Volume 1 – Arco 3
Capítulo 151: Missão Conjunta
04:32.
Sete dias desde o ocorrido.
Nino mal comia algo. Não se sentia bem e não abria a boca nem para falar com Nina. O que, de tabela, prejudicava a situação de Nina e Nathaly, já que o menino ignorava-a também. O osso ferido Nina resolveu sem Nathaly nem suspeitar.
Levou um copo d'água que a menina pediu um dia, mas, no copo, derramou um pouco de sangue e o camuflou, deixando-o transparente. Tratou o ferimento remotamente. Não era mais necessário gesso, mas não contou o que fez. Remover o gesso ainda lá seria estranho. Um ferimento assim poderia demorar semanas para ser tratado, e não uma semana dormindo em um colchão zoado.
Banho e roupas, Nina ajudou com isso... Nina ajudou com tudo.
Arthur permanecia em coma, mas, depois de uma semana sendo supervisionado, vendo que o estado de saúde do menino já havia ficado estável, a liberação foi permitida e o voo de volta a São Paulo foi marcado para o mesmo dia. Um KC-390 Millennium foi preparado. Tudo que os soldados e médicos que acompanhariam o trajeto precisariam para emergências com o jovem já havia sido separado.
Os TriN entraram. Sentaram-se em bancos um do lado do outro e observaram a maca de Arthur ser presa com agilidade e segurança. Nathaly no meio. Nino à sua esquerda e Nina à direita. Cintos de segurança posicionados. O jovem não conseguia manter o rosto endireitado.
Rosto inteiramente virado para o lado da parede. Não havia janela, mas não buscava por uma; buscava por uma forma de esconder as novas lágrimas que desciam enquanto seu melhor amigo voltava em sua mente.
[ — Quando a gente voltar, eu vou ganhar de você no ping-pong — desafiou. ]
As risadas de Samanta. As brincadeiras de Thales. Parecia uma espiral de um turbilhão de coisas ao mesmo tempo vindo em pensamentos que não conseguia controlar ou se livrar... Nathaly sentia-se cada vez mais estranha. Sentia pelas mortes, eram seus amigos, mas era no mesmo nível que se sentia um nada para o menino que não trocava mais nenhuma palavra consigo.
Nina notou que Nino tentava chorar escondido naquele momento. Doía muito vê-lo assim, mas não havia como ajudar alguém que não queria ajuda... Decidiu dar tempo ao tempo, mas esse tempo já havia levado uma semana e o menino continuava no mesmo lugar.
10:05.
O destino não era Guarulhos... era o Aeroporto do Campo de Marte. Um aeroporto regional em Santana, escolhido por Louis por ser mais próximo da ADEDA. Deixou uma ambulância e um carro do governo aguardando a chegada de seu sobrinho e o restante dos exterminadores.
Instantes após a aeronave pousar, todos já estavam nos veículos terrestres, seguindo viagem ao campus da escola. Lá, Louis acabava de preparar uma das salas da enfermaria da escola para receber seu sobrinho. Médicos contratados, equipamentos necessários, embora fossem os mais caros do mercado... mas Katherine continuava enchendo o seu saco:
— Não seria melhor deixá-lo no hospital?
A cada dezena de perguntas, Louis tentava manter a média de responder apenas duas, para assim não enlouquecer de vez. Começou respondendo todas, desceu a média ignorando uma, depois duas, moldando com calma o receptor de atenção da mulher.
— Com tudo isso, isso aqui se torna um hospital. Quero estar de olho no meu sobrinho. Apenas abrir ou olhar pelo vidro da porta se ele está bem enquanto eu continuo meu trabalho.
— Você só pensa em trabalhar... Para um pouco. O mundo não vai acabar se você descansar um diazinho — reclamou em voz dengosa.
— ...
Louis continuou movendo objetos de um lado para o outro. Não sabia o que estava fazendo. Mas fazia, buscando os melhores lugares para deixar cada coisa. Tudo organizadinho. Tocava em coisas que não sabia nem o nome.
