Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 4

Capítulo 101: Obcecado (1)

Sol permaneceu imóvel, sua postura tensa semelhante a um fio prestes a se romper, enquanto encarava o filho de seu irmão. Seus olhos brilhavam com fúria, incandescentes em brasas arco-íris. No reflexo das íris em chamas, via Blacko rindo de forma insolente, zombando dele.

O rancor que carregava por toda aquele passado maldito queimava em seu peito, e despejava essa culpa em Nino, do mesmo modo que havia culpado o pai dele.

Nino, com uma sobrancelha levemente arqueada, devolveu o olhar, sem mover-se de sua posição relaxada sobre a espada.

Havia algo cruel no jeito que o encarava, um desdém sarcástico que carregava em cada palavra:

— Não era você que eu tava esperando. Mas... Uau! Como ainda está vivo?

O rosnar de Sol cortou o ar como um trovão prestes a romper a tempestade.

Cerrou os dentes antes de responder:

— Vou te matar e libertar Lua do seu controle mental, desgraçado!

"Controle mental?" Nino explodiu em leves gargalhadas, escutando uma piada tão boa.

Entrou no jogo com uma teatralidade irônica:

— Ui-ui! Sério? Interessante... Como acha que vai fazer isso?... Hein, Ventoinha RGB? — Seus olhos brilhavam com malícia, o sorriso curvado com o prazer de provocar.

Sol avançou um passo, sua raiva fervendo como magma. Atrás dele, o ar tremeu e ondulou. Fendas flamejantes se abriram na realidade, queimando com as cores dos Primordiais. Sem hesitar, estendeu a mão na direção de Nino, e os portais explodiram em poder.

Um feixe colossal, ardendo como um sol em arco-íris, rugiu pelo campo, disparando diretamente contra Nino. Este permaneceu imóvel, ainda apoiado sobre sua espada, observando o ataque chegar, cheio de preguiça.

BUUUUMMM!!

A explosão reverberou semelhante a uma tempestade divina, levantando uma muralha de poeira e destroços. Quando a poeira começou a baixar, revelou Nino, caminhando tranquilamente para frente. Com a mão direita, afastava a poeira de forma displicente, enquanto a outra continuava enterrada no bolso.

Imitando o comportamento de seu pai, exalava desinteresse por quase tudo, em uma perfeição teatral quase impecável.

— Nossa... Por que não trouxe carne? Com essa brasa dava pra fazer um churras do bom!

Seu sorriso debochado foi uma faísca a mais que incendiou algo dentro de Sol. Antes que pudesse se conter, seu tio avançou como um flash, sua determinação queimando em cada passo.

Em sua mão direita, uma espada feita de sangue tomou forma, fresca e pulsante, arrancada de suas próprias veias naquele exato momento. Seus olhos fixaram-se nele, e a energia ao redor vibrava com sua fúria recém-desperta. Estava pronto para encerrar aquele sorriso de uma vez por todas.

Shk!

Avançou com a espada em um corte preciso, mirando o peito de Nino, mas o sorriso dele não desapareceu. Observava os olhos de Sol, ardendo em fúria, enquanto o ataque se aproximava lentamente.

No último instante, Nino sumiu, dissolvendo-se na sombra de Sol como uma miragem. Em um piscar de olhos, reapareceu atrás dele, a lâmina deslizando em direção às suas costas.

Sol hesitou quando percebeu que seu golpe acertaria o vazio. Sentiu o movimento atrás de si e, num reflexo rápido, usou a própria sombra para se teletransportar, escapando do corte e reaparecendo atrás de Nino para contra-atacar.

Nino manteve o sorriso, desviando por pouco e desaparecendo de novo. O som seco das lâminas cortando o ar ecoava, enquanto ambos desapareciam e reapareciam em um ritmo frenético.

FRURURUURURU!!

O solo tremia sob seus pés, poeira erguendo-se em cortinas a cada deslocamento, as espadas cruzando o vazio, cada golpe se transformando em nada além de vento. Sete vezes, o duelo se repetiu em alta velocidade, sombras cruzando o espaço como trovões silenciosos.

Na oitava troca, Nino surgiu, mas desta vez virado de costas, puxando uma flecha de magia escura que se formava em sua mão com um brilho sinistro. Sol, confiando na mesma estratégia, reapareceu logo atrás dele, espada erguida para um corte definitivo.

Mas ao se aproximar, seus olhos foram ofuscados por um brilho roxo intenso — a flecha já estava pronta, com o braço de Nino puxado para trás como se o tempo tivesse desacelerado absurdamente.

E então... atirou.

BRUUUUMMMM!!

A flecha o atingiu em cheio antes que pudesse reagir. Uma explosão ressoou como um primata explodindo, lançando Sol pelos ares, enquanto a onda de choque dissipava a poeira, deixando um rastro de destruição.

O sorriso de Nino permanecia inabalável, um eco cruel no silêncio que se seguiu... por poucos instantes.

Sol girou no ar e aterrissou de pé, seu corpo emanando fúria contida. Não arrastou a área ao pousar, nem hesitou. Seu olhar permaneceu fixo, queimando de determinação.

PLOCH!

