Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 152: Televisão

Olhando para frente, diante do altar... Arthur acordou.

Vestia um terno impecável, em branco imaculado.

Cabelo bem feito, olhos assustados... Uma decoração viva, rosas e flores da mais alta burguesia. Era o mesmo altar das fotos do casamento dos seus pais. Era o mesmo terno que Luan usou. Era o mesmo ambiente que seu cérebro criou.

Diante de si, de repente, Louis chegou.

Ficou em sua frente, se portando como um padre, mas sem seus trajes decentes.

Todos se levantaram de repente.

Arthur se assustou e olhou para trás.

Caminhando sobre o tapete vermelho, cheio de pétalas de rosas, acompanhada de Alissa, Nathaly vinha. Um vestido de noiva branco, lindo, enorme, arrastando-se pelo chão com muita classe e riqueza. Sorria... e Arthur sorriu ao vê-la chegar.

Nervosismo... não sabia o que falar... mas ainda não era sua vez.

— Nesta noite maravilhosa... abençoada com um casal tão lindo hoje, se juntando para construir uma família, eu gostaria de pedir uma salva de palmas ao meu sobrinho querido e sua noiva belíssima — pediu Louis. Clap-Clap-C-Clap... e os aplausos vieram, sendo finalizados alguns segundos depois, com o casal meio sem jeito se olhando às vezes, dando pequenas risadas tímidas.

— Eu lembro que... ainda antes de serem promovidos para exterminadores oficiais, Arthur chegou para mim dizendo que achava a Nathaly muito linda, perfeita e que um dia iria se casar com ela... vejam só, meu menino conseguiu — brincou orgulhoso, e todos riram.

— Foram tantos momentos... tantas conversas, tantos vai e vem. Mas venceram tudo isso juntos. O namoro não foi como qualquer outro, foi um namoro difícil, Alissa não largava o osso — provocou. Alissa fechou o punho apontando ao cerimonialista, que ergueu as mãos em rendição, e os dois riram, junto com todos os presentes.

— Eu... eu não sei como demonstrar a felicidade que estou sentindo. Ver vocês dois juntos é algo incrível. Vou estar aqui sempre que precisar — colocou uma mão ereta como uma parede em sua boca, "isolando" Nathaly — inclusive quando quiser reclamar, tá bom? — murmurou em brincadeira, mas todos ouviram com o som sendo transmitido pelo microfone.

Nathaly riu como todos, mas levou sua mão à boca, escondendo um pouco o sorriso tímido.

Ishh... acho que já falei demais, né? Huhum... Vamos aos votos!

Arthur ficou perdido... mas Nathaly que começou. Estendeu as mãos, o jovem segurou-as e, de frente um para o outro, começou:

— Meu amor... desde que você chegou, meu mundo simplesmente mudou... Lembro de todas as vezes que me sentia sozinha no refeitório, de todas as vezes que ninguém me olhava... e você olhou. Você me chamou, se apresentou e... roubou meu coração — discursava Nathaly, olhos cheios de lágrimas, mas segurava para não borrar sua maquiagem.

Arthur igualmente querendo chorar.

— Nosso namoro foi difícil... Minha mãe é um pouquinho brava, né? — Todos riram, e Alissa assistia com uma pequena lágrima escorrendo de alegria. — Mas você foi paciente. Mas você continuou ao meu lado, continuou tentando convencê-la que era o cara perfeito... e você era... e você é!... Eu te amo muito — finalizou com um sorriso tímido, os braços se balançando lentamente em uma gangorra.

— N-Nathaly... E-eu não sei o que falar... Eu me perco só de te olhar. É um branco, é uma paz, é um sentimento que não consigo descrever e muito menos falar. Eu te amo desde a primeira vez que lhe vi. Meu coração ardeu em chamas desde a primeira vez que você olhou para mim. Desde a primeira vez que você me permitiu deslumbrar ver o reflexo do meu rosto paralisado com sua beleza imaculada. Nathaly... eu te amo mais do que a mim mesmo. E eu quero pelo menos um único dia em minha vida mostrar e provar tudo isso que estou dizendo.

C-Clap-Clap-C-Clap...

Embargado de alegria como uma criança, Louis ordenou:

— Podem trazer as alianças!

Uma menininha surgiu no tapete vermelho. Todos olhando-a com carinho e fofura. Caminhava com muita atenção, segurando as alianças naquela caixinha com muito cuidado. Sabia da importância daquilo... Chegou com segurança e ficou próxima dos três.

— Meu filho, coloque a aliança no dedo de sua esposa — avisou.

Arthur segurou, Nathaly ergueu a mão até que a dele a segurasse... e se perdeu... mas Louis passou uma colinha:

— Dedo anelar esquerdo — murmurou para dentro, mas todos ouviram e riram com respeito.

Tremia, era muita emoção, mas quando Louis estendeu o microfone, imaginou que tinha que falar algo:

— N-Nathaly, com esta aliança, nós formaremos um pacto. Nossas vidas se tornaram uma. Tudo que é meu será seu e vice-versa. Hoje duas famílias se tornaram uma, e eu lhe suplico... você aceita ser minha esposa?

Acabou de colocar a aliança... Nathaly olhava-o com um sorriso. Arthur também sorria, cheio de expectativa, assim como todos... mas uma resposta não vinha. Só o silêncio, e o sorriso que não saía do rosto da menina.

Os sons do ambiente sumiram... Arthur escutou um cochicho bem baixinho de fundo... olhou na direção e viu seu pai sorrindo, distante, bonito, mesmo terno, mesmo em tudo...

— C...

Mantinha o sorriso, mas algo entalado tentava sair...

— Co...

