Near ligou para “T” por um longo período, mas não o atendeu. Ligou para “R” e o mesmo aconteceu. O detetive então, se deitou sobre o chão gelado, encarou o teto e reverberou:

— Não podemos deixar outras pessoas colocarem suas vidas em risco em prol da investigação, não importa o caso. Se esse cara morrer a culpa vai ser minha por ter deixado o “T” assumir a investigação.

— Vamos intervir então?

Encarou seus próprios cabelos brancos e se pôs a refletir por um breve instante, em silêncio.

Afinal, quem é esse homem? Por que se colocaria em risco? Isso não faz sentido algum, sabendo como Kira age… Se ele quisesse, poderia muito bem pegar os nomes de todos deste departamento e matar todos só para mostrar seu ponto… Coisa que o Yagami poderia fazer

— Não, agora já foi — sentou-se — espero que T saiba o que está fazendo. Isso pode me colocar em uma encrenca.

Contudo, Gevanni recebeu uma nova notícia. Um galpão na Rússia abrigava 100 mortos que foram encontrados no início daquela manhã. Segundo o que tudo indicava, as mortes foram causadas por hipernatremia. 

Cada uma das pessoas ingeriu quantidades massivas de sódio em um curto período de tempo, entre vômitos e convulsões. O que levou à desidratação e falência das suas células cerebrais. O local estava escuro e repleto de embalagens de sal de cozinha.

Em meio àqueles amontoados de corpos, foi achado também, coberto por uma tampa de vidro, um cálice com água e com o nome “Kira” gravado.

— Essa é a diferença entre o nosso Kira e o de Seattle — Near pegou um bonequinho e riscou um nome. — Vamos chama-lo de J-Kira.

— Por que “J”? — Lidner perguntou.

— Esse parece gostar bastante de espetáculos, assim como o “Joker”. Estamos todos no palco que Light montou. Ele só reacendeu as luzes.

— Isso já está realmente um circo — disse Gevanni.

— 4.444 criminosos na Itália e agora 100 na Rússia... Ele está usando simbolismos: cálice, água… multidão… Até agora ele usou objetos de fácil acesso para matar lâminas e sal…

— Mas esse foi escondido, Near.

— Pela data e o número inteiro, podemos deduzir que isso foi um dos testes. Talvez tenham mais que ainda não foram encontrados. Façam um parâmetro de criminosos desaparecidos pelo mundo, em grandes quantidades, também verifiquem como conseguiram esses nomes e os antecedentes deles.

Lidner sinalizou que não havia mais nenhuma notícia recente sobre algum ato suspeito.

— Isso significa que o J-Kira realmente vai querer mudar o padrão ou vai planejar algo ainda maior… vamos aguardar uma semana para confirmar isso…

— Por que uma semana?

— Se o incidente Russo foi a nove dias, isso significa que ele tem uma preparação… talvez para coletar nomes ou para preparar o terreno…

— Posso também fazer um paralelo das pessoas que pesquisaram sobre essas formas de morrer com os que baixaram o arquivo Italiano.

— Ótima ideia, Lidner. Pode ser um tiro no escuro, mas pode dar certo. Faça também uma lista dessas pessoas que estejam envolvidas na área da saúde, seja por trabalho ou estudo. Talvez possa haver alguma ligação.

Próximo ao fim da tarde, “T” ligou para Near, dizendo “ter certeza da identidade do Kira de Seattle”, mas propôs um acordo para que Near não se envolvesse na investigação, se aceitasse, revelaria o nome do seu suspeito.

— Você diz que confirmou a identidade… e agora diz que é suspeito? Me diga “T”, aquele policial que apareceu na TV… morreu?

— Não, ele está vivo.

— Então é óbvio que o S-Kira tem alguma ligação com ele — Near brincava com o cabelo. — Se um desses agentes que morreram, investigou algum parente próximo desse policial, isso significa que você já tinha uma suspeita de alguém, antes mesmo de iniciar a investigação. Pare de enrolação “T”, me fale o nome.

“T” se calou e dava para escutar sua respiração pesada.

— Light Turner.

Os agentes se viraram para Near com expressão de dúvida, com um silêncio que beirava o constrangimento. O detetive usou o cabelo como bigode e cruzou os braços:

“Light” já é um nome bem raro, mas sendo filho de um policial, deve ter colocado um alvo nas costas dele para ganhar um caderno de um Shinigami. Só que esse parece ser alguém ainda mais afoito que o Light original.

— Se fosse o Yagami, tenho certeza que não hesitaria em matar o próprio pai para tirar o foco da investigação de si. 

Ao fundo da ligação, Near escutou alguém chamar por “L” ao invés de “T”, e ele respondeu. Ao Pentear suas longas mechas, perguntou: — Se passando por mim, “T”?

— Eu apenas me apresentei como um sucessor do L, que é exatamente o que eu sou, não tenho culpa por eles me chamarem assim.

— Mas você corroborou com essa farsa e com certeza usou disso para tirar vantagem da situação… Com uma ligação posso acabar com seu jogo “T”, lembre-se disso.

Novamente “T” ficou em silêncio com a respiração pesada. 

— O que você vai fazer agora “L”? Como você vai capturar o Kira sem apoio?

Near franziu as sobrancelhas, mas a resposta nunca veio. Em súbito, 'T' encerrou a chamada. Um estalo seco ecoou no fim da ligação, o que fez Near suspirar fundo e cogitar: 

— Light Turner é uma cópia barata e mal feita do Yagami, tanto que caiu no exato mesmo truque. Enquanto vocês pesquisam sobre os incidentes eu mesmo vou averiguar sobre esse garoto. Se eu conseguir confirmar que o login do pai dele foi utilizado de outro local, já vai ser o suficiente para eu conseguir um mandato de busca e apreensão. Coisa que o “T” deveria ter feito assim que suspeitou.

— E não vai impedi-lo? Está usando seu codenome... seu legado…

Antes de responder, desviou os olhos, e encarou os bonecos espalhados sobre a mesa. Um deles, de camisa longa branca e cabelo espetado preto, estava deitado de lado. Near o virou com um dedo e revelou a face pálida de seu antigo mentor.

Legado…

Torcendo a boca como quem tentava escolher as melhores palavras, Near respondeu: — “T” está agindo dessa forma em busca de vingar nossos companheiros da Wammy's que foram mortos por Kira, o que é ótimo por um lado. Um homem que nada mais tem a perder… é um peão útil no xadrez.

Vou tentar ajudar ele por baixo dos panos e garantir que ele não morra por fazer algo estupido, como o Mello fazia.

 

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