Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 2

Capítulo 39: Por Favor, Me Ajuda

Naquela mesma manhã, Nathaly acordou nua no colo de Nina, que a abraçava apoiada com as costas na grande árvore.

Quando Nathaly começou a se mexer, Nina também acordou, abrindo lentamente os olhos. Nathaly virou um pouco o rosto e a viu.

— Bom dia.

Mwah!

Nathaly deu um selinho lento em Nina.

— Bom dia.

— Dormiu bem?

Nathaly soltou uma leve risada em meio a um bocejo.

— Nem dormimos direito — respondeu, enquanto era abraçada e olhava para a ponta da colina.

Mwah-muamuamua-mwwwah!

Nina deu alguns beijinhos no pescoço dela, onde havia a única peça de roupa que Nathaly permaneceu usando, sua gargantilha.

— Bora voltar antes que percebam que sumimos.

— Tá.

Nathaly foi se levantar e foi envolvida em uma grande bolha de água por dois segundos.

Nina já havia criado suas roupas de sangue e, nesse meio-tempo, deu um rápido banho em Nathaly e a secou.

— Espera.

Nathaly a olhou. Nina tentou usar magia da natureza para criar uma mesa, mas não conseguiu.

"O animal que matou ele." Nina não havia se misturado com Nino para pegar o poder de Verde, então criou uma mesa com o seu sangue, já que pedra seria desconfortável.

Nathaly se sentou e suas roupas também foram lavadas por Nina, removendo todo o cheiro.

Nina pegou a calcinha de renda preta dela e começou a passar pelas pernas carinhosamente, vestindo-a. Nathaly apenas permitiu. Nina a vestiu peça por peça, alisando seu corpo e sentindo a maciez dela.

Após colocar tudo, por fim, colocou a meia em seu pé e encaixou o tênis preto de cano alto.

Após vesti-la, curvou um pouco o rosto sobre ela e, em agradecimento, Mwah! Nathaly a beijou.

— Vamos? — Nina estendeu sua mão.

— Sim. — Nathaly a segurou e se levantou da mesa.

Voltaram para a casa de Anna rapidamente e abriram a porta sorrindo com uma leve risada.

Assim que olharam para frente, encontraram Nino, Anna, Clarah e a Princesa Aurora sentados à mesa.

Nino, Clarah e Anna olharam para as duas com a mesma careta sarcástica.

— Iiiiiiiii! — zoaram juntos.

Aurora, no meio deles, em pé na cadeira por não alcançar a altura da mesa, mexia a cabeça olhando para elas sem entender nada. Nina e Nathaly não disseram nada, apenas ficaram um pouco envergonhadas.

Nesse momento, Nino se levantou e foi em direção a elas.

— É esse casalzinho aí?

Nina ficou com raiva, mas Nino chegou abraçando as duas.

— Estou muito feliz, amo muito vocês.

Nina, que não o abraçou de volta, colocou a cabeça no ombro dele com um semblante irritado.

— Tá, tá, agora sai.

— Nossa, que grossa.

Mudando de assunto, Nina perguntou:

— O que tá acontecendo? Quem é essa garota?

— Essa criança tá dizendo ser a princesa de um reino.

— Sim, é a princesa de Alberg. Estava procurando por ela.

— Ela é a grande heroína — Aurora apontou para Nathaly.

— Grande heroína? — Nino não entendeu.

"Grande heroína? Está certo isso? Um primordial namorar a grande heroína?" Clarah ficou confusa.

— Eu também não entendi direito... Mas, princesa, por que você saiu do palácio?

— Eu fiquei com medo.

— Medo de quê?

— Eu vi a mamãe conversando com um homem, só com roupa azul, e ela disse que ia me mandar junto com outras crianças para serem abusadas.

"Primordial Azul?" — Como assim? Lembra de mais alguma coisa?

— Disse que são muitas crianças, mas que ela iria conseguir.

Nathaly lembrou de Jonas falando sobre um tratado de paz.

— Mais alguma coisa?

Aurora balançou a cabeça, negando saber.

— Não. Eu saí correndo e entrei dentro de uma carroça. Aí homens maus me colocaram com outras crianças depois.

— Não entendi nada — disse Anna, enquanto bebia seu suco natural preferido de café da manhã com pão doce.

— Um amigo meu disse... — Nathaly viu Nina a encarando com uma expressão brava. — Um amigo meu que tem noiva disse... — Nina abriu um sorriso amigável. — ...que o rei e a rainha tinham um tratado de paz com os primordiais, mas ele não sabia qual era o pagamento do acordo. Pelo que a princesa disse, são crianças... E a rainha está envolvida diretamente.

