Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 4

Capítulo 92: Por que não usa todo o seu poder?

Enquanto os corpos caíam, pesados e sem vida, se espalhando pelo chão em uma sincronia aterradora, o tecido branco sob as armaduras se tornava visível. A cena era como uma dança macabra, uma celebração de morte sem sentido, mas que carregava consigo um propósito obscuro.

No alto da rampa, o general e os outros soldados, com os olhos fixos nos corpos que se amontoavam no chão, não conseguiam entender o que estava acontecendo. A confusão tomou conta de seus rostos. O que quer que fosse, estava além da compreensão deles.

O general olhava, seu estômago revirando, enquanto seus olhos se fixavam na cena horrível à sua frente. O vento leve agitava seus cabelos ruivos, que pareciam flutuar em cada respiração que tomava.

O desespero o apertava.

— O que está acontecendo? — murmurou para si mesmo, seu tom cheio de impotência, sentindo-se sufocado pela sensação de não poder fazer nada para impedir o que se desenrolava.

— E-eles... são da igreja!? — Os olhos de Nathaly se arregalaram de horror ao entender que aquilo era o início do ritual. — Nina! Nina! Temos que sair daqui! TEMOS QUE SAIR AGORA!!

Mas Nina, atrás de Nathaly, ainda lutava para se levantar. Tentava com toda a sua vontade e começou a se erguer após a longa pausa de Ibarada. Com grande esforço, conseguiu firmar os pés, embora seu sangue parecesse prestes a ceder novamente, bambeando, tremendo como nunca.

WAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!

No fundo, a voz de Ibarada, áspera como um ralador de carne, voltou a gritar, quebrando o silêncio que envolvia Nathaly.

Pahcsh...

— AAAAAAAARRRRGG!!

Nina caiu novamente, a força da dor reverberando em seu corpo. Seus gritos se mesclaram à angústia crescente. Nathaly, aflita, se virou para sua amada, tentando protegê-la com o único poder que ainda tinha.

Mas, naquele instante, o ar foi dividido por um som agudo e cortante, como um apito de vento gélido. Antes que pudesse reagir, a lâmina de Pluup desceu com uma velocidade cruel, mirando com precisão no ponto mais vulnerável.

Schshshshs!

Ao virar o rosto, Nathaly viu Pluup avançando com um golpe horizontal, sua espada imensa — duas vezes maior que ela — cortando o ar como uma extensão de pura destruição.

Em um reflexo rápido, Nathaly ergueu a Hero para bloquear o ataque, mas Pluup era astuto. Inverteu o movimento, mudando a trajetória do golpe para a direita, mirando em um ângulo que tornava impossível bloquear em pé.

Nathaly, com os olhos atentos e o corpo em alerta, executou uma abertura com as pernas, deslizando para o chão com um movimento ágil que desviou o golpe por poucos centímetros.

SHHKK!

O som da lâmina atingindo o vazio ecoou, e ela usou o momento para desferir um contragolpe. Com um corte para cima, SHKUMNM! a Hero cortou o ar como uma extensão de sua vontade.

Pluup, ciente do perigo iminente, percebeu que o golpe de Nathaly não visava apenas ferir sua carne, mas sim atingir algo mais profundo — sua alma.

Em um ato desesperado, Crunch! destruiu a própria carne, arrancando seus braços antes que a lâmina pudesse atingi-lo.

O som bizarro de seus braços sendo dilacerados ecoou, e ele se afastou, seu corpo grotesco pulsando enquanto começava a regenerar.

Nathaly, aproveitando a brecha, se levantou rapidamente. Com um movimento fluido, passou a Hero pelo chão, traçando uma linha que explodiu em chamas intensas, separando os dois por uma barreira ardente.

BRAAAUUMMM!

As labaredas subiram, rugindo como uma fera indomável, enquanto tentava criar uma cobertura para pegar Nina e escapar dali.

Pluup, no entanto, não era uma criatura que se deixava deter facilmente. Moldou novamente seu corpo, recriando seus braços com a mesma rapidez com que os havia destruído.

"Vai dar!"

Nathaly, observando o fogo que separava as duas, das duas aberrações, acreditou que a barreira seria suficiente, pelo menos por tempo suficiente para agir. Sem hesitar, se virou, correndo em direção a Nina.

