Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 1

Capítulo 11: Medroso

Alguns dias depois, Thales, Samanta e Arthur foram enviados para exterminar algumas anomalias classificadas como errantes que surgiram em um prédio. Enquanto estavam na missão, Nino chegou à escola e parou em frente à porta de Alissa. Ele estava hesitante, com vergonha de entrar sem que ela o tivesse chamado. Alissa, sentindo algo atrás da porta, usou seu poder para controlá-lo sem que ele percebesse. Ao reconhecer que era Nino, ela interrompeu o controle.

— Hm...

Depois de alguns segundos olhando para a porta, Nino tomou coragem e entrou. Alissa se virou para ele, com um sorriso debochado.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou, com um sorriso malicioso. "Eu sabia que você voltaria."

— Estava passando por aqui e decidi dar um oi — respondeu Nino, sem conseguir encarar Alissa diretamente de vergonha.

— Uhum... — ela continuou a encará-lo.

— Que cara é essa?

— Vou sair para o meu encontro agora e j...

— Cinquentão no Pix que ele vai embora sem falar nada.

Interrompida, Alissa olhou para Nino com uma expressão mais séria.

— Não vou me estressar com você hoje, nem tente.

— Aposta?

— Cala a boca! — Alissa falou, já com uma expressão irritada.

— Você acabou de dizer que não ia se estressar. — Nino riu.

— Garoto, aproveita que está aqui e faz essa missão. — Alissa se virou de costas e pegou o celular. — Rua Oscar, é uma...

Nino não esperou ela terminar e já se dirigiu ao lugar.

— Poderia ao menos esperar eu terminar de falar? Sem educação.


Nathaly estava com Nina no campo da escola, treinando.

— Quando vocês vieram para a escola, lembro que no teste do Nino, o rapaz arremessou uma lança de fogo em Nino, que pegou e retornou mais forte. Você pode me ensinar isso?

— Hm... É bem fácil, na verdade. Me manda uma bola de fogo.

Nathaly lançou uma bola de fogo em Nina; ela controlou o fogo girando seu corpo e mantendo a mão próxima à bola, que desapareceu assim que ela fechou a mão.

— Viu? — Nina apareceu com um quadro escolar e começou a escrever e ilustrar tudo o que precisava explicar para Nathaly. — Basicamente, você não encosta no fogo, mas mantém a mão próxima enquanto usa seu próprio poder para aumentá-lo, controlando a bola de fogo. Com esse movimento circular, você pode arremessá-la de volta para quem te atacou. É simples, mas precisa ser rápido, dependendo da velocidade da magia que vem em sua direção. Uma magia gigantesca não dá, mas uma bola de fogo como essa — ela criou uma bola de fogo um pouco maior em sua mão. — pode ser rotacionada e controlada. Além disso, não há perigo se você rotacionar a magia, pois, caso não consiga controlá-la, ela passará direto. No entanto, se houver alguém atrás de você, pode ser atingido e morrer, então decida rapidamente o que fazer em uma situação assim! — Nina terminou com um sorriso e dois joinhas.

— Por que você explicou isso tão feliz?

— Tente, vou mandar uma fraca. Não se esqueça: primeiro desvie, depois rotacione seu corpo adicionando magia e então arremesse de volta.

— Ok! — Nathaly se concentrou ao máximo.

— Foco, lá vai! — Nina mandou uma bola de fogo.

Nathaly desviou e começou a adicionar magia.

"Adicione e vol..." Triiiiii! Triiiiii! Nathaly se assustou com uma ligação que recebeu no celular e acabou adicionando muita magia, criando uma bola imensa de fogo. Ambas olharam para a bola com os olhos arregalados.

— Você criou outro sol?! Manda pro céu!

Desesperada, Nathaly lançou a bola imensa para o céu. Nina, com os braços esticados, puxou o direito para trás como se estivesse puxando uma flecha e criou uma flecha de gelo, que arremessou na bola de fogo. A bola se desfez instantaneamente, criando milhares de pequenos cristais de gelo que caíram lentamente, brilhando como neve.

Nathaly pegou o celular do bolso e atendeu, colocando no viva-voz. Era Alissa.

— Onde você está?

— Estou no campo com a Nina, por quê?

— Uhummnh...

— Ham?

— Nino saiu correndo em uma missão sozinho. É na Rua Oscar Freire, uma anomalia que não se sabe ao certo, mas visualmente é classificada como massacre 1. Segundo as denúncias, é uma aranha gigante.

— Uma aranha?! — gritou Nina, visivelmente agitada.

— Sim... Por quê? — respondeu Alissa, confusa.

— Rua Oscar, certo? Estou indo. — Nina agarrou a mão de Nathaly e saiu arrastando-a.

— Ok. — Alissa desligou a ligação.


As duas chegaram à Rua Oscar Freire, mas não encontraram Nino por lá. Cr-rraashh! De repente, ouviram um barulho e, ao olharem para trás, viram Nino dobrando a esquina da Avenida Rebouças, passando por uma banca enquanto corria com muito medo da aranha gigante. Nathaly arregalou os olhos, abriu a boca levemente e inclinou a cabeça, enquanto Nina começava a gargalhar, rolando no chão de tanto rir.

Nathaly imbuiu sua espada com fogo e atacou as pernas da aranha gigante. Quando ela caiu, Nathaly a cortou ao meio. Nino, rastejando no chão, abraçou Nathaly com os olhos cheios de lágrimas, agradecendo:

— OBrigAAadO! — gritou, chorando com a boca bem aberta.

De repente, ouviram barulhos e viraram-se para ver centenas de filhotes da aranha gigante surgindo. A aranha gigante estava grávida. Nino e Nathaly se desesperaram e começaram a correr, gritando, enquanto Nina continuava chorando de rir, observando a situação vergonhosa dos dois. Nathaly novamente imbuiu sua espada com fogo e lançou uma explosão de chamas nas aranhas, incinerando todas elas. No entanto, ao olhar para trás, Nathaly viu carros, postes e outras coisas quebradas na rua.

— Isso vai dar um problemão.

Nina ainda ria alto, o que deixou Nino irritado.

— Não ajuda, né? Sua praga.


Enquanto isso, Alissa estava em seu encontro, contando sua décima quarta história sobre uma missão de extermínio.

— Aí vieram as duas calamidades juntas e eu fiquei jogando elas pros lados enquanto tentavam fugir. — Ela ria muito, mas o rapaz do encontro mantinha um sorriso forçado.

— Hahaha...

Brrrr!

Alissa sentiu seu celular vibrar e o pegou; era Louis.

— Me dá só um minutinho, é importante. — Ela se levantou e foi para um lugar mais silencioso. — Alô?

— Estou recebendo muitas reclamações de destruição em uma missão que você passou para seu esquadrão. Pode voltar para a escola? Quero te passar um relatório.

"O que aquela peste fez?" — Tá, daqui a pouco apareço aí.

Ao voltar para sua mesa, Alissa percebeu que o homem havia desaparecido.

— Igual a todos os outros... Melhor eu comprar um consolo, ao menos é mais fácil. — Alissa, brava, saiu do restaurante, esquecendo até mesmo de pagar a conta.


Algum tempo depois, Alissa estava com Nino, Nathaly e Nina em sua frente dentro da sua sala.

— Vocês me fizeram sair do meio do meu encontro por causa de uma anomaliazinha? — questionou, muito irritada.

— Nós não, essa anta do meu lado aqui. — Nina deu uma risadinha debochada, com os olhos meio fechados.

— Seu cu!

— Por que demoraram tanto para matar uma simples aranha? Só não foi mais destruição do que a fênix, mas a fênix é compreensível, PORQUE ERA UMA CALAMIDADE! — Alissa colocou a mão no rosto, estressada.

— Tenho medo de aranha, desculpa... — respondeu Nino, de cabeça baixa, tentando ser fofo para não levar um soco.

Nina riu, e Nino deu um chute na perna dela. PAH... Ela respondeu com outro chute e ele se jogou no chão.

— AIII AIII ELA ME BATEU AQUI Ó!... — Alissa o encarou com uma expressão séria.

— Levanta. Agora.

Nino se levantou rapidamente.

— Queria estragar meu encontro, é?

— Tenho certeza de que você fez isso sozinha — respondeu, seco e bem sério.

Alissa abriu a boca para responder, mas desistiu de xingá-lo.

— Você tem razão, eu tenho um dom para isso... — Desanimada, ela se virou para pegar seu celular na mesa.  — Como castigo, vocês vão resolver uma coisa. Em Pinheiros está tendo um surto, os animais domésticos de muitas pessoas estão desaparecendo.

— Isso não é trabalho da polícia? — perguntou Nathaly.

— Sim e não. Não sabemos se é uma anomalia, mas como vocês fizeram merda... — Todos disfarçaram, fingindo que não era com eles. — São vocês que irão resolver. Já deixei um motorista na porta da escola para levar vocês até o metrô; chegando lá, peguem a linha 4, a amarela, e parem na estação de Pinheiros.

— Aaaaah... Pede pro diretor nos mandar, pelo menos.

— Não. E só voltem quando resolverem o problema.

Todos saíram da sala com a cabeça baixa e, após algum tempo, foram para o carro do governo. Na estação de metrô, já com os bilhetes, entraram no trem e se sentaram entediados.

— Culpa sua!

— Calada.

Após chegar em Pinheiros, o TriN começou a bater de casa em casa, perguntando sobre os desaparecimentos de animais. Descobriram que nenhum animal havia sido raptado de dentro das casas; todos sumiram quando os donos estavam passeando com eles ou quando os animais saíram correndo para brincar ao abrir o portão.

— Ele sempre saía correndo, mas depois de um tempo voltava — Nino repetiu o relato de uma das moradoras.

— Comigo também foi só essa história.

— Porra, estamos aqui há umas duas horas já.

— Bora encontrar a Nathaly e ir embora, já tá anoitecendo. Amanhã a gente volta e conta para a Alissa só depois.

— Tá aprendendo isso com quem? Delinquente.

— Não enche.

— Irresponsável. — Nino zoou.

— Não me enche o saco. Pra começar, é culpa sua estarmos aqui.

— Diz isso de cara limpa mesmo tendo ficado só rindo lá?

Nina riu dele novamente.

— Ué, você desesperado com medo de uma aranhazinha é impagável.

— Calada.

Nina riu e os dois começaram a procurar Nathaly nas ruas.

— Ela desapareceu também, é? — Nino zoou após procurarem por todo lado e não a encontrarem.

— Repita isso mais uma vez e eu quebro a tua cara! — Nina arregalou os olhos, quase como uma ameaça de morte. — Vou ligar pra ela.

Nathaly estava próxima ao Rio Pinheiros. Havia visto uma capivara e achou ela fofa. Se aproximou para fazer carinho.

Brrrr!

Ela pegou seu celular no bolso e atendeu.

— Onde você está? — Nina perguntou, preocupada.

— Aqui no rio, tem uma capivara fofAAAAAAA!! — Nathaly gritou, e Nina se desesperou.

— NATHALY?! NATHALY?! PORRA?!

A capivara, embora parecesse fofa por fora, era uma anomalia. Quando Nathaly se aproximou, a capivara abriu uma boca gigante cheia de dentes afiados e tentou mordê-la. No susto, Nathaly pulou para trás, e seu celular caiu no chão. Ainda assustada, ela puxou sua espada, imbuiu-a de fogo e lançou um ataque que incinerou a anomalia por completo. Nathaly pegou seu celular do chão e respondeu a Nina:

— Descobri o que que tá rolando. Cola aqui no rio! — Nathaly desligou.

— Nathaly, ai Nathaly... Nãoooooooo! — Nino começou a zoar sua irmã, se aproximando do ouvido dela.

— Não enche. — Nina o empurrou.

— Ai Nathalyyyyy... — continuou Nino, rindo muito. — Só faltou chorar.

— Eu vou alargar tua cara, moleque. — Nina encurvou seus dedos como garras.

— Parei, parei — respondeu, ainda rindo.

Chegaram ao rio, e Nina tirou uma foto da anomalia incinerada. Como Nino detestava usar celular, ele não o levava para nenhum lugar. Isso facilitava Nina a fingir ser ele, já que ele geralmente deixava o celular jogado em algum lugar do apartamento, e Nina o pegava para conversar com Nathaly escondida.

Depois de tirar a foto, Nina a enviou para Alissa. Alissa estava em seu apartamento, tomando um banho de banheira, bebendo vinho e ouvindo uma música calma quando recebeu a foto. Ela abriu a conversa e respondeu com um joinha.

— Um joinha? Ela tem o quê? 45 anos?

— Ufa.

— Vamos embora.

Eles voltaram para a estação e pegaram o metrô de volta. Dentro do trem, os três estavam sentados juntos. Nathaly cochilou com a cabeça apoiada no ombro de Nino, Nino com a cabeça voltada para Nina, e Nina com a cabeça encostada na de Nino. Quando a estação em que estavam foi anunciada, Nino acordou sacudindo as duas. Nathaly acordou meio sonolenta, mas se levantou e saiu pela porta, enquanto Nina estava dormindo feito pedra e babando.

Tuc.

Nino a puxou pela perna e ela caiu, batendo a cabeça no chão. Ela não acordou, então ele saiu arrastando-a até a saída. Vendo que ela não acordava de jeito nenhum, ele a carregou nas costas até o prédio onde moravam. Mwah! Quando o elevador parou no andar de Nathaly, ela deu um beijo em Nino, que nem estava prestando atenção.

— Até amanhã — disse Nathaly, saindo sonolenta para seu apartamento enquanto a porta do elevador se fechava.

— Que bom que tá desmaiada. Se visse isso, eu ia ser crucificado. — Nino saiu do elevador com uma expressão desanimada, abriu seu apartamento e foi direto para o quarto. Pahfft! Onde arremessou Nina na cama.

— Saporra dorme, hein. — Nino olhou para sua irmã e lembrou do desespero que ela teve mais cedo em relação a Nathaly.

Olhando-a dormir, ele decidiu se misturar com ela para entender o que aconteceu. Nino então colocou sua mão na mão de Nina e se misturou com ela. Nesse momento, ele sentiu toda a dor do medo de perder alguém que Nina sentiu ao ouvir o grito de Nathaly.

— Que isso...? — Nino se sentou no chão, encostando as costas no guarda-roupa, e olhou para suas mãos meio trêmulas. Suas unhas pretas começaram a crescer como grandes garras, mas logo voltaram ao normal quando uma lágrima caiu, desfazendo a distorção em sua visão. Ele não percebeu que estava chorando; apenas estava extremamente confuso com tudo que havia sentido e com tudo que ainda estava sentindo.

Ele estava compreendendo e não compreendendo ao mesmo tempo. Entendia o amor que Nina sentia por Nathaly, mas não conseguia entender como o amor realmente funcionava e o que tinha em Nathaly que fazia com que Nina sentisse tanta dor ao pensar que ela pudesse se machucar.

— O que é amar alguém? Como isso funciona? Se é sentir essa dor... Por que eu iria querer amar alguém?

Nino ama sua irmã, mas não sabe como é o amor além desse de irmãos.



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