Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 2

Capítulo 44: Vulnerável

[ Ano 98.

Palácio das Cores. 

No vasto salão de quartzo branco, decorado com desenhos que representavam cada primordial em suas cores características, o Primordial do Sol permanecia sentado em seu trono.

À sua frente, apresentava-se o Primordial Verde, que havia acabado de chegar de chegar por teletransporte, mostrando sinais de exaustão apesar de estar fisicamente intacto.

Pouco depois, o Primordial Branco e a Primordial Rosa também surgiram por teletransporte. Branco vomitava seu sangue branco, claramente debilitado.

Depois de vomitar bastante, Branco se levantou, com a boca suja de sangue, e confrontou o Primordial Verde:

— VOCÊ NOS TRAIU! — Ele se aproximou de Verde.

— Você viu aquela garota. ERA IMPOSSÍVEL MATÁ-LA! — Verde se aproximou de Branco.

— Era só sairmos juntos, você quis sacrificar a Rosa.

— Ela nos mataria se eu começasse a fazer os símbolos do teletransporte, precisávamos do Ragnarok da Rosa.

— Esquece, Branco... — Branco lançou um olhar para Rosa enquanto ela falava. — Eu estou fora. Era impossível matá-la, aquela roupa era como se tivesse vida própria. Ela estava com a roupa de nossa irmã, era como se a tornasse uma Deusa.

— Meu Ragnarok foi destruído uma vez. Dói pra caralho, porra. Obviamente, eu ia fugir.

Rosa avançou indo até Verde.

— Isso não muda o fato de tentar me matar, desgraçado. Eu estou fora. Foda-se vocês, nunca mais me peçam nada.

Ela se virou e saiu do salão do trono.

— Vou embora também — Verde se dirigiu ao Primordial do Sol, que observava a cena apoiando o braço no trono. — Se quiser o livro de sua amada de volta, vá você mesmo buscá-lo.

Verde saiu passando ao lado de Branco, que o observava com um olhar estressado.

Vermelho entrou no salão, tendo ouvido tudo.

— Como perderam para uma única garota?

— Ela sabia de tudo. Nada do que tínhamos era uma surpresa para ela. Além de nos conhecer, usava o vestido da Lua, parecia que isso a tornava imortal. Nada a cortava. Foi uma luta destinada à derrota. Não vou mais atrás do livro. Se quiser agradar a Lua, faça-o você mesmo. Ela mesma disse que não se importa com o livro.

Branco passou ao lado de Vermelho, indo para outra área do palácio.

"Tinham uma obrigação e falharam... Inúteis." Sol, em seu trono, se levantou e se dirigiu a um jardim do palácio criado pela Primordial da Lua, onde ela passava grande parte do tempo.

Ao se aproximar cada vez mais, entrou pelas portas duplas e encontrou o jardim de cristais.

A vegetação e todo o ambiente eram feitos de cristais transparentes que refletiam e absorviam a luz da lua azul artificial no céu do local. Havia um banco de frente para uma grande árvore onde Lua passava seus dias deitada sobre um galho.

Imerso na beleza dela mesclada no ambiente e da árvore de cristal, ele se aproximou dela.

— Nossos irmãos não conseguiram recuperar seu livro. Prometo que vou trazê-lo de volta o quanto antes. — com a cabeça abaixada, ele falou com um tom doce, tentando agradá-la.

— Eu não me importo com isso. Deixe o livro para lá.

— Não! — Ele levantou o rosto, com um olhar decidido. — Eu garanto a você que vou trazê-lo de volta. Pode confiar.

Lua, deitada com seu simples vestido azul-claro, apenas olhou para ele e virou o rosto.

Sol fitou o longo cabelo branco, com mechas em ciano, e se virou, vendo alguém que ele não queria. O Primordial não havia percebido antes, mas o Primordial Preto estava sentado no banco de cristal o tempo todo.

Com uma perna dobrada sobre a outra, os braços relaxados e os olhos fechados, Blacko permaneceu alheio à cena.

Sol olhou para ele, que abriu os olhos juntamente com o olho de seu Ragnarok ao lado, encarando Sol.

Desconcertado, Sol se afastou do jardim, mudando sua expressão enquanto se dirigia para fora.

"O que ele está fazendo aqui?!" ]


[ Ano 105.

Emília passou a foice, mas não conseguiu cortá-lo; Vermelho dividiu o corpo conforme a foice ia passando.

Enquanto dividia a frente, ele grudava o sangue, forçando a regeneração na parte de trás.

SHK!

