Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 1

Capítulo 14: Best Friend

Naquela mesma noite, Nathaly estava no balcão do hotel, sentada, olhando para o celular, esperando alguma mensagem dos gêmeos. Nina havia saído no fim da manhã para procurar Nino. Samanta chegou ao hotel e viu Nathaly com a cabeça apoiada no balcão, com uma expressão um pouco triste.

— Oi, oi... Que carinha é essa?

— Tô meio desanimada. A Nina e o Nino sumiram.

— Tem um salão de jogos lá embaixo, está incluído no pacote que a Alissa comprou. Não quer ir lá com a gente?

— Só nós duas estamos aqui.

— Eu só subi para trocar de roupa. Thales e Arthur já estão lá embaixo.

— Entendi — respondeu Nathaly, ainda olhando para o celular.

— Mas se não quiser ir agora, não precisa. Quando os gêmeos chegarem, se estiverem a fim, vocês descem lá para jogarmos algo.

— Vou descer com você. Vou ligar para eles e avisar — respondeu Nathaly, enquanto abria a conversa com Nino, mas logo mudou de ideia e clicou na conversa com Nina.

— Ok, vou tomar um banho rapidinho e já volto.

Brrr!

Os gêmeos ainda estavam correndo. Sccrrrchh... Nina parou de repente, levantando poeira. Nino notou e parou também, sem entender por que ela havia parado.

— Nathaly? Alô.

Ao perceber o motivo, ele fez uma careta de deboche e ficou olhando para Nina.

— Entendi...

— Achou o Nino?

— Já sim.

— Que bom. Eu e a galera vamos ao salão de jogos do hotel, tá? Quando você chegar com ele, passa lá.

— Tá bom, estamos voltando já.

— Beleza, tchau.

— Tchau. — Nina desligou com uma expressão levemente desanimada.

— Conta para ela logo.

— Não.

— Olha essa sua cara. Tava doida para soltar um "eu te amo, amorzinho" — disse, provocando Nina com poses exageradas.

— Você é chato demais.

— Mas o que ela queria?

— Avisar que estão no salão de jogos... O que é aquilo ali? — Nina apontou para um lugar à frente, e Nino olhou.

— O quê? Não tem nada ali...

Nina saiu correndo.

— Vai ficar me devendo um lanche!! — Nino não perdeu tempo e correu atrás dela.


Assim que Nathaly e Samanta chegaram ao salão, Thales foi até Samanta e lhe entregou um bombom que havia comprado.

— Ah... Você é um fofo! Obrigada...

Os gêmeos chegaram a tempo de ouvir o que Samanta disse. Nino olhou para Thales e começou a rir.

— Um cara desse tamanho sendo chamado de fofo. — Thales lançou um olhar para Nino e saiu correndo atrás dele.

Enquanto isso, Nathaly observava a cena, pensamentos confusos passando por sua mente:

"Nem me deu um... Oi...? Quando estamos a sós, você me conhece tão bem, mas quando estamos com os outros, você age como um estranho. Por que você é assim? Desde que contei a verdade para Nina, essa sensação só aumenta. Cada noite juntos é completamente diferente da nossa interação na escola. Será que eu só existo para você na hora do sexo? Sou apenas um passatempo? Do mesmo jeito que você disse que contaria a verdade para ela e demorou mais de dois meses, você prometeu me pedir em namoro e nunca mais tocou no assunto... Me diga de uma vez, o que você quer de mim?"

Nathaly queria desesperadamente expressar esses sentimentos, mas o medo de ser deixada a impediu. Então, ela engoliu o desconforto e manteve uma expressão neutra, forçando um sorriso.

Nina, por sua vez, percebeu o olhar distante de Nathaly, que observava Nino se divertindo com Thales, enquanto ela parecia desanimada. Querendo quebrar a cara dele, Nina foi até seu irmão.

Nino estava correndo de Thales, e, nessa brincadeira, os dois acabaram derrubando várias coisas no salão. Nino se escondeu atrás de uma mesa de hóquei, enquanto Thales tentava alcançá-lo do outro lado. Foi nesse momento que ambos ouviram uma voz.

— Vocês dois aí, dá para parar? Já estão velhos demais para isso, não acham? — perguntou Nina, olhando seriamente para Nino e Thales. Os dois se entreolharam, depois olharam para ela e colocaram as mãos na boca.

— Iiiiiiii, Chatona.