Mais atenção o jovem entregava ao pai, tentando entender o que dizia dali...

— Cor...

Sua visão era absurda, dava zoom como uma câmera profunda...

— Corr...

Cada vez ficando mais alto... aquele murmúrio se tornava... O olhar de Luan ficou assustado, embora o sorriso no rosto mostrasse o contrário... Seu olhar foi puxado com muita força, obrigando-o a olhar para sua esposa... Nathaly ainda sorria, mas o olhar era perdido, estranho, vazio... morto.

— CORRA! — Os dentes apodreceram de uma hora para a outra, a boca se escancarou, e de dentro um berro ecoou.

Shk!

Ao som do vento ser cortado por uma lâmina, toda a igreja queimou em chamas escuras.

Todos morreram imediatamente.

Um banho de sangue e vísceras. Uma carnificina. A sombra preta que matou seu pai e agora Nathaly ganhou um rosto, e vendo Nino com uma espada preta, viu-se sendo rasgado por dentro sem remorso. Sua boca abriu, seu corpo dividiu, sua mente não eclodiu. Sua visão não sumiu... mas tudo ficou escuro, e de repente ele viu:

HARRFF!

Acordou do coma desesperado.

Sentou-se na maca e o viu todo conectado por cabos.

A memória, a lembrança de Nino empunhando aquela espada estava fresca como o ar-condicionado secando seu suor assustado... Ficou tonto pelo movimento repentino. Não sentia o corpo direito, embora os membros respondessem com perfeição... desesperou-se. Vlap! Arrancou a máscara de oxigênio e gritou até sentir dor em seu peito:

— TIIOO! TIIOO!

A enfermeira responsável correu para a sala, alarmada.

— Arthur, calma! Você não pode tirar isso! — exclamou assustada com a agitação do menino.

— LOUIS?! TIO?! ONDE ESTÁ MEU TIO?! — gritou na direção dela.

— Arthur, calma! Você não pode tirar isso ainda! — tentava colocar a máscara de oxigênio de volta, mas além de não conseguir, Arthur arrancava à força os cabos de soro em seus braços.

— CHAMA LOGO MEU TIO!

Louis ouviu os gritos, mesmo estando em seu escritório.

Clap!

Surgiu lá imediatamente.

— Arthur, o que foi?! — visivelmente preocupado, segurou o rosto do sobrinho.

Olhos arregalados.

— NINO! O NINO!

— Arthur, calma! Fale devagar, respire! — movia a palma, descendo em uma demonstração visual para abaixar o tom e a afobação.

— O Nino, e-e-ele criou uma espada igual à da foto daquela anomalia que matou meu pai! — tentou manter a calma, mas ainda assim gaguejou fortemente.

— O quê?!

— Sim! E-ele criou uma espada igual à daquela coisa! Tio... a-acho que ele quer nos matar! Ele matou a Samanta e Thales, eu tava acordado, eu vi tudo. Eu não fui pego de surpresa como ele matou os dois. Eu sobrevivi, mas eu não conseguia me mexer. Meu corpo tremia sozinho e eu apaguei. Ele só não me matou porque o exército chegou na hora. Eu tenho certeza que ele só não me finalizou porque achou que eu ia morrer no hospital. Eu juro! Eu juro, tio! Ele é como aquela anomalia. Ele quer nos matar!

Arthur já havia, de certa forma, superado a perda de seu pai. Um pouco de si ainda era seguir os passos dele, mas a cada dia isso diminuía. Ficava mais de lado. Percebia que fazer isso não o traria de volta e nem orgulho de si. Era uma pessoa morta. Pessoas mortas não sentiam orgulho.

O que realmente o motivou a dizer aquilo foi ver Nino ao lado da garota que ele amava. Foi sentir inveja... uma inveja que podia ter sido evitada, mas o medo de chegar na garota que amava o fez ver outro chegando nela, outro ocupando o lugar, outro seguindo uma história ao lado dela que poderia ser sua... mas seu medo não permitiu.

Não deveria culpar quem teve coragem. Deveria se culpar, se perdoar e não cometer o mesmo erro novamente... mas era tarde, e na cabeça de todo adolescente e jovem adulto carente, não existia outra garota a não ser a que o mesmo colocou na cabeça que um dia seria sua... mesmo que precisasse esperar por meses ou anos.

Viver no imaginário... Imaginava uma vida ao lado, todas as escolhas perfeitas, todos os futuros ideais... mas ter coragem de tentar iniciar isso na vida real...? Não. Garotos, meninos, adolescentes, jovens, homens... fadados à solidão a que seu medo enraizado de falhar os condenou.


"De onde ele tirou isso?!" pensou Nathaly escutando a conversa de fora da sala. Os gritos chamaram sua atenção, chegou no mesmo tempo que Louis surgiu do teletransporte... escutou passos fortes vindo da curva do corredor. Escondeu-se em outro ponto. 

Vinícius e seu esquadrão chegaram galopando como cavalos, pisando forte no chão com seus sapatos modernos.

— Diretor! — exclamou meio cansado.

Louis virou-se para Vinícius. Sua mente não conseguindo processar tanta informação repentina. Além de dor, além de aguentar toda a barra diariamente com Katherine sem ter nenhuma válvula de escape para aliviar o estresse... ainda tinha que digerir uma possível ameaça Calamidade disfarçada de exterminador.

— Oi?

— N-na missão, havia uma anomalia que conseguia falar e disse que Nino era igual a ela! Quando cheguei, Nino matou a anomalia e mentiu, dizendo que eu estava escutando coisas, mas eu escutei, eu juro que escutei aquela coisa dizer que ele também era uma anomalia — Vinícius falou rapidamente, ofegante após a corrida desesperada.