Mas a esperança foi esmagada... em um instante.

BAAAM!

Dreik atravessou as chamas com uma força avassaladora, o bastão em suas mãos atingindo Nathaly como um meteoro.

O impacto foi brutal, arremessando-a contra Nina.

PAHH!

As duas foram lançadas juntas, rolando descontroladamente por dezenas de metros até colidirem com o chão.

Sccrrrchh...

Nathaly sentiu o mundo girar enquanto seus sentidos se embaralhavam.

Ao parar, seu corpo estava pesado e dolorido, mas seus olhos instintivamente buscaram Nina. Lá estava ela, à sua frente, caída, chorando de dor. Cada lágrima que descia pelo rosto de Nina parecia cortar a própria alma de Nathaly.

E, como um plano de fundo horrível, o grito de Ibarada continuava. Não apenas preenchia o ar, mas parecia penetrar cada fibra do ser de Nina, dilacerando carne, espírito e esperança.

Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Nathaly. A sensação de impotência era esmagadora. Queria proteger Nina, mas se via presa em uma espiral de desespero e dúvida.

"Não posso sair de perto... e de perto eu posso te machucar..." Seus pensamentos eram um redemoinho de terror e culpa. O medo de que seu poder, descontrolado, pudesse ferir Nina, corroía sua mente. "O que eu faço... o que eu faço, mãe... MÃÃE!" o grito ecoou dentro de sua mente como um rugido.


[ Semanas antes do incidente do teletransporte.

— Por que estamos aqui? — perguntou Nathaly, olhando as pessoas entrando no Museu Ipiranga, enquanto as duas sentavam no chão, fazendo um piquenique sob uma árvore no Parque da Independência.

Alissa, com seus óculos de aro circular e lentes escuras, caros o suficiente para humilhar os salários combinados de todos os presentes, deu um leve olhar de relance para Nathaly, enquanto a brisa balançava seus cabelos curtos.

— Quero que fique sem usar a espada por alguns dias. Fazer uns extermínios sem ela. — Sua voz era serena, quase casual.

— Hãm? Por quê? — Nathaly ergueu uma sobrancelha, confusa, enquanto mastigava um pedaço de pão.

— O tempo de um golpe físico é superior ao de puxar e golpear com uma lâmina... Você usa a espada para canalizar o fogo, que inuitil... Mostre-me o que sabe fazer sem esse pedaço de metal descartável.

— Mas e...

— Mas nada.

Alissa voltou a encarar o horizonte, como se a conversa já estivesse resolvida. Nathaly ficou olhando para ela por alguns segundos, tentando processar.

— Você usa para canalizar, sim, porque se sente mais confortável assim. Mas esse é o problema: o conforto. E se ela quebrar? Vai fazer o quê?

— ...

— Você... ainda... beeem pequenininha, beeem menininha, tcs... — Alissa suspirou, sua voz brincalhona e cheia de orgulho pela filha, por vê-la crescer. — Acreditava tanto nessa gargantilha, achava que ela iria te ajudar.

Nathaly corou, desviando o olhar, claramente envergonhada.

— Tão fofinha, tentando controlar o fogo... — Alissa riu baixinho, mas sua voz logo ganhou um tom mais firme, embora doce. — Nathaly, olhe para mim.

Mesmo relutante, Nathaly obedeceu.

— Por que você não usa ele?

— Como assim eu não uso?

— Me diz você. Por que não usa?

— Mas... mas eu uso, ué. As fotos da última anomalia que te mandei no relatório... vai me dizer que a queimei com um fósforo?

— Sim, queimou. — Alissa deu um sorriso debochado.

Nathaly revirou os olhos, incrédula.

— Filha, filha, filha... — Alissa moveu a cabeça de um lado para o outro, em reprovação. — Vou perguntar mais uma vez: por que não usa TODO o seu poder?

Inclinou ligeiramente a cabeça, deixando seus olhos azuis escaparem por cima dos óculos, encontrando os âmbar de Nathaly com uma intensidade quase sufocante.

— Mas eu uso! Eu uso o fogo!

Alissa começou a rir, uma risada curta e carregada de sarcasmo.

— Eu consigo controlar você. Consigo acessar toooodo o seu poder. E sabe o que vejo, Nathaly? Você não usa. Você tem medo. — Sua voz agora era grave, imponente.

Nathaly engoliu seco.

— Você tem medo. Medo de usar.

— ...

— Nathaly, o fogo tem que ter medo de você, não você dele. Seu trauma... o que passou... Matar seu pai a fez ter medo do fogo.

Nathaly arregalou os olhos, as palavras atingindo como um soco.

— Destruir a casa deles e ver a reação de sua mãe a fez temer o fogo. Eu não estava lá, mas um morador gravou um vídeo do tapa... de tooodo o escândalo daquela mulher. Mulher? Não! Mulher, não! Me colocar na mesma categoria que um inseto desses é um insulto.

— ...

— Você não é uma assassina. Nã...

— Diz isso só pra se livrar — retrucou.

— Quê? — Fingiu não saber de nada.

— Você matou minha mãe.

Alissa inclinou a cabeça para a esquerda, fazendo um biquinho.

— Uuuuééé... Quem te contou?? Fala o nome aí, rapidim, vai, vai... — Seu olho esquerdo dava tics, mas Nathaly não via, apenas escutava o tom sarcástico.

— ...Eu nem sabia, pra ser sincera. Apenas soltei e você caiu. — Nathaly deixou escapar um sorriso nervoso.

Alissa ficou momentaneamente travada.

— Humm... E eu estava brinc...

— SEU CU!

— Aff... — Cruzou os braços, olhando para o lado.

— ...Você já matou outra pessoa?

— Aaaaaah, já.

— Diz o motivo. — Nathaly semicerrava os olhos, desconfiada.

— Ah, um número aqui de São Paulo que me ligava todo dia e desligava depois. Atendia e o cara não falava nada. Me irritei e controlei o corpo dele, fazendo-o se jogar do prédio. Coisa básica.

A normalidade com que Alissa narrou aquilo foi tão chocante que Nathaly ficou congelada.

Tentou mudar de assunto:

— Pensava que eram robôs que ligavam.

— Esses aí eu já tinha quebrado.

— ...

— ...

As duas ficaram se encarando, uma mistura de tensão e incredulidade pairando entre elas, até que Alissa retomou o controle.

— Tá, tá, esquece isso.

— Com certeza — Nathaly suspirou, aliviada.

— Nathaly, não é necessário ter medo de você mesma. O fogo é você. Então, por que tem medo de si mesma?

Nathaly desviou o olhar por um instante antes de voltar a encará-la.

— E se eu não conseguir controlar?

— E se você conseguir?

— E se eu machucar alguém?

— Leva pro hospital. — Alissa deu de ombros, completando a frase com um gesto infantil e colocando a língua para fora.

Nathaly apenas a encarou, frustrada, mas incapaz de conter um sorriso mínimo.

— Para de brincar.

— Huuuummm... Tá vendo o museu ali?

Nathaly se virou, vendo crianças e pessoas andando pelo lugar.

— O que tem?

— Quero que o destrua.

— Quê?!

— Anda logo, mande todo o seu fogo contra ele.

— M-mas... Por que eu faria isso?!

— Por que não faria?

— ...Já usou isso como desculpa quantas vezes?

Alissa abriu um sorriso sapeca, sem mostrar os dentes de ponta a ponta, abaixo dos seus olhos escondidos.

— Melhor eu ficar quieta...

— ...Você não deveria ser mais responsável?

— E você? Tá usando camisinha?

— QUÊ?! — Nathaly arregalou os olhos de espanto.

— Acha que eu não sei? Por que não me disse que tava se pegando com o Nino?

Nathaly corou inteira e se levantou.

— Só explodir, né?

— Aaaaahhh, agora você quer, né? — Alissa se apoiou para trás, olhando-a nos olhos.

— Por favor, depois falamos disso...

— Hum... Ok. Agora me mostre todo o seu poder, quero vê-lo. Quero ver você explodir esse lugar.

— Tem muita gente aqui.

— Assim que é bom.

— Mãe, sério, não vou machucar alguém por diversão.

— E quem disse que alguém vai se machucar? Garota... às vezes eu acho que esquece quem sou eu.

Nathaly olhou para ela, sabendo que a soberba estava bem ali, escondida por trás daqueles óculos escuros. Sem dizer mais nada, se virou e deu alguns passos em direção ao museu.

Colocou a mão na bainha, mas não puxou sua espada. Naquele momento, usaria seu fogo, não o instrumento que o canalizava.

Fechando os olhos, se concentrou.

BUUUURRRRHMNMN!!

Um pilar de chamas vermelhas se ergueu, imenso, movendo as nuvens do céu, tingindo o dia de vermelho. As pessoas ao redor começaram a gritar e correr, algumas caindo no pânico.

Crianças choravam, cachorros latiam. Enquanto isso, Nathaly, com os olhos ainda fechados, abriu as mãos em um movimento de dança e arremessou todo o seu "poder" para frente.

BRRRAAUUUUHHHHMNMN!!!

O impacto contra o museu foi devastador, as chamas se espalhando por toda a estrutura, atravessando o ar, ameaçando tudo em seu caminho.

Mas ninguém se feriu.

Alissa protegeu a todos; nem mesmo os que estavam na área de colisão sentiram calor. Apenas viram e se arrepiaram com a demonstração de poder... das duas. Alissa comprimiu a onda de fogo com a gravidade, tornando-a algo insignificante, algo pequeno e controlado.

O fogo se transformou em um pequeno comprimido, quase do tamanho das fezes de um hamster. Nathaly olhou para Alissa, arrepiada com a maluquice que fez a mando da maluca sentada à sua frente.

Enquanto isso, pessoas ligavam para a polícia e para a ADEDA, desesperadas ao som do choro de suas crianças, maass... Cr-r-r-r-rash! Todos os celulares foram destruídos do nada... Uma pena.

— O que é isso?

— Seu poder. — Alissa esticou a mão para ela, e Nathaly, com as duas mãos abertas, recebeu o pequeno comprimido de fogo, sentindo o calor suave que emanava dele. — Sério que tem medo disso? Olha o seu tamanho para ele... Embora eu tenha 1,50, mas TÁ tudo bem... Relaxa! — Alissa não conseguiu evitar a piada.

Nathaly a encarou com um olhar entediado, mas entendeu o que ela queria dizer.

— Controle ele, Nathaly... Ou ele irá controlar você. Ter medo de usar, e não usar só porque não é necessário, é diferente. Contra as anomalias que você mata no cotidiano, não é necessário usar, ou usar em meio aos prédios seria problemático. Certo, está correta. Mas quando for necessário... Foda-se os prédios.

Nathaly a olhou com os olhos semicerrados, sem responder.

— Ah, nem vem, eu mal falo palavrão, e acha que não sei que você é palavruda?

Nathaly abriu um sorrisinho, desviando o olhar.

— Entendeu o que eu disse?

— Uhum...

— Quando é necessário, você apenas usa e ponto final. ]


Tsssss...

As lágrimas de seus olhos evaporaram instantaneamente, evaporando no ar quente que emanava dela mesma, como se seu corpo estivesse liberando todo o calor que ela acumulava.

Seus olhos começaram a brilhar intensamente, um dourado reluzente, o fogo dentro dela queria sair — prestes a consumir tudo ao seu redor.

Nathaly se levantou lentamente, com chamas sagradas emanando de seu corpo, pequenas chamas douradas dançando ao seu redor, igual se próprio ar estivesse pegando fogo. Cada movimento irradiava poder, e seus pés tocavam o chão com a leveza de quem se preparava para destruir o mundo.

Deu um passo à frente, a terra abaixo dela estremeceu levemente. Um segundo e... um terceiro.

BRRRUUUURRRRHMNMN!!

Um feixe de fogo foi liberado de seu corpo, uma explosão colossal que ecoou pelo desfiladeiro, reverberando nas rochas e deixando um rastro de destruição pelo caminho. Mas, em uma precisão quase absoluta, nenhuma chama sequer tocou Nina. Controlava seu poder com perfeição, de uma forma quase divina.

A cena parecia apocalíptica, o céu tingido de laranja e vermelho, as nuvens se desintegrando, não por causa do calor, mas pela força pura do fogo que agora dominava o espaço. Nathaly, com um movimento fluido, colocou as mãos para os lados, e no ar, a Hero materializou-se com uma explosão de luz dourada.

