Volume 1 – Arco 3
Capítulo 153: Pagar com a Vida
BAM! Bum-Bum-Bum!
Marcos não era mais natural; rendeu-se ao suco... mas isso o deixou bizarro. Grande como um urso, músculos imensos. Os colaterais vieram fortes. Espinhas crônicas nos peitos, rosto e careca... Seu cabelo caiu completamente.
Uma aberração, porém estava gigante... Isso era o mais importante?
Nina se virou ao escutar o estrondo, mas estava distraída desdenhando de suas vítimas e foi atingida em cheio por um soco. Arremessada para trás, quebrou com as costas a parede de pedra que criou, e mais algumas, entrando no apartamento vizinho até sair voando sobre a R. Barão do Bananal.
No entanto, quando adentrou o novo apartamento, passou por um quarto de um garoto distraído em algo mais importante. Com fones no talo, o mouse posicionado na esquerda do teclado, um jovem batia uma punheta sinistra. Os tremores, as explosões eram ofuscados, acreditando que estava chegando no ápice do nirvana, a punheta perfeita, capaz de abalar o mundo com tamanho poder...
Bum!
Mas quando a explosão foi destruindo as paredes do seu quarto, tirou a mão do saco em um susto desesperado:
— Aiiiihnm... — Quando viu um homem gigante passar correndo pelos buracos, corrigiu o gemidinho fino: — Cof-cof... Gaarrrrh!
Vul!
Marcos saltou do prédio na direção de Nina pairando no céu... Caiu no bait.
BAAM!
Nina virou um mortal, desviando do soco aéreo e desceu o calcanhar no que um dia foi um pescoço daquele ser humano "modificado". BUM! O impacto foi devastador. 400 quilos de músculo caindo no asfalto já não tão preservado assim... Abriu um novo buraco.
Tijolinhos expostos pelo tempo caindo de bungee jumping.
Ruas vazias.
O medo era sempre real.
Marcos se levantou, o corpo estalando em diversos pontos. Se não fossem os músculos adquiridos por tudo que misturou, teria morrido na colisão. Não havia magia. Não havia uma força como Thales tinha. Naquele corpo ali só havia motivação e músculos que davam uma falsa certeza de força.
A rua era inclinada. Uma pequena subida. Atrás do seu rosto horroroso, uma das ilustrações do Mickey e Minnie mais tenebrosas que alguém já colocou como decoração da porta de sua loja... Olhando para frente, via Nina parada, observando-o com uma sobrancelha levantada.
"Eu já vi esse cara?" pensou com desdém.
Atrás dela, apareceu outro homem musculoso... Foi na ideia, acabou sem cabelo e espinhoso. Otário... Quem mandou não ser cabeça?
— Thales e Samanta frequentavam minha academia — rosnou, com uma raiva mais que evidente.
— Own... Que fofo! Quer ir visitá-los? — respondeu com deboche.
Marcos, enfurecido, gritou:
— DESGRAÇADA!
Os dois homens avançaram com um soco.
BA-BAM!
Nina se abaixou e eles acabaram se socando no rosto... Ambos com o nariz quebrado, dentes voando e sangue decorando tudo aquilo. O amigo era mais fraco e foi empurrado um pouco para trás.
Marcos, atordoado, não viu seu amigo indo para o inferno.
Bam-Bam-Bam!
Nina deu três socos calculados no peitoral. Cada um com um objetivo — não perfurar, mas sim destruir internamente. Costelas quebradas, rosto choroso com o nariz derramando todo o sangue fervendo pela dor... O corpo não tinha mais sustentabilidade, mas Nina o forçou.
Segurou um braço. Creck! e o quebrou... Marcos avançou.
Nina, de costas, levou a mão até atrás da nuca; uma espada de sangue foi formada. O troglodita não conseguiu parar sua investida. Shk! Deu um soco na lâmina; agora tinha três braços. Um aberto em duas tiras.
Nina girou em 180°, Shkrunch! e não lhe deu nem tempo de choramingar de dor. O pescoço foi cortado. A cabeça voou. Seu giro puxou o amigo, que, mesmo não sentindo firmeza no corpo, golpeou-a com um soco do braço mais fraco... Crunch... Perdeu-o também.
