Volume 1
Capítulo 3: ADEDA
Os gêmeos se levantaram do chão.
Após alguns segundos que Louis bateu na porta, uma mulher de cabelo curto e branco, que passava um pouco do seu queixo, e olhos azuis, abriu a porta.
Ela usava um sobretudo prateado com as inscrições: "Alissa" "22" "2" "S" "S", diferentemente do dourado de Louis.
— O quê? — perguntou Alissa, com preguiça.
— V-vou deixar esses irmãos gêmeos com você por enquanto. Só ensina a eles sobre como funcionam as anomalias e a ADEDA. Mais tarde, depois dos testes práticos, vou mandar um funcionário do governo levá-los até o apartamento que será disponibilizado para eles — gaguejou Louis, um pouco nervoso com a presença de Alissa.
— Assim do nada? — perguntou, com um rosto sonolento.
— Sim, depois eu explico o motivo. Se chamam Nino e Nina.
— Uhum — respondeu, completamente desinteressada.
— Tá, tchau — Clap! Louis bateu uma palma rapidamente e sumiu.
Alissa olhou para os dois e disse:
— Podem entrar.
— Tá.
Os gêmeos entraram e ficaram em pé na frente da sala. Alissa olhou para os alunos e os apresentou:
— Pessoal, esses são Nino e Nina, são gêmeos e irão fazer parte da nossa sala.
— Sejam bem-vindos! — todos da sala os receberam.
— Podem se sentar, no fundo tem cadeiras vazias.
Enquanto caminhava para o fundo da sala, Nina avistou uma garota quieta em um canto, como se quisesse passar despercebida. Mas Nina não conseguia tirar os olhos dela, intrigada pela gargantilha preta que despertava uma curiosidade profunda.
A garota tinha olhos que pareciam âmbar brilhante, realçando seus cabelos castanho-escuros. Algumas mechas do cabelo estavam entrelaçadas, com parte delas sendo laranja, como se seu poder fluísse por elas e retornasse a si.
Uma grande cicatriz em seu rosto, que se estendia do nariz até abaixo do olho direito, a tornava ainda mais intrigante e bela.
Após quase um minuto de observação, Nina finalmente desviou o olhar.
"E se ela me achar esquisita?"
Ela tentou focar na aula, mas de vez em quando voltava seus olhos para a garota.
"Estou... apaixonada?"
— Bom, como os gêmeos não sabem muito sobre o que é essa escola, eu vou usar essa aula para explicá-los. Caso alguém também tenha dúvida, é só perguntar. Nossa escola funciona assim: quando você entra ou é mandado para a ADEDA principal, que é aqui, você passa por um teste para receber sua classificação: A, B ou C. Um adendo: na hora do teste, você escolhe a classe que vai tentar entrar. Caso queira a classe A, você escolhe o teste A para duelar e tentar. Caso não consiga nenhuma dessas classificações, você ainda estuda e pode matar anomalias, porém não de forma profissional. Quando matar, você pode ligar para o diretor e avisar; ele pode ir aumentando seu status para, quem sabe, subir sua classificação um dia. Agora, se você conseguir entrar na Classificação A, depois de um tempo são formados esquadrões oficiais e, se você fizer parte deles, a cada anomalia que matar nas missões, dependendo da classificação delas, você recebe dinheiro por isso. Existe também a classificação S para os exterminadores que, sozinhos, conseguiram matar uma anomalia de classificação calamidade.
— O diretor é de classe S? — perguntou uma garota.
— Não. Apenas eu — respondeu com um tom de superioridade.
— Mas por que no uniforme do diretor está escrito "S"? Pensei que ele também tivesse matado uma calamidade.
— Funciona assim — explicou, apontando para seu sobretudo para que os alunos vissem. — No uniforme, primeiro vem o nome e a idade, como no meu caso, Alissa, 22 anos. Depois, o esquadrão ao qual pertence, 2. Em seguida, a classificação pessoal, S, e finalmente, a classificação do esquadrão, que também é S. O diretor derrotou uma calamidade, mas não sozinho. Quando uma calamidade é derrotada em grupo, apenas o esquadrão recebe a classificação S, não o indivíduo.
— Entendi.
— Mais alguma pergunta? — Alissa bocejou. — Ninguém disse nada, então vou continuar. Agora, vou falar sobre as anomalias, começando pelas mais fracas e indo até as mais fortes que conhecemos. Podem existir outras espécies, mas são raras. Errante são anomalias geralmente fracas que se assemelham a humanos, sendo fáceis de matar. Massacre são anomalias que atacam em bandos, tentando matar o máximo possível. São de dificuldade mediana, e com a classificação B, vocês provavelmente conseguiriam matá-los, mas, dependendo da quantidade, talvez o exterminador acabe morrendo. Ruína são muito fortes e resistentes. A maioria delas apresenta regeneração e uma pele bastante resistente a lâminas. Recomendo imbuir magia nas lâminas para cortar sua carne. Apenas a classificação A em grupo é capaz de enfrentá-las. Calamidade: as duas últimas calamidades derrotadas incluem uma que matou mais da metade da população de Belo Horizonte, em Minas Gerais...