BUUUURRRRHMNMN!!

Uma segunda explosão estourou, e agora o fogo canalizava também através da espada, criando um rastro incandescente que se espalhou pelo chão e pelo ar. As chamas tomaram forma, rasgando a realidade à sua frente, como se o mundo se dobrasse diante do seu poder.

Sua mente não estava mais focada em fugir. Isso já não era mais uma opção. Sabia o que precisava fazer. Aquele momento havia chegado, a escolha estava feita. Se quisesse proteger Nina, precisaria enfrentar o inevitável. Não havia mais escapatória.

Ou ela mata... ou ela morre.

O calor das chamas não importava mais.

"Foda-se quantos vocês são." pensou, sua voz interior em sintonia com o fogo que agora queimava sua alma.

Olhou para os olhos das duas aberrações à sua frente, e viu algo inesperado: Pluup e Dreik recuaram em pavor, os rostos distorcidos pela surpresa e medo. Estavam em choque com o poder diante deles.

Ao mesmo tempo, no alto, Lycoris, que observava de seu trono, perdeu o sorriso que antes esboçava e desapareceu instantaneamente.

O jogo tinha mudado.

— RRRRGGGGGG! — rugiu Nathaly, com a fúria de um monstro, erguendo a Hero com uma determinação feroz.

O feixe de fogo se ergueu do chão, cortando o céu, atravessando as nuvens e desceram em direção a seus inimigos como uma força imbatível, uma tempestade de chamas puras.

Nada poderia pará-la agora.

Fuuu!

Mas, de repente, o fogo desapareceu. A espada, que estava flamejante, parou de queimar e se desmaterializou. Tudo que restou foi o ar denso, carregado com o calor que se dissipava rapidamente.

Pah...

Nathaly caiu de joelhos, seu corpo exausto e fraco.

Tentava respirar, mas o ar parecia faltar. Seus pulmões não respondiam. Engasgava, seus olhos se arregalaram enquanto a dor tomava conta de sua carne. Ficou completamente imóvel, vulnerável. Seu corpo não reagia. Tão exausta que o único movimento possível era a respiração pesada que mal conseguia manter.

Ibarada, que gritava há tanto tempo, parou abruptamente. Saltou da parede com um movimento ágil, Sccrrrchh... e aterrissou ao lado dos subordinados, seus olhos fixos em Nathaly.

Com uma rapidez assustadora, Lycoris apareceu, caminhando com calma, seu guarda-chuva elegante nas mãos, as cores preto e vermelho bordadas com perfeição, um contraste perturbador diante da devastação ao seu redor. Seu olhar era de desdém absoluto, como se Nathaly fosse uma simples formiga que ousou desafiar um predador superior.

"Não vou deixar você matar meus amigos. Gado malcriado."

E, com essas palavras... a batalha realmente começou.

Nina, deitada no chão, sentia seu corpo fraquejar, mas sua mente lutava com um turbilhão de pensamentos. As lágrimas rolavam pelo seu rosto, mas não eram apenas de dor; eram de impotência.

A visão de Nathaly, ajoelhada e indefesa, quebrava algo dentro dela, como se um grito primal estivesse preso em sua garganta.

"LEVANTA! LEVANTA, PORRA! NATHALY!... NATHALY!!" Nina gritava internamente, tentando encontrar forças para se mover, mas seu corpo não respondia. O medo a consumia, uma sensação de que tudo se perdia.

As lágrimas escorriam incessantemente, enquanto lutava para controlar seu sangue. Os gritos de Ibarada confundiam seus sentidos, tornando tudo ainda mais insuportável.

O desespero de Nina era cada vez maior, suas mãos tremiam, suas garras se formavam de maneira involuntária.

"VAMOS, PORRA! VAMOS LOGO, MERDA!!" Olhou para Lycoris, que se aproximava cada vez mais de Nathaly, e a fúria a consumiu por completo.

O cheiro do sangue de Nathaly preenchia o ar, ficando cada vez mais intoxicante a cada segundo. Os três subordinados, já em um estado de quase frenesim, começaram a perder o controle, como Gorgon, que foi consumido pela mesma ânsia diante do sangue da Grande Heroína.