— AARRRGGHH!
Caiu de joelhos.
Sangue saindo pelo cotoco destruído.
Rosto amassado, nariz pingando quase que sangue coagulado... Nina colocou a mão naquela face gordurosa e espinhenta. Aquele cara chorava de dor. Não conseguia pedir desculpas ou implorar por sua vida. Só gemer e gritar, gritar e gemer...
BRUM!
Explodiu-o com magia escura. Restaram as pernas e parte superior do joelho. Queria deixar uma lembrança, mostrando para quem achar aqueles restos mortais que aquele humano morreu ajoelhado perante um ser muito mais forte... Sangue escorrendo pela descida do morro... Lá embaixo:
— NINA! — gritou Nino.
Nina ouviu seu irmão, o viu e correu até eles... No meio da rotatória, havia um bueiro. Fruu! Nino usou magia de vento e a tampa saiu voando. Saltou e desceu estendendo as mãos, Fruussst! lançando uma rajada de gelo, congelando a água para não molhar os tênis no esgoto.
Nina entrou; Nathaly, logo em seguida... PRAC! A tampa desceu após o voo curto, caiu certinho, exilando o fedor do mundo exterior. O gelo branco, meio azulado, quase servia como luz na escuridão do lugar. As mechas de Nathaly trazendo uma fotoluminescência natural... Não entendeu de imediato o porquê os dois olhavam-na curiosos.
— Sabe como chegar lá pelo esgoto? — Nino quebrou o silêncio.
— Acho que é só seguir reto, sempre virando para o sul. Imagino que em menos de 10 minutos correndo chegaremos a um bueiro perto do lugar — respondeu Nathaly, pensativa.
— São muitas curvas no esgoto... De barco é mais rápido? — sugeriu Nino, sorrindo.
— Barco? — perguntou Nina, confusa.
— Sim, um barco!
Frusst!
Nino criou um barco de gelo... As duas se olharam e entraram.
BUM!!
Usou magia de fogo azul para ganhar impulso, mas removeu as propriedades inflamáveis da magia, explodindo o chão atrás deles. O barco deslizou com velocidade absurda, enquanto Nino congelava a água e as paredes ao redor, deslizando por elas no tempo em que se divertia nas curvas com o sorriso no rosto.
Após poucos minutos, decidiram espionar o primeiro bueiro para ver se estavam próximos do lugar... Bingo. Nathaly perdeu no dois ou um e subiu um pouco a tampa de ferro, espiando com olhos estreitos a rua em que estavam.
Era um semáforo, dando ordem na Av. Brig. Faria Lima e R. Apásia... Exatamente onde queriam estar. Nathaly viu as centenas de árvores que dividiam a avenida. Havia poucas pessoas ao longe, e nenhum carro estava em movimento.
Conseguia ver a grama verde ao redor da antiga casa branca com telhas avermelhadas. O reflexo dela sendo espelhado pelo prédio da Google. Nem mesmo o guardinha estava presente.
— Não tem ninguém. Vamos! — chamou.
Nem usaram as escadas; correram rapidamente pela grama e entraram pelo outro lado, onde se encontrava a entrada, cercada por árvores e uma fonte de água.
Dentro da casa, um cômodo onde havia um colchão no chão.
— Acho que não temos como fugir — ponderou Nathaly.
— Sim e não — respondeu Nina.
Nathaly olhou-a meio confusa.
— Alissa disse para Nino que, se um dia nós fossemos descobertos, ela estaria do nosso lado. Mas não sabemos se ela está de fato. Não tivemos contato com ela desde que saímos da escola pra ir executar a missão.
— Ela disse isso?
— Sim.
— ...Podiam ter me avisado. Eu teria ido chamar ela. Deve estar lendo algum livro no escritório, sem nem saber o que está acontecendo.
Os gêmeos encaravam-na sem expressão alguma em seus rostos... Silêncio completo.
— Harff... — Nina bufou, abaixando o rosto, mas o ergueu e ponderou: — Nino tem plena certeza que ela está do nosso lado. Mas eu não sei até onde vai isso. Não sei se ela os mataria ou se só não interferiria, deixando nós contra eles e vice-versa.
— Não sei... Mas, sinceramente, acho que é só esperar que ela vai resolver isso — concluiu seu ponto, Nino.
