Volume 1
Capítulo 8: Ninho
Um mês depois, Samanta, Thales, Arthur, Nina e Nathaly receberam uma missão de extermínio. Louis não tinha certeza sobre as informações fornecidas nas denúncias e nem sobre quantas anomalias poderiam estar envolvidas. Por isso, decidiu enviar todo o terceiro esquadrão para neutralizar a possível ameaça, classificada provisoriamente como Massacre 4.
— Cadê o Nino? — perguntou Thales.
— Alissa pediu para ele acompanhar ela no treino das crianças da escola, então ele não pôde vir. Melhor desistir, ele não vai sair do castigo tão cedo.
— Por que aquele idiota aceitou a desafio da Alissa? Que burrice.
Enquanto isso, Alissa e Nino estavam na arquibancada, observando o treino das crianças. O treino era de desvio: quem fosse acertado trocava de lugar com quem atacava. Em determinado momento, uma garota recebeu um chute na perna e saiu mancando.
— Saci perereca! — Nino começou a rir.
PÁ!
Alissa deu um tapão na cabeça de Nino, que colocou a mão na cabeça, tentando aliviar a dor, todo bravinho.
— Este é o lugar certo, né? Tá muito calmo por aqui — perguntou Samanta.
— Sim, no GPS diz que é aqui, Parque Aclimação — respondeu Nina, olhando para o celular.
Arthur se sentou em um brinquedo do parquinho e notou que algumas pedrinhas no chão estavam se mexendo. Ele colocou a mão e depois a orelha no chão para escutar.
— O que você está fazendo? — perguntou Thales, intrigado.
— Está muito calmo porque eles não estão na superfície. Tem algo embaixo de nós.
— Esgoto? — sugeriu Thales.
— Não sei se passa esgoto por aqui, mas não estou sentindo água perto.
— Vamos descobrir! — Thales ativou a manopla e se preparou para socar o chão.
— Não faz isso, doido! Vai bagunçar tudo aqui. Melhor procurar um bueiro do que abrir um buraco no parquinho — disse Nina, com um rosto apático.
— E você sabe onde tem um por aqu...
GROAN!
Eles olharam para o lado. Três anomalias do tamanho de dois carros empilhados surgiram de três buracos diferentes. Pareciam tatus, mas com uma aparência medonha: dentes tortos e carapaças cheias de falhas. As anomalias os encararam por um momento antes de começarem a rolar em direção aos prédios e casas.
— Vocês três vão atrás de cada uma. Eu e Nathaly vamos entrar no buraco! — exclamou Nina, e correu com Nathaly em direção ao buraco.
— Sim, líder! — Eles se dividiram, cada um perseguindo uma anomalia.
Crash-crashh!
Thales correu atrás de uma das anomalias, que estava destruindo prédios e carros até virar em uma esquina à direita. Ele acabou se deparando com Samanta, que também estava atrás de outra anomalia. Eles se encontraram e trocaram de alvo. Samanta imbuiu sua espada com um vento cortante, fazendo com que a lâmina metálica mudasse de cor para verde, deixando um rastro no ar enquanto cortava. A anomalia, ao vê-la, deixou sua forma de bola e atacou. Shk! Samanta se abaixou e desferiu um golpe preciso, tão limpo que a anomalia se partiu em dois após três segundos.
Thales, que vinha logo atrás, avançou em direção à anomalia que Samanta estava perseguindo antes. BAAM!! Mesmo em forma de bola, ele acertou um soco tão forte na cabeça dela que a criatura foi arremessada para o alto e voltou à sua forma normal. BAM! Thales pulou sobre ela e desferiu um soco no meio das costas, quebrando e rachando quase completamente sua carapaça. Shk! Ainda se movendo com dificuldade, a anomalia estava no chão quando Samanta desembainhou sua espada novamente, desferiu um corte preciso e guardou a lâmina. Após alguns segundos, a cabeça da anomalia se desprendeu do corpo, derramando um líquido azul que parecia infinito.
