Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 1

Capítulo 15: Amazonas

Eles chegaram no Aeroporto Regional de São Gabriel da Cachoeira e foram recebidos por um helicóptero do Exército Brasileiro, que os transportou até a DASG, a base aérea do Amazonas. Ao pousarem, foram recebidos pelo comandante da base.

— Vocês devem ser os exterminadores de São Paulo, certo?

— De São Paulo? Existem outros? — Nino perguntou, visivelmente confuso.

— Pensei que vocês soubessem disso. Existem exterminadores aqui também.

— Então, por que Louis nos mandou? — Nino questionou, ainda cheio de dúvidas.

— Porque vocês são um esquadrão oficial.

— Mas se há exterminadores aqui, por que não têm um esquadrão?

— Existem escolas da ADEDA em todos os estados do Brasil. No entanto, os esquadrões oficiais são formados apenas em São Paulo. Os outros estados servem para identificar possíveis destaques e transferi-los para lá.

— Eu mesmo fui transferido — comentou Thales.

— De onde você é? — perguntou o comandante.

— Sou da Bahia. Fui transferido depois de um ataque que sofri. Estava voltando para casa ao entardecer e fui atacado por sete anomalias conhecidas na Bahia como "Quibungo", uma espécie que geralmente ataca crianças. Elas me atacaram, e eu as matei apenas com as minhas mãos. Minha família ligou para a escola e o hospital ao me verem coberto de sangue, mas eu estava bem; era só a preocupação da veia.

A anomalia, classificada como errante, que atacou Thales se assemelha a um lobo depois de ser atropelado, maltratado, destruído, reconstruído a paulada e outras coisas ai. Ela também é meio homem, mas com uma enorme boca cheia de dentes nas costas.

— Mas como funciona isso? — Nino perguntou.

— Me chamaram na escola e me venderam para São Paulo. Deram uma grana para minha família e arranjaram minha passagem, é só isso que eu lembro. Mas sinto muita falta da comida da minha velha. Quando der, vou tentar visitá-los...

— Barril.

— Haha! — Thales encarou Nino, que estava com um sorrisinho de canto. — Para de me imitar, branquelão.

— E não vai me apresentar para a sua mãe não? — perguntou Samanta.

Thales foi até ela e os dois saíram conversando.

— Claro que vou, minha pretinha.


Nino voltou a conversar com o comandante.

— Não entendi muito bem ainda. Mas o que viemos fazer aqui? O que aconteceu?

— Cinco alunos da ADEDA desapareceram durante um treino na floresta. Como não retornaram, o professor e diretor da escola entrou para procurá-los. Ele era classificação A, um dos alunos de São Paulo em 2006 que foram obrigados a se tornar professores após o quase extermínio do primeiro esquadrão por uma anomalia. Sem professores, os alunos mais fortes da época, com a mentoria de Louis e às vezes de uma criança chamada Alissa, formaram novos professores e os enviaram pelo país para descobrir mais potenciais.

— Esse diretor foi morto?

— Não sabemos. Ele desapareceu há dois dias e presumimos que tenha morrido devido à demora, mas não temos certeza. Ainda não informamos a família. Suspeitamos que seja uma calamidade falsa.

— Um Errante disfarçado? — Nina sugeriu.

— Talvez. Não ouvimos nenhum barulho, absolutamente nada. Deixamos com ele um sinalizador caso encontrasse as crianças ou precisasse de ajuda, mas ele não o usou. Como eu disse, ele era o mais forte presente no estado. Se ele morreu, só pode ter sido por uma ruína muito forte ou uma calamidade.

— Entendi. Bem, vamos aproveitar que ainda está claro e entrar.

— Garotos, tenham cuidado. Sei que são muito fortes, mas não baixem a guarda.

— Relaxa — respondeu Nino.

— Cada um pegue um sinalizador. Se precisarmos intervir, este será o sinal. Tiros não são muito eficazes contra anomalias fortes, mas faremos o possível. São ordens de Louis.

— Entendi. Vamos, galera — concluiu Nino.


O Terceiro Esquadrão adentraram na floresta densa, onde a sombra das grandes árvores criava um ambiente fresco e um pouco misterioso. O som das folhas farfalhando, o canto dos pássaros e o zumbido dos insetos eram os únicos barulhos que os acompanhavam. Nino estava um pouco alerta com esses seres minúsculos, e Nina decidiu brincar com ele.

— Nino, tem uma aranha nas suas costas! — ela exclamou, apontando para ele.

