Volume 2
Capítulo 49: Inocência Sangrenta
Em sua cobertura, Alissa acabava de se vestir enquanto seu motorista de aplicativo chegava.
Vestida com a mesma roupa e o seu sobretudo de quando ainda operava na ADEDA, Alissa caminhava pela sala colocando suas luvas, que já não tinham mais propósito.
Ao chegar no balcão, viu, que a enorme televisão da parede exibia a reportagem que aguardava desde cedo.
O apresentador transmitia a cobertura sobre um acidente de aterrissagem forçada de uma aeronave ocorrido na madrugada:
— ...Infelizmente, 332 pessoas morreram. O piloto foi encontrado vivo próximo aos destroços; completamente transtornado. Acompanhe as filmagens.
A câmera mostrava o piloto gritando:
— O PRESIDENTE!... O-O PRESIDENTE ESTAVA LÁ! — ele não parava de se mover de forma agitada — ELE MATOU TODOS E ME OBRIGOU A DIZER QUE QUEM FEZ ISSO É A FILHA DELE, EU NÃO ME IMPORTO SE ELE ME MATAR! — ele agarrou o homem que o filmava e, aproximando o rosto do celular, continuou: — EU QUERO QUE VOCÊS SAIBAM A VERDADE! O CULPADO DE TUDO É O PRESIDENTE DO BRASIL!
A reportagem voltou ao apresentador:
— Coitado, deve estar traumatizado... Temos uma entrevista com o presidente da república, Humberto Kubitschek. Acompanhe a matéria do nosso repórter, Leonardo Alves.
Leonardo questionou com o microfone perto da boca:
— É verdade que a exterminadora Alissa Kubitschek traiu os exterminadores e agora derrubou um avião com 333 pessoas a bordo? — Estendeu o microfone para o presidente.
— Nunca imaginei que minha filha faria uma coisa dessas... Trair a associação e agora ataques terroristas?
O repórter continuou:
— O piloto afirma que você o obrigou. Está escondendo algum poder da população? — Estendeu o microfone novamente.
— Não se preocupem, ela será presa o quanto antes.
Leonardo insistiu:
— Senhor Presidente, o piloto disse que foi o senhor. — Colocou o microfone novamente, e o presidente, irritado, respondeu:
— E QUE PROVAS VOCÊS TÊM?
Leonardo tentou novamente:
— Senhor... Não é razão para aumentar a voz. Poderia me res...
Os seguranças do presidente interviram, bloqueando a câmera. Nesse momento, Alissa desligou a televisão e se dirigiu ao elevador.
— Até que atuou bem.
Quando o elevador se abriu, Alissa saiu caminhando com graciosidade tranquila pelo saguão, ignorando a multidão com cartazes nos vidros, com ofensas a ela, que gritavam sem parar.
Ao chegar à portaria de vidro, esta se abriu, e, do lado de fora, ninguém ousou se aproximar. Alissa caminhou entre os paparazzis, arriscando suas vidas, e entrou em um carro estacionado na rua.
O motorista, visivelmente nervoso, tentava sair com o carro há algum tempo, mas desde que aceitou a corrida, Alissa controlou seu corpo, fazendo com que o nome "Alissa" no aplicativo aparecesse como "Alice". Depois que chegou naquele lugar e viu a multidão, ela parou de controlá-lo, e o nome voltou a aparecer na mente dele.
No entanto, o carro ficou travado, não abria e não ligava.
Tremendo de medo, ele disse:
— Q-quando aceitei a corrida eu não sabia que era você... Por favor, eu não quero ser preso, saia do c...
Crunch!
Os olhos do motorista se encheram de sangue, sua cabeça ficou mole, mas suas mãos se firmaram no volante.
Skrrrrt!
Alissa então começou a dirigir, cantando pneus em direção ao destino.
Enquanto isso, Nino respondia a Nina:
— Sei lá. Chorando porque não tem namorado? — os dois se olharam e riram.
Alissa, apoiada na janela do carro, observando as construções passarem rapidamente, espirrou de repente:
— Atchim!... Hãm?... Que estranho.
— Talvez... Será que ela tá sentindo saudades da gente?
— ...Talvez.
— ...Bom. Vamos voltar pra vila. Não avisei a Nathaly que saí. Apesar de que ela deve estar desmaiada na cama.
— Pode ir, vou ficar um pouquinho aqui.
Nina se levantou:
— Tá bom.
Enquanto isso, os dois mundos seguiam ritmos diferentes.
Na Terra, os dias tinham 24 horas, os meses 30 dias, os anos 365 dias, e havia 12 meses no calendário. No mundo da Deusa do Sol, os dias tinham 28 horas, os meses 21 dias, os anos 294 dias, e havia apenas 14 meses.
Enquanto os gêmeos enfrentavam uma noite fria, Alissa se encontrava em uma manhã de um dia prestes a chover. Mas não era água que cairia dos céus.
Brasília, Distrito Federal. No subsolo do Palácio do Planalto, em um laboratório secreto.
— A última vez que foi vista, pegou um carro em frente ao prédio onde mora.
— Por que estão tão preocupados com ela?
Humberto Kubistchek virou-se para seu guarda-costas:
— Ela deve ter descoberto o que fazemos.
— Então, é só matá-la.
— ...Não é bem assim. Ela não é normal. Já destruiu muitas anomalias, incluindo as mais poderosas que o Doutor Ben já criou.
— Qual é o poder dela?
O cientista ao lado respondeu:
— Não temos certeza, mas possivelmente é o poder de "Controle". O corpo de Katherine Kubitschek está sendo analisado, e suas memórias revelam que tanto ela quanto Alissa possuem poderes altamente destrutivos.
— Controle? O que é isso? Ela vai me obrigar a lavar a louça? — o guarda-costas respondeu com ironia, enquanto o cientista mantinha um semblante sério.
— Não sabemos exatamente como funciona, mas ela foi filmada matando sem se mexer quando ainda era criança, fazendo com que várias anomalias se suicidassem, incluindo calamidades.
— Estão de brincadeira? — ele olhou para todos na sala, sendo o único a levar aquilo como piada.
— Quando ela tinha nove anos, o Doutor Ben criou três obras-primas, três calamidades nas quais fundiu humanos com anomalias semelhantes a pássaros. Seus olhos brilhavam enquanto realizava os testes. Ele as batizou de "Fênix": uma com poderes elétricos, outra com poderes de fogo e uma terceira completamente feita de metal, com penas extremamente afiadas. Nenhuma munição existente em nosso arsenal foi capaz de perfurá-las. Após serem soltos, tiveram a infelicidade de encontrar Alissa, que usou os poderes deles contra eles mesmos. O Fênix de fogo conseguiu sobreviver e voltou ao laboratório. A limpeza enviou de volta os restos das anomalias, e o Doutor Ben continuou estudando. Depois de anos melhorando a criação, quando o Fênix foi solto novamente, morreu para aquele "Desastre Natural" que era aluno dela.
O presidente olhou fixamente para seu guarda-costas.
— Não estamos lidando com uma humana comum. Ela ultrapassa todos os limites do nosso conhecimento. É impossível pará-la.
Um homem entrou na sala.
— Presidente!
— Sim?!
— Encontramos ela.
Seguiram o homem até uma sala cheia de computadores, onde apenas um projetava um holograma transparente no ar. O espaço era gigantesco, e apenas um garoto comandava. Com o poder de "Hacking", conseguia invadir qualquer sistema a qualquer momento, manipulando a mídia com facilidade.
O Governo não permitiria que tal poder escapasse de suas mãos.
— Onde ela está?
O garoto, manipulando um teclado semi-invisível, respondeu:
— BR-050. — Ele invadiu o sistema de GPS do motorista e acessou a câmera frontal, vendo-os. — O motorista está morto e o carro está muito mais rápido do que o modelo permite, como se algo o estivesse impulsionando.
— Dê um zoom no rosto dela.
Alissa continuava apoiada em seu braço, olhando pela janela.
Quando o garoto ampliou a imagem, Alissa se virou para a câmera.
— A vista tá boa?
— AAAAAGRHH!
Ba-Ba-Bam!
O garoto começou a gritar de dor, e todos na sala foram arremessados contra as paredes, ficando presos com os braços e pernas esticados. O corpo do garoto parou de se debater. Alissa assumiu o controle e, usando seu poder, acessou todos os arquivos e experimentos do governo.
Enquanto ela coletava as informações, um cientista observava tudo através das câmeras e correu até uma máquina conectada ao cérebro de Katherine, que estava sendo estudado. Desligou o dispositivo, e Alissa terminou de extrair todos os dados do laboratório, exceto os arquivos daquele sistema.
Ela divulgou tudo nas redes sociais e enviou e-mails com todas as provas e mentiras contadas pelo governo brasileiro para emissoras de televisão ao redor do mundo. Todos saberiam a verdade sendo escondida no Brasil.
Ainda controlando o corpo do garoto, Alissa o levantou e se dirigiu ao seu pai, Scrrrrechh! rasgando a pele do rosto dele com as próprias unhas.
Com um sorriso sangrento e o rosto mutilado, ela disse:
— Eu vou acabar com o seu império... Pai.
CRUNCH!
Alissa explodiu o corpo do garoto, espalhando sangue por toda a sala, P-p-pahf! e todos caíram no chão quando ela parou de controlá-los.
Todo o sistema da sala foi afetado: o teclado e o holograma desapareceram, e os computadores reagiram à falta de magia do garoto.
O doutor, que assistiu a tudo pelas câmeras, entrou na sala.
— Presidente! O arquivo dos experimentos em Katherine estava offline; ela não teve acesso.
— O que isso significa?! — respondeu o presidente, extremamente estressado, enquanto se levantava do chão.
— Temos uma chance de 7% de que a anomalia criada com o DNA de Katherine consiga desativar os poderes de Alissa, permitindo que a eliminemos.
— Está me dizendo que minha vida depende de uma chance de 7%!?
— S-sim...
— Por que uma chance tão baixa? — perguntou o guarda-costas.
— Os testes mostram que a anomalia consegue anular os poderes de tudo, mas estamos falando de desativar Alissa. Essa calamidade artificial não fala; tem o corpo e o rosto semelhantes a Katherine, mas não fala. Sem o Doutor Ben para guiar as pesquisas, é isso ou nada.
— Eu... Eu tenho uma ideia. Vocês têm gravações de voz dela no banco de dados?
— Sim.
— Me mostre.
O guarda-costas, confiante, seguiu o cientista.
— Espero que saibam o que estão fazendo — disse o presidente.
— Podem confiar, vai dar certo!
O exército foi convocado para impedir Alissa, mas era inútil.
Assim que chegou ao Planalto, caminhou com tranquilidade, matando todos que apontavam armas em sua direção.
CR-R-R-R-R-R-R-RUUNCHH!
Explosões e uma chuva de corpos e sangue ocorreram ao seu redor, mas sua roupa permanecia limpa.
Ela entrou.
UUUÍÍÍÍ-UUUÚÚ!!...
As sirenes soaram, e todos em seu caminho caíram mortos instantaneamente.
— Ela entrou! Anda rápido com isso!
— Tá, tá!
Com vários corpos esmagados e ensanguentados no chão, começou a descer as escadas até um local com um piso branco e quadros de belas artes nas paredes, mas nada disso chamava sua atenção.
À sua frente, a alguns metros, havia uma pessoa parada, com uma porta blindada atrás dela.
"Não é humana, é uma anomalia." Alissa caminhou em direção à anomalia com a aparência de Katherine.
— Oi, Alissa... — Alissa parou, reconhecendo sua voz. — Lembra de quando éramos crianças e sonhávamos em ser uma dupla de heroínas?
"A boca não se mexe, mas ouço a voz de Katherine." Alissa, por um momento, se perdeu em lembranças das duas assistindo a desenhos e sonhando em se tornar heroínas.
— Assim que chegar a cerca de dois metros da anomalia, você aperta o botão.
— O que o botão faz? — perguntou o presidente ao doutor.
— É o comando para anular o poder de Alissa e depois explodir.
— Explodir?!
— É nossa única chance. Se o experimento funcionar, vai anulá-la e a explosão a eliminará. Será uma explosão com a força de um míssil.
— Não vamos morrer junto?
— A sala é projetada para suportar bombardeios. Talvez a superfície do Planalto desabe, mas nós continuaremos vivos.
— Então é nossa última aposta?
— ...Exato!
Alissa retomou a consciência.
— Qual é o nosso episódio preferido?
Alguns segundos se passaram, e a anomalia não respondeu.
— PROCUREM RÁPIDO NAS MEMÓRIAS DE KATHERINE!
— ESTOU PROCURANDO! É Muita coisa, me dê uns segundos!...
— ACHE LOGO!...
— ACHEI! EPISÓDIO 27 DA PRIMEIRA TEMPORADA! — gritou o doutor para o guarda-costas, que, usando o rádio, voltou a falar com Alissa:
— Episódio 27 da primeira temporada.
Alissa começou a se dirigir lentamente para a anomalia.
— Nós não tínhamos um episódio preferido; você gostava do 27 e eu do primeiro filme da segunda temporada. Mesmo com acesso às memórias dela, vocês não encontrariam a informação, já que ela nunca se importou comigo de verdade.
Crash!
Alissa destruiu o rádio no viva-voz colado nas costas da anomalia.
Ainda caminhando em direção a ela, pisou no ponto que eles queriam. Quando o botão foi pressionado, uma explosão imensa ocorreu, mas Alissa conteve a explosão, suprimindo até o som e reduzindo a força da detonação. Alissa arremessou a anomalia em direção à sala anti-bomba, destruindo a porta com violência.
BR-ROOOOMM!!
O Planalto começou a desabar, parte dele foi destruída, e o teto caiu sobre Alissa, que reduziu as construções a pó.
Os únicos dois soldados dentro da sala caíram no chão, mas se levantaram rapidamente e se posicionaram ao lado da porta arrombada, prontos para o combate.
Alissa entrou tranquilamente, e, TRÁ-RÁ-RÁHH!! Ao dispararem com seus fuzis, as balas pararam no ar, amassadas.
CRUNCH!
Os soldados e os cientistas foram dobrados ao meio e morreram instantaneamente.
O guarda-costas do presidente o segurou e colocou uma pistola em sua cabeça.
— Você quer ele, certo? Me deixe ir e eu...
CRUNCH!
Sua cabeça explodiu, espalhando sangue pelo presidente. Assustado, ele permaneceu olhando para Alissa.
— Todos esses anos, todas as pessoas que morreram para essas criações, e para quê?
— Filha... Você ainda não entende. Anomalias nascem naturalmente; nós apenas aceleramos e aprimoramos o processo. As pessoas precisam sentir medo, precisam depender de nós. Sem oferecer segurança, não teríamos tanto dinheiro, eu não governaria o país!
— Você tirou tudo de mim por dinheiro? Para alimentar essa sua fantasia de merda. Criar monstros e oferecer proteção. Perdi amigos, alunos todos os anos, e você tenta conspirar contra mim para isso? Continuar sendo um presidente de merda que faz a população sentir medo diariamente.
— Sacrifícios são necessários para alcançarmos o que queremos... Você tem meu sangue; precisa honrar seu sobrenome, Alissa — disse, encarando-a fixamente. — Continue com o império que nossa família conquistou...
— Kubitschek está no meu nome, mas nunca gostei dessa merda sobrenome.
— Não me arrependo de nada do que fiz. Apenas segui os passos do meu pai, que seguiu os passos do meu avô... Não me arrependo de ter tido você tam...
CRRAAASSHH!!
Com um sorriso no rosto, Humberto Kubitschek desapareceu, deixando um buraco colossal na parede atrás de sua mesa.
Tirando um gravador do bolso, Alissa parou a gravação e deixou-o sobre a mesa, depois de exterminar completamente o corpo de seu pai, sem deixar uma única gota de sangue.
Ao sair, murmurou:
— Jogar com o emocional? Um verdadeiro verme até o final. Queime no inferno, querido papai.
Algumas horas depois:
Na cobertura de Alissa, a televisão transmitia uma reportagem. O gravador deixado no Planalto já havia sido confiscado e analisado pela polícia. Juntamente com todas as provas expostas ao mundo, Alissa foi completamente inocentada, tanto em rede nacional quanto internacional.
Enquanto isso, seu pai, Humberto Kubistchek, com o áudio confessando os crimes, foi responsabilizado por todos os crimes relacionados às Anomalias Calamidades "estranhas" que já perambularam na América do Sul.
Sentada no sofá branco, apenas com um roupão branco felpudo, Alissa desligou a televisão.
— Colocaram até as mortes do avião na conta dele...
Com uma leve risada, se espreguiçou, bocejou de sono e se deitou no sofá, olhando para a televisão desligada.
— Parece que a aposentadoria chegou mais cedo...
[ — Eles são o futuro do Brasil. Estava vendo como se saíam nos treinos.
— Mentirosa! Só quer se aposentar logo — Nino riu, percebendo a desculpinha. ]
— AAAAAAAAH, que saco! — olhando para frente, com um tom tristinho, meio dengoso e carente, murmurou: — Onde vocês estão...?! Mamãe tá com saudade...