— Acho que não — Nathaly respondeu e ambos a olharam. — Arthur mentiu muito, dizendo que foi você que matou Samanta e Thales. — O olhar de Nino ficou visivelmente agressivo. — Além de ter tentado matá-lo. Louis está muito bravo. Realmente quer vocês mortos. Não acho que com uma conversa isso vai se resolver. Eu até tentei, mas ele só mandou nós irmos embora.
— Vamos fazer o seguinte então. Vamos esperar até amanhã. Se até amanhã Alissa não tiver feito nada, é porque ou não vai intervir ou não está com a gente. Então, vamos bolar um plano, alguma estratégia que for, só para facilitar as coisas. Precisamos matar primeiro Louis e Katherine. Acredito que são os únicos reais problemas... Caso Alissa de fato não estiver junto, é claro.
Nino se irritava cada vez que Nina duvidava que Alissa estava com eles.
— Mas... Nathaly... Tem certeza de que quer isso? Pode ser uma operação suicida. Alissa nunca te mataria, mas, com uma pressão do estado, se nós não conseguirmos, você pode passar o resto da vida na cadeia de segurança contra criminosos mágicos — comentou Nina.
— Não me importo se esse for o destino. Se for para morrer, que seja junto com minha família — respondeu sorrindo levemente. Nina sorriu, olhando-a. Nino trocou seu semblante irritado com a irmã e assumiu um mais tranquilo, com um pequeno sorriso de boca fechada.
Paf...
Se sentou no colchão.
— Beleza então. Vamos descansar e pensar em um plano. Amanhã, vamo com tudo — finalizou ele.
Interrompida de sua leitura por milhares de mensagens fazendo o celular vibrar... Alissa caminhava com tranquilidade pelos corredores da escola quando Katherine de repente apareceu e parou na sua frente, a poucos metros de distância.
Alissa usava o sobretudo... Deboche?
— Vai deixar isso assim? Seu esquadrão tirando a vida de alunos? — perguntou com firmeza.
— Você responderia a um tiro entregando uma rosa? Vocês atacam e depois reclamam quando eles se defendem? Que inocência é essa? — Alissa retrucou.
— Eles não são humanos. Não têm direitos. Vá até a sala dos professores para nos ajudar a caçá-los. Já iremos sair — Katherine respondeu, indicando com seu corpo o escritório. "Desgraçada. Morra e suma do meu caminho!"
— Não estou entendendo você. Está com medo de falhar e por isso está procurando minha ajuda? É só para isso que eu sirvo? Ajudar quando precisa? — Alissa se aproximou de Katherine e cochichou com os lábios próximos do rosto dela: — Melhor não ir atrás de Louis. Se você estiver com ele, acabará morrendo também — provocou com sensualidade.
Katherine virou o rosto para encará-la, a pouquíssimos centímetros de distância.
— Está me ameaçando?
Alissa, mantendo o olhar firme e sedutor, respondeu:
— Estou apenas dando uma dica à minha querida amiga. Pense bem na sua escolha, tá? — E, com isso, Alissa se afastou, quase que rindo debochada, entrando na mente da fracassada que tinha muito medo de fracassar novamente.
Irritada, Katherine voltou para a sala dos professores, onde as esperavam reunidos todos os professores, Arthur e os membros restantes dos esquadrões oficiais que atacaram os gêmeos.
— Nathaly está com eles. Coloquei um rastreador no cabelo dela. É só irmos e pegá-los de surpresa — informou Arthur.
— Alguém sabe onde está a Alissa? — perguntou Louis.
— NÓS NÃO PRECISAMOS DELA, LOUIS! — Katherine berrou, mas logo diminuiu a voz, vendo todos olharem-na e, principalmente, Louis, sem muita paciência. Abaixou o olhar com um pouco de vergonha, mas visivelmente irritada.
— Cadê os dados? — pediu Louis.
— Só entrego se prometer que não vão ferir a Nathaly — respondeu Arthur.
— Arthur, eles mataram exterminadores hoje — rosnou.
— Eu sei, alguns eram muito próximos de mim. Mas eu não vou entregar o endereço se não me prometer que não vão machucá-la — continuou firme.