Os gêmeos perceberam que ela se referia ao pai deles.
— ...Essa foi eliminada pelo antigo Esquadrão um, mas matou oito de seus membros. A outra foi um grupo de três calamidades que mataram centenas de pessoas e quatro exterminadores de classe A que buscavam reconhecimento. Eu cheguei depois e matei duas delas, mas a terceira fugiu e até hoje não foi vista. Imagino que não preciso explicar o quão fortes essas anomalias são — ela bocejou mais uma vez. — Acho que falei tudo.
Olhou para a sala, onde todos pareciam um pouco confusos.
— Entenderam tudo?
— Sim... — todos responderam.
— Tá bom. Agora é só esperar o dire...
O alto-falante começou a falar, e a voz de Louis ecoou pela sala:
— Os testes começarão em breve. Dirijam-se ao campo da escola. Obrigado.
— Escutaram? Me sigam... "Queria um cafezinho."
Alissa conduziu todos até o campo de futebol da escola e os deixou na arquibancada.
Após, se dirigiu aos outros professores e se sentou.
No campo, o professor Natanael usava um sobretudo diferente, onde apenas seu nome estava estampado.
Ele não era exterminador, ao contrário de Alissa e Louis. Era apenas um professor.
Natanael chamava os novos alunos, perguntando qual classificação eles iriam tentar, mas a maioria escolhia C e B por medo.
Após cerca de quatro testes, os gêmeos ficaram extremamente entediados assistindo aquilo.
— Ter que ficar vendo esses fracos por horas é um saco! — exclamou Nino desanimado, apoiando o rosto com a mão no apoio da cadeira.
— É... Vou ter que concordar com você.
Nino olhou para ela com um semblante de deboche, e ela respondeu com um olhar de desdém.
Louis apareceu e foi até a área dos professores.
Katherine havia deixado alguns livros ao lado dela, esperando que Louis chegasse. Quando ele se aproximou, Katherine retirou os livros e esperou que ele se sentasse. No entanto, ele acabou se sentando ao lado de Alissa, que se apoiava no corrimão, entediada com as lutas.
Katherine ficou irritada, mas não demonstrou.
— Por que trouxe aqueles irmãos do nada? — Alissa perguntou sem olhar para ele.
— Depois de matar a anomalia que eu fui atrás, decidi andar pelas ruas e observar um pouco. De repente eu tive uma visão alguns segundos no futuro, se não fosse isso, aquele garoto teria me roubado sem que eu percebes...
— Aprendeu a controlar a previsão?
— Não. Ainda é involuntária.
— Tá tá. Continue a história.
— E... Eles não têm família e moravam na rua. O garoto provavelmente tentou roubar meu dinheiro para comprar comida para ele e para sua irmã. Ele se movia com uma velocidade absurda e, quando o segurei, me deu um chute com uma força ainda mais impressionante. A garota tentou me prender entre duas paredes de pedra; eu desviei, mas se ela tivesse me pegado, poderia ter causado um grande estrago. Eles são jovens e muito fortes. Então, ofereci a eles um lugar para viver e comida. Imagino que eles serão uma boa ajuda caso surja uma calamidade semelhante à que matou meu irmão.
— Vamos ver, né. Pule a vez de um dos dois aí, ficar assistindo a essas lutas está quase me fazendo dormir. — Alissa bocejou.
Clap!
Louis bateu uma palma e foi até Natanael.
"Ele obedece a ela como um cachorrinho." Katherine, um pouco estressada, observou Louis no meio do campo de futebol.
— Por favor, Nino, se apresente.
— Tava na hora já! — Nino respondeu, pulando para o campo e se posicionando.
— Qual classificação você pretende tentar?
— A mais forte aí.
— O quê? Então seria a classificação A? — perguntou Natanael, surpreso.
Muitos alunos na arquibancada começaram a cochichar.
— O que esse menino tá fazendo?
— Pode ser isso aí.
— Por favor, Daniel, pode vir.
Nino e Daniel se encararam.
Daniel era maior, mas isso se devia à diferença de idade: os gêmeos tinham 14 anos e Daniel, 19.
Se afastaram, e Natanael deu o sinal.
— Comecem! — ordenou, fazendo um gesto com a mão.
Nino e Daniel não se mexeram, e plateia ficou confusa, sem entender o motivo da demora.
— Já que você não vai começar, eu começo.
Daniel, juntou as mãos e criou fogo. Ao separá-las, formou uma lança queimando, fazendo seu cabelo castanho parecer quase ruivo. Observando Nino, que permaneceu entediado com o showzinho demorado, Daniel lançou a arma.
Nino esperou a lança chegar, desviou, segurou-a e adicionou mais fogo, intensificando a chama.
A lança queimou ainda mais intensamente, assustando Daniel e alguns alunos. Alissa, no entanto, observava com interesse, apesar do seu aparente tédio.
Nino arremessou a lança de volta com muito mais velocidade do que a original, e Daniel desviou por pouco.
BUMM!
A lança explodiu no ar antes de atingir a parede da arquibancada. Alissa levantou um dedo, impedindo que a explosão ferisse os alunos.
BAAM!!
Nino apareceu à frente de Daniel, colocou uma mão no chão e girou seu corpo, acertando um chute na barriga dele, quebrando seis ossos do seu abdômen e arremessando-o longe.
Uma garota que voltava do banheiro quase ficou surda com o estrondo.
BOOM!
Daniel atravessou a parede, caindo todo machucado e chorando de dor.
A garota se assustou e se afastou um pouco. Daniel, com os olhos cheios de lágrimas, tentou gritar, mas nenhum som saiu. Alissa moveu o dedo novamente, fazendo-o desmaiar para que não sentisse mais dor enquanto era levado para a enfermaria da escola.
"Entendi, Louis." Alissa, ainda com sono, estava claramente interessada no que havia visto.
Do nada, ouviu gritos vindo do campo:
— Ei! É a professora, né? Você disse que é a única Classe S. Desça aqui pra eu...
Tlec!
Pah...
Alissa estalou os dedos e Nino caiu desacordado.
BOOMM!!
Nina surgiu e deu um chute em Alissa, que fez rachaduras se formarem na arquibancada, mas Alissa bloqueou o chute com a mão.
— NÃO MACHUQUE MEU IRM...
Tlec!
Pah...
Alissa estalou os dedos novamente, e Nina também caiu.
Observando os dois no chão, se levantou e comentou:
— São fortes mesmo. Vai ser interessante isso. Vou levá-los para minha sala... Hihi! Desejo que vocês vejam belas lutas nesta tarde. Tchauu! — Ela se virou para os professores, com um sorriso de deboche no rosto, e saiu, deixando-os para passar o resto da tarde lá.
Os corpos dos gêmeos começaram a flutuar e a seguiram.
— Continuando, Deisy, por favor, se apresente.
Duas horas depois, Alissa permanecia confortavelmente acomodada em sua poltrona, lendo livros e bebendo café, quando os gêmeos acordaram de repente.
— Onde eu tô? — perguntou Nino, confuso.
— Depois de gritar para todos que queria me desafiar, eu te nocauteei.
— Mentirosa, não me lembro disso.
— É?!... Mas aconteceu — respondeu Alissa, virando a página de seu livro.
— O que estamos fazendo aqui? — perguntou Nina, ainda mais perdida.
— Usei vocês como desculpa para sair daqueles testes. Estava entediada lá. Estão com fome? Já é hora da merenda antes da escola liberar os alunos. Tchauu! — disse com um sorriso enorme, enquanto empurrava os dois para fora da sala.
Prac!
Fechou a porta na cara deles e suspirou aliviada, voltando a ler seu livro na mesa de vidro.
Rrrromm!
A barriga de Nina roncou.
— É, vamos comer algo logo.
Enquanto andavam pelos corredores, com as barriga fazendo vários sons diferentes, perceberam muitos alunos indo na mesma direção e os seguiram.
Depois de algum tempo, finalmente chegaram ao refeitório.
Pegaram seus pratos após esperar na fila e encheram-nos com uma montanha de comida. Encontraram um lugar vazio e, ao se aproximarem, notaram que a mesma garota da sala de aula, com uma cicatriz no rosto, estava sentada no chão sozinha em um canto.
— Oi, quer comer com a gente? — ofereceu Nino, estendendo a mão.
— Não. Todos me olham estranho. Eles também vão olhar para vocês se ficarem perto de mim — respondeu a garota, abaixando a cabeça e se escondendo.
— Como assim? — perguntou Nina, curiosa.
— Matei meu pai quando era mais nova — a garota respondeu, cabisbaixa.
— Que dahora! Também não temos pai! — exclamou Nino com um sorriso e um joinha.
Nina olhou para ele, pensando: "Que merda cê tá falando!" Mas a garota acabou rindo.
— Como consegue dizer isso com esse rosto? — perguntou ela, ainda rindo.
— É que nossa mãe morreu no parto e nosso pai foi embora depois disso. A gente não se importa se você tem pai ou o que aconteceu com ele. Tenho certeza de que você fez o que tinha que ser feito, certo? Qual o seu nome?
A garota começou a chorar.
