Volume 1
Capítulo 13: Rio de Janeiro
Na manhã seguinte, já hospedadas no hotel, todos haviam saído, exceto Nina e Nathaly.
— Acorda logo, Nathaly — insistiu Nina, sacudindo seu amor na cama.
— Agora não... — murmurou Nathaly, virando-se para o outro lado e se cobrindo até a cabeça.
Nina, sentada na beira da cama, suspirou ao observar Nathaly. Depois de um momento, levantou-se.
— Todo mundo já saiu. Vou encontrar o Nino na praia... Aparece por lá depois, tá?
— Tá bom... — respondeu Nathaly, com a voz ainda sonolenta.
— O Nino fez café da manhã. Se quiser, come e depois desce.
— Uhum...
Ficou meio abatida, mas não disse mais nada. Em silêncio, saiu do quarto, deixando Nathaly para trás.
Enquanto passava pelo calçadão, com seu desenho ondulado tão característico na praia de Copacabana, Nino ouviu gritos e viu pessoas correndo em pânico. Olhou para o mar e avistou uma enorme anomalia emergindo das águas: parecia um kraken de duas cabeças gigantes, com tentáculos ainda maiores se agitando violentamente.
Shhhuaa...
Sem perder tempo, Nino avançou, deslizando pela água como se estivesse surfando, enquanto gelo se formava sob seus pés, congelando a praia ao seu redor. Ele avistou uma criança que não conseguiu fugir e, com rapidez, a resgatou, segurando-a firmemente nos braços.
Uma grande onda se formou; Nino a congelou no ar, criando uma rampa que usou para pular. No alto, ele criou um escorregador de gelo e deixou a criança descer, rindo e dando loopings até cair diretamente nos braços de sua mãe.
Nino se distraiu ao ver a mulher agradecer com um aceno de cabeça, momento em que o Kraken aproveitou para se enrolar ao redor de seu corpo com os tentáculos, apertando-o até que... CREEK! Os ossos estalaram, sendo esmagados.
Ele perdeu o controle. Semi-consciente, um olho emergiu em seu pescoço, substituindo sua marca que ficou visível.
BOOM!
Um estrondo ensurdecedor ecoou, sendo ouvido à muitas ruas de distância. Nino usou magia escura, despejando seu sangue nos tentáculos do Kraken, e os explodiu.
No entanto, o Kraken se regenerou instantaneamente, contra-atacou com um golpe violento e arremessou Nino contra um quiosque.
BAAM!
— GAAAWRR...! — entre os destroços, Nino rugia como um animal selvagem enquanto lutava para controlar seu corpo.
Nesse momento, Nina apareceu e o segurou firme.
— O que cê tá fazendo? Se controla, caralho! — Nina segurou sua blusa e o sacudiu algumas vezes.
Ao ouvir a voz de sua irmã, Nino conseguiu retomar o controle de seu corpo.
A marca em seu pescoço desapareceu junto com o olho que havia surgido. Colocou a mão no braço de Nina e a olhou nos olhos.
— O que voc...
Nino se levantou.
— O que você tá fazendo?
— Essa aberração se regenera rápido demais. Eu tive uma ideia.
— ...Diga.
— Assim que eu começar a correr, você vai mandar uma flecha na cabeça da esquerda.
— Qual elemento?
— Não importa, apenas abra um buraco.
— Ok.
Nino olhou para o Kraken à distância, respirou fundo e avançou rapidamente.
Desta vez, não congelou a água sob seus pés; em vez disso, correu sobre ela com muita velocidade.
Nina disparou uma flecha de fogo tão poderosa que passou perto de Nino, deixando um rastro de chamas no ar.
SHKRUNCH!
O Kraken tentou atacá-lo, mas ele cortou os tentáculos com uma espada de sangue. Embora a anomalia se regenerasse rapidamente, já era tarde demais.
BOOOMM!
Nino pulou, e a flecha de Nina atingiu a cabeça esquerda da anomalia.
