Volume 1

Capítulo 13 – Realidades

O Presidente Italiano abriu a porta do hotel em que estava hospedado, sentou-se ao sofá e coçou o rosto. Seu olhar ficou fixo em nada por alguns segundos antes de engolir seco e abrir seu notebook.

Com dedos lentos, digitou seu nome na barra de pesquisa e rapidamente encontrou o óbvio: nome completo, idade, fotos. Fotos de seus filhos, esposa, netos e de pessoas que trabalham com ele. Notícias mencionam seu nome e como saiu da reunião.

Suspirou e coçou o rosto novamente. Seus olhos vagam em meio aos rostos de seus entes queridos, procurando uma resposta que não existia, o que fazia um fio de suor frio correr sobre sua têmpora. 

Ao escutar passos vindo em sua direção, fechou o notebook. Sua esposa o abraçou por trás amorosamente.

— Boa noite, querido.

Ele acariciou o braço dela e sorriu ao sentir seu cheiro doce.

— Boa noite, querida.

— Quer conversar sobre o que aconteceu?

Ela claramente se referia a sua reação na cúpula da ONU em que ele saiu sem explicações. O Presidente sabia disso, mas preferiu desvirtuar o assunto.

— Querida... existe algum lugar que queira visitar?

— Hmm… Já fomos para tantos lugares. Talvez… só a antiga casa dos meus pais no interior. Por quê?

O presidente se levantou calmamente e andou em direção a esposa para acariciar seu rosto. O gesto repentino os fez trocarem leves sorrisos apaixonados sem sequer dizer uma única palavra, mas assim mesmo, a mulher estranhava a demonstração de afeto inesperado.

— O que aconteceu, querido?

— Nada. Só estou admirando o quanto você é linda.

Em uma última tentativa de tentar descobrir o que estava acontecendo, ela perguntou: — Tudo bem, querido?

Ele esperou alguns segundos antes de responder.

— Está sim.

Eles caminharam de mãos dadas até a suíte, apagaram as luzes e fecharam a porta, para uma noite que, para o Presidente, prometia ser longa.

 

———————༺🖤༻———————

 

A cada passo no solo cinzento, o Shinigami de sorriso rasgado, levantava poeira como um elefante na savana. Seu elmo espinhoso que escondia seus olhos, O cabelo volumoso era como uma juba de leão, seu corpo era pálido e contrastava com seus vários cintos e correntes.

— Há quanto tempo, Haku — Sua voz era rouca e as palavras soavam arrastadas.

Haku, por outro lado, continuou calado e com os olhos vazios. O vento soprava e o som, mesmo que longínquo, era do tilintar de ossos e sopros de angustia.  

— Todos estão falando de você, Haku.

— Assim como você está fazendo, Nareth?

Nareth se calou por um instante e se aproximou do olho do mundo, onde viu Ryuk se deleitar no mundo humano comendo maçãs em uma mesa de jantar.

— Já se passou quanto tempo deles lá em baixo?

— Para os humanos? Seis anos.

O enorme Shinigami encarou Haku com descrença, mas não demorou para retornar seu olhar e notar Reigan, que falava com uma garotinha em um lugar escuro e precário enquanto apontava para o caderno nas mãos dela.

— Reigan está passando o seu Death Note de mão em mão há seis anos? — Nareth riu de deboche. — O que aconteceu dessa vez?

Haku ficou calado por alguns instantes e indagou com um tom de repulsa.

— O humano que está com ele é… intrigante.

Nareth se abaixou para encarar mais de perto e perguntou se ele se referia a garotinha japonesa.

— Não — Haku moveu sua mão e mostrou Marcos em seu trabalho. — Ele está usando Reigan como intermediário. Mandou entregar o Death Note a essa menina. Eu nunca pensaria em usar o caderno assim.

— Foi esse que fez centenas rasgarem o próprio pescoço? Armonia Justin Comentou sobre ele.

Ao sentir a inexpressividade de Haku, Nareth questionou o motivo da sua falta de comentários, mas ele continuou calado e sem demonstrar um pingo de interesse naquele humano.