— ...Tem certeza do que está falando?

— Eu escutei e vi tudo também — confirmou Pedro. Os dois jovens se olharam, confirmaram com os rostos rapidinho e voltaram o olhar ao diretor visivelmente cansado. Suor em sua testa. Cansado fisicamente sendo que nem saía de sua sala ar-condicionada.

— Tio... e-ele quer nos matar — murmurou Arthur, forçando um drama teatral... que funcionou.

Aquela voz baixa e quase trêmula invadiu a mente de Louis, acendendo a fogueira que havia se apagado, do ódio que sentia do ser que ceifou a vida do seu irmão. Esse ódio se juntou ao sentimento de vingança... Louis queria os gêmeos mortos, agora.

— Ele... Ele é... Ele é uma anomalia que fala?!... — Abaixou o rosto, o suor cada vez mais sendo produzido em seus poros. O calor da fogueira queimando seu corpo a ponto de parecer estar com febre. — Encontrem eles... Encontrem eles... ENCONTREM E MATEM OS GÊMEOS!!

Katherine chegou na sala enquanto Louis gritava. O homem ignorou-a em seu escritório e teletransportou somente a si até lá... Katherine entrou na sala não entendendo nada, mas Louis continuava:

— Vou ligar para o governo e colocar os rostos deles na televisão. Eles não podem fugir. KATHERINE! — berrou ao vê-la presente... Katherine se assustou, abaixou o rosto e juntou as mãos em frente à virilha.

— S-sim... senhor?

— Rastreie os celulares e bloqueie suas contas. Com seu esquadrão, os encontre, ENTENDEU?!

— S-sim, senhor. Vamos! — Katherine saiu, chamando seu esquadrão que a seguiu.

Nathaly viu-os sair apressados... afastou-se do lugar, e caminhando por outro corredor, puxou o celular do bolso, entrando na conversa com Nino — conversa essa sem movimento a mais de uma semana.

Brrr!

O sangue tremeu como se quisesse fazer um milkshake sabor Nino. Nino retirou-o da barriga, colocou-o no viva-voz e atendeu. Nina ao seu lado. Os dois no sofá do apartamento, torcendo para Louis não acreditar no que Vinícius foi contar...

— Nathaly?

— Descobriram sobre vocês. Onde vocês estão?

— No nosso apartamento.

— Destruam seus celulares e saiam daí, vão rastrear vocês. Me encontrem naquele nosso lugar em uma ou duas horas. Tchau.

Creck!

Nathaly desligou a chamada e esmagou seu celular. Crash! Dobrou o braço, e o gesso foi destruído de imediato. Plush! Descartou ambos na lixeira, e ainda em suas cores recicláveis exigentes.

Fechou o punho algumas vezes, sentindo o braço mais leve a ponto de parecer que flutuava.

— Isso não vai me matar — murmurou para si. Nina esqueceu de contar que tratou o machucado com seu poder. Com o rosto sério, deixou o lugar que já não podia mais chamar de segunda casa. Sobretudo balançando ao suave vento, espada pronta para defender a vida da sua família.


— Nosso lugar? — Nino murmurou entediado, olhando a irmã. 

— Eu sei onde é. Vamos.

C-creck!

O Primordial esmagou seu celular, Nina esmagou o dela e os destroços ficaram sobre a mesa. Em seguida, o jovem correu para o quarto — Nina não entendeu e o olhou fazer isso com uma careta apressada — e pegou a foto de seus pais, no porta-retrato...

Travou ao vê-los, mas fechou os olhos e a guardou no sangue. Não conseguia olhar para aquilo, não gostava de sentir aquele sentimento desconhecido todas as vezes. Entretanto, aquela imagem era importante demais para deixá-la para trás.

Enquanto isso, Nina passava pela cozinha e ouviu passos se aproximando do corredor... Quando Nino chegou próximo dela, a Primordial instintivamente colocou a mão no peito dele, empurrando-o para trás.

— Tem gente aí, vamos pela sacada. Agora! — cochichou apressada.

Correram para a sacada, Vu-Vul! e se saltaram, sumindo de lá.


THAM!

Vinícius arrombou a porta e o esquadrão entrou unidos como um esquadrão tático da polícia militar. Katherine logo atrás, pronta para desabilitar os poderes dos gêmeos... Encontraram os celulares destruídos.

— Devem ter saído há pouco tempo. Preciso avisar o Louis que alguém avisou os dois. Não se separem, e os encontrem — ordenou.

— Sim, senhora!

O esquadrão obedeceu à ordem e saiu pela porta, iniciando a caçada. Enquanto isso, Katherine caminhava pelo corredor, puxando o celular do bolso do sobretudo.

Priii! Pr...

— Encontrou eles? — atendeu impaciente, vendo Arthur sair com o sobretudo e sua espada. Fez um movimento de cabeça para o sobrinho, Arthur respondeu e saiu pela porta, confiante.

— Não estão aqui. Alguém os avisou. Quebraram os celulares antes de fugir.

— Nathaly está com eles. Viu Nino matar Samanta, Thales e ferir Arthur... Deve ter escutado a nossa conversa e avisado os dois. Já avisei as emissoras, vão passar em todos os canais o rosto dos dois. EU QUERO ELES MORTOS! ME ESCUTOU?!

— Sim... "Até nisso... Criar aquela assassina mirim. Alissa só atrapalha meu relacionamento!" Vou ach...

Louis desligou, a ignorando.


— Como aquela desgraçada ainda se atreve a desejar a melhora de Arthur na minha frente? Mentirosa de merda! — Louis ficou completamente irritado, voz arrastada na garganta, consumido pela raiva e pela frustração. 


— "Lamentamos interromper sua programação normal, mas algo muito urgente aconteceu. Descobriu-se que os exterminadores Nino e Nina, alunos de Alissa Kubitschek, na verdade, são anomalias capazes de falar, pertencentes à mesma raça que matou centenas de milhares de pessoas em Minas Gerais, em 2005. Pedimos a todos que não saiam de casa até que a ameaça seja neutralizada. Se estiverem no trabalho, permaneçam até que a situação se resolva!" — ponderou o apresentador com ênfase. — "Não nos foi informado se Alissa irá intervir neste caso. Uma recompensa de 1 milhão de reais e o status de Classificação S foram oferecidos pela eliminação das anomalias, mesmo em grupo, independentemente de a pessoa, ou grupo, ser aluna da ADEDA ou não. Caso tenham informações sobre o paradeiro deles, liguem para a ADEDA. Dependendo da relevância da sua denúncia, uma recompensa será oferecida. Ambos foram classificados como Calamidade 4. Não se sabe se possuem o mesmo poder destrutivo que sua antepassada, mas, se você não acha que tem habilidades suficientes para enfrentá-los, não tente. Sua vida vale mais do que qualquer quantia de dinheiro."

Louis podia ser muitas coisas, mas burro não era. Tomado pelo sentimento de vingança, não se importava mais com nada. Sua vida outrora voltada somente ao trabalho, agora só tinha olhos para eliminar aquela ameaça, e não iria se importar com o banho de sangue inocente que aquela reportagem iria criar — só queria localizá-los, o resto iria improvisar.

Já tentou trazer para a ADEDA muitos caçadores de recompensas.

O site da ADEDA era aberto ao público. Todos podiam ver anomalias catalogadas e fugitivas. Todas com recompensas de valores variados. Alguns exterminadores não oficiais fortes trabalhavam assim. Não queriam palco, fama ou status, queriam só ganhar seu dinheiro e voltar para casa sem ter uma responsabilidade com o estado.

Com uma recompensa gorda como essa, atraiu o olhar de muitos, mesmo que muitos não morassem em São Paulo... Queria criar um cerco em todo o Brasil. Impossibilitando-os de viver no meio dos humanos como estavam. Em algum momento alguém iria reconhecê-los, e mesmo que morresse, Louis saberia onde procurar.

O quinto e sexto esquadrão entraram no jogo... quem não iria amar ter seu nome no pódio dos S?

R. Raul Pompéia... Em um prédio branco de oito andares, Nino parou. Nina olhou-o, não podiam perder tempo, Nathaly os chamou e o endereço era em Itaim Bibi. Deu dois passos na direção do irmão visivelmente pensativo:

— Que foi?

— Nina... Somos nós dois contra o mundo novamente.

— E a Nathaly também.

— Eles não devem saber dela. Não seria mais seguro para ela nos deixar? Vamos enfrentar isso de cabeça, se der, deu... se não, foda-se, tentamos. Ao menos assim tem mais chance dela ficar bem.

— Quem vai decidir se ela vem ou não é ela mesma. Alissa está do nosso lado, não está? Só esperar... Vamos nos encontrar e vemos primeiro se Alissa vai cumprir sua promessa. Se ela estiver com eles m...

— Ela não está — Nino respondeu com firmeza.

— Ma...

— Eu já disse. Ela não está com eles — afirmou novamente, um tanto estressado.

Enquanto discutiam o que fazer, uma criança no décimo terceiro andar do prédio vizinho — com ladrilhos brancos nas extremidades, ladrilhos azuis-escuros pegando pequenas janelas, e ladrilhos verdes-escuros nas sacadas com interior branco — brincava próximo à janela virada para os dois irmãos, enquanto sua avó assistia à reportagem na TV.

O neto subiu em um banquinho, passando com seu carrinho vermelho próximo à tela de proteção... viu os dois sobre o prédio mais baixo em frente. Ficou curioso, olhando aquelas pessoas pequeninas daquela altura conversando.

Chamou sua avó, que foi até lá ver o que estava acontecendo... o coração acelerou, o pensamento no dinheiro palpitou ao ver as anomalias da TV. Correu como uma tartaruga sem uma perna, mas foi o mais rápido que conseguiu.

No rack da televisão, um telefone fixo pegava poeira. Puxou-o com uma firmeza sem firmeza alguma e discou os números que ainda estavam na tela da TV... Errou duas vezes, miopia nessa idade era humilhante... mas ligou.

Não demorou muito.

Louis passou a mensagem para todos da escola — só queria deixar os gêmeos cansados, sabia que um bando de recém-formados não iriam dar conta em grupo ou sozinhos... Katherine não era tão rápida para acompanhá-los, e muito menos estava com Louis para ser enviada por teletransporte —, e naquele instante, o quarto e quinto esquadrão haviam se encontrado nas ruas.

O líder do quinto, que usava uma cartola preta e um sobretudo personalizado com seus desenhos de mágico... surgiu no céu com um salto.

Em suas mãos, um baralho escuro embaralhando cartas. Cada número e naipe era uma magia diferente. Ouro era magias de fogo, como o 1 uma pequena explosão, e o 3 uma cortina de chamas.

Espada era magias metálicas, como o 1, uma rajada de cartas afiadas feito lâminas, e o 7, um escudo projetável. Paus era magias de vento, como o 4, que usou nas solas dos sapatos para saltar tão alto. Coração era magias de fortalecimento, como o 1, que era mais força, ou o 8, que era mais destreza. Nesse caso precisava comê-las... mas era fácil de engolir quando as cartas eram magias materializadas.

