Volume 1 – Arco 2
Capítulo 36: Espiã
Não demorou muito e, assim que chegaram à mesa, Nathaly presenciou dois monstros em um X1, uma disputa sincera, não verbal, apenas instintiva, da enorme e infinita competição que viviam para decidir quem era o melhor, se iniciar.
— Nhami-Nhami-Nhami!
— Nhami-Nhami-Nhami!
Começaram a devorar a montanha de comida diante deles. Seus sons pareciam máquinas programadas para a destruição, acabando com mais três metros de comida empilhada em segundos. Segundos esses... iguais.
Enquanto a jovem olhava para eles, sem reação diante da fome que ambos demonstravam, ria com a cena. Uma risada serena, espontânea, a primeira vez que se sentia à vontade e divertida, vendo os dois brigarem para descobrir quem havia vencido ou não.
— Nathaly!
— Nathaly!
Nino e Nina exclamaram ao mesmo tempo, parando abruptamente e se virando para ela com os olhos expectantes.
— Quem venceu?!
— Quem venceu?!
Perguntaram em uníssono.
Nathaly, ainda rindo, não conseguia parar de se divertir com a situação. Olhou para os dois e, com um sorriso no rosto, respondeu, brincando:
— Foi muito rápido, eu não vi!
Imediatamente, Nino, com um olhar astuto, decidiu usar a situação a seu favor para irritar sua irmã e ganhar no argumento. Se virou para Nina, já pronta para retrucar, mas Nino foi mais rápido:
— Ela disse "foi muito rápido" e não "foi muito rápida". Eu venci, OTÁRIA!
O olho esquerdo de Nina começou a dar tiques, enquanto tentava se conter, mas queria enfiar a porrada em Nino. Daquele instante em diante, Nino entendeu que havia vencido o jogo, deixando Nina estressada, tentando arrumar argumentos.
Contudo, sua raiva era insignificante diante das caretas e deboches do irmão.
Sabendo que tinha perdido, a Primordial parou de falar. No segundo em que isso aconteceu... Nino entendeu. Saiu da mesa e começou a correr em volta dela, ainda zoando Nina, enquanto ela, na mesma velocidade que ele, o acompanhava sem conseguir alcançá-lo, querendo quebrá-lo ao meio.
— VOLTA AQUI!
— Supeeeera, fofa, fui o primeiro a nascer e continuo sempre ganhanduuu!
— GRRR!
Nina acelerou os passos, mas ambos tinham a mesma velocidade. O que resultou foi um tornado ao redor de Nathaly, que ria enquanto começava a voar, experimentando a sensação de ter asas sem tê-las, pela primeira vez.
Seus cabelos balançavam ao vento enquanto os dois brincavam — uma brincadeira que, facilmente, poderia terminar em sangue e membros decepados.
Enquanto tudo acontecia, uma pessoa muito importante observava a cena de longe, vendo Nathaly rir e pairar com o vento forte. No mesmo corredor de acesso ao refeitório, Alissa estava parada, com o olhar fixo em sua menina finalmente interagindo com alguém.
— Que bom, está fazendo amigos... — murmurou para si mesma, visivelmente emocionada.
Porém, sua solidão foi interrompida por uma voz familiar que surgiu repentinamente... de uma forma nada desejada:
— Espiando crianças? — Louis perguntou, aparecendo de repente atrás dela, com papéis grampeados na mão direita. A observava, notando que parecia se esconder de algo.
Alissa não se moveu nem olhou para ele, continuando a observar sua filha. Ignorou Louis por alguns segundos, e o silêncio era quase palpável. A rejeição calada atingiu-o mais do que qualquer palavra poderia, ferindo mais que uma pancada na cabeça.
"Nossa... Poderia apenas responder com um mínimo de educação..." Louis fechou os olhos, sentindo a dor interna corroer seu orgulho. Quando começou a erguer as mãos, prestes a bater palmas e se retirar com o que restava de sua dignidade, Alissa virou o rosto e o encarou diretamente nos olhos.
Louis travou.
Seus olhos se arregalaram enquanto tentava suportar a intensidade do olhar dela.
Thum! Thum!
Seu coração batia mais forte e pesado, sendo pressionado.
— É-é... Eu... — Tentou falar, mas as palavras se perderam em sua garganta.
— Cala a boca. — A ordem foi direta e cortante.
Louis abaixou a cabeça automaticamente, os braços caindo pesadamente ao longo do corpo.
— Desculpe — murmurou, a voz pequena e sem resistência.
Alissa então se virou novamente, sem mais palavras para ele, e voltou sua atenção para os gêmeos e Nathaly. Sua filha não estava mais voando, mas ainda ria. Agora observava Nino, que tinha um enorme calo na testa, quase do tamanho de uma segunda cabeça. Nina, ao lado dele, o encarava com um punho erguido, pronta para mais um socão.
Observando a cena e a alegria no rosto de Nathaly, rompeu o silêncio:
— Não estou espiando ninguém... — murmurou, tentando esconder parte da verdade.
"Está literalmente espiando alguém..." pensou Louis, mas sabia que vocalizar aquilo seria insano.
— Você sabe muito bem que a Nathaly não se dá bem com ninguém — continuou Alissa, a voz mais suave, mas ainda firme. — Deixe os gêmeos na minha sala. É a primeira vez que a vejo sorrir assim... Não posso deixar minha menina perder esse brilho novamente.
Louis permaneceu em silêncio, aguardando permissão. Alissa, recebendo o silêncio após sua fala, se irritou:
— Tá surdo? — Virou-se para ele novamente, a irritação transparecendo.
— Tudo bem! Tudo bem! — respondeu rapidamente, tentando suavizar a situação. — Esse sempre foi meu desejo inicial. Você é muito forte, centrada, inteligente... Acho qu... — Louis dizia, mantendo um sorriso bobo no rosto, mas Alissa não dividia a mesma sintonia.
A exterminadora interrompeu-o com uma expressão gélida e um tom ameaçador cada vez mais claro:
— Me elogie mais uma vez, e eu arranco a pele do seu corpo.
A ameaça foi clara, e a tensão na voz dela fez Louis recuar imediatamente, adotando uma postura submissa.
— Desculpe, não deveria ter usado essas palavras — murmurou, mais baixo agora.
— Continue — incentivou ela, com frieza.
O exterminador desviou o olhar por um momento, tomando fôlego antes de voltar a encará-la.
— Eu... Eu queria que ficassem na sua sala desde o início. Acredito que, assim como Mirlim te ensinou muita coisa, mesmo você sendo incriv... — hesitou, percebendo o perigo da palavra.
Alissa inclinou o rosto levemente, um gesto sutil que Louis entendeu perfeitamente.
— Gulp... Mesmo já sendo a mais forte. Imagino que, com seu direcionamento, fará dos dois bons exterminadores. Os melhores da nova geração.
Alissa não respondeu de imediato, mas seus olhos se fixaram nos papéis que ele ainda segurava.
— Entendi — disse, desinteressada pela conversa, mas ainda observando os papéis. — O que é isso?
Louis olhou para sua calça, mas logo percebeu que não era isso que ela queria. Seus olhos voltaram para os papéis.
— Ah! — exclamou, levantando as mãos. — Lembra que eu disse que iria até Minas ainda hoje?
— Aham — respondeu, a voz arrastada, sem muito interesse.
— Eu coletei algumas informações para adicionar nos relatórios... e o contrato dos dois.
— Aham... — repetiu, dando uma resposta monótona.
— Mas... eles não existem.
— Quê?
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