Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 2

Capítulo 22: Uniformizada (1)

Há 26 dias, um jovem de cabelos verdes, pele clara e olhos pretos andava em sua casa, localizada em uma pequena vila de aparência meio sóbria.

Embora houvesse muitos demônios por lá, as casas eram mal cuidadas por fora, e nem mesmo os demônios gostavam de sair.

Essa era a vila que ficava próxima à escola do Primordial Verde.

Enquanto o jovem preparava seu uniforme escolar, sentiu uma sensação de prazer, como se estivesse protegido.

Subitamente, uma voz sussurrou em sua mente: "Venha servir sua imperatriz."

Embora não ouvisse os sussurros claramente, ele obedeceu e saiu de casa.

Ao olhar para o céu, avistou Nina, que caía em queda livre a certa distância da vila. Ao perceber que seus cabelos eram pretos, ele correu para segurá-la.

Desacordada, enquanto caía, o corpo de Nina começou a se regenerar completamente ao entrar em contato com o mundo de origem do seu poder. Não só seu poder aumentou, como também o de Nino, agora que não havia mais limitações em relação ao outro mundo.

Paff...

O jovem chegou a tempo de segurar Nina em seus braços. Huff-ff... Levemente ofegante pela corrida, olhou para baixo e viu que a roupa dela estava rasgada, revelando parte da pele na região dos seios e abdômen.

Desviando o olhar, a levou para a casa.

A colocou deitada em sua cama e a cobriu com um cobertor. Como ainda era tarde, foi até a cozinha preparar algo para comer.

Enquanto preparava uma sopa, Nina acordou.

Ao despertar, abriu os olhos lentamente e, ao se sentar na cama, observou ao redor, um lugar que nunca havia visto antes.

O jovem terminou de preparar a sopa e, ao ouvir sons vindos do quarto, trouxe um pouco para ela também. Assim que entrou no quarto, Nina lançou um olhar intenso para ele.

Creckshh!

Antes que pudesse pensar em dizer qualquer coisa, a sopa já se encontrava derramada no chão, e uma espada de sangue preto encostava em seu pescoço, cortando-o levemente enquanto o pressionava contra a parede.

Embora ele fosse mais alto que ela, isso pouco importava. Assustado, o jovem apenas olhava para os olhos de Nina, que deixavam claro seu desejo de matá-lo.

— Quem é você e que porra de lugar é esse? — perguntou, com a voz fria.

O jovem, tremendo e sentindo o corte no pescoço aumentar a cada segundo, tentou acalmá-la:

— Calma... Calma, você caiu do céu. Eu só a trouxe para dentro e a coloquei para descansar na cama. Não sei o que você quer, mas aqui é uma vila no sul da capital real, Alberg. Se quiser ir até lá, em uns sete dias, você chega de carroça... — disse, tentando não mover muito a boca, enquanto Nina o encarava intensamente, sem piscar.

— Capital real? Você sabe o que é o Brasil?

— O que é isso?

— Fomos... Teletransportados para outro mundo...? "Casa estranha... Outro mundo ou é um lugar pobre do planeta?" pensou ela, abaixando rapidamente a cabeça.

— Como assim? Desculpa a pergunta, mas... como você está viva? Essa sua es...

— Por que eu não estaria viva?! — Nina se irritou, Shrrr... pressionando ainda mais a espada contra ele.

— Calma... É que essa sua espada... Você é descendente do Primordial Preto, certo?

— Eu sou o Primordial. Blacko morreu.

— Como?!

— Ele e meu pai. Ele morreu no dia em que eu nasci, e eu herdei o poder.

— Espera. Você disse que foi teletransportada? Então ele foi mandado para o seu mundo?

— Exato. "Ele sabe quem é meu pai?" — Me fale tudo o que sabe sobre ele.

— Mas eu não se...

Nina empurrou a espada um pouco mais, Shrrrk... penetrando ainda mais o pescoço dele. Desesperado, ele levantou a cabeça, tentando se salvar.

— Quando ele foi expulso deste mundo, sua linhagem foi completamente exterminada. Eu achei que era o último vivo, mas agora que você está aqui, vejo que não!

— Seu cabelo é verde.

— É tinta!

— ...

— ...

— ...

— ...Você se teletransportou?

— Não. Foi um cara lá do mundo.