— Sangue azul? Isso é normal? — perguntou Samanta, com nojo.
— Quando eu caçava tatupeba para comer, o sangue era vermelho normal.
— Eca! Isso não transmite doenças?
— Depende do que ele come, mas era o que tínhamos pra comer na época. Vim de uma família pobre, sabe? — ele coçou a nuca de forma desajeitada. — Estou aqui para ganhar dinheiro e mandar para minha família no Nordeste.
— Que nobre, meu cavaleiro.
— À sua disposição, minha princesa... Mwah! — Thales a segurou pela cintura e a puxou, dando-lhe um selinho.
Arthur perseguia a última anomalia, que estava descontrolada, colidindo com tudo à sua frente, inclusive um carro com passageiros. Ao ver as pessoas gritando em pânico, Arthur ficou assustado ao notar que a anomalia se dirigia para uma grande multidão. Em um momento de desespero, ele viu a criatura bater em um caminhão-pipa, o que lhe deu a oportunidade perfeita. Controlando toda a água do caminhão, Arthur a lançou sobre a anomalia, aprisionando-a e elevando-a submersa até o céu, onde a afogou, a comprimindo de forma segura, longe das pessoas ao redor.
Crunch!
Quando a anomalia finalmente parou de se mover, Arthur a soltou, e enquanto ela despencava do alto, ele avançou sem hesitar, cortando sua cabeça com um golpe de espada. Em seguida, correu até o carro, cortou as portas e resgatou a família presa dentro do veículo. Ninguém se feriu, e as pessoas ao redor começaram a se reunir, agradecendo a Arthur.
"Era esta sensação que você sentia, pai?" pensou ele, sorrindo amplamente para todos ali.
Enquanto isso, Nina e Nathaly entraram no buraco deixado pelas anomalias e descobriram que as três que haviam saído eram apenas o começo. O que encontraram era um ninho, repleto de dezenas de anomalias adormecidas.
— São muitas — comentou Nathaly, observando a cena.
— Estão dormindo, pelo visto. Vamos aproveitar — respondeu Nina.
As duas começaram a eliminar as anomalias uma por uma, com Nathaly incinerando um grupo de filhotes que estavam juntos. Após a limpeza do ninho, elas se reagruparam com o resto do esquadrão. Arthur estava chamando uma ambulância para uma pessoa desacordada que havia encontrado, enquanto Nina ligava para Louis.
Brrrr!
— Nina? — atendeu Louis.
— Sim! Matamos muitas anomalias. Se era a Massacre 4, não sei, mas tem muitos corpos aqui. Envie uma equipe de limpeza reforçada.
— Entendido. Espere mais 30 minutos aí. Pode haver mais anomalias escondidas, e seria perigoso vocês irem embora e deixá-las por aí.
— Ok. Vamos verificar se tá tudo limpo.
Nina desligou e avistou uma ambulância se aproximando ao longe na rua.
— Afinal, por que você está aqui?
— Vim ver o treino delas. Como estava sozinha, o chamei para me fazer companhia.
— O que a falta de um namorado não faz com a pessoa, né? — brincou Nino, soltando uma risadinha.
— Professor Natanael, trouxe essa criança para treinar com as outras — disse ela, apontando para Nino, que estava coberto de machucados e com vários curativos na cabeça, exibindo seu semblante estressado enquanto flutuava com a bunda empinada, devido ao poder de Alissa.
— Boa tarde, Alissa. Treino? Parece que ele não está muito animado — observou Natanael.
— Ele não precisa estar animado, só precisa obedecer — respondeu Alissa com firmeza.
— Tsc... — Nino virou o rosto, cruzando os braços, ainda flutuando.
Natanael riu da situação.
— E qual é o treino? — perguntou.
— Pensei em um jogo de pega-pega, mas com um alvo: Nino. Todas as crianças contra ele — Alissa sorriu de maneira travessa, como se estivesse planejando algo.
— Mas ele é o melhor classificado da escola. As crianças estariam em grande desvantagem — ponderou Natanael.
