Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 2

Capítulo 38: Recomeço

Foi uma noite muito longa e intensa para as meninas, mas extremamente difícil para o homem que Nathaly ajudou.

Exausto enquanto a noite caía, se amarrou ao cavalo, confiando completamente sua vida ao animal. Deitado, escutando o som das patas galopando, acabou caindo no sono.

Em seu sonho, a cena de sua família sendo morta voltou a assombrá-lo.

Acordou assustado, já era dia.

Desprendeu algumas cordas para se erguer no cavalo e, ao olhar para frente, avistou grandes muralhas ao longe. Mesmo com o olhar cansado, um leve sorriso surgiu em seu rosto, acompanhado por um suspiro de alívio.

— Obrigado, meu amigo. — Acariciou o cavalo.

Quando chegou aos portões, os guardas o viram se aproximando e deram ordem para parar assim que o cavalo alcançou a metade da ponte.

O cavalo obedeceu instantaneamente, diminuindo o ritmo e caminhando lentamente, afinal, aquele era seu dono.

— É o cavalo que dei à heroína!

O homem, ao chegar, disse:

— A Grande Heroína me salvou. Me mandou vir até Alberg.

— Onde ela está?

— Ela disse que estava atrás da princesa e seguiu viagem para encontrar os sequestradores.

— Como posso confiar em você? — O guarda, receoso de deixá-lo entrar, questionou.

— Eu... Eu vi várias crianças presas, e ela me disse que, ao entrar nas muralhas, eu deveria procurar uma mulher chamada Liza ou um homem chamado Jonas.

— Pode entrar. Mas desça do cavalo.

— Espera... Tem certeza?

— Como ele conheceria Jonas e Liza? E ele está com o seu cavalo, você é burro?

O outro soldado ficou em silêncio por alguns segundos.

— Cara, é só uma moeda de ouro — disse, e seu amigo virou o rosto, ainda incrédulo que o outro não quis dividir 50 pratas para cada.

O homem tentou descer do cavalo, mas gemeu de dor. Continuou tentando, e os guardas perceberam seus ferimentos.

Um deles segurou sua perna para ajudá-lo a permanecer no cavalo.

— Você está muito machucado.

— Eu estaria morto se ela não tivesse cicatrizado a ferida.

— Não precisa descer. Vou puxar o cavalo até o palácio, e lá você desce. Deve ter alguma informação para dar a Jonas, já que a Grande Heroína confiou em você.

"Não é bem assim... Ela só me disse para encontrar esse Jonas." — Sim...


A caminho do palácio, observava o reino.

"Será que vou realmente conseguir uma nova vida? É isso que eu realmente quero?" Na entrada do palácio, o guarda avisou uma serva, e eles aguardaram a permissão do rei para entrarem.

O palácio se encontrava agitado; a princesa havia desaparecido, assim como a Grande Heroína.

A serva voltou e deu permissão para que entrassem.

O homem, mancando, foi ajudado por ela, que o apoiou em seu ombro. Juntos, caminharam até o salão, onde estavam Morf ao lado de Matilda, Jonas à esquerda mais abaixo, e Liza à direita, abaixo da rainha.

Grimore também presente, sem qualquer preocupação, nem mesmo escondendo a satisfação pelos desaparecimentos.

Ao entrar, a serva ajudou o homem a se ajoelhar diante do rei.

— Uma serva disse que você teria informações sobre o paradeiro da Grande Heroína e da minha filha. — A expressão do rei ficava mais rígida a cada dia que passava.

— Sim, majestade... Meu vilarejo foi atacado por sequestradores. Eles estavam com pelo menos uma jaula em uma carroça, carregando algumas crianças. Havia outras cobertas, mas não sei se também continham crianças. Quando a Grande Heroína chegou, já era tarde, mas ela me deixou seu cavalo e foi atrás deles.

— Sabe para onde eles estavam indo? — perguntou Jonas.

O homem virou a cabeça para Jonas.