Ibarada, incapaz de resistir ao desejo insano de saborear o sangue da heroína, já não conseguia mais manter sua forma. Suas feições se alteravam com uma rapidez assustadora, os olhos se transformando em fendas profundas e famintas.

A carne se retorcia, cada músculo tenso, enquanto a besta que era começava a tomar completamente o controle de seu corpo, uma voracidade monstruosa substituindo qualquer vestígio de controle.

"ME DEIXE, LYCORIS, RAINHA! ME DEIXE BEBER DO SANGUE!" Ibarada estendeu as mãos trêmulas na direção de Nathaly, suas palavras rasgando o ar, cheias de fome e desespero.

A necessidade de sangue que dominava seu ser fazia com que perdesse qualquer vestígio de sanidade.

Lycoris, imperturbável, bloqueou o caminho de seus subordinados com a mesma autoridade de sempre, mas sua resposta foi calma, fria:

— Ainda não. Se você beber agora, vai matá-la rápido demais, e isso não é o que queremos.

O que ela disse ecoou na mente de Nina, atravessando seu ser como uma lâmina afiada. O corpo de Nina tremia, não mais de dor física, mas de uma explosão de poder que não iria mais segurar.

TRRRROOOOOHHMM!!

Imensos raios escuros começaram a disparar de seu corpo.

Cada relâmpago cortava o céu como um grito de revolta, refletindo tudo o que queimava dentro dela. A dor era insuportável, mas, contra todas as probabilidades, forçou seu corpo a se erguer, seus olhos fixos em Lycoris e seus aliados, como se a visão deles fosse a única coisa capaz de mantê-la de pé.

Ibarada, observando a resistência dela, inclinou a cabeça lentamente, um sorriso macabro se espalhando por seu rosto deformado pela fome.

Respirou fundo, preenchendo o peito com um ar profundo e ameaçador, e então soltou um grito ensurdecedor que ecoou como um rugido do próprio mundo:

WAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!

— AAAAAAaaaaAAHhRGG! — Nina desabou mais uma vez. "LEVANTA, PORRA! LEVANTA, CARALHO!" As palavras ecoavam como um mantra dentro de sua mente, a única coisa que ainda lhe dava um fio de força.

— RRRGGGH!! — Rangeu os dentes com tamanha ferocidade que seus maxilares quase cederam a se partir.

Forçando-se a ficar de pé novamente, mesmo que com grande dificuldade, lutando contra a dor e o pânico. Seus olhos estavam fixos em Lycoris, brilhando com uma fúria implacável e uma determinação feroz.

Seu corpo vacilou, mas Nina se agachou, mal conseguindo se sustentar. Porém, o chão tremeu sob seus pés enquanto raios mais intensos saíam de sua pele, iluminando o desfiladeiro com uma luz escura e ameaçadora.

Mas não parava... A dor era uma tortura constante, mas Nina se recusava a ceder. O medo de ver Nathaly morrer a impulsionava a continuar.

A cada respiração, sua energia parecia crescer, sua pele queimando com o fogo de sua fúria interna. Seu corpo demonstrava sinais claros de estar à beira do colapso, mas sua mente permanecia intacta, focada, determinada a lutar para salvar Nathaly.

TRRRRHHOOOOOHHMM!!

Raios mais fortes ainda explodiam de seu corpo, mas eram insuficientes para estabilizar seu sangue. Com os dentes cerrados, encarou Lycoris nos olhos e, com um pisão firme no chão, TRHOOMN! se ergueu novamente, desafiando a dor.

"LEVANTA, PORRAA! LEVAANTA, CARALHO!"

Lycoris observava, seus olhos agora não mais cheios de desdém, mas refletindo uma expressão de pena amarga. Queria zombar daquilo tudo, queria rir da insignificância delas.

E então... tudo mudou.

De repente, um tremor percorreu o corpo da Bruxa. Cada osso se contraiu em dor, e o medo, enraizado profundamente em sua alma, fez sua postura vacilar. Seus olhos se arregalaram, sua face se distorceu, e, instintivamente, Lycoris desapareceu, reaparecendo a mais de cem metros atrás de onde estava.

Poc!...

O som de uma suave gota de água reverberou nos ossos de todos os presentes no desfiladeiro.

— Lua nova.



Comentários