Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 2

Capítulo 35: Onde Você Está? (1)

Nathaly entrou no salão e viu o rei sentado ao trono, com a rainha ao seu lado.

No início da escada, à direita, Grimore conversava com Morf, com uma bandagem no nariz, acompanhado de três soldados pessoais e alguns amigos oficiais responsáveis pela segurança das áreas mais nobres, além das patrulhas realizadas pelo próprio exército.

À esquerda, Jonas e Liza escutavam a conversa.

Todos olharam para Nathaly quando ela entrou. Esta, encarou fixamente a rainha, que, desconfortável, desviou o olhar.

"Essa mulher tá envolvida nisso..." — Mandou me chamar?

O rei respondeu, com suas expressões travadas, quase sem movimento, apenas mexendo a boca:

— Sim, Grande Heroína. Minha filha, Aurora, desapareceu. Gostaria de pedir sua ajuda nas buscas.

— Eu já estava indo fazer isso — respondeu, olhando para a rainha. Em seguida, voltou um olhar sério para o rei.

— Entendi — respondeu abaixando a cabeça. — Por favor... encontre-a.

"Ele abaixou a cabeça para essa desgraçada?!" Grimore não aceitava isso, mas decidiu não reagir.

Nathaly não respondeu, apenas se virou e saiu do salão, olhando discretamente para Jonas e Liza; os dois entenderam e a seguiram depois de um tempo.

Nos corredores, eles a alcançaram.

— Quando nos falamos pela última vez?

— Ontem à noite, na fonte.

— Então eu só dormi por uma noite — murmurou aliviada, respirando fundo.

— As empregadas voltaram. O que você fez?

— Vamos até a fonte. Ainda não confio neste lugar.


Chegaram à fonte:

Nathaly sentou-se na borda da fonte, enquanto Liza e Jonas ficaram em pé à sua frente.

— Ontem matei a serva de branco.

— Ela disse algo?

— Disse. Eu pensei que ela seria um Primordial, mas ela disse "minha mestra precisa de você viva", então descartei essa possibilidade. Agora, não sei quem pode ser essa mestra.

— A rainha, talvez? — sugeriu Liza.

— Não sei. O poder dela era rosa, e quando enfiei a espada nela, essa foi a cor que sangrou. Existe um Primordial rosa, então acho mais provável que seja ele.

— Ela pode estar em contato com ele.

— Sim.

— Eu não entendo... Com o desaparecimento da princesa, só consigo pensar: "O que eles querem com ela?" — disse Nathaly, apoiando as mãos no apoio de cristal branco da fonte e olhando para o céu.

— Não sei. Mas precisamos descobrir logo e impedir — respondeu Jonas.

— Minha vontade é simplesmente matar a rainha e acabar com isso — disse Nathaly, abaixando a cabeça e olhando para eles novamente.

— Bem-vinda ao clube, estou querendo isso desde que fiz 18 anos — disse Liza.

Jonas deu uma leve risada com o comentário dela.

— Quantos anos você tem?

— 40.

Nathaly a encarou com um olhar entediado.

— Você não parece nem ter 30, 25... para de mentir.

— ...Oh, obrigada — Liza respondeu com um sorriso ao elogio, mas mal sabia que Nathaly realmente acreditava que era mentira e a achava muito jovem.

Jonas olhou para elas e voltou ao assunto principal:

— O problema é que a rainha está apenas agindo de forma estranha, mas não temos provas concretas. Matar uma rainha não é tão simples; o reino ficaria contra você. Como você explicaria que a pessoa mais importante do reino foi morta? Você até pode salvá-los, mas como eles saberiam que foram realmente salvos? Só causaria uma confusão — ponderou Jonas.

— Que saco, deixa isso pra depois — disse levantando-se. — Vamos nos dividir. Alguma ideia de onde ela pode ter ido?

— Nenhuma. Sugiro que eu vá para o norte, Jonas para o oeste, e você para o sul do reino em busca dela.

— Isso deixa um buraco. Quem vai para o Leste?

— Grimore e seus soldados foram para lá. Antes de você entrar no salão, disseram que, como é uma área pobre, eles são mais eficazes na busca.