— Ele deve ser bem forte, isso é uma magia bem difícil.

— Na real, ele era bem fraco.

— Entendo...

— Mora sozinho?

— Não. Meus pais viajaram para Dirpu para vender melancia, se não estragar no caminho, né? É bem longe. Mas também levaram sementes para vender lá.

— Entendi. Bom, eu preciso de ajuda para encontrar meu irmão. Tem alguma ideia de como me ajudar?

— Eeeeeh, claro. Mas poderia tirar essa espada do meu pescoço? É meio desconfortável.

— Ah, tranquilo. — Nina ficou tão distraída na conversa que nem lembrava da espada.

Desfez a espada, e o jovem colocou a mão no pescoço, vendo seu sangue preto escorrer levemente. Pegou um pano e fez um curativo improvisado.

— Hã? Não é só se regenerar?

— ...Só primordiais podem fazer isso.

— Ah.

— ...Está com fome? — Nina olhou para o chão, e ele continuou: — Obviamente, não é a sopa derramada no chão. Tem mais na cozinha.

— Ah, tranquilo.

A casa era pequena e, ao sair do quarto, já estavam na cozinha. Nina se sentou à mesa e o garoto serviu sopa para ela.

— Você quer encontrar seu irmão? Como ele é? — perguntou, sentando-se após servi-la.

— Igual a mim, mas uns três centímetros mais alto e com uma cara de cu.

O garoto riu.

— Mas você também está com uma cara de cu. — Continuou rindo, mas ao perceber o olhar de Nina, parou e ficou quieto. — ...Qual é seu nome?

— Nina.

— Oh, meu nome é Minty. Então, Nina, tem algo que você pode fazer.

— Fala.

— Vou voltar à escola amanhã, e foi anunciado o vigésimo segundo torneio de esgrima e magia da escola. Quem vence geralmente recebe benefícios diretamente do Primordial Verde. Se você participar e ganhar, talvez seu irmão, em algum lugar, escute as notícias. Mas você não pode usar seu sangue, senão descobrirão que você é o novo Primordial Preto e virão atrás de você.

— Mas por que eles iriam querer me matar?

— Quando seu pai foi expulso, aparentemente ele havia traído os outros primordiais, e por isso começou o massacre dos nossos descendentes.

"Meu pai trairia eles por quê?" — Entendi. Sua ideia é interessante, mas o torneio só começa amanhã?

— Não. Amanhã começam as aulas. O torneio é daqui a 26 dias, eu acho.

— Você quer que eu fique esperando 26 dias? — Nina o encarou seriamente.

— O que sugere fazer? O mundo é imenso; vai sair gritando de vila em vila, reino em reino, o nome do seu irmão?

Nina o encarou com uma expressão séria.

— Não estou gostando desse seu tom.

— Me desculpa, por favor. — Abaixou a cabeça.

— Não tem nada para fazer aqui? O torneio é só amanhã de qualquer forma.

— Espera. Você quer entrar na escola?

— Óbvio. Achou que eu ia fazer o quê?

— É possível se inscrever sem ser aluno, e você ainda tem que conseguir pintar o cabe...

Nina mudou a cor de seu cabelo para verde.

— Isso é tranquilo. O uniforme eu vejo na hora.

— C-como você fez isso?

— Hã? Por que pintou o cabelo? É só usar o sangue.

— ...Não é assim. Nunca vi alguém fazer isso. Demônios conseguem manipular seu sangue, mas é muito pouco. Eu só consigo fazer isso.

Minty criou garras de sangue nos dedos; eram pequenas, mas muito afiadas.

— Só consegue fazer isso?

Ele abaixou um pouco a cabeça e respondeu em um murmúrio:

— Uhum. Só primordiais devem conseguir manipular todo o seu sangue.

Nina o olhou com um olhar desinteressado, cogitando se deixá-lo vivo poderia ser útil ou não.

— Ah... Então, eeeh... Vamos treinar?

— Hã?

— Um teste. Quero ver como você se sai.

— Moleque, se eu quiser te matar, eu te mato a hora que eu quiser.

Ele começou a chorar de medo.

— Eu sei, já entendi. Não precisa me ameaçar toda hora... — Deu uma risadinha falsa, com os olhos cheios de lágrimas.

Nina o encarou.

