Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 2

Capítulo 36: Onde Você Está? (2)

Na manhã seguinte, os contrabandistas passavam por um vilarejo e decidiram parar por lá.

O vilarejo era pequeno, composto por poucas casinhas ao longo de uma estrada. Estavam em festa, pois uma moradora comemorava seu aniversário.

Com um enorme sorriso, um morador antigo cumprimentou os contrabandistas ao perceber a chegada de visitantes:

— Bom dia! Como posso ajudá-los?

O chefe, ao lado de seus três aliados, respondeu:

— Estamos com fome. Vocês têm comida aí?

Apesar da aparência estranha e da forma rude como falavam, os moradores, que não tinham maldade em seus corações, não perceberam o perigo.

— Estamos organizando o almoço da vila agora. Se quiserem esperar um pouco antes de seguir viagem, vocês podem comer conosco. — Com um sorriso no rosto, o morador os convidou.

— Fariam essa gentileza? — riu o chefe.

— Sim. Gostamos sempre de ajudar o próximo, assim como já fomos ajudados outras vezes. Decidimos passar a bondade adiante sempre!

— Que gentil da sua parte. — O terceiro deu um sorriso estranho, com os dentes sujos e um hálito horrível.

Sem julgar, o morador voltou a se juntar aos outros para continuar preparando o grande almoço de comemoração.

O chefe e seu grupo esperaram o almoço ficar pronto, enquanto cobiçavam as mulheres que riam e preparavam a comida.

Os homens faziam uma faixa para estender entre duas casas, com o nome da aniversariante, e decoravam todo o lugar.

— AAAAAAH!!

Uma moradora, passando ao lado das carroças, ouviu algo de dentro de uma das carroças cobertas com um pano.

Assim que levantou um pouco e viu as crianças presas, gritou alto, com um semblante de terror.

Todos os moradores presentes olharam para ela, que tirou o pano, revelando as crianças a todos.

Nesse momento, os contrabandistas puxaram suas espadas e começaram um massacre no vilarejo, matando a sangue frio todas as pessoas.

O segundo começou a abrir círculos mágicos por toda parte, ateando fogo em diversas casas.

Um homem correu para sua casa, feita inteiramente de pedra, e tentou barrar a porta com móveis para trancá-la, mas não foi suficiente.

BUM!

O segundo explodiu a porta e os quatro entraram na casa.

Lá, encontraram uma mulher abraçando uma criança. O homem tentou atacá-los com uma espada em silêncio, mas não conseguiu.

Ploch!

O chefe, ao notar uma sombra se movendo, virou-se e empalou o homem com um espada.

Sua esposa berrou:

— NÃOOOO, POR FAVOR!

Caído e sangrando no chão, o homem apenas conseguia olhar para sua família.

O primeiro tirou a criança dos braços da mãe.

Ela, chorando ajoelhada, implorou aos ladrões:

— Por favor, deixem minha filha! — A mulher encostou a cabeça no chão.

O homem observava tudo, sem poder fazer nada.

O chefe, segurando a criança e olhando para seu rosto, notou uma deficiência que a tornava diferente das outras.

Ela era muito pura, não entendia tudo aquilo e nem por que sua mãe chorava, sempre com a mesma expressão serena.

— Essa criança é feia demais, não dá nem para vender como brinquedo.

Ploch...

Enquanto a segurava para cima, enfiou uma faca no pescoço dela, cortando a criança.

Pah...

Soltando o corpo, ela caiu morta na frente da mãe, manchando o cachecolzinho que usava de sangue. A mulher chorou desesperadamente.

— Alguém aí quer brincar com essa coisa?

O homem começou a chorar enquanto segurava seu ferimento, tentando estancar o sangue.

O terceiro olhou para o chefe e respondeu:

— Melhor não, chefe. Perdemos muito tempo aqui. O comprador vai ficar puto se não chegarmos em nove meses. Se o porto estiver cheio de filhas da puta, vai ser difícil chegar no continente nesse tempo.

O chefe olhou para ele.

— Finalmente algo de útil saiu dessa sua boca. Queime-a e vamos embora.

O segundo, enquanto ria, criou um círculo mágico à frente da mulher.

Ela não reagiu inicialmente, já destruída emocionalmente, apenas aceitou enquanto olhava para seu marido. Logo em seguida, o segundo a ateou fogo.

Brruucfh!

— AaaaAAaaAHRRgGgHh!

Gritava em agonia enquanto o grupo saíam da casa.

— Deixe esse idiota sangrar até a morte. Talvez ele bata uma sentindo o cheiro da mulher queimando. Hakarakaka! — Rindo, o chefe saiu com seus aliados atrás.

Após roubar bastante comida semipronta do almoço, pegaram suas cargas e continuaram a viagem.


Mais à frente, o terceiro olhou um mapa.

— Chefe, se seguirmos por aqui, vamos parar em uma floresta conhecida como Floresta do Desespero. Esse lugar não é perigoso?

— Tá com medinho? Nós somos o perigo aqui! Hakarakaka! — O chefe começou a rir, e quando o terceiro viu todos rindo, acabou se deixando influenciar e começou a rir também.

— Tem razão, chefinho.


Nathaly passou a madrugada e o início da manhã seguindo a estrada.

Depois de muitas horas, finalmente chegou ao vilarejo e começou a andar lentamente a cavalo, observando as casas destruídas e a fumaça que ainda pairava no ar, embora algumas casas já tivessem parado de queimar.

Observando tudo ao seu redor, seguia pela estrada.

"O que aconteceu aqui?" pensou, passando por vários corpos queimados e cortados até ouvir um barulho vindo de uma casa.

Desceu do cavalo e entrou na casa, com a Hero em mãos.

Ao entrar, viu um homem abraçando uma criança morta e uma mulher completamente carbonizada. Ele, com um semblante destruído, olhou para ela.

"Heroína?" — O que você quer aqui, garota? — com dificuldade para falar, perguntou cabisbaixo.

— O que aconteceu aqui?

Antes de começar a responder, o homem deu uma leve risada de dor, abaixou a cabeça e então respondeu, ainda apertando sua família morta nos braços:

— ...Estávamos em festa quando chegaram quatro homens em cavalos com carroças. Como sempre, recebemos as visitas de braços abertos e oferecemos nossa comida a eles, pois estavam com fome. Depois disso, eu saí para ajudar as mulheres na cozinha, cortando as carnes para elas prepararem. Um tempo depois, ouvi um grito de uma amiga e, quando olhei, vi uma jaula cheia de crianças...

"Devem estar com a Aurora."

— Foi quando eles começaram a matar todos os moradores com suas espadas. Um deles sabia magia e ateou fogo em tudo. Eu... Tsc... — deu uma leve risada, com um sorriso de dor — Eu, com medo, corri para minha casa tentando proteger minha família — a frustração bateu mais forte e ele começou a lacrimejar — mas eles explodiram minha porta. Tentei atacá-los com uma espada que uso para esfolar animais, mas não sei lutar. Eles me esfaquearam e depois — começou a chorar muito, tentando ser forte — pegaram minha filhinha. Ela tinha uma deficiência. Não era culpa dela; ela era minha menininha. Por que esses covardes fizeram isso? A seguraram como se fosse um objeto, uma mercadoria, e depois, ao verem que ela não era normal, a mataram — com raiva, enquanto chorava, continuou: — Eles queriam abusar da minha mulher, mas um dos homens disse que precisavam seguir viagem para chegar em nove meses a um tal continente e depois atearam fogo nela! — gritou um pouco e sua ferida se abriu novamente, voltando a sentir uma intensa dor.

Nathaly, sem reação, não conseguiu dizer nada por alguns instantes. Então, foi sincera e respondeu:

— Eu... Eu realmente não sei o que você está passando, toda a dor que você está sentindo. Seria uma hipócrita se falasse que entendo ou sinto muito. Mas posso lhe prometer uma coisa: me diga para onde eles foram, e eu destruirei eles com minhas próprias mãos. — Nathaly ergueu e olhou para sua mão em chamas.

— Eu não sei ao certo. Mas... Eu os vi indo para a esquerda, em direção à Floresta do Desespero. Mesmo que você os alcance, eles vão enfrentar a morte se chegarem perto daquele lugar maldito.

— É perigoso lá?

— Muito... Ai ai! — colocou a mão sobre o ferimento na barriga, que voltou a sangrar. — A única coisa que quero é que eles sofram muito antes de morrer. — Seu coração enchia de ódio e rancor.

— Isso deve doer um pouco.

— Ahn?

Nathaly colocou sua mão em chamas sobre a barriga dele, que começou a gritar de dor.

Tsssss...

Aaaarrrrh...

Colocou um pano em sua boca e, enquanto ele gritava agonizando, cicatrizou a ferida.

Depois que terminou, ele ficou respirando ofegante por um tempo.

— Vou até eles. Tem um cavalo lá fora; vou deixar ele para você. O pegue e vá até Alberg. Quando chegar lá, diga que a Grande Heroína o enviou. Depois procure por uma dessas duas pessoas: Jonas e Liza, eles vão te ajudar.

— E como você vai chegar até eles sem cavalo?

— Eu não preciso de um cavalo. Só estava com um porque estou procurando a princesa que foi sequestrada, provavelmente por esses caras que você disse. — Começou a andar em direção à porta e se virou. — Espero que consiga recomeçar sua vida.

O homem, com um olhar desanimado, desviou o olhar para o seu braço queimado, depois de ter segurado sua mulher por tanto tempo enquanto queimava.