— Quem é esse?

— O general do exército.

— "Pobre"?

— Sim. Ruas cheias de casas de prostituição, um lugar onde não há apenas humanos, como no Oeste, Sul e Norte. Lá, há uma mistura de raças, alguns demônios de diferentes descendências que não têm onde viver pedem permissão para entrar no reino e são mandados para lá, tornando-se o lugar mais perigoso do reino. Espero que Aurora não esteja lá.

"Por que aquele cara iria querer ir logo pra lá? Ele realmente quer procurar a princesa?" — Não confio no general.

— Eu também não — respondeu Jonas.

— Você comanda alguns soldados?

— Não. Apenas ele. A maioria dos soldados foi mandada para a zona leste; o restante está trabalhando normalmente, patrulhando ruas ou guardando entradas dos lugares mais ricos.

— Como vou ficar com o sul, primeiro vou até o portão das muralhas ver se alguém saiu de ontem para hoje.

— Entendido. Ao anoitecer, nós três nos encontramos aqui.

— Ok.

— Beleza.

Os três se separaram e começaram a busca.


Aurora dormia enquanto a carroça viajava, mas acordou lentamente, ainda sonolenta, quando a carroça derrapou e parou bruscamente. Sccrrrchh... Logo, começou a escutar gritos, tanto do cavalo quanto do homem que guiava a carroça.

Com muito medo, abraçou a Sra. Pompom com força, abaixando a cabeça.

A mercadoria foi roubada por um grupo de quatro contrabandistas.

Após matarem o homem a sangue frio, abriram a porta da carroça e se depararam com várias caixas de tecidos variados.

— Tirem as coisas e olhem no fundo; as coisas mais caras ficam lá — ordenou o chefe, rindo, enquanto caminhava até o cavalo do homem morto.

Ao passar pelo cadáver, Phah... o chutou, soltando uma risada estranha.

Começaram a retirar as caixas, e Aurora ficou cada vez mais assustada, até que um dos contrabandistas a viu.

Com um sorriso horrível, gritou para o chefe:

— CHEFE! Achei algo interessante aqui!

O chefe, que examinava os dentes do cavalo, ouviu e se dirigiu à parte de trás da carroça coberta. Ao chegar lá, viu Aurora encolhida em um canto, segurando sua boneca com medo.

— Hakarakaka! A roupa dela parece ser de burguesa.

— Ela se parece com a princesa de Alberg... Será que é ela? — perguntou o terceiro contrabandista.

— Não sei, nunca entrei naquele lugar.

Aurora, encolhida de medo, começou a chorar quando o chefe se aproximou. A agarrou pelo braço, Sccrrrchh... e a arrastou para fora da carroça como se ela fosse um objeto qualquer.

Segurando-a no alto com uma mão, levantou seu rosto com a outra para examiná-la.

— Roupinha de princesinha, rostinho bonito e dentes saudáveis, C

— Ela vai valer uma fortuna. Que sorte, chefe.

O segundo contrabandista começou a olhar para ela de maneira perturbadora.

— Deixa eu tirar a roupa dela, chefe?! — Começou a tocá-la, o que fez Aurora chorar ainda mais.

Pá!

— Para com isso, idiota. Virgens valem mais. Coloca ela junto com as outras.

O segundo voltou seu rosto para frente e levantou o pano que cobria uma jaula cheia de crianças humanas e demônios. Segurando Aurora de forma brusca, Pahft... ele a jogou dentro da jaula. Aurora deixou a Sra. Pompom cair e, abrindo os olhos, olhou ao redor, vendo várias outras crianças igualmente assustadas.

— Não quero ouvir um pio de vocês — Trin-tnn-tn... disse o chefe, batendo na jaula com sua espada e fazendo uma cara ameaçadora — ou querem virar janta? Hakarakaka! — Abaixou o pano que cobria a jaula e saiu rindo com os outros contrabandistas.

Recolocaram todas as caixas dentro da carroça, repletas de sedas e tecidos de boa qualidade.