— Ok... Não vamos.
Priscs...
Arthur soltou o próprio celular sobre a mesa que todos estavam em volta. Lá, mostrava um ponto vermelho piscando, mostrando a localização em tempo real de onde os TriN estavam.
— Isso é loucura...
— O quê? — Katherine ergueu o rosto e perguntou, confusa.
— Isso é loucura! Mesmo sabendo que estão aí, sem a Alissa é loucura fazer isso. Se ela não está com vocês, é porque está defendendo seus alunos. É loucura ir contra ela — ponderou, apreensivo.
— Mais algum covarde como o Natanael? Não me importo se você não for, não precisamos de você — desafiou Katherine, olhando-o diretamente nos olhos.
— Como desejar — respondeu Natanael, não querendo briga. Manteve sua postura. Bater boca com ela era perda de tempo... E o fato da mulher estar transtornada a fez dar uma resposta agressiva sem pensar em consequência nenhuma... De todos os professores, somente dois decidiram ir... Por pressão de seus esquadrões, que queriam por querer receber o S como classificação.
Próximo da entrada da escola... Alissa impôs seu poder sobre a sala dos professores. Detectou todos os indivíduos e acessou o corpo de Natanael. Controlou seus sistemas sem obrigá-lo a fazer nada. Só usou-o de intermediário para enxergar por seus olhos e ver o endereço no celular de Arthur.
— Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3477. Tcs... Será que sabem que eu moro na esquina? — murmurou para si mesma com uma risadinha. Interrompeu o controle sobre Natanael e foi para a rua... Um carro velho passava... Não mais.
Krrrt...
Travou as rodas do veículo. Caminhou com tranquilidade até lá, abriu a porta traseira, entrou e, Pah... Pah-... PAH! Depois de duas batidas com magia e a porta não travar, bateu mais forte, finalmente conseguindo fechá-la.
Liberou as rodas do veículo... Mas não foi bem recebida lá dentro. A mulher no assento do passageiro e o homem no volante olharam estressados na direção dela.
— Quem é você, louca?
— Vá até a Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3477 — resmungou, puxando o celular do bolso, sem dar o pingo de atenção aos dois.
— Tenho cara de seu motorista, é? Saia da porra do meu carro — reclamou um pouco alto demais...
Alissa se irritou. Pela primeira vez alguém não lhe reconheceu? No instante em que seu olhar foi jogado na direção dos dois, o casal teve os corpos travados. Alissa tomou-os para si. Controlou-os, forçou-os a se virarem para frente e começou a dirigir sozinha, usando o corpo do homem.
Vrrrmm!
O carro não escapou da ira.
Era mais rápida que qualquer veículo, mesmo construído por Mirlim.
Optou por ir de carro porque tinha uma coisa para resolver no caminho... Mas, ainda assim, usava sua magia de gravidade para impulsionar o veículo, forçando-o a ser mais rápido, mesmo que a gasolina estivesse indo embora como um bêbado bebendo em um copo furado.
Aproveitando a ausência de tráfego, cortava as ruas em uma velocidade absurda.
— Você vai ser o que eu quiser que você seja. Se ouvir um pio de você ou dessa mulher, quebrarei todos os seus ossos e farei questão de não matá-los para que vocês sofram até o último suspiro de vida — ameaçou, permitindo que os dois pudessem não fazer nada além de falar.
Assustados, os dois permaneceram em absoluto silêncio... Suando e quase chorando de medo.
Vrrr...
No meio do breu do seu escritório, Mirlim viu o celular apitar. Segurou-o, atendeu:
— Acho que você tem bastante coisas para me falar — brincou.
— ...É uma longa história.
— Resuma o necessário... Como me contar sobre dois alunos que na verdade são anomalias Calamidade.
— Não são anomalias. São demônios.
Mirlim levou um dedo à boca e, por um minuto, o pirulito ficou de lado.
— Hm... Transar com um demônio deve ser gostoso — pensou alto, gemendo em sua fala.
— MIRLIM! — Alissa gritou envergonhada; não esperava que a tarada iria ser tarada em um momento assim. Rosto ruborizado. O casal se assustou e quase gritou de receio.