Nathaly saiu da casa, o deixando sentado ali. Olhou na direção que ele indicou e começou a correr em direção à Floresta do Desespero, rasgando o chão com um rastro de fogo dourado.


Após sair, o homem refletiu sobre suas palavras:

"Espero que você consiga recomeçar sua vida."

Voltando a chorar, olhou para sua família morta.

Virando o rosto, viu sua espada caída no chão. Pegou-a e a colocou em seu próprio pescoço.

Com a lâmina encostada, teve um turbilhão de pensamentos:

"Você é um inútil! Incapaz de proteger quem ama." "Vai ficar com medo agora? Acha que merece viver?" "ELAS MORRERAM POR SUA CULPA!"

— AAAAAAAAAAARRGHH! — gritou desesperado, chorando intensamente.

De repente, parou de gritar.

Tink, tink...

O som da espada quicando no chão ecoou na casa.

Ajoelhado, entre lágrimas, murmurou:

— E-eu não consigo... M-me desculpa... Me perdoa...

Com um berro de desespero, sentindo medo:

— POR QUE ME DEIXARAM VIVO!... — Pah... ele caiu para frente, apoiando a cabeça no chão, Pha-pha-pham!  e dando socos contra o piso. — Por que... Por que não me mataram também?


Passou um bom tempo desde aquele momento no mesmo dia.

"Tem um cavalo lá fora." "O pegue e vá até Alberg." "Jonas e Liza, eles vão te ajudar." "Espero que consiga recomeçar sua vida."

O homem acordou de seu pesadelo, levantando-se ao lado de sua família morta. Pegou o cachecol ensanguentado de sua filha e o colocou em seu pescoço. Saindo mancando da casa, com a mão na barriga, viu o cavalo, mas não o pegou imediatamente.

Primeiro, foi até onde o almoço ia ser preparado e procurou algo ainda comestível. Após pegar algumas frutas, comeu.

Olhando para o cavalo, falou com ele enquanto dava uma fruta para o animal comer:

— E aí, amigão, vai ter que me ajudar, né? Não sei como fazer isso...

Mesmo sem certeza, conseguiu virar a rédea do cavalo na direção de Alberg e, com dor, conseguiu montar. Meio inclinado para a frente, seguiu viagem.


À medida que o anoitecer se aproximava, os contrabandistas se aproximavam cada vez mais da Floresta do Desespero.

— Se contornarmos a floresta, vamos levar mais dias para chegar. Se continuarmos por dentro, talvez possamos reduzir o tempo de viagem.

— Então vamos seguir por dentro — decidiu o chefe, descendo do cavalo. — Verifiquem tudo, não quero perder nada no meio do mato.

Todos desceram e começaram a conferir o carregamento.


Nathaly, correndo muito rápido, avistou-os ao longe e intensificou sua corrida.

— Está tudo certo aqui... — comentou um dos contrabandistas.

— Aqui também... — confirmou outro.

Mas então, uma terceira voz, não reconhecida, interrompeu:

— O que é isso aqui?

Nino apareceu ao lado do chefe e levantou um pouco o pano da jaula.

Todos ficaram paralisados com a presença de Nino, incapazes de mover um músculo.

Nenhum deles sabia detecção de presença, mas diante de um primordial, isso se tornava irrelevante.

Nino levantou o pano e viu crianças aterrorizadas.

Seus olhos exalavam um ódio profundo enquanto ele fixava o olhar no chefe, ao seu lado, tremendo de medo. O chefe tentou desembainhar sua espada, mas já encontrava-se morto. Todos haviam sido cortados no instante em que Nino chegou.

Pah-pa-pah-pah...

Os cortes foram tão precisos que os corpos só caíram mortos após se moverem um pouco.

"Magia diferente essa." pensou Nino, ao ver um círculo mágico se formando à sua frente antes do segundo contrabandista morrer de fato.

Nina apareceu ao lado de Nino, olhando para o interior de outra carroça.

— Aqui tem comida e tecidos. Bora levar tudo isso pra vila.

— E aqui tem... crianças.

— Hã? — Nina correu até Nino e viu as crianças na jaula.

Nesse momento, ouviram um grito ao longe:

— EIIII!! GENTEEE!! — Nathaly gritava, com um grande sorriso no rosto.

Nina virou-se rapidamente e, ao avistá-la, abriu um sorriso radiante e correu em sua direção.

Pulou e abraçou Nathaly com alegria.

Nino, com um sorriso, se voltou para as crianças na jaula.

— Vou levar vocês para um lugar seguro e depois soltá-los, tudo bem?

As crianças, ainda com medo, não responderam.

Nino segurou a corda dos cavalos e começou a conduzi-los em direção à vila, guiando-os para dentro da floresta.



Comentários