— Disseram algo sobre ir a outro continente, mas estavam indo na direção da Floresta do Desespero.

"Outro continente?" Jonas ficou intrigado.

— Eu a avisei sobre os perigos, mas ela foi mesmo assim. Se ela conseguiu salvar as crianças, provavelmente voltará com a princesa em menos de uma semana.

"Essa desgraçada ainda está viva?" Grimore voltou a exibir sua expressão desagradável.

— Entendo. Muito obrigado por sua mensagem. Jonas, poderia providenciar o auxílio necessário para que ele se estabeleça no reino?

"Esse é o homem de quem ela falou!"

— Sim, majestade. Vou fazer isso. — Jonas abaixou a cabeça, assim como Liza, e ambos saíram do salão, ajudando o homem a caminhar.

Enquanto andavam pelo corredor, Jonas notou o cachecol dele.

— Você está ferido no pescoço?

— Não... Apenas na barriga.

— De quem é esse sangue no cachecol?

O homem olhou para baixo, triste, e Jonas percebeu.

— ...Desculpe pela pergunta.

— ...Ela me disse para encontrar vocês, que poderiam me ajudar a recomeçar minha vida. Perdi minha família e não consegui protegê-las. Por favor, deixem-me entrar no exército, eu quero ficar mais forte... Eu quero conseguir me proteger.

— Não.

O homem olhou assustado para Jonas.

— Calma... Vou te levar a uma pessoa melhor que o exército.

— ...


Saindo do palácio e pegando uma carona de carruagem, chegaram à prisão de Alberg.

O homem, ainda sem entender, ficou apreensivo ao ver a prisão.

— I-isso é uma prisão?

— Sim. Relaxa, você não vai ser preso nem nada. É que meu mestre está aí dentro.

Apreensivo, o homem não disse nada e apenas seguiu Jonas.

Ao entrarem, encontraram um homem com cicatrizes em ambos os braços, fumando um charuto com os pés apoiados sobre uma mesa. Na parede atrás dele, havia um enorme porrete mágico feito de metal escuro.

Ele olhou para eles enquanto entravam.

O homem de cachecol recuou ao ver o rosto sério do mestre de Jonas.

O mestre se levantou, e seu tamanho intimidou ainda mais o homem. Se aproximou e começou a dar uma leve risada.

— Como vai, garoto? — Segurou Jonas, Frish-frish-frish! e esfregou a cabeça dele, causando-lhe dor.

— Bem... Ai! AII! Chega!!

O mestre deu mais uma risada e soltou Jonas.

— ...Cuidou dos presos que trouxe semana passada?

— ...Uhum. Dei minha sentença. — Olhou para Liza. — E aí, Liza.

— Fala, Bigbig. — Tap! Trocaram um soquinho de mão.

— Até hoje esse apelido?

— Só vou parar de zoar você quando eu morrer. — Liza riu.

— Nem ligo mesmo — disse fazendo uma careta sarcástica.

— Mas e aí... Quem é esse?

— Um homem que eu trouxe para trabalhar com você.

— Trabalhar comigo?

— Ele perdeu a família em um ataque de sequestradores, pelo que disse. Ele deseja ficar mais forte, então eu o trouxe ao melhor professor que conheço: o lendário Dravien, o exterminador de dragões.

Uma leve coceira na mão de Dravien começou a incomodá-lo, e quase resolveu isso com um soco no rosto de Jonas, mas se conteve desta vez.

— Eu nem sou mais conhecido assim.

— Para mim, sempre será — disse Jonas com um sorriso.

Dravien apoiou sua mão no ombro dele e foi apertando lentamente, aumentando a força gradualmente.

— Claro, claro. Já entendi por que o trouxe aqui, mas era só isso? — perguntou Dravien, com um sorriso assustador, olhando fixamente para Jonas.

— P-por hoje, sim. Qualquer dia eu passo aqui para dar um oi.

— Beleza. Tchau para vocês dois.