Nino deu um pulo e começou a bater nas costas, achando que a aranha era real. BAM! Ele se jogou de costas contra uma árvore, tentando se livrar da "ameaça". Todos caíram na risada com sua reação exagerada. Depois de um tempo, para se vingar, Nino pegou uma planta próxima e a esfregou na perna de Nina, o que fez ela olhar para ele normalmente.

— Não sou medrosa igual a você.

— Ha ha.


Continuando a busca por qualquer sinal dos desaparecidos ou da anomalia, o esquadrão chegou a um riacho, pulando de pedra em pedra para atravessá-lo. Ao avançarem, encontraram um lugar deslumbrante, aberto para o céu, com uma flor grande e vermelha no centro, rodeada por outras menores.

"Vou pegar isso e entregar pra Samanta." pensou Thales, correndo em direção às flores. No entanto, ao pisar na grama, ela se transformou em lama.

Thales afundou rapidamente e, surpreso, não teve tempo de se defender. Crunch!! Uma anomalia semelhante a um jacaré verde, com a textura de lama, atacou-o, mordendo sua lateral e arrancando uma parte do corpo junto com seu coração. Thales morreu instantaneamente, e o barulho irregular da anomalia fez o grupo tremer. Nino ficou paralisado ao ver seu melhor amigo sendo consumido pela lama densa, sem a parte esquerda do corpo. Shk! Samanta, ao ver a anomalia pulando e atacando, reagiu rapidamente, cortando-a ao meio. No entanto, ao se virar, encontrou Thales caído e sem vida. 

— THALES!!! THALES!!! — Samanta berrava enquanto o abraçava, chorando desesperadamente. Outra anomalia surgiu por trás dela e avançou para atacá-la, mas Nina interveio, matando-a rapidamente e deixando o esquadrão completamente desolado. Todos puxaram suas armas e se aproximaram de Nina e Samanta, exceto Nino.

Várias anomalias surgiram do nada, uma após a outra. O esquadrão lutava contra elas uma a uma enquanto tentava proteger Samanta, que chorava abraçada ao corpo de Thales. Após eliminar mais de dez anomalias, um barulho ensurdecedor fez o chão tremer. 

GROOOAN!!

Do solo emergiu uma anomalia imensa com a boca aberta, que empurrou o esquadrão para longe. Exceto Nina, que foi arremessada para cima. BAAM!! A anomalia tentou devorá-la, mas Nina fez um mortal no ar e chutou a cabeça da criatura, derrubando-a. Quando Nina aterrissou, a anomalia sacudiu a cabeça, avistou Samanta e avançou em sua direção. Nathaly tentou intervir, mas a criatura mergulhou de volta no solo, desaparecendo.

Em questão de milissegundos, o chão tremeu novamente e um estrondo ecoou. GROOOAN!! Crunch! A anomalia emergiu da terra e atacou Samanta, que tentou desviar, mas foi atingida de raspão pelas garras da criatura. Samanta recebeu cortes profundos na barriga e no peito, atravessando seu corpo. Sem forças, ela olhou para Nino, paralisado, e com lágrimas escorrendo pelo rosto, disse:

— Líder, eu não quero mo...rrer...

Pah.

Samanta desabou no chão, sem vida, enquanto Nino permanecia imóvel, observando seus dois companheiros morrerem.

"Líder, eu não quero morrer." As palavras de Samanta ecoavam incessantemente na mente de Nino.

A imensa anomalia, com garras afiadas e grandes, assemelhava-se a uma toupeira grotesca. Nina tentou cortá-la, mas a anomalia se escondeu sob a terra novamente, deixando apenas um pequeno buraco.

— O BURACO! — Arthur berrou para Nathaly. Ela se virou para ele e ele continuou: — JOGA FOGO NO BURACO!

Nathaly correu, apontou sua espada para o chão e lançou uma poderosa rajada de fogo. O chão tremeu intensamente, e a anomalia emergiu, acompanhada por outra anomalia com uma cauda longa e grossa. Em um movimento giratório no ar, a segunda toupeira começou a atacar com sua cauda. Nina, ao perceber a situação, viu seu irmão, mas apenas seu corpo imóvel. Desesperada, ela berrou:

— NINO! ACORDA, CARALHO!

Nino finalmente reagiu e, atrás de Nina, viu a anomalia girando e atacando todos com sua cauda. C-C-CRASH! BAAM! Nina, Nathaly e Arthur tentaram bloquear o ataque com suas espadas, mas as lâminas se partiram e todos foram arremessados contra árvores. Nino, ao tentar empunhar sua espada, também foi atingido, batendo suas costas e cabeça em uma árvore gigante. No instante em que bateu a cabeça, uma marca surgiu em seu pescoço, rapidamente substituída por um olho.