Nina ficou irritada.

— Eu vou ligar para a Alissa e con...

Antes que ela pudesse terminar, os dois se ajoelharam, encostando as testas no chão.

— Por favor, não faça isso.

— Prometemos que não vamos mais fazer nada.

— Jura?

— Juro juradinho.

Enquanto isso, Arthur se aproximou com quatro raquetes e uma bolinha de pingue-pongue.

— Gente.

Todos voltaram sua atenção para ele.

— Querem joga...

Nino e Thales imediatamente pularam na mesa, pegando uma raquete cada um. Nina os olhou com desdém, irritada pela rapidez com que quebraram a promessa.

— Eu quero ir — respondeu Nathaly.

— Vou também! — respondeu Nina, imediatamente após Nathaly.

— Bom, se todos vão, eu também vou.

Nino percebeu a animação de sua irmã quando Nathaly disse que queria ir. Em seguida, ele notou que Nina estava olhando para ele e para Nathaly e então compreendeu o que ela queria dizer.

— Então, as duplas serão: eu e Arthur, Samanta e Thales, Nathaly e Nina.

— Ué, por qu... — Nino puxou Arthur para perto, abraçando-o com o braço esquerdo até ele ficar sem ar.

— Porque quero ver se você manda bem como minha dupla. — Arthur, um pouco tonto, foi solto.

"NÃO, SEU IDIOTA!" Nina estava irritada, mas tentou não demonstrar. Apenas olhou para Nino com um sorriso forçado, tentando comunicar com os olhos: "ERA PARA VOCÊ CHAMAR E IR COM ELA!"

Nino sorriu de volta para Nina, sem perceber a raiva que ela sentia. Nina ficou ainda mais irritada.

"ESSE ANIMAAL!"

Eles jogaram várias partidas e trocaram as duplas após um tempo, mas ninguém conseguia competir com os Gêmeos, que eram muito rápidos. Eventualmente, todos desistiram e apenas os dois ficaram: Nina descontando todo o seu ódio na bolinha, tentando ganhar de Nino, e Nino se esforçando ao máximo, recusando-se a perder para sua irmã.

"VOU DESTRUIR ESSA ANTA!"

"VAI GANHAR ROUBANDO DE NOVO, NÃO!"

Todos assistiam aos dois, impressionados com a velocidade absurda do jogo. POW-POW-PÁÁ!-PÁ! Mal conseguiam ver os movimentos e só ouviam o som das raquetes batendo na bolinha, que parecia um tiroteio. Nino recebeu uma bolinha, fingiu que não ia acertar a bolinha e, em seguida, a devolveu para Nina com um movimento rápido, colocando a raquete para trás das costas. Ela recebeu mal e, furiosa, deu uma brecha para Nino. Ele aproveitou e respondeu rapidamente. CRAASH!! No auge da raiva, Nina pulou e, com uma força descomunal, acertou a bolinha para baixo, destruindo a raquete e quebrando a mesa com a força do impacto. Nino não conseguiu nem rebater.

Todos estavam com expressões de surpresa e medo, olhando para eles.

— Ganhei, seu OTÁRIO!

— Roubando de novo é fácil.

— Onde eu roubei?!

— QUEBRANDO A MESA, TALVEZ?!

Os dois se encararam com ódio, enquanto o resto do grupo só observava.

— Com licença.

— O QUE É?! — os dois responderam juntos, gritando.

— É que, devido a vocês terem quebrado a mesa, precisam pagar uma multa.

— Ah, tá. Quanto é? — Nina perguntou ao funcionário.

— Bom... — ele pegou um caderninho do bolso e anotou — Mesa, bolinha e duas raquetes danificadas. Total: cinco mil reais.

— CINCO MIL?! — Nina e Nino exclamaram juntos, surpresos com o valor.

— Isso não é nada, Nino. Você já matou uma calamidade, deve ter dinheiro sobrando no banco — disse Arthur.

— Me dá seu celular — Nina pediu com um semblante sério. Nino tirou o celular do bolso e entregou a ela.

Nina olhou para o celular e depois para Nino, colocando o aparelho de volta no peito dele.

— Você paga.

Nino deu uma risadinha.