Com a mão ossuda e o olhar vazio, Haku mirou o Olho do Mundo em Near e sua equipe. Eles conversavam com Ryuzaki sobre como a reunião da ONU poderia moldar os novos ataques do J-Kira e os outros portadores do caderno.

— Esse sim é divertido de acompanhar — o shinigami sorridente murmurou — Quero muito saber como “aquele cara” vai conseguir o rosto dele.

Um brilho escarlate pulsou dos olhos de Haku, como chamas amaldiçoando Near.

— O que foi, Haku? Você não gosta dele?

Ele fechou os olhos e suspirou, como se estivesse segurando um trovão dentro de si.

— Se não gosta dele, porque não mata logo? — Nareth olhou para o cinto de Haku, mas o caderno não estava lá. — Onde está seu caderno?

Silêncio.

— Quantos humanos você matou para ficar tão tranquilo sem ele?

— O que são seis anos para um deus da morte?

O enorme Shinigami olhou para o céu, e as nuvens depressivas marcavam a realidade do tormento eterno. 

— Acha que “aquele cara” vai conseguir chegar até o rosto do L?

— Tudo vai depender de como ele vai chegar no Ryuk, o que não vai demorar muito.

Em um movimento lento, Haku mostrou um japonês adulto, sentado em uma poltrona de avião, mexendo no notebook. O que mais chamava a atenção era seu cabelo preto volumoso e bagunçado com uma mecha de cabelo branca.

— Ele está com os cadernos de Bepo e Arma.

Nareth gargalhou e mencionou o quão atrasado estava a equipe do L estava em comparação àquele homem.

— O tabuleiro está se fechando e Near está ficando sem espaço — Haku mencionou com sarcasmo.

— Qual seu objetivo afinal, Haku? Só se divertir ou assistir a queda da humanidade?

— Não é obvio? Quero acabar com a maldade do mundo e fazer dele um lugar melhor.

— Para quem? 

Pela primeira vez, Haku se calou por não saber o que responder.

— Você não é humano, Haku. O que os humanos fazem ou deixam de fazer com suas vidas curtas e miseráveis não é importante para nós.

— O mundo precisa ser justo e…

— Justo para quem, Haku? — disse Nareth, cortando sua explicação enquanto sorria maliciosamente.

Nareth mostrou um cenário de guerra com incontáveis corpos no chão e destroços de uma luta que perdurava a anos. 

— Você nem está lá. Os humanos irão sempre encontrar algo para brigar entre si. Território, riquezas, poder, ideias… Isso não tem nada haver com justiça, Haku. É sua pura vontade de se entreter.

O sobretudo de Haku esvoaçou com o vento, enquanto o mesmo, encarou a terra árida e morta ao redor, perdido em pensamentos.

— Não… Eu estou ajudando os humanos…

— É mesmo? Como?

A boca de Haku se abriu, mas nem o ar saiu por ela. Os seis anos que ele passou observando o mundo humano lhe vieram à mente e ele não fez nada. Outros shinigamis estavam entre os humanos e nem eles o mencionaram como o iniciador de tudo.

— Você queria reconhecimento, mas esqueceu o óbvio. No seu próprio plano, quem conseguir encontrar o “novo kira” para entreter o Azrael, irá se tornar o novo rei shinigami… mas o que acontece com você?

Silêncio.

— Você estava tão desesperado para que alguém matasse o L, já que você não pode, que nem notou o que você mesmo fez.

— CHEGA! — Haku ficou de pé e puxou sua enorme foice.

— Acha que vai fazer o que com isso, Haku? — Nareth nazalava um riso provocador. — Seis anos… não são nada para você mesmo, Haku?

— CALA A BOCA! EU VOU SER VENERADO COMO UM DEUS DA JUSTIÇA!

Entre as nuvens, o Rei dos Shinigamis assistia a tudo. 

— O Azrael gosta de um bom entretenimento. E você dá bastante a ele, Haku — Nareth estalou os dedos. — Light era um aperitivo, mas esses humanos são o prato principal. Não estrague tudo, de novo.

— O que você quer dizer com isso? — bufou Haku.

— Quem sabe?

Os seres se encaravam, um com raiva e o outro com deboche, mas ambos sabiam que não havia nada a ser feito.

— Essa será a última página, Haku. Faça seu melhor para entreter o Rei.

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora