Volume 2
Capítulo 23: Só Homens
No dia seguinte, todos encontravam-se na sala de aula esperando a professora Rose chegar, mas ela estava demorando muito.
Enquanto isso, Nina e os outros conversavam no fundo da sala.
Nina, permaneceu visivelmente entediada, derretida em sua cadeira de raízes de madeira bruta ornamentada em ouro e rochas planas.
— Onde eu posso me inscrever pro torneio que você disse, Minty?
Um garoto que caminhava pela sala riu de Nina.
— Isso é coisa de homens.
Nina o olhou.
— Você é homem? Se não fosse essa sua voz feia, eu nunca ia saber com esse seu cabelo — disse, ainda derretida de preguiça em sua cadeira com o rosto na mesa.
Todos na sala riram do garoto.
— Estou neste torneio e vou vencer. — Ele jogou seus cabelos amarelos para trás. — Jamais perderia para uma menina sem charme como você.
Nina se sentou direito na cadeira, olhando-o fixamente.
— Vamos fazer o seguinte. — Nina já estressada, apontou o indicador para a janela na direção do pátio. — Eu contra você no intervalo.
— Mulheres têm utilidades melhores qu...
Bam!
Com o rosto empinado enquanto falava, Nina o socou, Pahr!... fazendo-o sangrar e cair com o nariz quebrado.
— Desgraçada... EU VOU FALAR PARA O DIRETOR SU...
Enquanto ele gritava, Rose chegou.
— Vai o quê? Eu escutei o que disse. Fala mais uma palavra e eu mesma te expulso daqui.
— Descul...
— Calado. Vá para a enfermaria tratar desse nariz. É melhor dizer que caiu de rosto no chão. Se eu for lá e me contarem que disse que ela o bateu, você será expulso.
Ele balançou a cabeça, segurando o nariz sangrando, e saiu correndo pela porta.
— Minty.
— Sim, professora.
— Leve-a até a sala de inscrição. Será interessante ter uma mulher participando pela primeira vez. — Rose abriu um sorriso, mas Nina percebeu que, apesar do sorriso, Rose parecia perdida e com medo de algo.
Nina se perdeu, tentando entender o que estava acontecendo.
— Nina... Nina! — Minty a chamou, e ela voltou, depois de poucos segundos.
— Oi, oi?
— Vamos logo.
— Ata. Desculpa.
Saíram da sala.
No corredor, Minty começou a bronca.
— Você é maluca? Socar o Eliot.
— Eu ia deixar aquele cabaço falar aquilo? Covarde ia chorar para o diretor. Bebezinho — disse, enojada.
— Que bom que a professora te defendeu, ela é legal.
— Ela é meio estranha.
— Oi?
Nina acabou pensando alto.
— Nada não... Só tava pensando um pouco.
"Ela é estranha? Escutei certo?"
Chegando lá, Nina escreveu seu nome entre os outros alunos. Após escrever, Minty tirou o lápis mágico de sua mão e escreveu o nome dele.
— Vai ir mesmo?
— Sim. Quero mostrar que sou forte também! — Ele sorriu — Espero não enfrentar você logo de cara! Haha...
— Espero que seu plano dê certo. Ganhar o torneio e fazer com que escutem meu nome por aí.
Ao voltarem para a sala, Nina não prestou atenção no ambiente ou nos colegas, apenas olhava fixamente para Rose, tentando entender o que nela parecia pedir ajuda.
O tempo passou e as aulas acabaram.
Nina nem havia notado, e seus colegas decidiram fazer um piquenique fora da escola, próximo aos muros.
Ela então foi com eles, chegando em uma área apropriada para o que queriam.
Uma grande árvore com raízes formava assentos e uma mesa, e enquanto a tarde dava lugar à noite, eles comeram a comida que juntaram no refeitório para aquele momento.
Com o céu em um tom dourado, conversavam e brincavam em um momento agradável.
— Juro, juro. Já matei um dragão com uma colher.
— Aham... Com esse braço musculoso seu aí? — Clarah zoou Jaan, e os outros riram.
— Tô te falando! E ainda bati em uma Harpia Lendária.
— Até o dragão eu acreditava, mas ganhar do Rei é impossível — comentou Minty, com deboche.
— Eu quebrei a Harpia na porrada, peguei ela pelo pescoço... — ele começou a dar um mata-leão em Minty — Aí enchi ela de soco... — começou a fazer cócegas em Minty, que se estressou tentando se soltar.
Clarah riu e Nina continuou apenas comendo tudo da mesa.
Minty se soltou e Jaan correu.
Olhou para Jaan um pouco afastado, e os dois fizeram um sinal de trégua.
Minty voltou para a mesa e perguntou:
— Se inscreveu no torneio?
— Achei melhor não. — Jaan se sentou ao lado de Minty novamente.
— Não matou um dragão com uma colher? Bebeu toda a água do mar para matar o Leviatã?
— Isso é meu passado, cara. Sou uma nova pessoa. — Ele deu um sorrisinho se gabando.
— Fracote.
— VOCÊ QUE É!! — Jaan deu um pulo e gritou, olhando para Clarah.
— Ele me disse a verdade. Não se inscreveu por medo depois do soco que Nina deu em Eliot na sala — riu depois de falar.
— Cagueta. Não falo mais nada com você também, sua falsa. — Cruzou os braços e virou o rosto para o lado, irritado com Clarah.
— Quem é o durão agora? — Minty riu de Jaan.
— E você, senhorita certinha? Por que não se inscreveu?
— Nunca teve uma menina no torneio. Prefiro ficar na minha, sem chamar atenção.
— Medros... — Minty começou a fazer um mata-leão em Jaan, não deixando ele terminar de falar.
— É bom, né? Seu merda. — Tap, tap, tap... Jaan começou a dar tapinhas no braço dele, e ele o soltou depois de alguns segundos.
Riram bastante, enquanto Nina continuava mandando toda a comida para dentro.
— Não quero que isso acabe nunca... — Clarah murmurou, e Nina olhou para ela, sorrindo e rindo com os meninos.
— Você é bem forte, Nina. Treina há muito tempo? — Jaan perguntou.
Nina acabou de engolir um pedaço gigante de carne e respondeu:
— Desde criança eu brincava de luta com meu irmão.
— Que legal! Você tem um irmão, eu tenho uma irmã. Mas o seu irmão não está aqui?
— Não. Faz um bom tempo que não o vejo. Ele saiu em uma viagem com meu pai há algum tempo, e agora que fui mandada para essa escola, acho bem difícil vê-lo tão cedo.
— Eu também não vejo minha irmã há um tempo. Mas não se preocupe, assim como eu espero ver ela novamente um dia, você vai conseguir ver seu irmão de novo.
— Tem razão. Só espero que não demore muito.
Minty olhou para Nina com um olhar apaixonado.
— Posso matar essa carne...?
A expressão de Minty mudou imediatamente.
— Já comeu quase tudo, acabe de uma vez — disse, olhando desanimado para ela.
— Hihi. — Deu uma risadinha e continuou comendo.
A noite chegou e, após passarem a tarde conversando no piquenique, todos retornaram aos dormitórios.
Quando Nina se deitou na cama, notou que Clarah a observava com um olhar inquieto.
Esperando que ela chamasse, Nina fingiu estar sonolenta, mas Clarah demorou a encontrar coragem para falar.
— Nina...
Nina se sentou na cama, ainda com um semblante sonolento.
— Oi?
— Sabe... Eu não sabia que você tinha um irmão. Eu também tinha um, mas ela... — Clarah não conseguiu continuar e começou a chorar, com a cabeça abaixada. Nina se levantou e foi até ela, sentando ao seu lado e a abraçando.
— Ei, ei. Calma. Não precisa contar se não quiser.
— Eu... eu confio em você. Por favor, não conte aos outros sobre isso.
— Não se preocupe.
— ...Minha irmã mais velha foi levada durante um ataque à nossa vila natal. Ela me escondeu em um alçapão embaixo da nossa casa, que levava a um lugar onde meus pais guardavam algumas coisas. Lembro de ouvir algo quebrando depois, quando os moradores me encontraram e me tiraram de lá, ela tinha quebrado um vaso de planta que tínhamos. Mais tarde, eu entendi por que ela o quebrou, o cheiro da planta escondeu meu cheiro do monstro.
— Monstro?
— Nossa vila foi atacada pelo Primordial Branco. Ele levou minha irmã. Os moradores que me resgataram nunca me contaram direito o que aconteceu, ou por que ele atacou nossa vila. Ele é o início da nossa linhagem, por que derramaria sangue branco? Eu me culpo por não ter conseguido ajudar minha família. Minha irmã me salvou, mas isso custou sua vida... — Nina puxou a cabeça de Clarah para seu peito, a abraçando com carinho.
— Shh, shh, shh... Calma. Calma. — Nina tentou confortá-la, lembrando-se das palavras de Minty sobre os Primordiais serem covardes.
Clarah continuou chorando, apoiada em Nina.
— Ei... Sabe, eu também tenho um segredo. Eu não sou descendente do Verde. — Clarah olhou com lágrimas nos olhos quando Nina mudou o cabelo para preto e revelou a marca à esquerda de seu pescoço.
Clarah se assustou.
— Volta, volta. Eles podem ver isso. — Clarah ficou desesperada, mas Nina a segurou.
— Calma. Está tudo bem.
— Mas por que você está aqui? Se o Verde descobrir, ele vai querer te mat...
Colocou um dedo nos lábios de Clarah, acariciando suas bochechas e limpando as lágrimas.
— Shhh. Relaxa. — Clarah ficou um pouco envergonhada, olhando para Nina. — Eu não tenho para onde ir. Estou tentando encontrar meu irmão e decidir o que fazer depois disso. Me inscrevi no torneio para isso, tentar fazer meu nome viajar pelas bocas das pessoas e talvez chegar até ele.
— ...Entendi. — Clarah se jogou em Nina, a abraçando.
Nina, inicialmente sem reação, retribuiu o abraço com carinho.
— Não precisa chorar, você é minha amiga, certo?
Clarah se afastou, olhando-a nos olhos e sorrindo entre lágrimas enquanto balançava levemente a cabeça.
Nina colocou a mão na cabeça dela, fazendo carinho.
— Sua irmã pode estar viva. Você tem certeza que ela morreu?
— Não... Ma...
Nina colocou o dedo nos lábios dela novamente.
— Relaxa. Assim como vou encontrar meu irmão, nós vamos encontrar sua irmã. Você não sabe se ela morreu ou não, mas tem uma pessoa que sabe a resposta; o próprio filha da puta do Primordial Branco. Que tal pegarmos esse arrombado pelo pescoço e esganá-lo até ele contar tudo que sabe?
— Você é meio doida. — Clarah deu uma risada leve, ao ouvir isso.
— Que nada... — Nina se levantou. — Agora vá dormir, infelizmente pro meu plano começar ainda vai demorar algumas semanas.
— Uhum...
Nina se deitou e Clarah também.
— ..Boa noite, Nina.
— Boa noite.
Enquanto começavam a dormir, no quarto que Minty dividia com Jaan, ambos estavam acordados, embora Minty não soubesse disso. Ele ofegava, se masturbando enquanto pensava em Nina, e, apesar de tentar esconder os sons, Jaan os ouviu.
— Você está bem?
Minty se assustou levemente e tirou a mão do pinto.
— S-sim.
Jaan se sentou na borda da cama e, usando magia do sol, acendeu suavemente o abajur.
Aproximou-se da cama de Minty e se sentou ao seu lado, olhando-o com um olhar diferente.
— Posso ajudar?
— O-o quê?
— Estava pensando em quem?
— Mano... Você está bem?
— Estou. Somos amigos, não somos?... Eu gosto de homens, Minty.
— O... quê?
— Olha... — uma lágrima surgiu nos olhos de Jaan enquanto ele se confessava. Gulp... engoliu seco e continuou: — Você deve achar isso estranho. Se quiser que eu pare e nunca mais fale sobre isso, eu farei. Mas, se você quiser, posso te ajudar... eu... eu posso chupar você, se quiser...
Minty o observava sem reação.
— Não quero que sinta nada por mim. Se preferir, pode fechar os olhos e pensar na garota em que estava pensando. Eu só quero ajudar, mesmo que seja assim. Para mim, já está bom só de poder te ajudar.
Minty não dizia nada, sem saber como reagir ou se deveria apoiar seu amigo de alguma forma.
Permaneceu parado, com a ereção ainda evidente. Jaan se curvou na cama, afastando lentamente o cobertor. Ele olhou para o pau de Minty, que pulsava ligeiramente, e decidiu tomar a iniciativa naquele momento.
Jaan segurou o pênis e o levou à boca, começando a chupá-lo.
Minty observou e logo percebeu que a sensação era gostosa, fechando os olhos enquanto pensava em sua imperatriz, com seus longos cabelos pretos e olhos roxos fixados em si, subindo e descendo, deslizando com a boca, assim como os movimentos de Jaan, deixando o pau babado e muito quente.
Minty colocou a mão na cabeça dele, forçando-o com um pouco mais de intensidade. Gurg-grk!-grok!-mm... Jaan gostou do gesto, embora soubesse que nunca seria o escolhido por sua paixão, algo que sempre considerou proibido.
Minty continuou forçando Jaan com intensidade até que gozou.
Splorrt!
Glub-Gulp... Jaan engoliu tudo obedientemente, com a mão de Minty ainda em sua cabeça.
Minty ofegava mais forte e, após alguns segundos, abriu os olhos e soltou Jaan, que o observava, mas sem manter o contato visual.
Jaan se levantou e começou a se afastar da cama, indo para a sua. No entanto, Minty segurou sua mão.
Jaan olhou para ele, esperançoso de que seu amor fosse aceito, mas viu Minty com a cabeça inclinada.
— Por favor, não conte a ninguém...
Jaan não tirou o pequeno sorriso do rosto. Estava satisfeito por ter tido aquele momento, mesmo com suas esperanças de que seu amor fosse aceito, sabendo que isso era impossível.