— Meu nome é Nathaly — respondeu ela, ainda com lágrimas nos olhos, olhando para eles.
— Sou o Nino e essa feia aqui é a Nina.
— Feia teu rabo! — Nina retrucou, estressada com Nino.
Nathaly enxugou as lágrimas e começou a rir com a briga dos gêmeos. Eles a ajudaram a se levantar.
— Ali tem mesas vazias, vamos lá! — disse Nina, animada com a nova amiga.
Os dois pegaram seus pratos e se dirigiram a uma mesa afastada em um dos pátios abertos da escola.
Enquanto caminhavam pelas pedrinhas, um garoto os observava de longe. Ele gostava de Nathaly há um tempo, mas tinha medo de conversar com ela e de ser julgado pelos outros.
Nathaly ria bastante na mesa, enquanto Nino fazia suas palhaçadas e atormentava Nina. Esta, por sua vez, tentava quebrá-lo na porrada.
De longe, Alissa observava o grupo no pátio.
— Que bom, está fazendo amigos — comentou com um sorriso genuíno no rosto.
— Espiando crianças? — perguntou Louis, aparecendo repentinamente.
— Você sabe que a Nathaly não se dá bem com ninguém. Deixe os gêmeos na minha sala. É a primeira vez que a vejo sorrir assim... — ela voltou o olhar para eles. — Não posso deixar minha menina perder esse brilho novamente.
— Tudo bem. Aqui estão os relatórios dos gêmeos. Não tem muita informação, não achei quase nada. Mas inclui a idade, a origem e a classificação A.
Ele entregou os papéis a Alissa, que os examinou superficialmente.
— Continue os ensinando que provavelmente eles farão parte do terceiro esquadrão oficial. Vou voltar para o meu escritório. Tenha uma boa tarde.
— Pra você também.
Katherine os viu conversando no fim do corredor e, assim que Louis desapareceu, correu até o escritório dele, visivelmente irritada.
Thoom!
Louis virou-se em direção ao barulho quando Katherine entrou, batendo a porta com força.
— Você está conversando muito com ela ultimamente.
— Eu trouxe dois novos alunos para a sala dela, estava explicando sobre eles e depois entreguei os relatórios. O que tem de mais nisso?
— ...Nada — respondeu Katherine, em silêncio, enquanto começava a lacrimejar.
Louis se levantou e a abraçou, Mwah... dando um beijo em sua cabeça.
— ...
— Você me odeia?!
— Não... Claro que não.
Ele a abraçou enquanto ela chorava em seus braços.
Mais tarde, um funcionário do governo levou os gêmeos até o apartamento onde irão morar.
— Aqui estão as duas cópias do cartão-chave. Este será o novo lar de vocês — disse ele com um sorriso, antes de se despedir e ir embora.
Os gêmeos entraram e se depararam com a primeira visão do lugar: ao longe, um sofá grande virado de costas para a porta, inteiramente branco, com uma mesinha de vidro à frente para apoiar os pés ou sua junta. À frente do sofá, havia uma televisão gigante na parede, sobre um pequeno rack branco.
Olhando para a esquerda, viram uma geladeira cinza de duas portas atrás de um balcão com três bancos altos e chiques, adicionando um detalhe elegante à grande cozinha americana, cheia de utensílios. Embora o que mais usariam fosse o fogão, a geladeira e o micro-ondas.
O corredor à esquerda, após a cozinha, dava acesso a duas portas. A primeira levava a um banheiro feito em mármore, com uma pia de ônix que acendia junto das luzes, acrescentando um toque de riqueza ao lugar. O espelho do banheiro se abria para guardar itens como escovas de dentes, mantendo o ambiente organizado.
A segunda porta dava para o novo quarto que iriam dividir: simples, mas luxuoso e minimalista.
Todo o ambiente era todo em tons de branco. À esquerda da cama, a parede era de vidro, com cortinas, puxadas para o canto, deixando um tom amarelado do sol se pondo naquele fim de tarde preencher o quarto.
Na sacada, algumas plantas decoravam o espaço, assim como pequenas plantas espalhadas em certos lugares do apartamento, proporcionando um toque verde agradável a qualquer pessoa.
Não havia televisão no quarto, apenas uma grande cama com um criado-mudo de cada lado. À frente da cama, um guarda-roupas do tamanho da parede, com portas de correr tão parecidas com a parede que os gêmeos demoraram para perceber sua existência.
Os gêmeos olharam ao redor, felizes. Nino abriu a geladeira e viu que estava cheia de comida.
Seus olhos se arregalaram e ele chamou Nina, que estava explorando o quarto:
— NINAA!
Ela correu até ele, com um sorriso no rosto.
— Acho que fizemos a escolha certa.
— VOCÊ ACHA?! — Nino gritou, segurou sua irmã, que tinha o mesmo tamanho que ele, e começou a girá-la brincando.