Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 1

Capítulo 12: Não a Reconheço

Na manhã seguinte, Nino acordou cedo e foi à cozinha preparar o café da manhã. Alguns minutos depois, Nina também acordou, com um semblante não muito amigável. Ela se levantou rapidamente e foi até a cozinha, onde encontrou Nino.

— Contou pra Alissa?

Como Nino se misturou com ela, suas memórias também foram compartilhadas com ela.

— Se você já sabe de tudo, por que está me perguntando? — Nino se virou, tirando a frigideira do fogo.

— É... Você tem razão. Pelo menos ela se mostrou muito confiável.

Nino olhou para ela e tentou disfarçar.

— É. Você tem razão. Vou ir mais cedo pra escola hoje, tá?

— Ela pediu sua ajuda?

— Não, só vou ir mais cedo mesmo.

— Ok. — Nina saiu, arrumando o cabelo e indo para o banheiro.


Ao chegar à escola, Nino foi diretamente à sala de Alissa.

— Eu já te tirei do castigo. Por que continua vindo?

— Sei lá, não tenho nada pra fazer.

— Uhum.

Nino não conseguia encará-la.

— Uhum...

Ele olhou para ela e viu aquele careta o zoando.

— Que foi?

— ...Acho que chegou uma missão de extermínio. Peraí. — Ela pegou seu celular na mesa. — É ali em Bela Vista, na Dutra. Aproveita que não está fazendo nada e vai lá.

— Ok! — Nino saiu para cumprir a missão.

Quando Alissa foi confirmar que seu esquadrão havia aceitado a missão, Katherine respondeu primeiro, aceitando-a.

— Hn... Não vi que a Katherine já havia aceitado... — Ela jogou o celular na poltrona e esticou os braços para cima, bocejando. — BooOOMMnnhh! Uff! Tanto faz. — Bocejou novamente e foi preparar seu café.


O Quarto Esquadrão chegou ao local primeiro. A Anomalia era um enorme sapo com uma língua imensa e cada membro do seu corpo desproporcional. Possuía mais de sete olhos ao redor e pulava muito alto. A criatura tentava fugir do esquadrão de Vinícius, que, apesar de seus esforços, não conseguia alcançá-la. Vinícius, sendo o mais rápido do grupo, disparou para eliminar a ameaça. Pa-pah... Quando a Anomalia pulou sobre um prédio na esquina, Vinícius viu duas partes dela caindo ao chão. Nino havia chegado e cortado a Anomalia ao meio ainda no ar. Vinícius, irritado, se virou para Nino quando ele guardou a espada.

— É perigoso ter civis nas ruas com uma anomalia solta. Tome mais cuidado.

— MAS EU TAMBÉM SOU EXTERMINADOR! — Vinícius gritou, claramente estressado.

— Ah. Foi mal, não percebi... — Nino respondeu, olhando um pouco para cima, para os olhos de Vinícius. — Fica difícil diferenciar com esse sobretudo cor de merda. — e se virou, começando a caminhar.

— Esper... — Vinícius tocou no ombro de Nino, e um olho apareceu, olhando para ele.

Cr-r-r-r-runch!

Com medo, Vinícius se mexeu e seu corpo se dividiu em centenas de pedaços cortados. Era um sonho acordado. Ele acordou assustado e caiu no chão, observando Nino se afastando cada vez mais.

Vinícius não sabia dos eventos do dia 29/06/2006, a chacina relacionada ao Espada Negra. Apenas os políticos que esconderam as informações, Katherine e Louis, que estavam lá, e Alissa, que contou a Nathaly e Nino, conheciam os detalhes. O Terceiro e Quarto Esquadrão só sabem que houve uma chacina por uma Calamidade 4 em 2006, sem mais informações.

O Esquadrão de Vinícius chegou e viu-o no chão, com um garoto de sobretudo se afastando. Nino parecia uma sombra e eles não perceberam quem ele era, nem a cor prateada de seu sobretudo. Passaram correndo, e apenas uma garota conseguiu lembrar do rosto de Nino. Ela se virou, mas ele já havia desaparecido.

"Pensei que tinha alguém aqui." pensou Manoela, olhando na direção em que o viu.

Nino estava em cima de um prédio, observando-os.

— Por que estão aqui se eu aceitei a missão?


— Você está bem? — perguntou Pedro.

— Estou, só escorreguei na baba da anomalia mesmo.

— Mas nem tem ba...

Vinícius, não querendo passar vergonha, estendeu a mão para Pedro.

— Ajuda aqui, vai.

