Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 4

Capítulo 91: "Dois" contra Quatro

[ — Por que estamos aqui? — perguntou Nathaly, olhando as pessoas entrando no Museu Ipiranga, enquanto as duas sentavam no chão, fazendo um piquenique sob uma árvore no Parque da Independência.

Alissa, com seus óculos de aro circular e lentes escuras, caros o suficiente para humilhar os salários combinados de todos os presentes, deu um leve olhar de relance para Nathaly, enquanto a brisa balançava seus cabelos curtos.

— Quero que fique sem usar a espada por alguns dias. Fazer uns extermínios sem ela. — Sua voz era serena, quase casual.

— Hãm? Por quê? — Nathaly ergueu uma sobrancelha, confusa, enquanto mastigava um pedaço de pão.

— O tempo de um golpe físico é superior ao de puxar e golpear com uma lâmina... Você usa a espada para canalizar o fogo, que inuitil... Mostre-me o que sabe fazer sem esse pedaço de metal descartável. ]

A voz de Alissa penetrou seus ouvidos como uma ordem doce e implacável... Nathaly sabia que era mais uma lição. Enquanto isso, via Pluup descer a grande montanha junto a Dreik, avançando com seu bastão.

Nathaly não empunhava mais a Hero.

BRRUUNNM!

Com uma explosão de chamas vermelhas, o fogo de Nathaly surgiu entre os dois com uma violência quase sobrenatural, e com um movimento ágil e impiedoso, ela deu um leve salto.

BA-BAM!

Com um chute brutal, Nathaly afastou ambas aberrações de Nina.

Dreik girou o corpo, pisou no chão e retornou com um golpe de bastão, mirando na cabeça dela. Nathaly desviou com agilidade, Sccrrrchh... deslizando pela superfície rochosa, antes de se erguer e aplicar um chute poderoso, PLOOCH!! na boca do estômago, fazendo seu estiloso tênis de cano alto penetrar profundamente na carne dele.

BRRUUUNMM!!

A explosão de força do golpe arremessou Dreik para o céu, mas Nathaly não usou o fogo sagrado, não sabia da diferença. Não sabia que com ele, o mataria instantaneamente com aquela explosão infernal.

Dreik foi lançado para o alto, queimando-se parcialmente, mas não era o fogo que ele conhecia. Não era o fogo daquele mundo. O calor o feriu, mas sua resistência era grande demais para ser destruído por algo "tão simples". Seu corpo subiu vertiginosamente, mas Nathaly apareceu ao seu lado, flutuando no ar, encarando-o de frente, cara a cara.

BRRUMNMM!!

Dreik tentou erguer o bastão para se proteger, mas antes que pudesse reagir, Nathaly deu um chute feroz, destruindo a arma e impulsionando-o para baixo com uma força devastadora.

BUUUMM!

O impacto foi brutal, ecoando como um trovão no desfiladeiro. No entanto, enquanto Dreik caía, outro ser, oculto nas alturas, observava tudo com olhos astutos. Ao ver Nina vulnerável, ainda lutando contra os efeitos do ataque de Ibarada — que não cessava de gritar — o ser não perdeu tempo.

Avançou rapidamente, sem hesitar.

O Primordial do Sol entrou no confronto com uma velocidade destruidora. Criou uma espada de sangue com graça e precisão, e tentou desferir um golpe mortal em Nina, que ainda tentava escapar da dor insuportável.

Quando a lâmina cortava o vento suavemente, indo em direção ao coração de Nina, Nathaly apareceu ao seu lado, com os olhos brilhando intensamente, mais iluminados que qualquer chama, mais brilhantes que os do próprio Primordial do Sol.

Sol arregalou os olhos ao ver a lâmina de Nathaly cortando em sua direção. Mesmo sabendo que aquela espada cortava almas, levantou sua espada de sangue na tentativa de bloquear. TSS! Porém, a lâmina de Nathaly cortou a espada dele com uma facilidade assustadora, evaporando seu sangue.

O corte foi rápido, preciso, e seguiu diretamente em direção ao corpo do Primordial.

Com o cu na mão, se jogou de costas no chão.