— É que talvez você não saiba algo, aqui é outro mundo, não é igual ao seu. Eu acho.

— Com certeza não. — Se levantou e tirou seu coldre de perna com sua pistola, colocando-a na mesa. — Vamos então.

Nina começou a andar em direção à porta.

Minty, curioso, pegou a pistola sem saber o que era e a tirou do coldre, apertando sem querer o gatilho destravado; POW! Nina se virou assustada, tirou a pistola da mão dele com extrema irritação.

CRASH!

E a esmagou, deixando os restos no chão.

— Mexe em algo meu de novo e eu te mato — disse com um olhar sério.

Ele engoliu em seco.

"Acho que não sobrevivo até amanhã..."

Nina, com o cabelo verde, saiu da casa de Minty.

Os moradores já eram assustados e, após o disparo, a situação piorou. Não se podia ver nem uma fresta de janela ou porta, apenas janelas bloqueadas por móveis internos.

Minty saiu e fechou a porta.

— O que tem de errado com esse lugar?

— Fala mais baixo. Quando estivermos fora daqui, eu explico — respondeu, cochichando.

Saindo da vila, eles caminharam até um lugar próximo à Floresta do Desespero, a poucos quilômetros de onde Nino caminhava perdido.

Depois de alguns minutos, chegaram ao local onde Minty gostava de passar o tempo desde criança.

Nina olhou para o lugar, que era apenas uma parede de folhas. Ela virou o rosto para ele, que estampava um sorriso. Sem dizer nada, Frushch... bateu de cara com a folhagem e a atravessou. Frushch... Nina fez o mesmo e entraram no cantinho que Minty considerava seu.

Era uma área circular, com muitas árvores, raízes e folhas cobrindo todas as direções, e, no centro, uma grande árvore sobre uma parte do rio que cruzava o local. As raízes dessa árvore se moldavam como uma ponte, e Minty gostava de ficar sentado ali, já que as raízes pareciam um assento para aproveitar a vista, o frescor da água e a sombra da grande árvore.

Minty foi andando até o local, e Nina observou ao redor. Era um lugar bonito, mas ela não demonstrou nada, apenas se aproximou dele e se sentou em uma parte da raiz que se estendia sobre o rio.

— É bo...

— Eles acreditam nesse cabelo pintado seu?

— ...Sim.

Nina o encarou desanimada.

— Seu olho é preto.

— Sim, mas isso não importa. O que importa é o cabelo. A cor do cabelo é a mesma do sangue do demônio. A tinta também é de boa qualidade, fácil de retocar e sem cheiro, então eu passo despercebido. A cor do olho é mais para identificar se o demônio é puro-sangue ou não. Se a cor do cabelo e a cor do olho forem iguais, o demônio é puro, o que significa que seus pais eram da mesma linhagem. No meu caso, meu cabelo e meu olho são pretos, então meus pais eram demônios da linhagem preta.

— Eles não deveriam estar mortos?

— Estão. Eu sou adotado por dois demônios verdes. Meus pais biológicos foram mortos quando eu era um recém-nascido, mas meus novos pais, que eram amigos deles, prometeram fazer tudo para me manter vivo, e graças a eles, estou aqui.

— Quantos anos você tem?

— 20.

— E ainda tá na escola?

— ...Não sei muito o que fazer da vida. Aqui é seguro, tem comida e um lugar para morar.

— Ah... Fala da vila aí.

Minty desviou um pouco o olhar para a água que passava.

— Aquela vila já foi diferente. Era animada, cheia de vida. Mas, a cada dia que passa, aqueles demônios ficam mais assustados e se isolam do mundo.

— Hã?

— Os primordiais são todos covardes. Não acredito nessa história de que o Preto os traiu; eu acho que foi o contrário, pelas atitudes deles, machucando suas próprias descendências.

— Machucando?

— Quase todos os moradores estão lá porque sofreram alguma coisa causada por eles. E cada vez mais chegam novos demônios com passados horríveis. Ali é seguro porque é território do Verde, mas ele não trata bem os humanos, apenas tolera os demônios.

— E por que humanos viriam até uma cidade de demônios?

— Tráfico. Demônios ricos compram humanos, humanos ricos compram demônios. Infelizmente, isso é comum.

— Esse papo tá deixando um ar triste. Muda o disco aí.