Pedro o ajudou a se levantar. Mais tarde, na escola, Alissa foi chamada à sala dos professores. Ao entrar, encontrou Katherine com uma expressão emburrada.

— Por que Nino foi em uma missão do Quarto Esquadrão? — perguntou Katherine, aumentando o tom de voz.

— A culpa é minha. Eu contei a ele sobre a missão, e ele saiu imediatamente. Quando fui confirmar no celular, você já havia aceitado. Como ele não anda com o celular, não pude avisá-lo para voltar. Desculpe. Vou garantir que ele leve o celular a partir de hoje — respondeu Alissa, calmamente.

— DESCULPA?! Querem todos os holofotes para vocês? O esquadrão mais forte, o único exterminador da nova geração que matou uma calamidade! — Katherine respondeu, muito alterada.

— Eu já pedi desculpas — Alissa começou a perder a paciência. — Pode ficar com o histórico da anomalia. Cometi um erro, mas isso já é suficiente.

— E acha que só isso basta? Quero que o Nino peça desculpas na frente de todos no campo.

— Que drama é esse? Por que essa tempestade em copo d'água? Qual é a dificuldade de aceitar minhas desculpas por um erro que eu cometi? Apenas pegar o histórico da missão já paga o erro.

— Não. Vinícius vai desafiá-lo para um duelo. Assim que Vinícius vencer, Nino terá que pedir desculpas pelo que fez.

— Fez o quê? Matar a anomalia que seus alunos incompetentes não conseguiram neutralizar? — Alissa se aproximou do rosto de Katherine. — Se está tão incomodada, por que não duela você comigo?

— Por favor, acalmem-se... — disseram os professores.

— O quê? — Alissa abriu os braços, desafiando todos. — Querem vir todos contra mim também? Venham todos de uma vez, para poupar meu tempo! — Alissa já estava sem paciência.

— Isso que você está fazendo é ridículo, Katherine! — Katherine olhou para Louis e abaixou a cabeça enquanto ele falava. — Totalmente desnecessário. Apenas aceite as desculpas e atualize o histórico que eu mando para o governo.

— Desculpa... Mas provavelmente Vinícius já desafiou Nino. — Katherine, com a cabeça baixa, não esperava que Louis ficasse contra ela.

— Se Nino vencer, você vai pedir desculpas a ele e a Alissa. Se Vinícius ganhar, Nino pede desculpas por ter ofendido sua honra ou seja lá qual for o motivo patético para isso. — Louis, estressado, bateu uma palma e se teletransportou. — Que perda de tempo.

— Você se perdeu. Eu já nem sei quem é você mais. Me odeie à vontade, mas se tentar prejudicar meus filhos, eu acabo com sua vida.

— Gente, vamos nos acalmar.

— Estou tranquila, Eric, só não sei se Nino vai estar. É melhor chamar uma ambulância; não sei se o Vinícinhu vai ficar bem. — Alissa saiu da sala.


Vinícius estava no refeitório, em frente a Nino, com muitos alunos ao redor, observando enquanto ele o desafiava.

— Do nada isso?

— Sim ou não?

— Tem certeza disso? Nem sei quem é você.

Vinícius se irritou com a indiferença de Nino.

— Vai arregar agora? Quero mostrar a todos que você é um bosta fraco.

— Cala a boca, moleque — Nino se levantou e o empurrou. — Tá carente? — Ao seu lado, surgiu Louis através de seu teletransporte.

— Nino, houve um mal-entendido e foi decidido que será resolvido em um duelo entre você e Vinícius. Se você ganhar, as queixas e qualquer indiferença contra você serão retiradas. Caso perca, terá que pedir desculpas na frente de todos, no campo, para Katherine e o Quarto Esquadrão.

— Desculpas pelo quê?

— Pela missão que você "roubou" do Quarto Esquadrão. Eu acho isso ridículo, mas não quero mais ouvir reclamações. Então, por favor, os dois se dirijam ao campo, onde realizarei o duelo. — Louis bateu uma palma e desapareceu.

— Povinho carente — comentou Nina, sentada na mesa ao lado de Nino.

— Pra caralho — respondeu Nino.


O campo de futebol da escola estava lotado quando Louis anunciou os participantes do duelo: Vinícius, o desafiante, e Nino, o desafiado. A mente de Vinícius ecoava as palavras de Nino, as quais ele não conseguia esquecer.

"Não me viu chegar? Não me viu chegar?" pensava Vinícius, fervendo de raiva. — Vou fazer você engolir essas palavras, seu metido de merda!