— As crianças podem usar magia, mas Nino não pode usar nada. E se alguém conseguir tocá-lo, ele será penalizado. Vou amarrar seus braços e pernas com fita adesiva, e a cada toque, as crianças poderão escrever no rosto dele com caneta permanente.
— Virei uma cobaia de teste agora, é? — protestou Nino, com um tom de ódio.
— Tá com medo de perder pras criancinhas? — Alissa provocou, sorrindo de forma debochada.
— Óbvio que não! — Nino retrucou, com um olhar apático.
Então, o treino começou. As crianças pulavam em Nino, mas ele desviava de todas com facilidade. Alissa decidiu colocar seu plano em ação. BUM! Ela controlou o poder de uma das crianças, que lançou uma explosão de gelo, congelando as pernas de Nino. Surpreso com o poder repentino, ele mal teve tempo de reagir antes que outra criança saltasse na sua direção. Brum! Com um pulo rápido, Nino conseguiu quebrar o gelo.
No ar, outra criança surgiu, tocando Nino, que desceu lentamente, olhando profundamente para ela.
— O quê? De onde você surgiu, CAPETA?! — Nino gritou, bolado.
Alissa apareceu sorrateiramente por trás dele e o enrolou em fita adesiva, cobrindo até sua boca.
— Crianças... Rodada dois, VALENDO!!
— HnumMNunMn!
Nino estava no chão, completamente enfaixado, enquanto as crianças se aproximavam. Ele tentava gritar, mas o som saía abafado pela fita. Desesperado, ele se levantou e começou a saltar, tentando se libertar.
Pah.
Alissa, no entanto, controlou o corpo de Nino, fazendo-o cair enquanto as crianças pulavam sobre ele. Logo depois, ela apareceu com 15 canetas, entregando uma para cada criança. Nino, olhando assustado, viu-se sendo rabiscado por todos os lados, enquanto Alissa ria da tortura.
— Você que fez tudo isso, né? — perguntou Natanael, rindo e tentando disfarçar com a mão no rosto.
— Sim, e ele sabe que fui eu — Alissa respondeu com um sorriso genuíno, transbordando alegria.
Mais tarde, na sala de Alissa, ela estava lendo e tomando café, saboreando cada gole com calma, enquanto Nino, desesperado, tentava remover os rabiscos no banheiro depois de ter sido obrigado a preparar o café dela.
— Precisava disso? — perguntou Nino, bolado.
Alissa riu alto.
— Ah, para. Foi muito engraçado! Você perdeu para umas criancinhas — disse, com o mesmo tom de deboche que aprendeu com ele.
— Seu rabo! Perdi porque você ajudou.
— Faz parte, né. Acaba de limpar seu rosto e está liberado.
— Vou limpar isso em casa. Mas me diz aí, por que quis assistir às crianças?
— Eles são o futuro do Brasil. Estava vendo como estavam indo nos treinos.
— Mentirosa! Só quer se aposentar logo — Nino riu, percebendo a desculpinha.
Alissa também riu.
— É isso que você pensa de mim? — perguntou Alissa, ainda rindo.
— Talvez. Bom, vou vazar, tchau tchau.
— Bye-bye.
Nino chegou em seu apartamento e encontrou Nina na cozinha, terminando de preparar o jantar. Ao vê-lo, Nina não conseguiu conter o riso. Nino, então, percebeu que tinha esquecido de limpar o rosto completamente, e entendeu por que todos na rua o haviam olhado de forma estranha. Ele passou a mão no rosto, limpando os rabiscos com seu sangue.
— O que aconteceu?
— Digamos que a Alissa não gostou das minhas brincadeirinhas e me usou de cobaia pras crianças — respondeu Nino, fazendo uma careta. Nina riu.
— Já estou terminando, só esperar o arroz secar.
Nino foi até o sofá e se sentou para assistir a televisão. Toc, toc! Quando se deitou, ouviu uma batida na porta. Ele se levantou e olhou.
Nina a abriu.