— Tá, tá, foi mal. Vacilei, vacilei. São seus alunos, né? Tipo... Nada a ver e tal... — tentou sair de fininho do assunto... Alissa pressionou os olhos com a mão livre, tentando buscar seu raciocínio. Mas Mirlim falou primeiro: — De qual lado você está?
— Oi?
— Não se faça de sonsa. Criou sentimentos por esses cujos demônios. Você sabe disso. Então eu te pergunto: de qual lado você está?
— ...Deles.
— Você me ligou justamente por isso. Saber se eu aprovo ou não. Não precisa dizer que sim. Sei que mentiria só pra não concordar diretamente comigo.
Alissa revirou os olhos.
— Mas entenda. Louis é inteligente e...
— Q...
— Eu sei! Eu sei! Não precisa me zoar com isso — reclamou, interrompendo Alissa de falar. A "filha" ficou com um sorrisinho provocativo no rosto. — Esse arrombado é muitas coisas, mas ainda é inteligente. Colocou seu nome e sua foto estampadas na matéria que passou na televisão. Vinculando você diretamente com os gêmeos. Ou seja, colocou você contra a parede.
Mirlim olhou para o monitor passando algumas informações.
— Ele sabia do risco de você se aliar aos dois. Então fez isso para desesperadamente fazê-la ficar ao lado deles.
— Uhum...
— Alissa... Você sabe exatamente o que isso significa. Você sabe que a vida de todos que estão indo atrás deles e eles estão em suas mãos. Você decide quem vive e quem morre. Mas se escolher os gêmeos, você terá que matar sua prima. Você realmente está pronta para fazer isso?
— ...
— Eu sei que não. Eu sei que parte dessa ligação era pra mim achar uma solução, mas ela não existe. Ou os gêmeos morrem, ou a ADEDA vai de berço. Mas isso nem é um problema; existem as outras organizações pelo mundo. Só ir para uma se sentir falta de um trabalho. O uniforme da chinesa e japonesa são bem melhores que esses sobretudos ridículos que Louis decidiu que usaríamos — começou falando de forma séria, mas finalizou com uma brincadeira leve, para não deixar Alissa tão negativa quando a decisão.
— Mesmo que Louis tivesse escolhido um uniforme que você amasse, quando percebesse que foi ele, iria começar a odiar.
— ...Realmente. Mas você entendeu o que eu disse?
— ...Preciso de uma chance para tentar, só isso.
— Sua prima é louca.
— Eu sei.
— Lunática.
— Eu sei.
— É um risco.
— Eu sei.
— E...
— EU SEI! EU SEI! MIRLIM, EU SEI!
— ...
— Mas eu a amo! Eu a amo, Mirlim.
— Ish... Tá falando de colar velcro?
— Nã-ao! — A irritação que sentiu ficou pairando em meio à vergonha. Mirlim percebeu que passou do ponto e brincou para aliviar as coisas. — Não! Eu a amo, ela é minha prima. Minha melhor amiga. Tem defeitos, eu...
— Muitos.
— Sim! Tem muitos defeitos, mas eu a amo! Assim como eu te amo, e você é um poço sem água, só tem safadeza aí dentro.
— Não. Na verdade eu sou bem molhadinha.
— TÁ VENDO?!
— Tshaha...
Mirlim riu e o riso fez Alissa abrir um pequeno sorriso.
— Meu pai já sabe do que está acontecendo?
— Sim. Estamos falando sobre um ataque coordenado embaixo do prédio da Google. Quando ficou sabendo disso, obrigou que o governador enviasse o máximo de viaturas da PM possíveis.
— Ué? Pra quê?
— Pra nada de útil. Só jogo político. Os policiais servirão só para quando a mídia chegar e filmar as coisas. Mostrando ao mundo o como seu papai é atencioso com as big techs aqui no Brasil. O como mobilizou segurança para que o prédio não fosse destruído.
— Quantos?
— Cerca de 120 viaturas.
— Quanto tempo acha que a perícia vai demorar para descobrir que foi eu?
— Se você for uma anta e matar todos esses policiais, imediatamente vão saber. Mas se matar todos naquela casa, de forma normal, e não esmagando como costuma fazer... Talvez um ou dois meses. Mas precisaria fazer parecer que foram os gêmeos. Se só aparecem mortos lá, vai ficar na cara que foi você.