Da fumaça emergiu uma espada com uma corrente, atingindo-lhe o peito com precisão brutal. A lâmina perfurou sua carne, e o impacto o fez se dobrar, seu corpo reagindo automaticamente, enquanto suas mãos agarravam a corrente em um reflexo instintivo.

— Argrhg!

Mesmo com a dor atravessando-o como uma onda, seu medo emergiu junto com sua astúcia. Sentiu a lâmina se aproximando de seu coração, e, em um ato desesperado, desviou-o para a perna direita.

"Ele não pode ver dentro de mim." pensou, mas o sorriso de Nino parecia contrariar sua confiança.

Nino travou a espada dentro do corpo.

Shirrrchh!

O som da carne sendo dilacerada internamente era mais prazeroso que saborear uma taça de um belo vinho italiano de 1907.

A lâmina se expandiu, viajando pelo interior, e Nino o puxou violentamente pela corrente, cada movimento amplificando o sofrimento. Quando Sol se aproximou, BAAMM! o sobrinho desferiu um chute direto de direita, exatamente onde a espada permanecia cravada.

CRRHPLOCH!!

O impacto fez as lâminas internas da espada rasgarem e atravessarem seu corpo, deixando-o ainda empalado. Com desprezo, Nino manteve o peso do corpo dele suspenso, equilibrado sobre o cabo da arma com o pé, zombando dele como se fosse um troféu.

Irritado, Sol concentrou sua magia internamente.

TSSSSS!

Seu sangue começou a queimar o de Nino, que havia invadido seu corpo. Nino percebeu a bravura inútil e descartou o corpo de Sol, descendo a perna e jogando-o para baixo antes de saltar, girando no ar em um mortal, com a graça de um predador cruel.

Pahf...

Ao derrubá-lo, Nino completou o salto em um arco perfeito, sua espada de sangue erguida no alto, pronta para descer com força total.

FRUUU!

Sol reagiu.

Duas asas majestosas, formadas por penas irradiando o poder dos Primordiais, exceto o Preto, surgiram de suas costas.

Com um movimento ágil, dobrou as asas para cima, FUUUU! arremessando Nino ao céu com um impulso devastador, acompanhado por penas tão sólidas e afiadas quanto lâminas de metal.

SH-SH-SH-SH-SHKK!!

Nino foi atingido por uma chuva de penas no ar, mas nenhuma conseguiu perfurá-lo profundamente, apenas colidiam contra seu sangue como ondas batendo em uma rocha. Se distraiu por um instante, e Sol aproveitou.

"Você é tão fraco assim?"

BAAAMM!!

Sol apareceu atrás de Nino em pleno ar, girando em um mortal, desferindo um chute que o lançou em diagonal contra o chão.

BUUM!

Colidiu com o solo, mas rolou rapidamente para se levantar.

Antes que pudesse reagir, BAAM!! Sol apareceu com outro chute lateral, dobrando-lhe o corpo e arremessando-o de novo.

Sccrrrchh...

Nino caiu no chão com um arrasto suave, o som do atrito pairando em seus ouvidos. Se "levantou lentamente", sem pressa, levando aquilo apenas como uma distração.

Antes que pudesse se endireitar completamente, BAAM!! Sol apareceu do nada, o chute pesado o atingindo de novo e o lançando para longe, mas Nino continuava nem um pouco preocupado.

Sccrrrchh...

Com um suspiro entediado, se levantou de novo, fazendo uma pausinha para continuar a brincadeira. E então, mais uma vez, BAAM!! Sol, impaciente, veio com o mesmo golpe, mas novamente, Nino não demonstrou dor, apenas levantou a cabeça com um sorriso cínico olhando-o.

Era como uma partida de videogame. Jogava com um primo mais novo, deixando-o ganhar algumas rodadas antes de destruir sua dignidade de uma vez. 

"Não sabe lutar, não sabe bater, o que você sabe fazer... nada? Você é muito fraco... ou eu que tô muito forte?" pensava, enquanto atuava, deixando-o ser acertado.

Morte segurou uma risada sincera diante daquela piada.

Cada tentativa de se levantar era interrompida, até que, finalmente, quando Sol atacou mais uma vez, B-... Nino agarrou sua perna com uma força implacável.

Seu olhar entediado encarava profundamente os olhos queimando em fúria do covarde, que usava seres mais fracos para descontar suas frustrações mimadas de um "possível" império arruinado ao lado de sua amada.

Creck!

O som de ossos quebrando ecoou. Nino, ainda segurando a perna com firmeza, mudou seu olhar para uma expressão zombeteira, deixando claro que aquilo não passava de um show patético.

Naquele breve instante, com a mão esquerda pressionando e esmagando seu membro, Sol não ligou para a dor momentânea. Movimentou rapidamente o coração de volta ao peito, percebeu o risco de tê-lo deixado na perna.

Porém, ao olhar novamente para Nino, viu-o com a expressão impiedosa, apontando dois dedos da mão direita, como uma arminha, diretamente para o local onde seu coração retornou.

— Lua nova.

SHKRUNNCH!!

Uma explosão retumbante lançou Sol centenas de metros para trás.