— Olha, se eu é essa retarda ao meu lado aqui — Nina o olhou com desdém. — usamos só preto por gostar de preto e também ser o Primordial Preto. Esse imbecil que estava com a rainha deve ser o Primordial Azul.

— Descobriu isso sozinho, gênio? — provocou Nina.

Nino respirou fundo e voltou a dizer:

— O que eu quero dizer é; se ele foi conferir algo, é porque já tá próximo da hora da coleta. Crianças em troca de paz? É isso? Não entendi o lance do tratado, mas deve ser isso.

— Sua cabeça faz eco, né?

Nino encarou Nina com desdém e ela devolveu o mesmo olhar.


Jaan, sentado no corredor dos quartos, próximo à escada, escutava toda a conversa.


— Preciso voltar o mais rápido possível, não posso permitir que isso aconteça — disse Nathaly.

— Nino, vem comigo no quarto rapidão.

— Hãm...? — Nina o puxou, subindo as escadas.

Jaan escutou e correu, sem fazer barulho, até seu quarto.

Nina entrou com Nino no quarto dela e fechou a porta.

— Vai só você e a Nathaly nisso.

— Por quê?

— Imagino que vocês precisem conversar, já que ela, por um tempo, achou que eu era você.

— Tem certeza disso? — Nino foi encostar em Nina e eles acabaram se misturando sem querer.

Ambos balançaram a cabeça apavorados com o que viram. Nino deu um pulo para trás e ficou olhando para Nina com um semblante de nojo.

— Que é isso? Vocês são duas taradas, nossa, deu ânsia ver isso. 

— E você acha que eu gostei de ver essas cenas de você e a Anna, seu retardado? Porra, parecia que eu tava comendo a Alissa — Nina olhou para ele com raiva.

— Ela não tem nada a ver com a Alissa, capeta!

— Como que não?! Esquece. Finge que isso nunca aconteceu e bora tomar cuidado para não nos misturarmos de novo.

— É fácil falar quando a única coisa que eu quero é arrancar meus OLHOS, puta merda.

— Pelo menos posso fazer fogo azul agora. — Criou chamas azuis em sua mão. — Ué? É gelado isso.

— ...Quando matei aquele moleque, eu esperava que fosse mais legal esse fogo, mas só é mais bonitinho mesmo. Basicamente é um atalho; ao invés de misturar gelo e fogo, usa ele direto, mas é bem inútil, sério, nem pra iluminar direito essa merda serve, vai por mim. Mas é isso, tô vazando, vejo você em alguns dias então.

Nino se virou indo até a porta, e Nina segurou sua mão.

— Não faça nenhuma merda — disse, bem séria.

— Não foi apenas um sonho, né? — Nino se virou para ela.

— Não me misturei só com você. Tem alguma coisa aí. — Colocou as mãos no rosto dele, virando-o para ela. — Olhe nos meus olhos... Olhe bem no meio dos meus olhos. Se descobrir algo sobre essa tal Morte, você vai me contar ou contar pra Anna. Não faça nada sozinho... Você escutou? — Nina ficou muito preocupada com o seu irmão.

— ...Fica tranquila, eu vou falar. Mas... O problema é falar que tem uma mulher dentro de mim. Antes mesmo de eu acabar a frase, a Anna já teria me matado — disse de uma maneira engraçada e Nina não aguentou, tirou as mãos das bochechas dele e começou a rir.

— Verdade... Mas, Nino... Por favor, não faça nenhuma besteira sozinho, ok?

— ...Vou tentar.

— Não quero que tente. Quero que me prometa. — O encarou séria e brava.

"Tava rindo agora, fi duma égua, bipolar dos inferno." — Prometo.

Nina levantou a mão para dar um soquinho. Nino olhou, Tap! e deram um soquinho de mão.

Descendo as escadas, Nina disse:

— Nathaly, o Nino vai ajudar com isso que tá acontecendo nesse tal reino.

— Um homem todo de azul é com certeza o Primordial Azul. Até poderia ser outra pessoa, mas sinceramente, não faria sentido, já que tem isso do tal tratado — disse Clarah.

— Relaxa... Eu venço.

Anna ficou emburrada.

— Vão ir de cavalo?

— Não. Não sabemos quanto tempo temos. Eu cheguei até aqui correndo, seguro a Aurora e corremos até Alberg.

— Vocês são malucos, é mais de dias de viagem a cavalo — retrucou Clarah.

— Somos muito mais rápidos que cavalos. Ainda tá de manhã, talvez cheguemos hoje à noite se sairmos agora.