SKRUUMNMN!!

O corte queimando em chamas sagradas passou rapidamente por cima de seus olhos, e Nathaly firmou os pés no chão, dobrando ligeiramente a perna direita para avançar. Nesse momento, Pluup e Ibarada se uniram ao confronto.

Pluup foi o primeiro a se mover, saltando à esquerda com velocidade. Seu corpo se curvou grotescamente para trás, exceto o tronco, e puxou sua espada com um movimento feroz, mirando um ataque implacável.

Dreik, por sua vez, aguardava pela abertura que Pluup criaria, aproveitando o momento para tentar uma distração, mantendo seu corpo estrategicamente próximo de Nathaly, que se agachava sobre a perna direita, no meio dos três.

Sol, por outro lado, observava a cena com os olhos arregalados, ciente de que estava no pior lugar possível. Sabia que uma explosão sagrada naquela situação acabaria com todos — maldito o tempo que Nathaly não havia encontrado Nino, para ele poder explicar o tamanho do poder que ela tinha nas mãos.

No segundo em que tudo acontecia, ela queria, sim, explodir tudo ao seu redor. O poder ardia dentro dela, mas o medo a dominou. Nina estava perto. Se calculasse mal a quantidade de força, poderia atingi-la também. Não queria machucar sua menina.

Convencida de que não haveria tempo de golpear com a espada, a Hero se desmaterializou.

O tempo em sua mente voltou ao normal.

BAAAMM!

Pluup terminou o golpe.

Nathaly, com um movimento ágil, se ergueu e desviou lateralmente, passando ao lado da lâmina de Pluup. Enquanto isso, viu seu reflexo na espada dele: a linda cicatriz marcante em seu rosto, uma lembrança de sua força.

Um sorriso se formou em seus lábios, para a "foto". Piscou um olho, com a linguinha de fora, em uma brincadeira travessa.

BRUUUMNM!

Terminou o giro e, com um soco de esquerda, atingiu o meio do tórax de Pluup. O impacto foi devastador, arremessando-o a uma grande distância.

A espada foi largada, e, num movimento instantâneo, Nathaly a agarrou, girando-a e voltando um golpe feroz em direção ao Sol, que começava a se levantar.

BUURRMNMN!

A lâmina queimava em chamas vermelhas, e Sol, com um movimento ágil, pulou, colocando a mão direita no chão e se impulsionando de cabeça para baixo, desviando do corte.

Era uma distração... ao menos, para Sol.

PLOOCH!!

Nathaly soltou a espada no exato momento em que o golpe foi desferido, mas não foi em vão. A lâmina cravou-se no peito de Dreik, e, embora não o atravessasse completamente, o impacto foi brutal o suficiente para arremessá-lo para o lado. As chamas vermelhas queimavam o vampiro enquanto ele era lançado.

BURRRCHH!!

A espada de três metros se cravou profundamente na parede de pedra, penetrando Dreik e o prendendo contra a grande parede do penhasco. Tentou se mover, mas a dor, aliada ao fato de ter apenas um braço disponível, o imobilizava.

— RRggh...

Sol, vendo a cena, continuava em seu salto, olhando para baixo enquanto a espada passava rente ao seu corpo. Piscou, tentando entender o que aconteceu. Mas antes que pudesse reagir, Nathaly, com um giro preciso, Bum! impulsionou-se com uma leve explosão nos pés e avançou em direção a Sol.

BLAANCCHH!

— Bleergh!

Com um chute brutal, Nathaly acertou o estômago de Sol, fazendo-o cuspir sangue, tingindo sua perna com o vômito. No entanto, Tsssss! O fogo que queimava dentro dela evaporou o líquido rapidamente, enquanto o corpo de Sol se dobrava em "C" na sua perna, antes de ser arremessado violentamente para longe.

Mas antes de ser arremessado para longe, Nathaly o segurou pelo pé, impedindo seu impulso. Com um movimento certeiro, o lançou para baixo com toda sua força.

BUUMM!!

Sol quicou contra o chão com força, mas, antes que pudesse se recuperar, olhou para frente e viu a Hero descendo, explodindo em chamas.