Ao saírem de trás da carroça, viram a Sra. Pompom no chão e pisaram nela enquanto riam. O segundo contrabandista estendeu a mão e criou um círculo mágico vermelho que disparou fogo na boneca, carbonizando-a.

Os outros o observaram curiosos, mas logo ajustaram a carroça e a roubaram junto com o cavalo.

Durante a viagem, o chefe olhou para o segundo e perguntou:

— Estudou no castelo de Dirpu?

— Nunca fui lá.

— Como sabe magia?

— Aprendi no Leste.

O chefe e os outros dois olharam para ele de forma estranha.

— Você é humano?

— Sou.

— Como conseguiu ir lá?

— Não fui porque quis; fui vendido como escravo. Fui colocado em um navio junto com outras crianças humanas e fomos abusados até chegarmos naquele continente. Queriam nos deixar submissos e experientes para os compradores. Depois, cada criança humana foi vendida para pessoas de raças diferentes. Quem me comprou não me maltratava... ao menos, dizia que não, enquanto enfiava seu pau no meu rabo falando que era amor e pedia para chamá-lo de salvador.

Os outros riram da história.

— Você foi vendido e agora vende crianças?

— Dá muito dinheiro, é mais fácil que trabalhar anos em um reino e comprar uma casa de merda.

O primeiro perguntou:

— Mas como aprendeu magia? O pau na sua bunda te ensinou?

Os outros riram, e o segundo abriu um leve sorriso antes de responder:

— Comecei a fazer o que aquele velho esquisito gostava, me tornei obediente até ele confiar em mim. Depois disso, eu me coloquei em perigo de propósito, fui atacado por alguns animais e fiquei todo fodido. Quando esse merda me viu ensanguentado, com medo de que eu morresse, decidiu me ensinar magia para que eu pudesse me defender. Ele tinha um livro humano, mas a escrita era no idioma deles. Ele me ensinou um círculo, e assim que consegui criá-lo, na segunda tentativa já usei para carbonizar aquele velho maldito.

Os outros riram em euforia enquanto as crianças escutavam em silêncio na carroça coberta mais atrás.

— Como você saiu do Leste?

— Saí escondido nas tralhas de um navio. Lá é bizarro; como o ouro lá pode valer merda? Custa uma moeda de platina para ir para lá, e uma moeda de platina equivale a mil moedas de ouro.

— É, por isso fiquei surpreso quando você disse que veio de lá. Sofreram algum ataque pirata enquanto vinham?

— Não, mas a movimentação no mar é muito maior do que no Oeste. Pela fresta que eu olhava para fora, dava para ver nitidamente a bandeira do rei pirata constantemente nos navios.

— Ele existe?

— ...Não quero pagar pra ver.


 Nathaly chegou ao portão da muralha e questionou dois guardas:

— Alguém saiu ontem à noite ou hoje?

— A última pessoa que saiu por aqui foi um comerciante de tecidos. Ele foi vender roupas para as vilas próximas.

— Para onde ele foi?

Um soldado apontou para a direção oeste.

— Ele seguiu reto por ali. Deve chegar de manhã cedo em uma vila que fica para lá.

— Entendi. Apenas ele saiu?

— Sim.

— Ele estava agindo de forma estranha?

— N...

Um soldado tapou com a mão a boca do outro.

— É sobre a princesa, certo?

O soldado se soltou, olhando irritado para o amigo.

— Sim.

— Não é a primeira viagem noturna dele. Ele já foi outras vezes para o norte e o sul para vender. Desta vez, ele foi vender as roupas e tecidos que sua mulher produz, seguindo para o oeste.

— Entendi. Bom, vou voltar às minhas buscas. À noite, são vocês que ficam aqui?

— S...

O amigo tapou a boca do outro e assumiu a conversa:

— Esses dias está sendo sim. Os soldados que revezam conosco estão de cama. Foram atacados durante a noite por um verme do deserto nas proximidades. Não faz muito sentido virem até aqui, mas o monstro já foi morto e eles estão bem, apenas de cama mesmo.

— Entendi. Melhoras para eles... Tenham um bom trabalho.

