Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 4

Capítulo 102: Obcecado (2)

Foi arremessado para trás violentamente, sem a cabeça. Enquanto pairava no ar, perdendo o equilíbrio, Sol regenerou sua cabeça, seu cabelo se movendo com a intensidade do fogo, seus olhos ardendo com sua insignificância Primordial.

FRUU!

Com um movimento rápido, criou novas asas, que ressoaram no ar como um furacão. Sua raiva agora se alimentava de algo mais primitivo, um instinto imensurável para recuperar a honra perdida.

Fru-ru-ru!

Suas asas bateram com violência, espalhando uma corrente de ar quente e turbulenta, enquanto disparava três penas afiadas contra o rosto de Nino.

Mas Nino... nada parecia afetá-lo. E isso destruía de forma abundante o ego de Sol. Com a mesma despreocupação de sempre, Nino desviou facilmente. Um simples movimento de cabeça para o lado foi o suficiente para evitar as penas — era um jogo já jogado.

Lembrou-se da Fênix e, com um sorriso cínico, se esquivou com a mesma indiferença de quem amassava Thales no X1 no videogame.

Seu olhar era frio, observando a tentativa fútil de uma criança enfurecida que queria um doce que Nino possuía.

Shk-sk-sk...

As penas cortaram o ar com um som agudo, mas não conseguiram atingir seu alvo. Nino lançou um olhar sarcástico para Sol, que, com as asas estendidas, flutuava no céu, fixando-o com os olhos.

A visão dele, ali no ar, trouxe à mente mais uma vez a imagem da Fênix, e, com essa lembrança, Nino percebeu que até aquela anomalia lhe deu mais trabalho do que aquele demônio.

— Aaaah. — Nino ergueu o dedo indicador e depois o abaixou lentamente, com um sorriso provocante. — Desce daí... vai.

Ziiiihh...

O peso no corpo do tio aumentou drasticamente. Nino usou magia de gravidade, o fazendo cair violentamente contra o chão com uma força avassaladora.

BAAMM!!

O impacto fez o solo se partir, CRRUNMNM! Sol foi ainda mais pressionado, sentindo Nino perfurar o chão, utilizando seu corpo esmagado como uma ferramenta, com a mesma facilidade com que destruía sua resistência física.

— ArgRRRR! — rosnava enquanto tentava manter o controle sobre si mesmo, os músculos se retorcendo, forçados a suportar a pressão.

Seus olhos estavam fechados, tentando se concentrar, mas quando os abriu novamente, Crururuurch! o peso foi quase demais. Seu corpo cedeu, membros perdendo vitalidade enquanto a gravidade esmagava-o implacavelmente.

Entretanto, Nino aliviou a pressão para não matá-lo, dando espaço para Sol se regenerar, enquanto começava a se divertir com a frustração do inseto.

Quando Sol olhou para Nino, não era mais Nino que estava ali... A figura diante dele não refletia sua verdadeira aparência. Nino, com um sorriso perverso, havia criado um clone e transformado seu corpo no de Anna, vestindo o Tesouro de Bruxa.

— HI-HI-HEAAAAHAHA!!

— HEHE-HIHAHA-HA!

A risada zombeteira de Nino ecoava, misturada à risada fria e cruel de Anna, enquanto ambos apontavam o dedo indicador diretamente para ele. O desprezo e a humilhação eram palpáveis, sua existência se tornou nada mais que uma brincadeira sádica, um mero passatempo.

Sol sentia seu orgulho se despedaçar, a realidade distorcendo-se à medida que via aquela cena cruel. Ficou imóvel, o ódio e o medo se mesclando em seu peito. Sentia-se fora de controle, como se sua própria essência estivesse sendo arrancada de dentro de si. A raiva e a vergonha borbulhavam, tomando conta de cada poro existente em seu corpo.

Thum! Thum!

Seu coração disparou, queimando em fúria. Seus olhos permaneceram fixos na cena à sua frente, o ódio pulsando forte, travando cada músculo, enquanto a vergonha corroía sua alma.