De cima de uma árvore, um homem observava a cena à distância, rindo satisfeito.

— Meu bebezinho está tão forte. — Ele segurava uma seringa na mão.


Arthur, após bater fortemente a cabeça, começou a ter convulsões. Enquanto ainda estava consciente, viu Nino surgindo à sua frente, andando lentamente e meio descoordenado. Nino criou uma espada preta e Arthur desmaiou.

Sciiil...VRRRUM!

Nino, com sua espada, fez um corte no ar que desencadeou uma poderosa reação em cadeia. A magia escura que emanava de sua espada cortou a anomalia ao meio, derrubando centenas de árvores atrás dela. O homem na árvore se assustou e pulou para uma árvore vizinha, já que a sua estava caindo.

— O que é esse moleque? — murmurou o homem.


Do lado de fora da floresta, os soldados ouviram o barulho ensurdecedor.

— Devemos entrar? — perguntou um deles.

— Ainda não. Sigam as ordens. Só podemos entrar quando usarem os sinalizadores — respondeu o comandante, visivelmente preocupado. "Que Deus proteja vocês."


Após destruir a anomalia, Nino foi atacado por outra que girou para pegar impulso e acertá-lo com a cauda. Nino, parado, agarrou a cauda com uma mão e cravou sua espada nela, injetando magia escura e fazendo a anomalia explodir como um balão, provocando uma enorme explosão na floresta.

BOOOMMM!!

O comandante não aguentou mais e chamou os soldados para entrar e ajudar os exterminadores.

O homem na árvore, desesperado, tentou ligar para alguém em seu celular.

— Atende. Atende logo!

Surgiu um olho olhando-o com intensidade. Ele paralisou de medo.

— Alô? Doutor Ben?

C-r-r-r-r-runch!

— A... — Ele foi cortado em milhares de pedaços, e o celular caiu no chão junto com seu caderno.

— Doutor?... Alô?


Nino, ainda fora de controle, sentiu uma presença forte e avançou para atacar, mas quando chegou, com sua espada cortando o vento, ouviu uma voz familiar: — Nino? — Ele acordou com a lâmina de sua espada de sangue preto apontada para o coração de Nina. Seus olhos começaram a tremer e ele começou a chorar. Ao voltar à realidade e ver o rosto de sua irmã, a única coisa que conseguiu fazer foi pedir desculpas. Nina o abraçou, e os dois caíram no chão. Nathaly, com o braço ferido, estava caída perto deles, tentando se arrastar para também abraçá-los.

— Desculpa, desculpa, Nina, me... Me perdoa, eu... Eu não... Eu não queria, Nina. — Nino estava devastado e, mesmo com o conforto de sua irmã, não conseguia se acalmar.

— Ei, ei. Para. — Nina segurou o rosto de Nino com suas mãos, chorando. — Olhe para mim. Você nos salvou. Não me machucou. Não importa se usou o sangue. Nino, relaxa.

O exército chegou ao local e testemunhou a cena horrível: dois corpos sem vida no chão, um em coma e três feridos se abraçando ao pé de uma árvore enorme. Eles retiraram todos dali. Os gêmeos passaram por exames e não apresentaram ferimentos externos ou internos significativos.

Após serem dispensados, Nathaly foi tratada e recebeu um gesso no braço, que, embora não estivesse quebrado, tinha uma pequena fratura fechada. Arthur ainda estava em coma na emergência.

Após ser liberado dos exames, Nino foi diretamente até onde estavam os corpos de Samanta e Thales, sentando-se em silêncio, sem dizer uma palavra, apenas olhando para frente com um semblante deprimido. Um soldado entrou e começou a puxar as macas com os corpos. Nino se levantou.

— O que está fazendo? — Nino perguntou, estressado, enquanto segurava firmemente o braço do soldado.

— As famílias já foram notificadas dos óbitos. Eles serão enviados para suas famílias realizarem o funeral — respondeu o soldado, com um semblante de dor. Nino, após ouvir isso, soltou o soldado.

— Desculpa. Não sei por que fiz isso...

Ele saiu e foi para uma cabana emprestada para passar a noite. Deitou-se em silêncio, ignorando completamente Nina e Nathaly, que também estavam lá dentro.

Nina estava preocupada; nunca tinha visto Nino daquela forma.