— Muito obrigado, Grande Heroína. Desejamos o mesmo para você. — Um dos guardas abaixou a cabeça.

— Agradeço por se preocuparem com nossos amigos... Boa sorte na busca. — O segundo guarda também abaixou a cabeça.

Nathaly se virou e voltou a procurar.

— Deixa eu falar com ela, cara. Ela é uma gracinha.

— Você é casado.

— Na minha casa cabe mais uma.

O soldado olhou para ele com desdém.


Enquanto Jonas, Liza e Nathaly procuravam em cada beco e buraco pela princesa, Grimore e diversos soldados se divertiam nas casas de prostituição, abusando de crianças demônios que suas mães colocavam ali em exposição para trabalhar, e mulheres que só tinham esse trabalho para conseguir sobreviver.

Rindo, eles passaram a tarde inteira nesses lugares.

À noite chegou.

Os três se encontraram na fonte, como combinado.

— Nada — disse Nathaly, se sentando na borda da fonte.

— Nada também.

— Nem sequer uma pista.

— O general disse algo?

— Não o vi hoje, além de mais cedo no palácio. De qualquer forma, amanhã teremos que continuar as buscas. Talvez ela esteja sendo mantida presa em alguma casa.

— Está proibida a saída do reino, então só precisamos olhar literalmente tudo — respondeu Liza, se sentando na fonte e apoiando os braços, com a cabeça baixa. — De qualquer forma, é melhor irmos dormir. No escuro, não há muito o que fazer. Vamos. — Liza se levantou.

— Continuamos amanhã.

— Tudo bem. Boa noite a vocês. — Nathaly se levantou e começou a caminhar em direção ao palácio.

— Boa noite.

— Tchau, Nathaly.

Depois que os dois se afastaram, Nathaly disparou, pulando de casa em casa até chegar ao portão.

Aterrissou em pé ao lado dos guardas, que se assustaram e pularam para o lado.

— G-Grande Heroína... Desculpe — ele abaixou a cabeça, e o segundo o imitou — pela nossa falta de educação.

Ela ignorou completamente os soldados enquanto olhava para dois cavalos.

— Aqueles cavalos são seus?

— S...

— Sim! — Um soldado, olhando para o outro, começou a discutir — deixa eu falar com ela!

— Já falou demais.

Nathaly distraída, olhava os cavalos comendo grama. Se virou para os guardas.

— É ou não? Não escutei.

— É.

— Sim.

Eles se encararam, fazendo caretas.

— Eles estão disponíveis para nós usarmos, já que somos do exército.

— Vou pegar um emprestado, ok? — Nathaly caminhou até os cavalos, e os soldados começaram a discutir mais uma vez.

— Leva o meu...

— Não. O meu é mais rápido!

— Vou com esse aqui. — Ela subiu em um cavalo completamente preto que combinava com sua nova roupa. Seu colar brilhou um pouco com a luz da lua. — Não sei quanto custa um cavalo, ma...

— Não se preocupe, minha senhora... Pode ficar com ele. Será uma honra ajudá-la com isso.

"Só gente estranha nesse lugar, credo." Com um semblante entediado, olhos um pouco fechados e sobrancelhas levantadas, olhou para os dois ajoelhados perante ela. — Toma aí! — Tirou de seu bolso uma moeda de ouro e jogou para um dos guardas.

— Pela Deusa! Muito obrigado, heroína. Isso vai ajudar muito meus pais!

— Tranquilo.

Nathaly saiu galopando com o cavalo pela ponte, indo rapidamente em direção ao oeste, como o soldado havia apontado.


— E aí?!... Vai dividir essa moeda aí? — O soldado encarou seu amigo, que lentamente mexeu a cabeça, olhando para ele.

— Vou pensar no seu caso.

— Ela deu para nós dividirmos.

— O cavalo era meu, nem vem.

— Tá vendo. Por isso fodo sua irmã todo dia.

O outro soldado olhou para ele irritado.

— Não sei o que ela viu em você.

— Han... Nem te conto. — Rindo da expressão irritada de seu amigo, ficaram ali em mais uma noite de guarda.



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