Ela passou a foice por completo e, ao abrir bem os olhos, percebeu o que ele havia feito, mas não teve tempo para reagir.

Com seu corpo virado após o golpe, Vermelho conseguiu regenerar-se superficialmente mais uma vez e criou uma espada com a mão direita, desferindo um golpe imediatamente.

CRUNCH!

Emília tentou desviar, jogando-se para trás na diagonal. No entanto, apenas conseguiu evitar o corte no meio do corpo.

O corte vertical atingiu o braço esquerdo.

Ela perdeu o braço, mas o regenerou instantaneamente, embora voltasse a sangrar pela boca, e era um sangue abundante.

— RRAARRRGHHH!... — rugiu de ódio com o sangue na boca, encarando-o fixamente. "Não vou aguentar muito assim."

Após o golpe, Vermelho também se jogou para trás — quanto mais distância dela, melhor.

"Ela não está com a roupa da Lua... ELA ESTÁ VULNERÁVEL!" Enxergando uma possível vitória, Vermelho sorriu, mesmo estando apenas o oco.

Haff... Haff...

H-haff... Haff...

Ofegantes a alguns metros de distância, Emília recriou a foice e Vermelho criou a espada. Eles se olharam e, no mesmo milissegundo, avançaram para lutar.

Chegando muito próximos, Emília desferiu um golpe horizontal, mas Vermelho, rindo, se jogou para trás desviando e gritou novamente:

— RAGNAROK!

ROOAARRRR!!

Ele avançou sobre Emília e a abocanhou, levando-a para cima mais uma vez.

Emília segurou a boca do Dragão, forçando-o a não fechar; ela não podia mais estender aquilo.

Extremamente irritada com a covardia de Vermelho, gritou:

— LUA NOVA! — Mesmo sem a foice, com a mão na boca do Ragnarok, disparou, e a boca do Dragão foi dizimada pelo poder do corte de Emília. Assim que conseguiu puxar sua foice, com um olhar completamente irritado e chegando ao seu limite, gritou novamente, pulando do Ragnarok: — LUA NOVA! — Dando um mortal sobre ele, o destruiu completamente.

SSHHKKKK... BAUUMMM!!

Vermelho se curvou para frente novamente, vomitando ainda mais sangue.

O corte que matou o Ragnarok o acertou, cortando parte de seu corpo e a cabeça.

Do céu, Emília viu-o e, assim que encostou o pé no chão, avançou com tanta velocidade que parecia um teletransporte. Em um milissegundo, percorreu 100 metros e apareceu cortando Vermelho ao meio com sua foice.

Crunch!!

No entanto, algo não estava certo, e ela percebeu tarde demais. Vermelho havia criado uma presença falsa para seu clone.

Embora ele não conseguisse esconder completamente sua presença como Anna e Emília, usou o fato de não conseguir esconder ao seu favor como uma estratégia.

Assim que ela cortou o clone, Vermelho surgiu atrás dela. Mesmo se virando, era tarde demais. Vermelho, confiante na vitória, ainda temia a proximidade dela e não a atacou de perto, mas mandou um corte.

Crunch!

Emília tentou desviar, mas o ataque foi rápido demais, arrancando parte de seu torso e um braço inteiro.

Crunch!

Enquanto caía para trás, ele lançou outro corte que atingiu uma perna e o outro braço.

Ela se regenerou instantaneamente por instinto, mas seu corpo travou.

Pah...

Caindo de joelhos e sem conseguir se mexer, ela sangrava pela boca, sentindo dor em todo o corpo ao mesmo tempo.

Vermelho, muito fraco, caminhou rindo na direção dela, com seus ferimentos ainda se regenerando lentamente.

— Esse é o seu limite? Uma pena.

"Desculpa, Anna..." Com a cabeça baixa e apesar da dor insuportável, Emília se alegrou por alguns segundos, esquecendo toda a dor ao pensar que Anna ficaria bem e herdaria o poder que sempre lhe pertenceu.

Pahf...

Emília caiu para frente, tossindo muito e com dificuldade para respirar.

A chuva de sua "Lua D'Água" cessou, e a enorme Lua Azul desapareceu do céu.

— Até sua chuva parou? Tadinha... Não consegue mais fazer nada? — riu Vermelho, enquanto erguia o rosto de Emília do chão. — Ptu! — Cuspiu, soltando-a e fazendo-a bater a cabeça contra o solo, incapaz de se segurar.

C-crunch.

Ele segurou os dois braços dela e os puxou com força, arrancando-os. A jovem nem reagiu; a dor já era insuportável, e ela apenas ficou ali no chão, com o sangue escorrendo dos novos ferimentos.