"Nem mesmo quando a vovó faleceu ele ficou assim... Eu só consigo entender o que você sente quando nos misturamos sem querer. Por que não me diz ou pede ajuda quando precisa? Sei de todas as vezes em que precisava de um abraço, e por causa desse ego de merda, você nunca pediu."

A preocupação rapidamente deu lugar à raiva. Ela sabia que Nino queria um abraço naquele momento, mas, cheia de orgulho, assim como ele, deitou-se em sua cama, virada para a parede oposta à dele.

Nathaly observou Nino deitado de costas e também se acomodou em sua cama individual. Ela estava triste pela perda de seus amigos e com Nino, mas não queria pressioná-lo naquele momento difícil. Deitou-se olhando para o teto da cabana. À direita dela estava Nino, na sua cama, também olhando para a parede, e à esquerda, Nina, igualmente voltada para a parede. Assim permaneceram durante toda a noite, imersos em seus pensamentos.

Uma semana depois, Arthur ainda estava em coma, mas estável. Receberam autorização para voltar a São Paulo. Arthur foi levado de ambulância até o aeroporto, enquanto os gêmeos e Nathaly seguiram de carro, acompanhados por um agente do governo.

Durante o trajeto, reinou o silêncio. Dentro do avião a caminho de Guarulhos, a situação não mudou. Nino, o tempo todo, olhava pela janela com um semblante triste e sério. Sua irmã o observava, decidindo dar tempo ao tempo.

"Vou ganhar de você no ping-pong." As palavras de Thales, suas risadas e a voz de Samanta giravam na mente de Nino, um turbilhão de pensamentos que ele não conseguia controlar. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, e ele virou um pouco a cabeça para que ninguém visse. Mas Nina percebeu e ficou triste ao ver seu irmão assim.

Ao chegar em Guarulhos, Arthur foi transferido de ambulância para a ADEDA, onde Louis preparou uma sala para monitorar a saúde do filho de seu falecido irmão.

— Não seria melhor deixá-lo no hospital? — perguntou Katherine.

— Quero estar de olho no meu sobrinho. Se algo acontecer, eu o levo para lá em segundos.

Katherine ficou em silêncio, pensando: "Vai ser um bom momento para fazer ele ficar completamente apaixonado por mim."


Os gêmeos e Nathaly pegaram novamente o carro do governo e foram até a escola. Ao chegar, Nino não falou nada e se separou das duas.

Nina e Nathaly foram até onde Louis estava para explicar o relatório diretamente a ele. Louis havia recebido o relatório do exército, que detalhava os óbitos e os eventos testemunhados. Nina chegou e mudou um pouco a história do que realmente aconteceu.

— Fomos pegos de surpresa por anomalias em uma espécie de lama e...

— Anomalias menores ajudando uma mais forte? — interrompeu Louis.

Surpresa, Nina respondeu:

— Sim. Como sabe?

— Já fui atacado da mesma forma uma vez.

— Entendi. Elas pegaram Thales de surpresa, e ele acabou morrendo na hora. Outra anomalia surgiu e atacou Samanta, a matando. Todos nós fomos atacados a possível calamida...

— Sim. Os dados já saíram dos restos de uma que foi coletada. Era uma calamidade.

"Deixa eu acabar de falar, felá da puta!" — Entendi, nós fomos arremessados, mas Nino não foi acertado. Ele conseguiu lutar com a anomalia e a matou. Quando fomos arremessados, Nathaly machucou o braço, e Arthur bateu muito forte a cabeça. Depois disso, Nino, muito cansado e abalado... Abalado pela morte dos nossos amigos... — Nina abaixou um pouco a cabeça. — Depois disso, ele nos abraçou, e o exército entrou para nos resgatar.

Louis se lembrou do passado, ele chorando pelas mortes de seus amigos em 2006.

— Espero que Arthur se recupere rápido.

— Obrigado. Também espero que ele fique bem o mais rápido possível... Só vocês duas aqui? Onde está o Nino?

— Ele deve ter ido até a sala da Alissa.

— Entendi.


Nino estava em pé na frente da porta da Alissa, que sentiu algo estranho atrás da porta. Tentando controlar o poder do ser ali presente, percebeu que não conseguia.

"Nino?"

Alissa fechou seu livro, o colocou sobre a mesa, levantou-se e foi até a porta. Ao abri-la, encontrou Nino com a cabeça baixa. Ele ergueu lentamente o olhar para ela, e Alissa viu a expressão perdida dele, segurando as lágrimas.

— Oi.

— ...Oi.



Comentários