Ele mergulhou no buraco deixado pelo impacto e encontrou um núcleo dentro.
BUMM!
Usando magia escura, Nino o explodiu completamente, sendo impulsionado para o céu pela força da explosão.
No ar, ele apontou as mãos para a anomalia, jogou-as para trás como se estivesse segurando arminhas, e berrou:
— KABOOM! FILHA DA PUUTAA!
Das arminhas, sangue escorreu por seus dedos, formando duas espadas que ele arremessou na outra cabeça do Kraken. P-PLOCH! As lâminas voaram, criando correntes que se prenderam às mãos de Nino até perfurarem a segunda cabeça.
— Deu certo! — exclamou Nina, rapidamente criando outra flecha e disparando.
Nino puxou as correntes, usando o impulso para se lançar em direção à última cabeça.
BOOOOMM!
A flecha passou, transformando o ambiente ao redor em um vermelho vivo, queimando como um vulcão, e abriu um buraco na anomalia.
O Kraken se regenerou rapidamente, mas foi o suficiente para Nino entrar. SHKRUNCH! Dentro da anomalia, ele criou duas espadas e a cortou de dentro para fora, destruindo o núcleo e neutralizando a ameaça.
Arthur, que caminhava nas ruas próximas à praia, foi atraído pelos gritos e correu até lá.
Ao chegar, viu Nino ao longe, usando uma magia estranha para criar uma espada com correntes. Estava muito longe, e a luz do sol impediu que ele visse a cor com clareza.
— Sensação estranha, eu já vi isso?
Teve um déjà vu, como se já tivesse visto aquilo antes, mas não conseguia se lembrar.
Distraído, Thales esbarrou em Arthur sem querer.
— Opa, foi ma... Arthur? Você ouviu os barulhos?
— Sim. Vim ver o que estava acontecendo, mas parece que os gêmeos já resolveram. Oi, Samanta — disse Arthur, notando Samanta nos ombros de Thales, sentada confortavelmente enquanto ele a carregava.
— Oi.
— Sem blusa, de bermuda... e você de biquíni. Onde estão os equipamentos?
— Ah, que chato ter que carregar isso pra todo lado.
— A pistola é obrigatória. Regra é regra. A única exceção é para a zona rural. Enquanto estiverem em áreas urbanas, é necessário ter o equipamento.
— Mas estamos de férias — respondeu Samanta, já desanimada com o tom sério e certinho de Arthur.
— É... um bom ponto. Aff, deixa pra lá — Arthur suspirou, frustrado por ser o único a levar as regras a sério.
— Boa! Toca aqui — Thales levantou as mãos, Tap! e Samanta, ainda nos ombros dele, bateu as mãos nas dele, rindo.
— Vamos até os gêmeos.
— Mas... onde eles estão?
Depois que Nina ligou para Louis chamando a limpeza, ela arrastou Nino de volta ao hotel.
Ao entrarem, viram Nathaly tomando café no balcão.
— Bom di...
— Nathaly, preciso conversar com o Nino, e ninguém pode escutar. Fica lá fora no corredor, olhando se ninguém vai chegar do nada, por favor — disse, bem séria.
— Tá bom — Nathaly pegou seu pão e saiu, comendo enquanto se dirigia à porta.
Nina se voltou para Nino, seu rosto exalava sua preocupação e frustração.
— O que você acha que está fazendo? Cheguei na praia e te encontrei entre destroços, com sua marca à mostra — Nino a olhava sério, atento às palavras dela. — De que adianta matar a anomalia se coloca sua vida em risco? Você usou o sangue em público de novo. Cadê a merda da nossa promessa, caralho!?
Nino a encarou em silêncio por um longo momento. Nina, furiosa, manteve o olhar fixo nele.
— Me desculpa.
— E isso resolve alguma coisa!?
— Não resolve, mas é a única coisa que posso te oferecer agora.