Com o rosto sério e irritado, Vinícius começou a fazer movimentos com os braços, emanando uma aura de fogo de um lado e de gelo do outro. Ele segurou o cabo da espada em suas costas, e a lâmina brilhou com um fogo azul intenso.

Desde que havia perdido para Nino no duelo de duplas, Vinícius tentava imitar o estilo de saque da espada que Nino usava, com a lâmina posicionada à direita de sua cabeça.

— Magia fogo de cozinha? Tcs... Sério memo? — Nino murmurou para si, com uma voz zombeteira.


— Preparados? COMECEM!!

Vinícius sacou sua espada e avançou rapidamente, causando rachaduras no chão com a força de seu movimento. No entanto, Nino instantaneamente apareceu atrás dele, agarrando sua perna com firmeza. BAAM! Com um movimento ágil, Nino girou o corpo de Vinícius, ainda segurando sua perna, e desferiu um soco fraco em seu rosto, quebrando seu nariz e deixando-o semi-inconsciente. Ele não queria que Vinícius morresse de imediato. No chão, Nino se abaixou, enroscou a mão no cabelo de Vinícius e o puxou para cima, forçando-o a encarar seus olhos.

— Calma, princesa, só de olhar para você eu já sinto pena, tão delicadinha... Encha a porra do meu saco de novo, e eu te mato — murmurou, apenas para que ele escutasse e soltou Vinícius, que bateu sua cabeça no chão novamente.

Enquanto Nino caminhava com as mãos no bolso em direção ao portão do campo, Louis anunciou o vencedor, e todos aplaudiram Nino. Mas, no meio das palmas, um grito ecoou:

— NÃOO!!

Vinícius, em um ato de desespero, lançou um fogo azul em direção a Nino, que bloqueou o ataque com a mão. BOM! O fogo se espalhou atrás de Nino, e ele abriu um sorriso. Nina, na plateia, percebeu que seu irmão estava prestes a passar dos limites. Nino pulou indo finalizá-lo.

BAM!

BUUMM!

Antes que Nino pudesse finalizar Vinícius, Nina o interceptou no ar com uma voadora, arremessando-o contra uma parede próxima aos assentos do campo. Nino caiu entre os tijolos, com baba na boca e uma expressão atordoada.

— A luta já acabou, imbecil!

Nino se levantou, caminhando em direção a ela.

— Desculpa aí, precisava disso tudo?

Os dois ignoraram Vinícius e saíram do campo, enquanto os alunos gritavam: — Gêmeos! Gêmeos!

Alissa, junto com o Terceiro Esquadrão, foi até a sala dos professores, onde encontrou Vinícius com curativos no nariz e seu esquadrão, junto de Katherine. Com a cabeça baixa, Katherine pediu desculpas a Nino.

— ...Mm-me desculpa! — ela murmurou, esforçando-se para falar.

— Tanto faz. — Nino se virou e saiu, acompanhado por Alissa.

— Bom, eu fiz uma cagada, né? Desculpa aí. Mas conversei com Louis, e vou dar umas férias a vocês.

— Férias? — Nathaly perguntou, surpresa.

— Sim. Vocês vão para o Rio de Janeiro, com o apartamento pago.

— Tem certeza de que não vai precisar de nós? — perguntou Nathaly, ainda surpresa.

— Que nada, fiz merda e é minha forma de me redimir. — Alissa olhou para o Quarto Esquadrão. — E como o Quarto Esquadrão quer tanto trabalhar, é bom que sobra mais missões para eles.

— Estou ocupado, então venham aqui que vou teletransportar vocês — ordenou Louis.

Todos se aproximaram de Louis e se despediram de Alissa, que fez um tchauzinho com a mão. CLAP! Todos desapareceram.

— Não quero mais reclamações sobre anomalias "roubadas" ou coisas do tipo. Se não quer que outro exterminador mate seu alvo, o elimine mais rápido. — Louis repreendeu o Quarto Esquadrão, que abaixou a cabeça. Alissa saiu, dando uma risadinha que Katherine percebeu, irritada internamente. — Existem civis na maioria dos lugares onde essas coisas aparecem. Ao invés de brigarem por quem matou ou não, protejam os civis. Isso não é uma brincadeira. Há vidas em jogo aqui. Que isso nunca mais se repita. Estamos entendidos? — Louis concluiu, menos irritado.

— Sim, senhor! — respondeu o Quarto Esquadrão.

— Desculpe, não irá se repetir... — respondeu Katherine, ainda cabisbaixa.



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