"Disco...? Mudar o assunto?" — Hm... Tá. Deixa eu ver. Consegue me dizer quantos animais tem aqui perto?

— Como eu saberia disso?

— Você não sabe detecção de presença?

— Não. Pra que serve isso?

— Detectar presença, ué. — Ele a olhou sério, tentando não rir, e ela o encarou.

— Você não tem amor à vida, né?

— Hehe... Mas já que você não sabe, vou te ensinar. — Ele se levantou e pegou umas folhas largas de uma planta. — Vou colocar isso nos seus olhos.

— Pra quê?

— Vou te ensinar a usar, mas você precisa fazer isso sem ver nada. Aprende mais rápido assim; talvez leve uns dias só.

Ele tampou os olhos dela, tentando não olhar para os rasgos em sua roupa.

— Vou te atacar, tá? Tente sentir minha presença quando usar a detecção. Isso, pelo que entendi, varia de pessoa para pessoa, mas vou ensinar como eu aprendi, tá?

— Fala logo — respondeu de forma seca.

— Imagine um lugar vazio em sua mente, concentre toda a sua magia em um único ponto e diga "detecção". Se você sentir a presença de vida e conseguir saber onde estou, você conseguiu.

— Uhum.

— Vou contar até 10 em minha mente e vou te atacar.

Nina, concentrando sua magia em um ponto, disse em sua mente: — "'Detecção'" — mas uma voz sussurrou em sua mente. Ela não entendeu completamente, mas por instinto, disse: — "'Atômica'" — Assim que pronunciou "detecção", mesmo com os olhos tampados e tudo escuro, ela viu pontos vermelhos de vida atrás das folhas.

Quando disse "atômica", além dos pontos vermelhos mapeados em sua mente, indicando a posição em tempo real dos seres vivos ao redor, a geografia do lugar também foi mapeada com pontos brancos.

Ela conseguia ver árvores, chão, água, animais escondidos em tocas. TUDO.

Minty terminou a contagem e correu em silêncio para acertá-la com um soco na barriga, mas Nina via, sentia e escutava tudo o que acontecia em um raio de 200 metros.

Quando ele avançou em sua direção, ela segurou o soco.

B-...

Minty se desesperou de medo ao ver que Nina preparava para um contra-ataque com um chute. Era como se estivesse escrito "Você morreu".

BAAM!

Ela o chutou na barriga, arremessando-o contra duas árvores, PAAFF! fazendo com que suas costas batessem nelas.

Pahff...

Minty caiu destruído no chão.

Ainda com as folhas sobre os olhos, foi até ele...

Caff-coff... — tossia com dificuldade para respirar. — Não precisava tentar me matar. "Eu estou realmente vivo?!"

— Ah, foi mal. Achei que fosse um treino de luta. Gostei desse negócio. Bem útil.

Minty ainda tossia muito no chão.

— Consegue se levantar?

— Acho que vou ficar deitado aqui por um tempo.

— Preguiçoso. — Nina tirou as folhas do rosto e o carregou nas costas até em casa.

Ao chegar, Nina o colocou na cama e foi para a cozinha.

Olhando os potes e panelas fechadas, não havia muita coisa, apenas alguns vegetais estranhos que ela nunca tinha visto antes.

— Negócio esquisito — foi até o quarto de Minty. — Isso aqui é comestível?

— O que você está fazendo?

— Tentando fazer comida. É comestível ou não? — Olhou para aquela coisa estranha.

Minty se levantou com a mão na barriga.

— Deixa que eu faço — disse com dificuldade.

Indo para a cozinha, ele pegou alguns ingredientes e começou a cozinhar. Nina o ajudou cortando os legumes, enquanto ele temperava a sopa.

No final, a sopa ficou uma delícia, mesmo sem carne; o tempero que a mãe de Minty havia deixado para ele era muito bom.

A noite chegou, e Nina ficou no quarto dos pais de Minty, enquanto ele permaneceu no dele.

Paff... Se deitou na cama e percebeu cortes em sua roupa. Nina olhou e, ficando nua, criou novas roupas com seu sangue. Olhou para a roupa antiga e a queimou em chamas escuras.

— Fiquei com isso o dia inteiro.

Ansiosa, olhou para o teto e esticou seu braço para cima, fechando a mão enquanto olhava para ela.

— Nino... Onde você está?



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