Nino, com um sorriso debochado, puxou Anna pela cintura, Thumpf... aproximando-a ainda mais de si. Ela colidiu contra seu tórax, olhando para cima com um sorriso travesso, acompanhando uma risada quase infantil e envergonhada.

Com um gesto vulgar, Mwah! Nino a beijou de forma bruta, suas cabeças se movendo no ritmo que já conheciam, suas línguas se tocando, trocando saliva. Cada movimento de Nino era carregado de desdém, deixando claro que nada daquilo tinha qualquer significado para ele, exceto como uma forma de tortura para Sol.

— LUAAA!

Anna, respondendo ao gesto safado, ignorou o grito de pavor do inseto mais adiante. Ergueu os braços e envolveu o pescoço de Nino, seu corpo se comprimindo contra o dele, evidenciando o desejo carnal que sentia, entregando-se sem hesitação. Cada movimento seu era uma rendição completa, uma entrega absoluta ao homem diante dela.

Enquanto isso, a mão direita de Nino deslizou pela sua cintura, descendo até o quadril com uma provocação silenciosa, uma provocação calculada. O gesto foi claro e cruel, uma humilhação sem palavras, uma tortura meticulosamente planejada para arrancar de Sol toda sua dignidade.

O olhar do tio, fixo e queimando com raiva, era misturado com um medo profundo — permanecia incapacitado, uma simples vítima assistindo impotente enquanto a cena diante de seus olhos desmoronava seu espírito.

— POR FAVOOOR!! ACOORDAA! LUA, ACORDAA!

Sua mente gritava, mas não havia nada que pudesse fazer para parar o que estava acontecendo. Nada que pudesse fazer para mudar aquela realidade.

Cada toque, cada sorriso trocado entre Nino e Anna fazia o ódio dentro de Sol crescer, mas também o medo de sua própria impotência, de seu fracasso em proteger a única pessoa por quem se importava.

— PARAAAA!!

O desdém de Nino era absoluto, e a cada segundo que passava, o sofrimento de Sol se aprofundava. Sentia a raiva consumi-lo, mas, ao mesmo tempo, sabia que essa raiva o destruía ainda mais, criando um abismo impossível de ultrapassar.

Queria salvar Anna, mas o que restava dele agora? O que ele poderia fazer quando já estava perdido, impotente diante de tudo o que se passava?

— NÃO! NÃO! NÃÃÃO! LUA! LUAAA!!

A mão de Nino deslizou até a bunda de Anna, apertando-a com firmeza, a pressão evidente enquanto o vestido se ajustava ao corpo, revelando mais de sua pele na fenda. Se beijavam com vontade, as carícias e risadinhas trocadas como uma dança silenciosa de desejo e provocação.

BRRUUUMNMN!!

Sua explosão de raiva foi instantânea, a fúria consumindo-o ao ver aquela cena, mas permanecia preso na prisão em que foi colocado, impotente diante do espetáculo de humilhação.

— LUAAA!! LUAAA!!

Sua mente foi invadida por lembranças dolorosas, todas as vezes que foi ao jardim, procurando por ela, apenas para encontrar Blacko ao seu lado. A imagem deles dançando juntos, ele acariciando seus cabelos, as mãos entrelaçadas... e então, a espada cravada em seu coração.

— NÃOO!! LUAAA! ACORDAA! ACORRDAAA, POR FAVORRR!

O grito de desespero ecoou em sua mente. A via sendo tomada, transformada em uma marionete, controlada por algo que não conseguia compreender. O desespero o consumiu por completo, abalando sua alma.

Fechou os olhos, tentando afastar aquele pesadelo, mas Nino, com um simples gesto do indicador, travou suas pálpebras, forçando seus olhos a se abrirem novamente, encarando-o com intensidade.

Quando seus olhos se ajustaram à cena diante dele, Anna havia desaparecido.

Nino avançava em sua direção, um sorriso sádico no rosto. O corpo de Sol foi puxado, forçado a acompanhar o movimento, incapaz de resistir ao controle exercido sobre ele. Nino preparava um golpe devastador, sua magia escura se concentrando, o poder se acumulando.

Com um salto mortal, Nino girou seu corpo, a magia escura envolvendo-o em uma aura ameaçadora.

BRRUUUUMM!!

O Primordial sentiu seu corpo sendo esmagado pela fúria de Nino, sem poder reagir, sem poder salvar o que restava de sua sanidade.

O chute em seu peito o lançou para trás com uma violência que rompeu a prisão de gravidade e a pressão que o mantinha ali. Seus olhos estavam arregalados, o impacto foi brutal, a força do golpe reverberando em todo o ambiente, e a dor se espalhou rapidamente por seu corpo... começando o processo de recuperação.

Com a impulsão do golpe, Nino saltou uma segunda vez, apoiando-se no peito do tio, e, enquanto ainda estava no ar, criou um grande machado de dois gumes. Com um gesto rápido, o arremessou contra Sol com uma precisão mortal.

Sccrrrchh...

Sol caiu de pé, seu corpo tremendo de raiva, os olhos brilhando com uma fúria indomável. Cada parte de sua alma ardia com o desejo de destruição, de vingança, de aniquilar Blacko, por tudo. Quando viu o machado vindo em sua direção, reagiu com uma velocidade quase instintiva.

BAM!

Com um golpe feroz de seu punho direito, desviou o machado, mandando-o para longe à sua direita. Mas, sem perceber, Nino continuava a manipular a gravidade com um simples movimento de dedo, mantendo as mãos nas costas, seu sorriso infantil zombando de Sol.

— Você vai pagar por tudo... — rosnou, sentindo o ódio crescendo, consumindo-o. — VOU ANIQUI...

SHKRUNCH!!

Mas, no momento em que o Primordial preparava seu próximo movimento, o machado retornou, quase como se tivesse uma vida própria, e o atingiu em cheio. A lâmina cortou verticalmente no meio exato de sua cabeça, descendo até a cintura, dividindo seu corpo com uma precisão assustadora.

Pah...

Caiu de joelhos, seu corpo dividido em duas partes, o sangue jorrando enquanto a carne se desfazia. Nino observou com uma expressão de leve surpresa, mas logo a careta deu lugar ao tédio habitual.

— Era só isso?

Assistiu à carne se desintegrando, transformando-se em uma fumaça de arco-íris por alguns segundos, antes de se virar e começar a caminhar tranquilamente de volta ao local onde estava, antes do inseto vir para ser esmagado.

Colocou as mãos nos bolsos, indiferente; nada daquilo tinha significado.

— Não era você que eu queria.

Caminhou alguns passos, mas de repente sentiu algo estranho se aproximando. Em um reflexo rápido, virou-se, retirando a mão esquerda do bolso e estendendo-a para frente, seu corpo ligeiramente inclinado para o lado.

BUUUUMMMM!!

Uma explosão de energia elemental atingiu Nino com força, misturando o poder de todos os Primordiais. Não esperava por aquilo, e a intensidade do ataque o pegou de surpresa. Parte de seu braço foi destruído, os danos visíveis, mas Nino manteve sua postura, os olhos estreitados enquanto observava o resultado daquela magia.

O sorriso infantil em seu rosto se desfez por um momento, agora substituído por uma raiva crescente. Se regenerou, a cabeça abaixada, os olhos fixos enquanto a fumaça ao seu redor se dissipava.

Sua voz agora séria, quase fria:

— Fingir de morto? Você é uma vergonha.

Ao perceber que o sorriso de Nino havia sumido, Sol sorriu, um lampejo de prazer tomando conta dele.

Fechando os olhos em êxtase, gesticulou, debochando:

— Não conhece estratég...

BRRAAAAMMMM!!



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