— ...Sim.
— Mas tem a opção de você ser meu rosto enquanto eu gover...
— NÃO! NÃO VOU DOMINAR O MUNDO SOB SEU REGIME, SUA SAFADA SEM VERGONHA!
Mirlim afastou o celular do ouvido com o grito... aproximou-o depois:
— ...Era só dizer "não".
— Já disse muitos "não"s.
— Era só dizer mais um...
Alissa aborreceu o olhar.
— Uhum...
— ...
— ...
O silêncio veio, mas Mirlim o quebrou:
— Alissa... Sem testemunhas, ok?
Os olhos do casal assumiram a cor vermelho-sangue. Alissa amassou seus cérebros, matando-os instantaneamente, enquanto continuava dirigindo na direção do seu compromisso marcado.
— Ok.
Depois de decidirem o que iriam fazer, Nathaly se afastou dos dois e caminhou até o banheiro. Nino, sentado no colchão, estendeu a mão para trás e sentiu algo gelado. Olhando para baixo, viu várias camisinhas usadas espalhadas pelo chão... Olhou para Nina, que desviou o olhar e assobiou disfarçadamente:
— Fuuu-iu-fiuu...
— Nojenta — murmurou.
Enquanto isso, Nathaly observava-se em um pequeno espelho que colocaram lá depois de muitas vezes que se encontraram no lugar.
Splasshh!
Jogou água no rosto e, ao tirar seu sobretudo — somente ela estava usando —, Tic-tlec... Algo caiu no chão. Olhou. Era um minúsculo dispositivo piscando em luz vermelha bem fraca. Seus olhos se arregalaram. Correu até o cômodo onde estavam os gêmeos e gritou:
— TEMOS QUE SAIR DAQUI!
BOOMM!!
Mas já era tarde.
Louis havia se teletransportado para o local com Katherine e alguns exterminadores, destruindo a parede para entrar...
Tentaram lutar, mas Katherine bloqueou suas magias imediatamente ao entrar.
Uma fraqueza descomunal caiu sobre os Herdeiros. Sentiam com riqueza de detalhes o que o pai sentiu, mas, ainda assim, era menos, pois nasceram naquele mundo e, mesmo que não fizessem parte dele, ainda havia um pouco de Alice em seus corpos.
Foram dominados muito rápido... Rag mais uma vez tentou sair das garras do poder de Katherine, mas também foi desativado.
Quase como se o pulmão tentasse reaprender a respirar... Uma fraqueza tão absurda que a pressão normal da gravidade na Terra os empurrava ao chão... Foram imobilizados e Nathaly não fugiu disso. Assim como Nina, não havia retirado o coldre e a pistola da perna, mas, mesmo que conseguisse puxá-la, não surtiria muito efeito.
Dois exterminadores sobre cada. Arthur sendo um dos que prendia Nathaly no chão, para ter segurança que não iriam feri-la... Nathaly não conseguia e, mesmo que conseguisse, não o olharia. Sabia que era o traidor; só ele a encostou naquele dia.
"Desgraçado... Não devia ter deixado se aproximar de mim." pensou, tentando se desprender. Tinha mais força que os gêmeos naquele momento. Era uma humana daquele mundo. Mas um ser sem magia tentar vencer um com... não era possível.
O rosto de Louis era sombrio... Longe de Blacko, longe da mulher de preto ou até mesmo dos gêmeos... Louis não era um vilão. Louis não era uma pessoa ruim. Tinha um bom coração, mas o coração foi corrompido pelo desejo de vingança... Uma vingança que não mudaria nada.
Uma vingança que, quando acabasse, só iria restar mais dor e desgraça.
Mandou exterminadores para morrer... Famílias que, quando forem notificadas, irão sofrer... chorar, gritar. Era mais fácil não querer vencer do que vencer e perceber que agora o culpado de tudo era você.
— Eu desprezo completamente a existência de vocês, ou melhor, da sua raça. O que são vocês? Anomalias fingindo ser humanos? Calamidades fingindo ser Errantes? O que era aquela anomalia que matou meu irmão? — rosnou...
Nina tentou responder:
— Noss... — Ploch! — AAAAAAARRGH!