"Faz sentido." pensou Clarah.

— Nã... — Nina tampou a boca de Anna para ela não falar nada.

Anna ficou com os olhos meio fechados, desanimada.

— Então é melhor saírem agora, né...? — perguntou com um sorriso forçado.

— Já comeu, princesa?

— Já! — respondeu com um sorriso fofo para Nathaly.

— Então vamos.

Já fora da casa, Nina permaneceu segurando Anna lá dentro.

— Princesa, pra chegarmos mais rápido, vamos correr um pouco. Se você ficar enjoada, me aperta que eu paro.

Aurora olhou para Nino e balançou a cabeça afirmativamente.

— Tá bom!

Se despediram da vila e começaram a correr. Nino segurou Aurora nos braços, seguindo Nathaly.

— Aaaaaaaaaaa....

Como ele era muito rápido, Aurora ficou com a boca aberta, gritando meio tonta durante todo o percurso.

Depois que saíram, Anna parou de fazer birra.

— Eu vou lembrar disso aí. — Olhou para Nina com um olhar ameaçador.

— Hehe... — Voltou uma risadinha com um sorriso forçado, olhando-a.


Jaan, em seu quarto, sentou-se à frente da mesa.

Pensando muito se deveria fazer o que precisava, uma lágrima caiu e ele parou de hesitar. Levantou a palma da mão e uma folha de sangue do sol se formou. Ele a colocou sobre a mesa e, enquanto pensava, palavras foram sendo escritas neste papel.

"Pai, o Primordial Preto vai interferir no tratado de Rosa com Alberg. Ele está indo junto com a Grande Heroína para lá. Estou na vila que eles lideram na Floresta do Desespero, próximo à antiga escola do Primordial Verde, já que foi destruída e ele morreu. Entrando pelo leste, não muito longe da borda. Tem demônios e alguns humanos aqui. Não há ninguém forte, então, caso queira atacá-los e tirar tudo que ele tem, será fácil! De seu filho. Assinado: Jaan."

Com lágrimas agora caindo do seu rosto, deixou informações erradas na carta.

Não hesitou totalmente, mas naquele momento, era como trair dois lados ao mesmo tempo.

Foi até a janela do quarto e, quando olhou por ela, viu Minty muito adiante, ainda treinando sem parar, sem camisa, tentando controlar mais do seu sangue para criar mais do que apenas pequenas garras de sangue. Entretanto, ele não conseguia.

Era visível a diferença dos treinos em seu corpo, que ficou mais forte, mas em termos de manipulação de sangue, era impossível. Ele era um demônio comum, não mais que isso. Naquele momento, o certo era treino físico ou mágico.

Manipulação de sangue é algo com o qual se nasce. O demônio até pode controlar totalmente, mas apenas se se tornar o novo primordial da sua linhagem. Jaan olhou para ele e seu coração apertou pensando em enviar aquela carta. Mas ele apenas fechou os olhos e estendeu a mão, fazendo um pássaro de sangue do sol surgir e brilhar nela.

O pássaro segurou a carta e saiu voando.

Após alguns segundos, desmaterializou-se em meio aos raios solares.

Não demorou muito e o pássaro se materializou à frente do trono do Primordial do Sol no Palácio do Sol.

Tudo naquele salão era de acordo com o seu sangue. Todos os desenhos no teto e nas paredes, embora representassem todos os primordiais, foram pintados em sangue amarelo. Todos os detalhes eram sem exceção em amarelo-claro e quartzo branco.

A única cor que se diferenciava era a mulher presente de pé ao lado do trono; seu vestido simples era em azul-claro e seu cabelo era branco com algumas mechas em ciano. Embora seus olhos fossem amarelo-claro, assim como os de Jaan.

Sol olhou para o pássaro, estendendo um dedo. O pássaro pousou nele. Assim que retirou a carta, o pássaro se desmaterializou e Sol começou a ler.

— O que é isso, meu senhor?

— Uma carta de Jaan.

— O que está escrito?

— Algo que não te interessa, Jeane.

Jeane abaixou a cabeça ao lado do trono.

— Desculpe.

"Isso pode ser interessante. Enquanto ele luta com o Azul, eu envio o Vermelho para exterminar o resto da escória nessa floresta. Ao voltar e ver tudo destruído, ele vai caçar o Vermelho, matando ou morrendo; é apenas vantagem, só facilita as coisas." Sol começou a rir, e Jeane olhou de canto de olho para ele.

"Só não machuque mais meus filhos... Por favor." pensou Jeane, com um profundo medo das risadas.



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