O golpe de Nino, embora não tão poderoso quanto o de Anna, deixou um corte em formato de "+" que se materializou a centímetros de seu corpo.

Sol conseguiu ver o instante em que o corte se formou e, em um reflexo rápido, envolveu seu coração com sangue, tentando protegê-lo. Embora tenha evitado a destruição total, não conseguiu escapar da gravidade do ataque.

Suas asas, deslumbrantes e imponentes, foram divididas em quatro pedaços. Os cortes atravessaram sua carne, deixando feridas profundas. As partes das asas, ao tocarem o chão, se dissolveram em fumaça colorida, espalhando um arco-íris de luz antes de desaparecer.

FRUUUU!!

Caindo, rapidamente se virou no ar, criando novas asas que estabilizaram seu corpo, TAM! ao pousar com agilidade e força. Seus olhos estavam fixos em Nino, uma chama de fúria ardendo neles.

Seu sobrinho, por outro lado, caminhava lentamente, seu olhar vago e entediado, enquanto girava o braço esquerdo e segurava o ombro com a mão direita, alongando-se como se estivesse em um treino descontraído.

Ao parar repentinamente, colocou a mão no queixo e, com um sorriso zombeteiro, falou para Sol:

— Um demônio com asas de anjo? Rapaz, tá certo isso?

Sol desfez suas asas, a raiva se intensificando enquanto caminhava em direção a ele, que também se aproximava. O olhar dos dois, tão opostos, disputavam uma batalha silenciosa de quem suportaria mais a intensidade.

— Você é muito fraco, até seu amiguinho de Azul passava mais credibilidade. É assim que você pretende salvar a Lua? — Nino riu, a provocação ácida saindo com uma ironia cruel, aprofundando a raiva que tomava conta do seu tio.

BUUURRNMM!!

Sol explodiu em uma explosão de poder que envolveu todo o seu corpo. Num piscar de olhos, desapareceu, reaparecendo em frente a Nino com um soco direto no rosto.

BAAM!-BAM!

Nino, com um sorriso sádico, bloqueou os dois socos com facilidade, desviando-se com movimentos preguiçosos. Sentia a fúria impotente de Sol, observando a ira de um ser que, sem sequer ter experiência de luta, tentava matá-lo.

Apenas um "homem" frágil, que usava sua autoridade sobre sua linhagem de forma tirânica, manipulando seus irmãozinhos, que aceitavam sem questionar o papel dado ao Imperador de todos os Demônios, pela Deusa — exceto Lua e Preto. Preto não aceitava e queria-o morto, enquanto Lua não permitia, sendo uma moça boa até com escórias — para conseguir o que o mimadinho queria.

BA-...!

— Lua está presa no meu quarto, toda amarrada... — sussurrou Nino, segurando o punho de Sol com firmeza, aproximando seu rosto do dele.

O sorriso zombeteiro se ampliava, enquanto via claramente o reflexo de ódio e impotência nos olhos de Sol, que demonstravam o desejo de chorar de raiva.

BUURRMM!

Sua explosão de fúria não teve efeito sobre seu sobrinho, que permaneceu impassível.

CRUNCH!

Nino arrancou o braço do tio com um movimento brusco, observando-o se regenerar instantaneamente, mas sem perder a oportunidade de continuar o ataque. O Primordial avançou mais uma vez, desferindo uma série de socos rápidos, mas não conseguia acompanhar a velocidade de Nino, apenas via os socos passarem ao seu redor, suas habilidades ainda longe de ser suficientes.

— AAHAHAHA... HI-HI-HEAAHAHA!

Desviava preguiçosamente, com as mãos nos bolsos, zombando enquanto ria, destruindo os últimos resquícios de lucidez na mente de Sol.

— Sua namorada é uma safada na cama...

A provocação risonha foi o suficiente para Sol, que, tomado pela raiva, formou uma espada de sangue oscilante com os poderes Primordiais em sua mão.

— CALA A BOOCA, VERME!

SHK!-SHK!-SHK!

A lâmina cortava o ar, mas Nino desviava com facilidade, zombando de cada tentativa. Sua risada preenchia o campo, martelando a mente de Sol como o eco de um pesadelo insuportável, gravando-a em sua alma enquanto se divertia com sua insignificância.

— Hi-hi-hihe...AAAAHAHAHAHA!!

Sol, atordoado pelas risadas, viu tudo se distorcer por um momento. A risada de Nino mudava de tom, e sua visão se turvava com flashes de Blacko à sua frente, sorrindo e rindo, substituindo o rosto de Nino, olhando-o com desprezo.

Brincando com sua mente, quase o fazendo cair no chão, chorando de raiva e impotência diante do irmão. Para completar a humilhação, Rag fez sua presença ser sentida. Abriu seu olho sobre a marca de Nino e olhou diretamente para Sol.

Sol travou momentaneamente em seu ataque, a espada hesitando em suas mãos, enquanto a incerteza tomava conta dele. Seu corpo reagiu com medo, e ele piscou, mas, ao abrir os olhos e fixá-los novamente em Nino, não viu Rag. Apenas o punho vindo direto na sua cara.

BAAAMM!!



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