— Tudo bem — murmurou baixinho, enquanto Minty se virava de lado.
Jaan voltou para sua cama, apagou o abajur e fechou os olhos, lembrando-se do rosto de Minty se contorcendo, com os olhos fechados e a respiração entrecortada por leves gemidos enquanto ele o mamava.
Ainda na mesma noite, Rose corria em seu quarto, no subsolo, trancada como fazia todos os dias de sua vida.
Após tentar alertar seu pai sobre Nina e ser ignorada, além de sofrer abusos, as memórias dolorosas voltaram com força.
O quarto de Rose era escuro e sujo, muito diferente dos outros ambientes da escola. Não havia traços de natureza ali. A cama vivia bagunçada e parecia nunca ter sido lavada. A bancada permanecia repleta de produtos químicos espalhados de qualquer maneira, enquanto o chão encontrava-se coberto de papéis e manchas de sangue rosa.
As paredes eram marcadas por centenas de arranhões feitos com unhas.
Como uma forma de defesa, Rose se drogava com um medicamento que ela mesma produzia usando sua magia do sangue rosa. Era um alívio temporário, uma tentativa de esquecer o abuso e não sentir medo do seu pai.
Cada vez que ele a abusava, ela se lembrava de todas as outras vezes e sua dor se intensificava, levando-a a aumentar a dose. Mas naquela noite, o efeito não foi suficiente; ela não conseguia escapar da lembrança e, no desespero, decidiu que se suicidaria para acabar com a dor.
Rose estava preparando um veneno, usando um livro que havia encontrado na biblioteca. Sua ansiedade e medo estavam à flor da pele enquanto ela finalizava a criação do veneno.
No momento em que se preparava para beber, THAAM! sua mãe arrombou a porta e entrou no quarto.
— O que está fazendo, minha filha? Mamãe está preocupada com você.
Rose, com o veneno na mão, congelou ao ver sua mãe e respondeu com medo:
— E-e-e-eu estou...
A mãe aproximou-se e, com calma, tirou o frasco de sua mão. Rose não reagiu e apenas a observou.
— Mamãe está preocupada com você, ROSE! — Ao ouvir sua mãe dizer seu nome, foi como um grito dentro de sua cabeça.
Rose foi invadida por todos os traumas e torturas que sua mãe lhe infligiu ao longo de sua vida. Sem conseguir reagir, começou a chorar e tremer.
— M-m-mas e-eu sou uma boa garota, mamãe... — gaguejou, abaixando a cabeça com um olhar perdido.
Sua mãe, com um gesto delicado, levantou seu rosto para olhá-la.
— Olhe para mim, minha garotinha. Eu sou boa para você, não sou? — Rose, em meio às lágrimas, encontrou os olhos dela.
— Si-sim, mamãe...
— Mas por que você é uma filha tão inútil?!
Pá!
Deu um tapa no rosto de Rose, que, sem reação, permaneceu com o rosto virado.
— Por que está tentando se matar se eu sou uma mãe tão boa para você?! — Pahff! a mãe empurrou-a para a cama e subiu por cima dela, enforcando-a com força.
Rose não conseguia se mexer, nem desobedecer sua mãe para salvar sua vida; ela só desejava sentir a paz e, naquele momento, queria apenas morrer.
Ainda a enforcando, sua mãe tirou as mãos.
Rose respirou fundo, instintivamente, e olhou para ela. Nesse instante, sua mãe abriu sua boca à força e derramou sangue rosa envenenado pelo Primordial Verde, Glubr-grrulp! obrigando-a a engolir.
Todo o corpo de Rose se contraiu; mesmo consciente, ela ficou sob controle total de sua mãe, sem conseguir se mover, apenas olhando ao redor.
— Não se preocupe, minha menina — A mãe abriu um sorriso enquanto a observava. — Isso é só à noite; mamãe não pode deixar você se matar.
Enquanto falava, o Primordial Verde entrou no quarto.
— Saia.
A mãe obedeceu e saiu do quarto, deixando sua filha deitada na cama, incapaz de se mover.
O olhar de Rose mudou para desespero; ela tentava gritar e pedir ajuda, mas não conseguia emitir som algum.
Verde abriu um sorriso amplo.
— Preparou-se para mim hoje? Quer me deixar orgulhoso... Filha?
Rose foi estuprada naquela noite... Mais uma vez.
Na manhã seguinte, com o mesmo sorriso, entrou em sua sala de aula tentando ser uma boa professora, cuidando de seus alunos e evitando colocar suas vidas em perigo ao revelar o monstro que seu pai era.
Dia após dia, entrava na sala, sofrendo abuso a cada noite e escondendo-o completamente durante o dia.