Do baralho, Sli o 8 Ouro foi projetado. Segurou. Fu! E o arremessou... BOOMM! Uma explosão absurda se desenrolou. Os gêmeos se olhavam no momento, e a carta tocou o chão entre os dois no mesmo instante.

Crash!

Nina foi arremessada para trás, indo com tudo em um prédio mais próximo da R. Barão do Bananal. Parou de pé, de costas na entrada do buraco. Já Nino... não foi projetado, mas foi empurrado para baixo.

Parte do telhado foi destruída, o menino se viu em meio a ruínas do prédio lutando para se manter de pé.

Do telhado, foi parar no sexto andar... olhar tedioso, mãos nos bolsos, com preguiça de ser interrompido por uma magia tão insignificante. No oitavo, olhando para o buraco como um retardado, o líder do quinto esquadrão o observava... Nino continuava olhando para frente... mas não era para o nada.

Havia uma mulher meio abaixada. Atrás dela, seu filho pequeno com medo... Olhavam para Nino como se a culpa do susto e todo o prejuízo fosse dele. Não diziam nada, nem imploravam para viver, só o olhavam com medo nos olhos, alimentando o menino que novamente cogitava em matar uma pessoa por puro entretenimento.

— EU SOU UM...!

PLOCH!

...Única coisa que viu foi o olhar subir, sem o corpo do Primordial nem se mover. De repente, um braço estava enfiado em seu peito... nem conseguiu se apresentar direito. Nino o olhou no fundo dos olhos, vendo o inútil sem forças para nada.

RASSG!

Segurou e puxou a coluna, arrancando-a do corpo.

Pah!

Soltou-o no chão... olhando-o com nojo.

Crunch...

Esmagou a cabeça com um pisão, nem quis perder seu tempo xingando-o como xingou Arthur por abrir e não calar a boca no meio de uma luta... Agia na surdina, bobeou... levou. Piscou, morreu. Se distraiu...? Tsi... Era o que os dois mais queriam: um único erro, um único passo em falso.

— Mest...? — outro exterminador surgiu.

Olhou do buraco no teto, procurando pelo líder executado. Quando olhou para baixo, assustou-se com o corpo destruído do mágico... Nino avançou de imediato... mas não o atacou, só surgiu na frente do humano, que saltou para trás de susto, tocou os pés no solo e avançou com sua espada, tentando parecer confiante.

ARRRH! — achou que Nino se assustava com gritinhos. 

Fu...

Sua espada encontrou o nada.

Nino desceu, segurou o tornozelo do garoto com a mão esquerda e se ergueu, puxando o menino junto. Pahf! Deixou-o de ponta-cabeça, pegou a pistola no coldre da calça e, Pow! Deu um tiro no meio da cara... Afinal, a arma de fogo era para uso contra civis...

Plf...

Soltou a perna do cadáver, olhando-o da mesma forma que olhou para o outro.

Pow!

Um tiro veio na direção do seu rosto, mas jogou-o com um movimento preguiçoso à esquerda e desviou, fazendo o projétil acertar a janela do prédio ao lado... Os olhos do Primordial se voltaram ao terceiro desafiante.

Julgava-os inteiramente.

O fato de ser humanos nem era o maior problema. O maior era o fato de serem burros para um caralho. Um por vez, era uma fila? Não importava se era em grupo que o matassem, todos receberiam o S individual... mas a síndrome do protagonista, de ser o mais falado, e o desejo de falar em rede internacional que os matou sozinho era mais forte do que pensar e agir com estratégia.

Trac-Tlac...

Jogou a pistola no chão, com um sorriso satisfeito no rosto — nem parecia que diante de si havia um cadáver de um amigo sangrando.

— Não ligue pra isso... Só queria ver se não era um humano fingindo isso, mesmo... Foi você que matou o Thales, né?

Nino arregalou os olhos, uma irritação absurda passando pelo sangue.

— Matar o melhor amigo... Você é um monstro — zombou em risos "confiantes"... morria de medo. Queria ir embora, mas não achou que seu amigo tinha morrido de fato. Queria distraí-lo, mas os outros não avançaram... não para ajudá-lo. Estava sozinho... foi abandonado, e ainda despertou o ódio no coração do menino.

Olhou de canto, meio para trás, na esperança de ver alguém chegando... alguém chegou, mas pela sua distração repentina, não por ser imprudente como Vinícius, ele, seu amigo baleado e o mágico, que avançaram sozinhos, sem o restante dos esquadrões.

PLA-SHIRRRRRR!

AARRRHHH!

Nino segurou-o pelo pescoço e o ergueu do chão... enquanto as palmas queimavam como lava de um vulcão, derretendo a pele do pescoço e assando a carne do jovem agonizando... Tentou levar as mãos ao braço lhe aprisionando... conseguiu.

Nino não impediu.

Era um exterminador que tinha conhecimento de magia de pedra e fogo... mais de fogo, mas seu fogo não conseguia bater nem de trás no de Nino. Tentou voltar magia no braço do menino, mas não surtia efeito. Segurava com força, mas sua força nem amassava a carne do braço, muito menos queimava ou derretia a manga comprida tampando a pele clara.

Nino o torturava, olhando-o nos olhos com muita raiva.

— A sua raça de merda tem algum problema em falar demais. Não conseguem fazer nada em silêncio. Avançar sem alertar. Lutar sem fazer uma palestra patética. Você foi mais longe. Quis falar o nome de alguém importante para mim, tentando me provocar... O que achou que iria acontecer? Achou que suas amigas sendo torturadas pela minha irmã iriam conseguir chegar?

ARRHHG!-AIIRRGH! — gemia, o corpo balançava, tentando se soltar mas não conseguia. 