SHK!

Com reflexos rápidos, Sol rolou para o lado, desviando, enquanto a espada de Nathaly se cravava no chão. Surpreso, piscou, tentando processar o movimento... A lâmina desapareceu. Piscou novamente... e Nathaly estava bem na sua frente.

SHK!

Recuou rapidamente, afastando-se de seu ataque, mas sem tempo para reagir adequadamente.

Com um salto, virou-se de costas e, com a ponta do dedo, desenhou um círculo mágico de teletransporte na areia solta das rochas. Quando terminou, Nathaly avançava com outro corte mortal.

SHK!

A lâmina passou rasgando o ar, mas, com o movimento rápido, Sol conseguiu se teletransportar antes que o golpe o atingisse. O som do corte cortando o vento, igual um sussurro em chamas, e, no lugar onde ele estava, apenas o vazio restou.

Sol, agora em cima da grande parede, fingia que nada havia acontecido. Sua postura, calculista e arrogante, não escondia a vergonha da surra que levou lá embaixo, mesmo que tentasse manter a fachada.

Era a marra do cara que, na única vez em que de fato lutou com alguém, tomou uma surra do prórpio irmão, e foi salvo da morte indiretamente por Freyen, que interveio na brincadeira sangrenta de Blacko na pré-adolescência.

Caminhava calmamente com as mãos atrás das costas. Já regenerado, após a cessação dos ferimentos, observava a luta com um ar de desdém, esperando pacientemente por um erro, por uma brecha, algo que pudesse aproveitar para eliminar o Primordial Preto de uma vez.

CRASH!

Dreik quebrou a espada com seu bastão para se livrar.

Se afastou, pisando no sangue de um dos monstros caídos. A ferida que sofreu se curou quase instantaneamente. Seus olhos, frios como aço, focaram em Nathaly, ao lado de Nina, protegendo-a.

No entanto, não avançou sozinho.

Ao ver um imbecil que nem conhecia tomar uma pau e ser afastado da luta, juntamente com Pluup, ambos sendo lançados com força devastadora, se aproximou de forma calculada. Preferia esperar o retorno de Pluup, sabendo que precisavam se reagrupar para atacar juntos.

O objetivo era claro: Nina era a isca. Seu papel era apenas distrair Nathaly, enquanto as aberrações a desgastavam ou procuravam uma brecha para destruir seus ossos e incapacitá-la — tudo enquanto ela não podia se afastar de Nina.

Com Ibarada ainda gritando nas muralhas, acreditavam que a Primordial já estava incapacitada, pronta para ser subjugada, como um animal a ser colocado na coleira de Lycoris. E agora, o último obstáculo que restava antes de terem o sangue fresco de milhares de humanos era a Grande Heroína.

Ibarada finalmente se calou, o som incessante de seus gritos cessou enquanto ele tentava se recompor. Seus olhos estavam fixos na batalha, aguardando a nova investida de seus aliados para gritar, enquanto o sangue de seus monstros ainda tingia a areia.

Nathaly, com o olhar fixo em Nina, percebeu o quanto sua amada se encontrava debilitada. Nina mal conseguia tentar ficar de pé, seu corpo tremendo, mesmo sem os gritos que antes haviam a consumido com uma força estranha. Seu sangue parecia se rebelar contra ela, e ela não conseguia controlá-lo. Não se firmava, não lhe devolvia a estabilidade de antes.

"EU PRECISO AJUDAR! PORRA, LEVANTA! LEVANTA!" Nina lutava com todas as suas forças para se erguer. Tentava, tentava e tentava entrar na luta, mas seu corpo não respondia.

Ver a fúria no olhar de Nina consumia Nathaly de uma maneira que ela não estava preparada para enfrentar. Ela sabia que Nina travava uma batalha interna, e isso a deixava mais insegura a cada segundo.

"Dois contra quatro, desse jeito não vai dar... O que eu faço, merda?!" pensou Nathaly, a angústia se intensificando.

Os sons de dor e os suspiros de Nina, agora mais fracos, faziam Nathaly se sentir sem chão, perdida. Se posicionou melhor à frente de sua amada, embora ainda estivesse a bons metros de distância. Empunhou a Hero novamente, mas ela... ela não queimava. Era apenas uma lâmina dourada e branca, comum, sem chamas ou energia alguma.

Sua mente trabalhava freneticamente, tentando encontrar uma solução, uma maneira de escapar daquela armadilha. Mas, no meio da batalha, as respostas se dissipavam. Não havia como fugir, não havia espaço, não havia tempo.

Sabia que, se saísse de perto de Nina por muito tempo, a situação seria fatal. Ali, cercada por seres que queriam "matá-las", a defesa era a única opção. As aberrações estavam preparadas para qualquer falha, apenas olhando, esperando com calma, um movimento precipitado.

Sua mente girava, seus olhos buscavam qualquer ponto fraco, uma distração, qualquer coisa que pudesse mudar o rumo daquela luta. Não podia deixar Nina para trás. Nunca foi uma opção.

Enquanto sua mente ficava ainda mais sobrecarregada, uma coisa terrível acontecia.

Do alto da grande rampa do Oeste, uma cena que parecia impossível começou a se desenrolar. Soldados do exército de Dirpu, com suas armaduras reluzentes, começaram a descer em direção ao desfiladeiro, seus passos firmes e rápidos.

— O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO?! ELA ORDENOU QUE NÃO ATRAPALHASSEM! VOLTEM LOGO, MERDA!! — o general gritou com voz rouca, o desespero e frustração saltando a cada palavra.

Sua tentativa de segurar os soldados foi inútil, seus próprios guerreiros lutavam contra a corrente, mas o avanço não parava.

Mas não foi o suficiente. Nada seria o suficiente.

Com um movimento coordenado e sem palavras, os soldados avançaram, sem suas armas nas mãos, sem gritos ou tentativas de afastar os inimigos. Alguns correram até as grandes paredes do desfiladeiro, como se suas vidas dependessem disso.

Alinharam-se com os seres embaixo, formando uma linha macabra no horizonte, e... começaram a se jogar, um após o outro, como marionetes de pano descontroladas, cometendo suicídio.

Nathaly, ainda concentrada nos movimentos dos dois inimigos à sua frente, que a observavam como predadores, esperando a menor falha, não percebeu de imediato o que acontecia ao seu redor.

A batalha entre eles era uma dança de espera; quem se movia primeiro se arriscava demais. Seus sentidos estavam completamente voltados para eles, cada movimento calculado para não errar.

Mas então, algo a distraiu.

Soldados passaram por ela, seus corpos correndo com uma determinação cega, ignorando tudo ao redor. Até mesmo as duas aberrações, que observaram sem entender aquilo, não se moveram.

Apenas aguardavam a possível investida, já que se mover errado seria vantagem para a Heroína. Mas algo estava acontecendo, e ela não podia ignorar. O que era aquela sensação? Por que sentia o peso da morte se aproximando contra seu peito? Por que seu coração sentia uma dor, como se alguém o estivesse segurando?

Virou-se de repente e, com os olhos arregalados, viu um soldado. Um soldado que, ao vê-la, simplesmente parou, de cabeça baixa.

— O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO AQUI?! VÃO EMBORA! — ela gritou, a voz saindo em um tom desesperado, uma tentativa inútil de impedir aqueles imprudentes de morrerem por nada.

Mas as palavras não tiveram efeito. Nada teria.

O soldado ergueu o rosto lentamente, os olhos vazios de emoção.

Seu olhar não era de um ser humano, mas de uma máquina programada para seguir uma ordem impessoal. Um sorriso perturbador se formou em seu rosto... O mesmo de todos os túnicas. Uma expressão fria que gelou a espinha de Nathaly, sem entender.

Com um gesto mecânico, se juntou aos outros. Todos formaram um círculo... um círculo mágico que se delineava no chão com uma precisão premeditada. Em um movimento sinistro e ensurdecedor, Tcinn... cada um puxou sua espada lentamente da bainha.

A lâmina brilhou em um último reflexo, e... Shkirrsh... se degolaram.



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