Desanimado, Nino se virou e caminhou em direção à porta.
Nathaly, que estava encostada na porta, escutando a conversa, Pah! caiu no chão assim que ele a abriu.
Ele a olhou por um instante, então deu um grande passo por cima dela e saiu.
Nathaly se levantou devagar, bolada.
"Nem pra me ajudar a levantar." pensou, fazendo um biquinho. Foi até Nina e perguntou: — Você não acha que foi muito dura com ele, não?
— Talvez um pouco — Nina respondeu, sentando-se no balcão do hotel. — Quando ele voltar, eu peço desculpas.
— ...Se ele voltar, né? — Nathaly se sentou ao lado dela, apoiou os braços no balcão e depois deitou a cabeça sobre eles, com um olhar triste.
Nina ficou em silêncio, mas seus pensamentos não: "Só quero protegê-lo, por que ele não entende isso?"
Brrr, Brrr... Alissa fazia o que mais gostava: beber um bom vinho tinto enquanto ouvia suas músicas favoritas, deitada nua na banheira de hidromassagem da sua luxuosa cobertura. Era noite quando ela recebeu uma ligação.
Rindo maliciosamente, atendeu:
— Você não consegue viver longe de mim, né?
— Sim... Mãe.
Ssshhhua...
Nino permaneceu sentado na borda de um prédio alto, naquela noite, observando as ondas do mar, que agora estavam calmas depois de uma tarde agitada. O som das ondas quebrando e a brisa fresca o relaxavam.
— Ah, que fofo — Alissa girava o dedo na borda da taça. — Não esperava por isso, mas... por que me ligou?
— Ah, sei lá. Só queria ouvir sua voz um pouco.
— Quer conversar sobre algo?
— Não sei. Lembro que você mencionou que a Katherine te odeia, mas nunca explicou o porquê.
— Ah, Katherine... Nós éramos melhores amigas há muitos anos.
— Como assim?
— ...Somos primas. Crescemos juntas e fazíamos tudo juntas. Quando fomos enviadas para a ADEDA em 2005, tínhamos oito anos e caímos na mesma sala, com o professor Louis, que na época tinha 24 anos. Fomos enviadas porque desenvolvemos nossos poderes, que são únicos e muito fortes.
— Qual é o poder de vocês? Você disse o seu, mas não entendi naquele dia.
— Vou terminar a história e depois explico.
— Ok. — Nino estava muito curioso.
— O problema é que a Katherine acabou desenvolvendo uma paixão doentia por Louis, e isso a cegou cada vez mais. Ela começou a se afastar de mim e não suportava nem que eu interagisse com ele, por puro ciúme. Chegou a um ponto tão absurdo que decidi não fazer parte do primeiro esquadrão, para não deixar ela desconfortável. Eu era a única exterminadora que trabalhava sozinha; o segundo esquadrão era composto apenas por mim. Desde que os exterminadores existem, apenas eu — e agora você também — conseguimos matar uma anomalia de classificação calamidade sozinhos. Isso só aumentou a insegurança dela, porque eu era o centro das atenções, recebia todos os elogios. Mesmo que Katherine tenha um poder forte, ele é inútil sem ajuda, e ela temia que eu a substituísse no primeiro esquadrão. Embora Louis sempre a rejeitasse, ela não se afastava dele, com medo de que ele acabasse gostando de mim. Isso... isso é muito doentio! — Alissa se exaltou.
Crecsshh!
E uma garrafa de vinho explodiu perto da banheira.
— Aconteceu algo aí? Escutei um barulho.
— Eeeh, quebrei uma garrafa sem querer.
— Ata... Continua aí.
— Isso tudo era muito doentio. Eu era uma criança, e ele, um adulto. Mesmo ele deixando claro que não a queria, a única coisa que ela fazia era pedir para que ele a esperasse. Eu sempre mantive distância dos dois, e em 2006, nossa amizade acabou de vez. Depois do incidente com seu pai, ela nunca me perdoou pela morte dos amigos dela. Mas não faz sentido... — Alissa continuou alisando a borda da taça, mas agora com uma expressão abatida. — Ela não queria minha presença, mas esperava que eu estivesse lá para salvá-los?