De noite, Nino e Thales saíram discretamente do hotel para não acordar os outros e desceram até a academia. Nina percebeu e os seguiu. Ao chegar, ela olhou através do vidro e viu os dois correndo na esteira com vários pesos e segurando máquinas, competindo para ver quem conseguia equilibrar mais peso enquanto corria. Quando Nino e Thales notaram Nina, arregalaram os olhos e continuaram correndo, surpresos com a presença dela. Crashhh! Nina se afastou do vidro e, ao voltar, viu que tudo estava arrumado e os dois estavam correndo normalmente, conversando.

— É tão bom andar na esteira com meu best friend! Hahaha! — Nino falou de maneira exagerada.

— Oh yeah, my super best friend! Hahaha! — Thales respondeu com um tom igualmente estranho.

— HAHAHAHAHA! — os dois riram juntos, completamente enlouquecidos.

Thales olhou para o vidro.

— Acho que ela saiu.

— Ah, é? — Nino se virou e não a viu mais.

— Estão aprontando o quê? — Nina apareceu atrás deles.

Os dois se assustaram. Vrrrr, Vrrrr. Os celulares dos três vibraram simultaneamente com uma mensagem.

— É do Louis. Ele disse que amanhã precisamos estar no aeroporto para uma missão urgente no Amazonas.

— O mesmo aqui.

Nino olhou para Thales e assentiu com a cabeça.

— Aqui também.

Nino então olhou para Nina com um tom de deboche.

— Óbvio, né? Ele mandou no grupo. Cê é burra?

— Menino, eu vou te matar.

— ...Bora acordar o pessoal e avisar agora. Melhor do que avisar em cima da hora amanhã — disse Nino, com preguiça.


Chegando no quarto, Thales acordou Samanta, Nino acordou Arthur e Nina acordou Nathaly.

— Olhem o celular.

Todos foram até a sala.

— Pensei que estávamos de férias, poxa — lamentou Samanta, sentindo falta de aproveitar mais o tempo livre.

— Imagino que, depois que acabarmos, voltaremos para as férias. Ele não nos tiraria delas à toa.

— Tem razão. — Nathaly se levantou e começou a andar de volta para o quarto. — Já que temos que acordar cedo, vou voltar a dormir.

Todos fizeram o mesmo. Na manhã seguinte, acordaram e se arrumaram rapidamente, pegando seus equipamentos. Desceram até o térreo, onde pegaram dois carros do governo para ir até o aeroporto.

Dentro do carro, Nino perguntou ao motorista:

— Tem alguma informação sobre a anomalia que está lá?

— Infelizmente, não. Apenas o diretor geral da ADEDA recebe as informações sobre as missões de extermínio.

— No caso, o Louis?

— Sim.

— Entendi. Obrigado.

Chegaram no aeroporto e, já dentro do avião, Thales estava sentado na frente de Nino. Ele se virou para Nino e disse:

— Quando a gente voltar, eu vou ganhar de você no ping-pong.

Nino riu e respondeu:

— Vai sonhando.

— Gente, façam uma pose! — Samanta se levantou e tirou uma selfie com todo o esquadrão rindo durante a viagem.


Na mesma manhã, na Escola da ADEDA em São Paulo, Louis estava em sua sala discutindo com Katherine, que descobriu que ele escolheu novamente o Terceiro Esquadrão e não o dela.

— Por que escolheu o esquadrão dela para a missão?

— Por favor, não começa.

— Sempre confia mais nela do que em mim.

— O que isso tem a ver, Katherine?

— Por que escolheu o esquadrão dela então? — ela começou a chorar.

— Óbvio que escolhi o Terceiro Esquadrão por serem mais fortes. Nino matou sozinho uma calamidade, e ontem de manhã ele e sua irmã eliminaram uma anomalia de classificação ruína em minutos. Recebi uma ligação informando que surgiu uma anomalia muito grande em Copacabana e, assim que respondi, recebi outra ligação de Nina dizendo que mataram uma anomalia na praia. Não é uma competição; eles salvaram vidas de vários civis naquele dia. Quem garante que, até eu chegar e teletransportar alguém do Quarto Esquadrão, teríamos o mesmo resultado? — Louis se levantou e caminhou até ela. — O Quinto e o Sexto Esquadrões são inexperientes, não os mandaria também.

Katherine estava com o rosto banhado em lágrimas e Louis a abraçou.

— Promete que não vai me substituir? — Katherine chorando, apoiou a cabeça no peito de Louis.

— ...Prometo.

Louis estava exausto. Seu rosto mostrava o desgaste acumulado ao longo de mais de 17 anos.



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