Paulo envolveu sua lâmina com uma aura de gelo e penetrou o corpo de Nina. Sentia ódio dos dois. Mataram seu amigo e líder. Assim como o restante do esquadrão vivo e Louis, o que ele mais queria era ver os gêmeos mortos.
— DESGRAÇADO!! PARA, PORRA! NINAA! — Nino, furioso, usou toda a sua força, mas não adiantava. Era o peso do mundo inteiro sobre si... Nino não era seu pai. Não era tão forte como seu pai. Nino não tinha uma motivação tão forte para se erguer mesmo sangrando e continuar lutando.
Algo dentro de si dizia que aquilo fazia parte do plano... Mas o desespero dizia para se erguer e matar cada um naquele lugar. Entretanto, o corpo entrava no diálogo e dizia que não dava. Não dava para se erguer com aqueles dois em cima, pisando e forçando os braços nas costas.
— Aaaaah... Gritem mais! Adorei ouvir seu sofrimento, seres de merda. FURE ELA!
Nina, vendo seu irmão gritando e se debatendo, também tentava se levantar.
Shk! Shk! Shk!
Mas Paulo continuava furando seu corpo. Ferimentos que não se regeneravam. Seu sangue preto escorrendo como se não tivesse vida própria. A coloração do interior de sua boca, sua língua original preta voltou a ser visível... Mas uma das estocadas pegou um órgão que não podia.
O coração de Nina foi perfurado.
Pahf...
Sua cabeça tombou no chão. Sua expressão era inerte.
Sangue escorreu da boca de Nino com a dor de serem apenas um.
— PARA, PORRA!... EU VOU MATAR VOCÊS! VOU MATAR TODOS VOCÊS! — gritou, completamente alterado, enquanto sentia a mesma dor de ter seu coração destruído quando Nina morreu.
Os exterminadores riam diante deles.
"Mãe... por favor... me ajuda!"
Nathaly clamou por Alissa... Skrrrt! e Alissa chegou.
Assim que desceu, Vrrmmkrrr! forçou o carro a acelerar, cantando pneu. Iria provocar um acidente. Seus olhos eram perfeitos. Uma visão além do conhecimento. Via as viaturas chegando e acelerou o carro para criar um pequeno atraso — jogar aquilo de frente em um dos carros.
Caminhava com tranquilidade na direção do buraco na parede quando escutou o grito de Nino ameaçando todos... Alissa moveu um único dedo.
Louis, rindo, entrou em uma previsão.
Viu Nino saindo do bloqueio de Katherine e atacando todos na sala com uma magia roxa, misturada a sangue preto, ao mesmo tempo... Quando penetrou o peito de todos, rasgando o coração, Nino surgiu com uma espada, passando-a no pescoço do diretor.
Louis saiu da previsão extremamente assustado, enquanto levantava as mãos instintivamente. Não gritou ou tentou dizer nada. A morte era estampada em sua cara. Seu corpo agiu no egoísmo de sobreviver... Dava?
Alissa controlou Katherine e cancelou seu poder.
PL-L-L-LOCH!!
Quando o poder de Nino retornou para seu corpo. Quando sentiu seu sangue gritar de ódio por terem sido desativados... O Herdeiro explodiu em fúria. Lâminas de sangue rasgaram sua roupa de panos humanos, indo queimando em chamas escuras na direção do coração de cada inseto ali presente.
Todos tiveram seus corações dilacerados... Menos Katherine, que Alissa não permitiu Nino tocá-la. Usou o poder da mesma para impedir a lâmina de se expandir no corpo, após penetrá-la. Desativou somente aquela lâmina guiada, nenhuma mais.
No mesmo centésimo de segundo que tudo aconteceu, Nino apareceu diante de Louis. Seu olhar era cruel. Um olhar de ódio que Louis jamais conseguira reproduzir em toda sua vida. A espada preta deixava um rastro queimando o ar em roxo. Aquela aura maligna se aproximando de seu pescoço.
SHK!
Nino cortou a cabeça do diretor, mas faltava menos de dois milímetros para as palmas se tocarem.
Clap!
Nino, Nina e Nathaly desapareceram da sala.
Mesmo com sua previsão lhe entregando uma vantagem de sobrevivência absurda, Louis não conseguiu ser mais rápido que Nino... Desta vez.