Vermelho a observou em silêncio e, em seguida, dirigiu-se ao local onde havia trocado de corpo pela primeira vez para buscar o Livro Sagrado que havia caído de seu sangue.

Após recolocá-lo no sangue, caminhou até os restos dos corpos de Lezze e Ezze e derramou sangue sobre eles, fazendo suas criações retornarem à vida.

Como elas não possuem uma alma verdadeira e são artificiais, se não forem apagadas da existência como Dezze foi pela "Lua D'Água", podem ser recriadas pelo criador a partir de qualquer pedaço de carne que ainda reste de seus corpos.

— Ela é toda de vocês, façam o que quiserem e depois a matem.

— Você nos reviveu? Não pode reviver a Dezze?

— Mesmo sendo minhas criações, ela destruiu a carne e a alma artificial de sua irmã. É impossível recriá-la.

Lezze ficou irritada, franzindo a testa com frustração.

— Nos vemos no palácio.

Um círculo mágico de sangue vermelho em chamas se formou no chão, e Vermelho se teletransportou de volta ao Palácio das Cores.

Lezze avançou irritada na direção do corpo de Emília, mas, de repente, uma pequena lua azul flutuou alguns centímetros acima de sua cabeça, iluminando-a com sua cor.

BO-...

A lua explodiu, mas Ezze entrou na frente, fez o selo com uma mão e absorveu todo o poder, consumindo até o som da explosão.

Emília sorriu.

— Adeus, minha pequena Lua... — Com um sorriso no rosto, deitada no chão e pensando em Anna, evaporou, desaparecendo após perder toda a sua vitalidade.

BOOOMMMM!!

Ezze devolveu o poder na direção do corpo dela, e uma enorme explosão criou uma cratera no local.

Emília já havia se tornado fumaça antes de receber o ataque de volta, mas Ezze não sabia e pensou que a havia matado.

— DESGRAÇADA!... Isso... Isso é pela minha irmã! — exclamou Ezze, olhando para sua irmã chorando ao lado.

— Ela matou a Dezze...

Ezze a abraçou.

Vermelho, muito cansado, apareceu de seu teletransporte diante de Sol, que aguardava sentado em seu trono, com Jeane em pé ao seu lado.

— Matei a garota.

— E onde está o livro?

— Aqui. — Vermelho enfiou a mão em sua coxa e tirou o livro da roupa de sangue.

Sol desceu do trono e pegou o livro das mãos dele.

— Espero que tenha valido a pena. Perdi uma subordinada e estou destruído.

— Ela era forte como os outros disseram?

— Destruiu meu Ragnarok três vezes com um ataque. Doeu muito. Ela não estava com a roupa da Lua; se estivesse, acho que não teria voltado.

Sol o olhou com um rosto sério e sincero.

— Vá descansar.

— Estou precisando mesmo.

Vermelho saiu em direção ao harém e aos quartos do palácio.

Após sair, Sol foi até uma sala onde eram guardados tesouros, como joias e presentes da Deusa em seus nascimentos.

Passou pelo corredor e entrou pela porta que já não existia mais. Ao entrar, viu a sala cheia de vitrines de colares e joias, porém todas vazias. Só havia uma joia ali: um colar dado pela Deusa do Sol à Primordial da Lua.

Além desse item, restava apenas um cálice que Emília não quis levar por achar feio.

Sol passou pelas vitrines e manequins vazios até chegar a um altar sob uma estátua da Deusa do Sol. Então colocou o Livro Sagrado ali, já que Lua não estava mais viva para devolvê-lo diretamente a ela.

Após deixar o livro no altar, se virou e começou a sair.

O livro mudou a cor da capa de azul para amarelo, com as páginas vermelhas, e emitiu um som. Sol ouviu aquele som como se o livro o chamasse.

Lentamente, se virou em direção ao livro, que se abriu sozinho e foi até uma página específica.

O Primordial arregalou os olhos e, mesmo com a sala vazia, procurou freneticamente pelo cálice feito de madeira com oito símbolos gravados, cada um representando uma marca primordial.

Phac!

Colocou o cálice sobre o círculo mágico que o livro havia mostrado. Nesse momento, sangue azul-claro começou a jorrar dentro do cálice, e a marca da Primordial da Lua acendeu em azul-claro, iniciando o ritual. A madeira do cálice transformou-se em ouro, adornada com detalhes magníficos.

— Tem um jeito! — Sol abriu um sorriso enorme ao ver aquilo. ]



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