Nino aproximou o rosto para falar só para ele escutar:

— Você não tem ninguém... O único que não fugiu com o rabo entre as pernas está esperando eu te matar pra ele avançar em uma surpresa patética... Talvez tenha entendido que chegar fazendo barulho é burrice — Nino riu.

— POR FAVOR! POR FAVOR! — gritava em choro. Sentia a garganta fechando. A carne fedendo um cozinhamento canibal.

Tsi...

Crek... Pahf...

Quebrou o pescoço e o soltou no chão... Não o matou de imediato, deixou-o tetraplégico... mas se não for atendido rápido, iria morrer... uma morte um pouco lenta, muito dolorosa e agonizante.

Com as mãos afundadas nos bolsos, escutava a música sendo produzida pelo grunhido sem forças vindo do humaninho desrespeitoso... Entretanto, não era seu velho "amigo" somente que acompanhava essa "luta" de longe.

No nono andar do prédio ao lado, uma mulher tinha visão direta do topo onde Nino estava. Lágrimas de medo, desespero e cansaço visíveis em seu rosto. Em sua mão, um celular tremia, sendo pressionado em sua orelha:

— E-ele... El... Tá... A-a-a-aqui. E-ELE QUER ME MATAR, ME AJUDA!... — uma mistura de voz baixa e grito. Não controlava, algumas palavras saíam em gritos, outras sem voz.

— Amor, pensei que você já estivesse bem — respondeu o marido.

— E-ele vai me matar. P-p-por favor, m-e-e-e salva!

Completamente alterada, permanecia dominada pelo medo. Tinha ânsias de vômito, receio de morrer com o que havia dentro do seu corpo... era a mulher que Nina havia ameaçado no banheiro do shopping.

— Sai do apartamento e vem pro meu trabalho. Traga as crianças. Talvez um pouco de ar livre te ajude — sugeriu.

— T-t-tá bom — respondeu gaguejando fortemente.


Fuu!

Vinícius chegou de "surpresa" logo após Nino ter "matado" o terceiro exterminador. Com a espada envolta em chamas azuis, tentou atacá-lo... mas Nino sumiu da sua frente, e também da sua visão... Sentiu algo em suas costas, encostando nelas; com as próprias, Nino estava.

— Eu disse para não encher meu saco. Você não me escutou, né?

Ful!

Vinícius tentou girar o corpo para cortá-lo... mas errou.

BAM!... BUMM!

Nino sumiu e reapareceu nas costas novamente, respondendo o ataque com um chute lateral, arremessando o humano direto na parede com a janela que a mulher observava a cena anteriormente.


Nathaly, que saltava de prédio em prédio em direção ao local do encontro, escutou uma explosão enquanto passava por Pompeia, quando viu Nino entrando pelo buraco na parede de um edifício. 

— Nino...? — murmurou para si.


Pah-p-pa...

Vinícius entrou capotando no chão do apartamento.

— NÃÃÃO!!

Completamente em pânico, a mulher segurou o filho mais novo no colo, e o outro, segurou-o pelo braço, puxando-o enquanto corria até a saída do apartamento. Pki-p... o celular foi solto ao vento, chegando ao solo onde quicou duas vezes.

— VANESSA!!? O que tá acontecendo?! — Seu marido ficou desesperado.

— ALGUÉM ME AJUDA, POR FAVOR! SOCORRO! — Traumatizada, Vanessa correu pelo corredor do prédio, puxando seus filhos chorando enquanto gritava feito uma maluca. 


Shkrunch!

AHRRG!

Vinícius se levantou com um rolamento, erguendo o rosto na reta do buraco criado... mas foi surpreendido por um corte que nem viu de onde veio. Nino chegou rapidamente, cortando o braço esquerdo com uma espada feita de sangue.

Shkrunch!

— AHRRG!

A dor se repetiu, agora do outro lado.

Vinícius jogou um corte na direção do Primordial zombando dele ao lado... mas Nino desviou em uma esgueirada debochada, e passou mais um corte que o humano nem conseguiu vê-lo atacar... o braço direito também foi cortado.

Impotente... nem acreditava mais em uma possível vitória.

Parecia um girino, só as pernas e o corpo...

Pernas?

Shkr-krunch!

Em um movimento ágil, as pernas foram cortadas como bambu em um teste samurai.

PHAH!

Nino surgiu na frente do jovem que tinha a boca arreganhada... não gritava, mas sua expressão chorava... sem lágrimas. O Primordial afundou o tênis do pé direito no peito de Vinícius, e o forçou a descer até o chão.

Bum-Bum-Bum-Bum!

Andar por andar, Nino o fez quebrar o piso com as costas. (Era só o que sobrava mesmo.)

Chegaram ao térreo; descer mais que isso só se fosse para o inferno.

O pé ainda afundando no peito. Olhar soberbo, olhar que mostrava ao humano o nojo que ele fazia o demônio sentir. A preguiça de enfrentar alguém tão fraco... não servia nem para entregar-lhe prazer na dor. Era um inútil completo.

Como último recurso, Vinícius começou a gritar, liberando fogo azul misturado com sangue pela boca... olhar destinado. Era quase como se visse um pequeno diabo lhe esperando... Nino sentiu ainda mais preguiça vendo aquela cena patética de um carregamento de um poder tão fraco.

Shk!

O corte dividiu a cabeça, pegando no exato meio da boca. Vinícius manteve-a aberta... o toco do crânio caiu para trás e se moveu como uma cumbuca esférica... mas amassada, que caiu no chão no meio da madrugada.

— Cale a boca logo — rosnou.

...Ergueu a palma, olhando-a.

Burn...

Uma minúscula explosão surgiu sobre ela. Uma pequena chama azul foi criada; Nino a observava sem muito ânimo, mas cochichou para si enquanto desfrutava de algo que se lembrou:

— Então isso é a "posse"... pai? 

