Volume 1
Capítulo 12: Não a Reconheço
Na manhã seguinte, Nino acordou cedo e foi à cozinha preparar o café da manhã.
Alguns minutos depois, Nina também acordou, com um semblante não muito amigável. Ela se levantou rapidamente e foi até a cozinha, onde encontrou Nino.
— Contou pra Alissa?
Como Nino se misturou com ela, suas memórias também foram compartilhadas com ela.
— Se você já sabe de tudo, por que tá me perguntando? — Nino se virou, tirando a frigideira do fogo.
— ...É. Você tem razão. Pelo menos ela se mostrou muito confiável.
Ele olhou para ela e tentou disfarçar.
— É. Você tem razão. Vou ir mais cedo pra escola hoje, tá?
— Ela pediu sua ajuda?
— Não, só vou ir mais cedo mesmo.
— Ok. — Nina saiu, arrumando o cabelo e indo para o banheiro.
Ao chegar à escola, Nino foi diretamente à sala de Alissa.
— Eu já te tirei do castigo. Por que continua vindo?
— Sei lá, não tenho nada pra fazer.
— Uhum.
Nino não conseguia encará-la.
— Uhum...
Ele olhou para ela e viu aquele careta o zoando.
— Que foi?
— ...Acho que chegou uma missão de extermínio. Peraí. — Ela pegou seu celular na mesa. — É ali em Bela Vista, na Dutra. Aproveita que não está fazendo nada e vai lá.
— Ok! — Nino saiu para cumprir a missão.
Quando Alissa foi confirmar que seu esquadrão havia aceitado a missão, Katherine respondeu primeiro, aceitando-a.
— Hn...? Não vi que a Katherine já havia aceitado... — Ela jogou o celular na poltrona e esticou os braços para cima, bocejando. — BooOOMMnnhh! Uff! Tanto faz. — Bocejou novamente e foi preparar seu café.
O Quarto Esquadrão chegou ao local primeiro.
A Anomalia era um enorme sapo com uma língua imensa e cada membro do seu corpo desproporcional. Possuía mais de sete olhos ao redor e pulava muito alto.
A criatura tentava fugir do esquadrão de Vinícius, que, apesar de seus esforços, não conseguia alcançá-la.
Vinícius, sendo o mais rápido do grupo, disparou para eliminar a ameaça.
Pa-pah...
Quando a Anomalia pulou sobre um prédio na esquina, Vinícius viu duas partes dela caindo ao chão. Nino havia chegado e cortado a Anomalia ao meio ainda no ar.
Vinícius, irritado, se virou para Nino quando ele guardou a espada.
— É perigoso ter civis nas ruas com uma anomalia solta. Tome mais cuidado.
— MAS EU TAMBÉM SOU EXTERMINADOR! — Vinícius gritou, claramente estressado.
— Ah. Foi mal, não percebi... — Nino respondeu, olhando um pouco para cima, para os olhos de Vinícius. — Fica difícil diferenciar com esse sobretudo cor de merda. — e se virou, começando a caminhar.
— Esper... — Vinícius tocou no ombro de Nino, e um olho apareceu, olhando para ele.
Cr-r-r-r-runch!
Com medo, Vinícius se mexeu e seu corpo se dividiu em centenas de pedaços cortados.
Era um sonho acordado.
Ele acordou assustado e caiu no chão, observando Nino se afastando cada vez mais.
Vinícius não sabia dos eventos do dia 29/06/2006, a chacina relacionada ao Espada Negra.
Apenas os políticos que esconderam as informações, Katherine e Louis, que estavam lá, e Alissa, que contou a Nathaly e Nino, conheciam os detalhes. O Terceiro e Quarto Esquadrão só sabem que houve uma chacina por uma Calamidade 4 em 2006, sem mais informações.
O Esquadrão de Vinícius chegou e viu-o no chão, com um garoto de sobretudo se afastando.
Nino parecia uma sombra e eles não perceberam quem ele era, nem a cor prateada de seu sobretudo.
Passaram correndo, e apenas uma garota conseguiu lembrar do rosto de Nino. Ela se virou, mas ele já havia desaparecido.
"Pensei que tinha alguém aqui." pensou Manoela, olhando na direção em que o viu.
Nino, em cima de um prédio, ficou observando-os.
— Por que estão aqui se eu aceitei a missão?
— Você tá bem? — perguntou Pedro.
— Tô, só escorreguei na baba da anomalia mesmo.
— Mas nem tem ba...
Vinícius, não querendo passar vergonha, estendeu a mão para Pedro.
— Ajuda aqui, vai.
Pedro o ajudou a se levantar.
Mais tarde, na escola, Alissa foi chamada à sala dos professores.
Ao entrar, encontrou Katherine com uma expressão emburrada.
— Por que Nino foi em uma missão do Quarto Esquadrão? — perguntou Katherine, aumentando o tom de voz.
— A culpa é minha. Eu contei a ele sobre a missão, e ele saiu imediatamente. Quando fui confirmar no celular, você já havia aceitado. Como ele não anda com o celular, não pude avisá-lo para voltar. Desculpe. Vou garantir que ele leve o celular a partir de hoje — respondeu Alissa, calmamente.
— DESCULPA?! Querem todos os holofotes para vocês? O esquadrão mais forte, o único exterminador da nova geração que matou uma calamidade! — Katherine respondeu, muito alterada.
— Eu já pedi desculpas — Alissa começou a perder a paciência. — Pode ficar com o histórico da anomalia. Cometi um erro, mas isso já é suficiente.
— E acha que só isso basta? Quero que o Nino peça desculpas na frente de todos no campo.
— Que drama é esse? Por que essa tempestade em copo d'água? Qual é a dificuldade de aceitar minhas desculpas por um erro que eu cometi? Apenas pegar o histórico da missão já paga o erro.
— Não. Vinícius vai desafiá-lo para um duelo. Assim que Vinícius vencer, Nino terá que pedir desculpas pelo que fez.
— Fez o quê? Matar a anomalia que seus alunos incompetentes não conseguiram neutralizar? — Alissa se aproximou do rosto de Katherine. — Se está tão incomodada, por que não duela você comigo?
— Por favor, acalmem-se... — disseram os professores.
— O quê? — Alissa abriu os braços, desafiando todos. — Querem vir todos contra mim também? Venham todos de uma vez, para poupar meu tempo! — Alissa já estava sem paciência.
— Isso que você está fazendo é ridículo, Katherine! — Katherine olhou para Louis e abaixou a cabeça enquanto ele falava. — Totalmente desnecessário. Apenas aceite as desculpas e atualize o histórico que eu mando para o governo.
— Desculpa... Mas provavelmente Vinícius já desafiou Nino. — Katherine, com a cabeça baixa, não esperava que Louis ficasse contra ela.
— Se Nino vencer, você vai pedir desculpas a ele e a Alissa. Se Vinícius ganhar, Nino pede desculpas por ter ofendido sua honra ou seja lá qual for o motivo patético para isso. — Louis, estressado, bateu uma palma e se teletransportou. — Que perda de tempo.
— Você se perdeu. Eu já nem sei quem é você mais. Me odeie à vontade, mas se tentar prejudicar meus filhos, eu acabo com sua vida.
— Gente, vamos nos acalmar.
— Estou tranquila, Eric, só não sei se Nino vai estar. É melhor chamar uma ambulância; não sei se o Vinícinhu vai ficar bem. — Alissa saiu da sala.
Vinícius foi até o refeitório, ficando diante de Nino, sob o olhar atento dos alunos ao redor, enquanto o desafiava.
— Do nada isso?
— Sim ou não?
— Tem certeza disso? Nem sei quem é você.
Vinícius se irritou com a indiferença de Nino.
— Vai arregar agora? Quero mostrar a todos que você é um bosta fraco.
— Cala a boca, moleque — Nino se levantou e o empurrou. — Tá carente? — Ao seu lado, surgiu Louis através de seu teletransporte.
— Nino, houve um mal-entendido e foi decidido que será resolvido em um duelo entre você e Vinícius. Se você ganhar, as queixas e qualquer indiferença contra você serão retiradas. Caso perca, terá que pedir desculpas na frente de todos, no campo, para Katherine e o Quarto Esquadrão.
— Desculpas pelo quê?
— Pela missão que você "roubou" do Quarto Esquadrão. Eu acho isso ridículo, mas não quero mais ouvir reclamações. Então, por favor, os dois se dirijam ao campo, onde realizarei o duelo. — Louis bateu uma palma e desapareceu.
— Povinho carente — comentou Nina, sentada na mesa ao lado de Nino.
— Pra caralho — respondeu Nino.
O campo de futebol da escola ficou lotado quando Louis anunciou os participantes do duelo: Vinícius, o desafiante, e Nino, o desafiado.
A mente de Vinícius ecoava as palavras de Nino, as quais ele não conseguia esquecer:
"Não me viu chegar? Não me viu chegar?" pensava Vinícius, fervendo de raiva. — Vou fazer você engolir essas palavras, seu metido de merda!
Com o rosto sério e irritado, Vinícius começou a fazer movimentos com os braços, emanando uma aura de fogo de um lado e de gelo do outro. Ele segurou o cabo da espada em suas costas, e a lâmina brilhou com um fogo azul intenso.
Desde que havia perdido para Nino no duelo de duplas, Vinícius tentava imitar o estilo de saque da espada que Nino usava, com a lâmina posicionada à direita de sua cabeça.
— Magia fogo de cozinha? Tcs... Sério memo? — Nino murmurou para si, com uma voz zombeteira.
— Preparados? COMECEM!!
Crunm!
Vinícius sacou sua espada e avançou rapidamente, causando rachaduras no chão com a força de seu movimento. No entanto, Nino instantaneamente apareceu atrás dele, agarrando a perna com firmeza.
BAAM!
Com um movimento ágil, Nino girou o corpo de Vinícius, ainda segurando a perna, e desferiu um soco fraco em seu rosto, quebrando seu nariz e deixando-o semi-inconsciente.
Ele não queria que Vinícius morresse de imediato.
No chão, Nino se abaixou, enroscou a mão no longo cabelo castanho dele e o puxou para cima, forçando-o a encarar seus olhos.
— Calma, princesa, só de olhar para você eu já sinto pena, tão delicadinha... Encha a porra do meu saco de novo, e eu te mato — murmurou, apenas para que ele escutasse e soltou Vinícius, pah... que bateu sua cabeça no chão novamente.
Enquanto Nino caminhava com as mãos no bolso em direção ao portão do campo, Louis anunciou o vencedor, e todos aplaudiram Nino.
Mas, no meio das palmas, um grito ecoou:
— NÃOO!!
Vinícius, em um ato de desespero, lançou um fogo azul em direção a Nino, que bloqueou o ataque com a mão.
BAUM!
O fogo se espalhou atrás de Nino, e ele abriu um sorriso. Nina, na plateia, percebeu que seu irmão estava prestes a passar dos limites.
Nino pulou indo finalizá-lo.
BAM!...
BUUMM!
Antes que Nino pudesse finalizar Vinícius, Nina o interceptou no ar com uma voadora, arremessando-o contra uma parede próxima aos assentos do campo.
Ele caiu entre os tijolos, com baba na boca e uma expressão atordoada.
— A luta já acabou, imbecil!
Se levantou, caminhando em direção a ela.
— Desculpa aí, precisava disso tudo?
Os dois ignoraram a frustração Vinícius e saíram do campo, enquanto os alunos gritavam:
— Gêmeos! Gêmeos!
Alissa, junto com o Terceiro Esquadrão, foram até a sala dos professores, onde encontrou Vinícius com curativos no nariz e seu esquadrão, junto de Katherine.
Com a cabeça baixa, Katherine pediu desculpas:
— ...Mm-me desculpa! — ela murmurou, esforçando-se para falar.
— Tanto faz. — Nino se virou e saiu, acompanhado por Alissa.
— Bom, eu fiz uma cagada, né? Desculpa aí. Mas conversei com Louis, e vou dar umas férias a vocês.
— Férias? — Nathaly perguntou, surpresa.
— Sim. Vocês vão para o Rio de Janeiro, com o apartamento pago.
— Tem certeza de que não vai precisar de nós? — perguntou Nathaly, ainda surpresa.
— Que nada, fiz merda e é minha forma de me redimir. — Alissa olhou para o Quarto Esquadrão. — E como o Quarto Esquadrão quer tanto trabalhar, é bom que sobra mais missões para eles.
— Estou ocupado, então venham aqui que vou teletransportar vocês — ordenou Louis.
Todos se aproximaram de Louis e se despediram de Alissa, que fez um tchauzinho com a mão.
Clap!
Todos desapareceram.
— Não quero mais reclamações sobre anomalias "roubadas" ou coisas do tipo. Se não quer que outro exterminador mate seu alvo, o elimine mais rápido. — Louis repreendeu o Quarto Esquadrão, que abaixou a cabeça. Alissa saiu, dando uma risadinha que Katherine percebeu, irritada internamente. — Existem civis na maioria dos lugares onde essas coisas aparecem. Ao invés de brigarem por quem matou ou não, protejam os civis. Isso não é uma brincadeira. Há vidas em jogo aqui. Que isso nunca mais se repita. Estamos entendidos? — Louis concluiu, menos irritado.
— Sim, senhor! — respondeu o Quarto Esquadrão.
— Desculpe, não irá se repetir... — respondeu Katherine, ainda cabisbaixa.