— Tchau... Exte... — Dravien apareceu na frente dele com o mesmo sorriso de boca fechada, mas com os olhos fechados, encarando Jonas de perto. Olhando para cima, Jonas desistiu de provocá-lo — Mestre!

Ele balançava a cabeça lentamente para cima e para baixo enquanto Jonas e Liza se afastavam, lançando olhares cautelosos em sua direção.

Assim que os dois saíram, Dravien se virou e voltou para sua mesa.

— Consegue ficar em pé sozinho?

— Consigo.

Dravien acendeu seu charuto, encostando-o no porrete mágico.

— Quer?

— Não, senhor. Eu não fumo.

— É. Eu também não fumava — disse, colocando o charuto na boca e se sentando na mesa. Fuuuu... Tirou o charuto para assoprar a fumaça, antes de continuar: — Qual é o seu nome?

— Me escolha um.

— Por que eu deveria escolher um para você?

— Porque eu quero recomeçar.

— Para recomeçar, o seu antigo "eu" precisa ser deixado para trás, e vejo pelo seu cachecol que você ainda não o deixou.

O homem sentiu um misto de irritação e frustração, mas além de desviar os olhos para baixo, não reagiu.

Dravien caminhou em sua direção, pegando algo no bolso.

— Não se preocupe — disse ele, tirando uma pequena caixa do bolso. Dentro dela, estavam os brincos derretidos de sua falecida esposa. — Eu também não recomecei minha vida depois de perdê-las.

— O que aconteceu com sua família? — perguntou o homem, erguendo bastante o rosto para encarar Dravien e observar os brincos.

— Minha casa foi atacada por um dragão, e eu estava voltando do trabalho naquele dia. Quando cheguei, ele já estava um pouco longe, e eu não consegui fazer nada. Entrei correndo na casa em meio ao fogo e peguei o corpo da minha mulher e da minha filha, ainda em chamas. Eu as abracei, mesmo sabendo que já estavam sem vida. — O homem se lembrou de si mesmo abraçando sua esposa e filha, e olhou para o seu braço direito, queimado devido a isso. — Naquele dia, jurei acabar com todos os dragões. Minha vida se tornou apenas ficar mais forte e matá-los um por um, caçando-os como se não houvesse amanhã.

— E você conseguiu o que queria?

— No início, parecia que sim. Mas, com o tempo, percebi que não importava quantos dragões eu matasse; minha esposa e a minha filhinha nunca voltariam. Foi então que, um dia, incapacitei um dragão, mas decidi não matá-lo. Em vez disso, usei o fogo de sua boca para acender meu charuto e o soltei. Quando me virei, havia uma criança com um sorriso de ponta a ponta vendo aquilo. Essa criança é o Jonas, que o trouxe até mim. Naquele dia, ele viu o que aconteceu e me implorou para treiná-lo, porque queria proteger as pessoas um dia. Com isso, meu propósito de vida mudou. Eu o tive como um filho, tentei ensiná-lo tudo o que sei e deixá-lo forte para enfrentar a vida. Eu não sou o melhor exemplo e nunca quis que ele me visse como um espelho. Ele sabe que somos diferentes; sua forma de pensar é completamente diferente da minha. Mas ele entende o meu lado, e isso o fez ser o homem que é hoje.

— ...

— Você não precisa esquecê-las. Você não tem um propósito de vida agora, mas vou tentar ajudá-lo a encontrar o seu. Olhando para você, vejo o que eu era no passado: um homem com muito ódio e rancor no coração, querendo sangue. Posso te deixar forte e, se desejar descontar todo o seu ódio em criminosos, deixo as interrogações para você. Mas antes, preciso saber duas coisas.

— O quê?

— Qual é o seu nome e o que está disposto a fazer para viver?

— Meu nome é Salazar e... estou disposto a fazer qualquer coisa que me ordenar... Mestre — com um rosto confiante, Salazar respondeu.

Drevien puxou por alguns segundos, Fuuuuu... e soltou a fumaça de seu charuto, olhando para ele.

— Seja bem-vindo, filho.



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