[ — O que foi que eu te ensinei?! Você não pode simplesmente tomar de outro o que não é seu! ]

As lembranças conflitaram... mas o teor em que aquela informação estava na carta deixava claro. Com uma pequena risada de canto, Nino respondeu à voz de sua avó:

Tsi... Posso sim, vovó.

Vu!

Arthur surgiu do nada.

Desceu pelo buraco criado, agachou-se no chão, flexionando os joelhos já erguendo-se em um ataque direto com sua espada brilhando em azul-neon... Nino olhava-o nesse minúsculo período de tempo com aborrecimento e preguiça. Tinha plena certeza que Alissa estava do lado deles, mas não tinha certeza se vencia Louis e Katharine, principalmente depois que descobriu o poder da mesma.

Entretanto, lutar com os fracos era entediante.

Era como o pai; mesmo com plena certeza que poderia perder, ainda queria lutar para ver se realmente perderia ou não. FuBruumnm! ...mas nem precisou mover-se. Uma espada com design alemão, embora reduzida de comprimento, fincou o piso entre eles e explodiu com uma pequena explosão de chamas vermelhas.

Nino manteve-se estático, mas Arthur recuou meio assustado... Nathaly aterrissou entre os dois. Tchin... arrancou a espada presa na cerâmica e a guardou, visivelmente aborrecida. Sua expressão mostrava uma irritação atípica.

— O que vocês tão fazendo? Somos amigos, porra! Por que estão se matando? — repreendeu ambos... Nino olhando-a com tédio. Não tinha culpa daquilo, só estava literalmente se defendendo.

— Ele é como aquela aberração que matou meu pai! Por que acha que estou fazendo isso?! — Arthur respondeu irritado, aproximando-se dela e apoiando as mãos nos ombros da menina.

— Passamos um pouco mais de três anos juntos na mesma sala de aula. Você descobre que ele não é humano e o que isso muda? O que isso muda, porra! — Nathaly se afastou, retirando as mãos dele de seus ombros de uma forma truculenta. — Se você vai ser igual aos outros, então você é meu inimigo agora — ameaçou, olhando-o com uma expressão fechada...

Arthur ficou sem reação.

Sua visão contrastava com a mesma presente no casamento imaginário. Vendo-a preferir uma "anomalia" a si, foi bizarro... doloroso. Uma solidão, um sentimento de inutilidade. Virou o rosto. Ficou meio tonto com tanta coisa sentida em tão pouco tempo. Uma rejeição sendo que nem pediu-a em namoro.

— Vão embora — sua voz quase tremia em choro.

Nino retirou o olhar do topo da cabeça da garota, zoando o cabeção com seus olhos zombeteiros e pousou no humano visivelmente frustrado quase chorando. Colocou as mãos no bolso e saiu andando, passando ao lado dele, já que o jovem estava na direção da porta de entrada do apartamento.

Não o zombou... olhou com provocação ou foi cuzão... só murmurou em pensamentos, algo que só o mesmo percebeu:

"Sorte a sua ela chegar. Sua morte só serviria para traumatizar ainda mais aquela criança." 

Nathaly ainda olhava para Arthur, mesmo que o mesmo não tivesse coragem de direcionar o rosto na direção. Virou o rosto e seguiu caminho, passando ao lado do menino, apressando levemente o passo para alcançar Nino.

Cinco segundos depois.

Pacrash!

Golpeou uma cômoda com um chute e a destruiu... agachou-se no chão, mãos tentando conter as lágrimas:

— Que merda, que merda, que merda... — chorava baixinho.

Debaixo da cama em um quarto, com visão direta para o cômodo onde o exterminador chorava, uma criança tremia de medo, tentando não fazer nada, nada que produzisse qualquer barulho.

No celular da garotinha, com brilho no mínimo, havia uma mensagem de seu pai:

— Papai, tô com medo.

— "Papai já está chegando em casa, tá? Não saia daí de baixo."


Minutos antes:

Nina permaneceu de pé, de costas para o buraco no prédio causado por seu impacto. De repente, foi atacada por Helena, que surgiu com um rastro rosa e uma aura emanando da espada...

Mas Nina não se importava mais; sua Marca ativada sangrava em seu pescoço. Suas pupilas ficaram minúsculas, e seus olhos... arregalados.

B-CRECK!

Lançou um olhar para trás, ignorando a espada de Helena que vinha cortando na altura do pescoço, e segurou o pulso da exterminadora, quebrando-o. BA-... antes de arremessá-la contra a parede dentro do prédio.

A expressão de dor universal estampava aquele rostinho bonito... foi seca em uma ordem suicida. Um peão no jogo que Louis arriscava todas as vidas... Por parte, foi como o ex-namorado; queria uma revanche depois de ser humilhada com a família presente na arquibancada... assistindo sua iniciação fracassada, em entrar para um esquadrão oficial.

O corpo da jovem colidiu de costas na parede e se esticou — com os braços e pernas em contato perfeito na superfície — mas a parede não cedeu... Nina forçou-a a ceder. Virou o corpo como uma bailarina da desgraça, um movimento suave mas sinistro em todas as partes. Uma rotação, onde voltou com um chute no meio do tronco, impedindo que a jovem até mesmo pensasse em desviar... ou até mesmo começar a descer para o chão.

BAMCR-R-RECK!

Não só destruiu a parede como quebrou todos os ossos da região.

Sangue foi cuspido... o corpo foi arremessado. A parede atrás prometia segurar o impacto... promessas vazias. Crmnm... uma camada extra foi criada. Uma parede de pedra em contato com a não mágica.