Alissa entrou na sala e viu todos os corpos espalhados pelo chão... Exceto o de seus filhos. Ergueu uma sobrancelha perante isso, mas Katherine se rastejava atrás de si, tentando se aproximar de Alissa. O ferimento foi bem parcial... Mas a mulher estava no chão chorando era por Louis, não por estar com dor.
Alissa parou diante do corpo do diretor. Olhava com certa apatia para a cabeça estampada por um rosto cheio de medo... Sua última visão foi aterradora. Quem não estremeceria diante de sua morte?
— Por que...? Por que fez isso? É sua culpa que ele morreu... É-é-é... É sua culpa! Sua culpa! Sua culpa! — Katherine segurou o sobretudo de Alissa pela parte de baixo, levantando-se um pouco do chão enquanto chorava.
Alissa lembrou do passado, quando as duas tinham nove anos.
[ — Sua culpa! Sua culpa! Por que não estava lá? Ele está triste que o tio Luan morreu por sua culpa! E-e-eu queria que você tivesse morrido em vez do tio Luan! — gritou frustrada, braços esticados para baixo. Punhos fechados e tremendo. ]
Voltou de suas lembranças com um leve riso de desprezo...
Chance?
Isso morreu nesse meio tempo.
— Sempre foi Minha melhor amiga... Mas eu nunca fui a Sua melhor amiga. Eu te pergunto: você conseguiu o que queria? A culpa é minha por ele nunca ter te amado? — perguntou com uma dor que tocava a alma.
Triste e estressada com tudo aquilo... Alissa desistiu de Katherine.
Crunch.
Com um movimento de dedo, implodiu parte do cérebro dela, fazendo-a sangrar pelos olhos, nariz e boca. Pahf... Consequentemente soltando o sobretudo e caindo morta no chão. Sem testemunhas... Sem.
— Por favor. Poupe meu tempo.
Saiu andando até o buraco na parede e uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
— Chorar por isso? Tenho coisas mais importantes para resolver — murmurou... Mas a voz de choro traiu sua fala.
Passou a mão no rosto e secou as lágrimas. Tap-T-Tap, Tap... Passos foram ouvidos de repente. Dois policiais surgiram no buraco e, ao verem corpos, sacaram suas armas apontando-as para Alissa.
— V-você está presa! — gaguejou ao perceber a merda que fez.
Sem paciência, respondeu:
— E vocês, mortos.
Crunch.
Com um movimento de dedo, os dois policiais foram compactados em uma bolinha de carne e uniforme.
Pa.
Antes de deixar o local, chutou a bola de carne e passou pelo buraco, saindo tão rapidamente que parecia um teletransporte... O comunicador foi destruído junto. Não estava ligado, mas, quando os outros perderam o sinal dos dois, avançaram.
O lugar começou a se encher de policiais. A mídia chegou em peso. Todos tentando manter o máximo de audiência em suas respectivas emissoras... Alissa surgiu em seu apartamento. Pegou o celular... mas não ligou.
— Preciso resolver isso sozinha... Mas... Onde vocês estão? — resmungou.
Nino caía do céu, desacordado.
— Hiheha...
Quando ouviu uma risada feminina — a risada da mulher de preto —, abriu os olhos cheios de medo. Assustado com o corpo tremendo de forma involuntária com aquilo, percebeu que caía em queda livre... e já estava quase no chão.
Agiu como um gato, virou o corpo no ar e, Phah! Chutou uma árvore gigantesca ao seu lado para diminuir e controlar a velocidade da queda como bem desejasse.
Sccrrrchh...
Aterrissou de pé, arrastando a terra diferente daquela floresta densa e imensa, onde árvores maiores que os maiores prédios do Brasil se misturavam a outras menores, criando um ambiente totalmente estranho e diferente.
A vegetação, os sons das criaturas, tudo ali era estranho... Mas nada daquilo importava.
Nada.
Era tudo insignificante.
Pah!
Nino desabou de joelhos.
Com a respiração trêmula e descontrolada, e com todo o oxigênio que ainda restava em seus pulmões, soltou um berro com toda a sua alma, curvando agressivamente o corpo para frente:
— NINAAAA!!!
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios