Volume 2
Capítulo 43: Essas Lágrimas São Verdadeiras?
Seu corpo paralisou pelo choque enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.
Clarah teve um turbilhão de pensamentos, desde sua infância até aquele momento, refletindo sobre como se declararia a Minty e revivendo a cena da morte dele em sua mente várias e várias vezes.
Mas, ela gritou internamente:
"ISSO NÃO É HORA! PENSA, PENSA! FOCA, FOCA!"
Ezze se aproximava, murmurando e balançando a cabeça e o corpo para os lados como se estivesse bêbado.
— Jaan, desgraçado, vai pagar pela morte da minha irmã — ele repetia, balançando a cabeça com mais força, Scrrrrechh! coçando o rosto até começar a sangrar novamente.
Clarah, controlando sua mente ao máximo, conseguiu rever a morte de Minty de maneira lúcida.
Notou o símbolo da mão de Ezze quando Minty o atacou e percebeu claramente o poder sendo absorvido por ele.
"Então é só eu..."
— EIII!? — gritou Ezze na direção de Clarah. — Onde está o Jaan, garotinha? Fala logo, que eu deixo você correr de mim por 15 segundos antes de eu te caçar. — Com um sorriso maligno, ele passou a língua na mão suja do sangue de Minty.
Clarah o encarou e criou uma adaga de sangue, arremessando-a na direção dele.
— Kop...
A adaga se aproximava, mas Ezze não se mexeu para desviar ou se defender.
Vendo o rastro da magia de luz, ele apenas esperou para absorver o ataque.
— Tu.
BAAMM!
Clarah se teletransportou para onde a adaga prestes a atingi-lo e chutou o rosto de Ezze.
Ele não conseguiu absorver devido à força bruta do ataque. BAM! Ezze capotou por alguns metros até bater suas costas na parede de uma casa, Parrhf... e cair sentado no chão.
Clarah surgiu à sua frente e, com um chute de perna direita estendida, acertou no meio da cara.
BUUMMM!
Sua face afundou e o crânio foi esmagado.
CRASHH!
Com a força do chute, ele foi arremessado através da casa. BAMCRECK!-BAMCRECK!-BAMCRECK! Enquanto o crânio começava a se regenerar, Clarah apareceu com uma sequência de socos nas costelas, esmagando-as a cada golpe.
Ezze não conseguia desviar e o processo de regeneração se tornava cada vez mais lento desde a morte de Vermelho.
CRECKSSCHH!!
Tentando contra-atacar com um soco, Clarah segurou o braço esquerdo e o quebrou.
BAAMM!
Ela girou em 360 graus e acertou um chute de direita que dobrou a coluna de Ezze sobre sua perna.
BAAMM!
Voltando com um chute de esquerda, Ezze já estava fraco e incapaz de se manter em pé.
BAAM!
Voltou um chute para cima no queixo, enviando-o para o céu.
No ar, Clarah surgiu atrás dele, girando e fazendo piruetas enquanto emanava uma aura de magia de luz extremamente brilhante, criando um rastro por onde passava.
— AAAAAAAARRRGGHH!!
BÁAUUUMMM!!
Gritando com toda a sua alma e descarregando todo o seu ódio, ela deu um chute aéreo que despedaçou o corpo de Ezze, deixando apenas parte do busto com o braço direito e metade da cabeça voando. Capotando vários metros.
Thum-thum!
Seu coração ainda batia, mas parou quando seu corpo encontrou uma pessoa que segurou sua cabeça.
Sangrando e dilacerado, sem conseguir se regenerar, Ezze tentou realizar seu último selo de mão, Crunch. mas Nina esmagou sua cabeça, matando-o instantaneamente.
Parrff...
Seu corpo começou a se transformar em fumaça vermelha lentamente.
Clarah olhou para frente e viu Nina. Naquele momento, não conseguiu mais segurar sua dor; seus olhos cederam e ela começou a chorar, correndo até Nina, que a abraçou enquanto Clarah a apertava com toda as forças, tentando aliviar a dor.
— E-eu n-não me declarei...
— O quê? O que aconteceu aqui? Por que tá chorando?
— M-Minty morreu. — Clarah olhou para Nina, enquanto as lágrimas continuavam a escorrer de seus olhos.
Jaan, mesmo estando preso no casulo, escutou e lágrimas se formaram em seu semblante triste.
Nina observou o rosto de Clarah.
— O-o quê?! Cadê a Anna?
Clarah não conseguiu dizer nada, apenas chorou sem parar, abraçando Nina.
Nina a abraçou, fazendo carinho em sua cabeça, tentando confortá-la.
No céu, o Leviatã surgiu, exibindo seu corpo imenso dançando ao vento, com Anna em cima dele. Ele desceu, diminuindo seu tamanho até chegar na vila.
Anna desceu e o Ragnarok desapareceu.
— Matei o Primordial Vermelho — disse, olhando para Clarah chorando nos braços de Nina. "Hãm? Essas lágrimas são verdadeiras?"
Ao lado delas, Ron começou a gritar:
— Papai...! Papai!
Wime o abraçou enquanto tentava segurar as lágrimas.
— Papai está em um lugar melhor agora, meu filho.
Dentro da casa de Roberto, seu corpo morto estava estirado no chão, mutilado após a luta com Lezze para ganhar tempo para sua mulher e seu filho se salvarem.
Ron permanecia na frente da porta de sua casa, enquanto Wime o abraçava para que ele não visse o corpo ensanguentado do pai.
Nina, ao observar tudo aquilo, sentiu uma raiva intensa, desejando matar Jaan ali mesmo. Sua raiva gritava: "Mate-o, faça-o sofrer." Mas ela sabia que não tinha o direito de fazer isso. Mesmo desejando, sabia que seria egoísmo dela; a dor dela não se comparava à de Clarah.
Escutando-a chorar e apertando-a em angústia, Nina decidiu deixar a vida de Jaan nas mãos de Clarah.
Algum tempo depois, Nina chamou todos para o centro da vila.
— Pessoal... Infelizmente, nesse ataque surpresa que sofremos, acabamos perdendo duas pessoas muito importantes para nós. Roberto e Minty faleceram tentando proteger a todos. No momento do ataque, eu não estava aqui... Jaan disse que havia encontrado frutas diferentes, então fui ajudar ele a buscar. Porém, era tudo mentira. Quando percebi o ataque, tentei retornar e vi ele fugindo. Eu o prendi, mas quando voltei, o ataque já havia terminado. Sinto muito...
Todos ficaram muito tristes com as perdas e enterraram os corpos dos dois juntos, ao lado da placa onde estavam escritos os nomes deles e de todos os amigos e familiares que os moradores haviam perdido enquanto eram escravos.
Após o enterro, todos permaneceram em pé ao lado dos túmulos em silêncio por um tempo. Depois do momento de respeito, as pessoas voltaram para suas casas e começaram a arrumar a bagunça da destruição.
Nina entrou na casa de Anna junto dela e Clarah.
— O que quer fazer com o Jaan?
— ...Não estou pronta para olhar para o rosto dele. Deixe-o passar fome por um tempo e depois eu tiro informações antes de matá-lo. Tenho uma coisa que preciso perguntar a ele.
Clarah subiu as escadas, indo para o quarto, extremamente desanimada.
Nina, em pé, e Anna, sentada à mesa, apenas respeitaram sua escolha.
Anna ajudou os moradores a arrumarem algumas coisas ainda naquela manhã, enquanto Nina entrou na floresta para buscar os cavalos e arrastar o casulo com Jaan dentro, procurando um lugar onde ele pudesse ficar preso.
Antes de chegar aos animais, Nina encontrou uma caverna em uma montanha e entrou. Não era muito profunda, mas ela a diminuiu um pouco mais com magia de pedra e prendeu Jaan de cabeça para baixo, com o casulo aberto, deixando apenas a cabeça dele para fora.
Nina usou magia da natureza para criar tochas nas paredes, mas não as acendeu, deixando-as lá para que Clarah pudesse acendê-las com magia quando decidisse ir.
Jaan não dizia nada, apenas chorava enquanto Nina saia do local, criando degraus de magia até a saída. Ela então fechou a entrada com uma grossa camada de magia de pedra, deixando aquele lugar completamente escuro.
Saindo de lá, com um olho visível e constantemente reprimido pela marca em seu pescoço, Nina foi até os cavalos e carroças, tentando controlar toda a sua raiva.
Minutos antes da Lua Azul:
Nino caminhava pela grande rua de Alberg, com as mãos nos bolsos da calça e um semblante de puro tédio. Muitas pessoas a olhavam e, mesmo com medo, todas o agradeciam. Embora não fosse com palavras, elas demonstravam sua gratidão com sorrisos sinceros e abaixando a cabeça.
— M-muito obrigada por salvar minha filha, senhor. — Uma mulher, com sua filha no colo, abaixou a cabeça para Nino.
— Tranquilo.
Nino continuou caminhando até se aproximar do palácio, quando sentiu-se observado e olhou para a rua à direita.
Lá, viu vários homens com túnicas brancas à frente da catedral da igreja. Eles o observavam com desprezo, mas, quando ele os encarou, rapidamente todos forçaram um sorriso, e todos os sorrisos eram exatamente iguais.
Os túnicas acenaram para ele com a mão direita, e Nino continuou com seu olhar entediado.
"Que porra é essa?"
Virou o rosto, ignorando-os, e seguiu em direção ao palácio.
Quando começou a passar pelo jardim, sentiu novamente alguém o observando. Virou-se e viu dois homens com túnicas brancas tentando se esconder no telhado da grande catedral, próximo a um grande sino dourado.
— Bando de carentes.
Nino se dirigiu às portas do palácio enquanto os homens com túnicas tentavam sair de lá. Assim que deram um passo, um grande olho se abriu na frente deles, encarando-os fixamente. SHKR-R-RUNCH! Paralisados de medo, um deles se mexeu minimamente e foi cortado em milhares de pedaços, enquanto o outro, assustado com a morte do amigo, teve o mesmo destino.
Ao entrar no palácio, uma serva o encontrou e, com medo, ofereceu ajuda:
— P-p-posso ajudar?
— Me guie até o salão do rei.
— C-claro... Me siga. "Por favor, Grande Heroína... Esteja aqui!" A serva estava muito assustada, sem saber o que estava acontecendo no Reino de Alberg.
Ao entrar pelas portas destruídas, a serva travou ao ver Nino junto de Nathaly.
"O-o quê?!"
— Nino? É você ou o clone?
— Sou eu, já desfiz o clone. Não estávamos tão longe.
"O-o quê?!" A serva estava completamente confusa ao ver a Grande Heroína conversando normalmente com um Primordial.
— Aurora decidiu deixar ele vivo então?
Aurora estava deitada no colo do rei, dormindo enquanto ele fazia carinho em sua cabeça.
— Ela ama muito o rei... E ele estava sendo controlado, não podemos culpar ele por tudo que aquela mulher fez.
— Aaaah... Tanto faz, não me importo.
Nino se dirigiu ao rei, e Nathaly o seguiu.
Jonas e Liza, sem entender o que estava acontecendo, apenas observavam.
Os soldados que sobreviveram à pequena chacina no salão real foram dispensados anteriormente.
— AE?! O que tem de errado com a igreja?
— Como assim, senhor primordial?
— Eles são estranhos. Não estavam felizes com o retorno das crianças, e quando os olhei, começaram a fingir. Além disso, tinha uns em cima da igreja me observando. "Não é necessário dizer que eu os matei, né?" Nino deu um sorrisinho de canto de boca.
— Quando entrei no reino pela primeira vez, também notei que eles me olhavam de forma estranha. — Nathaly ainda associava a serva de branco com a igreja em sua mente, mas não disse nada sobre isso.
— Talvez eles estejam apenas desconfiados por você ser um primordial.
— Não faz sentido eles ficarem tão desconfiados a ponto de ignorarem o fato das crianças estarem bem.
— Vou investigar mais tarde. Também acho que algo está errado e talvez tenham envolvimento com a rainha. Não tenho certeza, mas eu tenho quase! — Nathaly fez um biquinho com os olhos meio fechados, desconfiada.
— Enten...
As tochas se apagaram, e tudo ficou azul.
— Que merda é essa? — Nino olhou profundamente nos olhos do rei.
— N-não sei, senhor.
Nino se virou e, junto com Nathaly, saiu correndo do palácio.
Passaram pelo reino com uma velocidade absurda até chegar no topo da muralha oeste.
— ANNA?!
— Está vin...
Nino pulou o fosso e começou a correr em direção à Floresta do Desespero, e Nathaly, ao perceber, o seguiu.