PHAH!

Helena colidiu com tudo mais uma vez. Entretanto, o corpo não estava mais de lado, e sim em pé... Já não sentia nada internamente. Seus ossos viraram purê e os órgãos vitamina. Deslizou com as costas coladas na superfície e ia aterrissar sentada... Não deu tempo de tocar o chão... mais uma vez.

BRUNCH!

Nina acertou um soco reto de direita no meio do rosto, explodindo a cabeça e mandando sangue para todos os lados... Pahf... o corpo finalmente teve permissão para chegar até o chão com um som mórbido prazeroso aos ouvidos da Herdeira.

Um quadro de sofrimento pintado com sangue e vísceras... Nina sorria. Sua Marca ainda sangrando seu sangue verdadeiro, irritada com a audácia de seres tão insignificantes atrapalhando sua conversa com o irmão.

— Vai servir para um teste — rosnou... e estendeu a mão sobre o buraco do pescoço.

Derramou sangue... espalhou-o pelo sistema nervoso e regenerou a cabeça e rosto.

Toda a luta aconteceu em menos de um minuto.

Desde que os esquadrões quatro e cinco se trombaram, e os afobados saíram correndo na frente, Manoela não via Helena. Sempre tentava criar coragem, sempre tentava se aproximar mas era inútil. Algumas coisas vão e não voltam... Ainda não havia entendido isso.

Quando disparou para alcançar Vinícius, Helena, o mágico e dois amigos, viu-os se separarem completamente, mas notou o lado que Helena foi, quando a explosão que o líder do quinto esquadrão criou dividiu os gêmeos.

Chegou atrasada.

Antes de pisar no apartamento, já havia escutado a parede interna ser quebrada. A fumaça a cegava. Não via nada, mas quando aquilo se dissipou... por um momento preferia continuar sem ver nada.

Viu Helena em pé, ao lado de Nina, encarando-a entrar.

Travou...

Deu um passo hesitante, sua voz tremulando:

— O-o... O-oo... O QUE VOCÊ FEZ COM ELA?! — gritou, estressada e confusa. "Por que você está do lado dela...?" pensou com medo, cheia de angústia.

— Eu a matei. Você não tá vendo? — debochou Nina... enquanto Helena avançava em direção a Manoela, TINN! que bloqueou o ataque com sua espada.

— HELENA, O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?! SOU EU!... EU!! — Manoela empurrou sua espada na espada da "amiga", e se afastou de Helena, completamente desesperada.

— Ela está morta... Você é cega e surda? Ela não vai voltar. Prefere morrer do que acabar com o resto do sofrimento da sua amiguinha? — rosnou em deboche.

— CAALA A BOOCA! HELENA!... EU SEI QUE VOCÊ TÁ AÍ!... Por favor! Por favor... Volta... Volta... Me desculpa, por favor... me perdoa pelo que eu fiz — Manoela começou a chorar, enquanto implorava... Olhava com os olhos cheios de lágrimas na direção da amiga, que a olhava com uma expressão inerte, sem vida, sem ânimo, sem nada...

Mas... algo mudou.

A expressão de Helena mudou. Era como se voltasse, mas estivesse em uma prisão dentro do próprio corpo. Começou a lacrimejar. O corpo começou a reagir. Tremer. Oscilar. Passos hesitantes, difíceis e sem coordenação começaram a desenrolar.

Nina olhou a cena com uma expressão confusa, desacreditada... Helena caminhava lentamente na direção da ex-amiga... Manoela continuava chorando, mas abaixou a espada, permitindo que Helena se aproximasse com segurança e calma.

Tchn...

Soltou-a no chão e estendeu as mãos em um abraço.

— Hele...

Shkrunch!-Ploch!

Nina parou de fingir sua comoção. Parou de atuar com o fantoche humano, e acabou a brincadeira com a humana chorona. Antes que Manoela pudesse terminar o nome da ex-amiga, antes que pudesse abraçá-la e conseguir o perdão que tanto queria... Helena firmou as mãos na empunhadura da espada, cortou os pulsos de Manoela e cravou a espada na barriga dela.

Pah...

Manoela caiu de joelhos, sangrando abundantemente.

Sem suas mãos, não conseguia tirar a espada e a dor era tão intensa que não conseguia nem gritar; apenas chorava, paralisada, com o rosto traumatizado, encarando a sua frente... Helena se ajoelhou diante dela, e Nina... pousou a mão na cabeça da loira.

Nina sorria com graça sinistra.

Sentia um prazer forte olhando aqueles olhos perdidos, aquela dor desesperadora sendo transmitida pelo cheiro de Manoela, encarando e não conseguindo desviar o rosto do rosto da amiga, servindo de apoio para a mão esquerda de Nina.

CRUNCH! 

O rosto de Manoela foi banhado com o sangue da amiga... Nem piscou, nem sentia suas pálpebras. Viu Nina esmagar aquilo como massa de pizza, e não conseguiu fazer nada, além de observar e continuar sentindo o frio ficar cada vez mais forte.

Com os olhos arregalados e a expressão congelada, as lágrimas diluíam o sangue, mas o sangue saindo pelos cotocos era muito abundante. As vistas perdendo força. O peso da cabeça ficando extremamente alto.

Cedeu-o.

Deixou-o descer para ver Helena caída em sua frente.

Shk... Plh...

Mas sua própria cabeça rolou pelo chão.

— Não me levem a mal. Foi escolha de vocês me atacarem — rosnou olhando-as com soberba e nojo.

BOOM!

No momento em que terminou de rosnar, Nina ouviu um estrondo muito alto; a parede ao seu lado se quebrava, algo avançou com um soco no meio da sua cara.

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