— Não faz sentido mesmo... — Nino fez uma pausa antes de continuar. — Você disse que ela é forte, mas precisa de ajuda?
— Sim, o poder dela é cancelar os poderes dos outros.
— Cancelar?
— Você consegue usar seus poderes normalmente, não é? O poder dela é fazer com que você não consiga usar os seus de jeito nenhum. Mas, para fazer isso, ela precisa estar próxima, não colada ao alvo, mas não muito distante também. Ela não sabe lutar, não tem força para isso, nunca foi em uma missão sozinha. Louis usava o poder dela apenas para facilitar as missões do seu esquadrão. A escola busca poderes únicos, mas é raro aparecer alguém com algo assim. A última aparição foi Vinícius, com uma espécie de fogo azul, mas ele nem sabe usar direito. Quem sabe um dia ele aprende e se torna minimamente forte.
— Uhum.
— Aquele dia na escola, eu te contei só meia verdade sobre o meu poder.
— Meia verdade?
— Katherine anula poderes, já eu posso controlá-los e usá-los contra você, se eu quiser. Existem duas formas de controlar alguém: entrando na mente da pessoa ou manipulando a gravidade e o espaço ao redor dela. — Alissa levantou uma garrafa de vinho vazia ao lado da banheira, controlou o espaço ao redor da garrafa, Crec... fazendo-a flutuar antes de destruí-la, comprimindo o espaço ao seu redor. — Olhe para o seu braço. — Nino esticou o braço e olhou para ele.
— O que foi?
— Mesmo que você não veja, há gravidade e espaço em volta do seu braço. Meu poder me permite controlar isso... — Mesmo à distância, Alissa começou a manipular o espaço ao redor do braço de Nino. — ...fazendo com que seu braço se mova conforme eu quiser.
— Você está me controlando?
— Sim, e através dos seus olhos, vejo que você está em cima de um prédio. O que está fazendo aí?
— Então, você consegue usar isso para esmagar anomalias?
— Sim, eu consigo. Não tente mudar de assunto. O que está fazendo aí?
— É que...
— É que?
— É que eu briguei com minha irmã.
— Certeza que fez alguma coisa pra deixar ela brava.
— Tipo isso.
— Vá até ela, dê um abraço e peça desculpas.
— Isso aí não é demais?
— Obedece a mamãe! — Alissa riu.
— Sabia que não deveria ter falado isso.
— Aaah, para.
Nino ficou alguns segundos apenas ouvindo as leves risadas que vinham do celular.
— ...Vou voltar para o hotel então... Tchau aí.
— Bye-bye.
Nino desligou e, ao se levantar e virar, viu Nina aparecer à sua frente.
— Por que foi tão longe?
— O que você está fazendo aqui?
— Te procurando. Você estava demorando e achei que ia passar a noite fora de novo. — Nino caminhou em sua direção, e Nina o observou, confusa. Ele se aproximou e a abraçou.
— Quem é você e o que fez com o meu irmão?
— Ô sua infeliz, custa retribuir carinho?
— Você não é assim. A última vez que me abraçou assim foi no telhado daquele armazém, à noite, quando a vovó morreu.
— Desculpa por mais cedo. Não deveria ter usado o sangue.
— ...Desculpa por te xingar também. Fiquei brava e passei do limite. — Ela o abraçou de volta.
— Chega, né? Não é para tanto. — Ela soltou o abraço e o olhou com desdém. — Aí, já estou até fedendo a esgoto. Não toma banho, não?
— Já voltou com a chatice?
— Só falo verdades... — Nino saiu correndo — Quem chegar por último paga o lanche!
— AAAAH, SEUU! — Saiu correndo atrás dele, não muito atrás.