Katherine finalmente ficou em silêncio, mas, olhando para a maca que esperava por Arthur, pensou de uma forma que quase lembrou quando Louis se ajoelhou diante do corpo do irmão dividido ao meio. Enxergou Arthur deitado naquela maca, e ela cuidando do menino como uma enfermeira... não por gostar do jovem adulto, mas sim para:
"Vai ser um bom momento para fazer ele ficar completamente apaixonado por mim..." Usá-lo como escada para tentar conquistar "ainda mais" seu homem.
Os carros chegaram na escola.
Assim como no avião, Nino não abriu o bico em momento algum. Desceu com pressa, ignorou mais uma vez as duas e acelerou o passo pelos corredores, indo na direção de algum lugar.
Nina e Nathaly foram até Louis. O diretor pediu para que, quando chegassem, o encontrassem para comentar sobre o relatório. O exército enviou um, mas Louis queria saber exatamente o que aconteceu com Arthur diretamente de quem estava presente... Nino alterou o relatório do exército.
[ Do escuro... Das sombras da sala onde um soldado escrevia o que viu e aconteceu no dia... Nino saiu ao ver que o homem comentou do seu momento explosivo, quando colocou um militar contra a parede gritando pelo tenente-coronel.
Foi gentil... só ameaçou-o de morte caso enviasse aquilo.
Logicamente, não foi enviado. A versão enviada excluía quase tudo... deixando só uma incógnita absoluta do que aconteceu naquele dia. Nino cumpriu sua promessa. Não o matou, mas deixou um homem de 36 anos com medo de dormir no escuro.
...Mas as pessoas mentiam.
O relatório foi enviado sim. Um relatório dizendo que sofreu ameaça de morte pelo menino... Nino deveria tê-lo matado... mas o e-mail foi perdido. Mirlim o barrou por questões pessoais.
Achou interessante o acontecimento, mas sabia quem ali era corrupto e não. Tinha dados de todos, acesso à conta bancária de todos... Conversas do tenente-coronel com o Dr. Ben. O e-mail desapareceu do nada da existência, e o homem não conseguia mais dormir acreditando que Nino poderia descobrir que ele enviou aquilo que só era visível do seu computador. ]
Louis aguardava Arthur ser colocado na enfermaria. Nesse meio tempo, as duas já contavam o que havia acontecido:
— Fomos pegos de surpresa por anomalias em uma espécie de lama e...
— Anomalias menores ajudando uma mais forte? — interrompeu Louis, visivelmente inquieto com as pernas. Braços abraçando um ao outro.
Surpresa, Nina respondeu:
— Sim. Como sabe?
— Já fui atacado da mesma forma uma vez.
— Entendi... Elas pegaram Thales de surpresa, e ele acabou morrendo na hora. Era basicamente uma distração. O lugar era lindo, cheio de flores e tudo sumiu. Quando Thales foi atacado, nem eu nem meu irmão estávamos prestando atenção. Samanta tentou salvá-lo, mas não deu tempo. Várias dessas atacaram ela. Nós a protegemos de tudo, mas do nada o chão se rompeu, outra anomalia surgiu e atacou diretamente ela, a matando. Samanta conseguiu desviar do primeiro ataque. Estava segurando Thales; talvez foi por isso que não conseguiu desviar do segundo... Aquela coisa entrou na terra e Nathaly explodiu o buraco deixado com fogo, só que, quando a anomalia saiu, não era mais uma, eram duas. Fomos pegos de surpresa por um ataque da Ruína e...
Louis desviou o olhar.
— Não era uma Ruína. Testes com o material genético e partes que sobraram da anomalia foram estudados e a Limpeza chegou na conclusão que era uma Calamidade... eu deveria ter enviado Alissa, e não vocês. Sinto muito por Samanta e Thales...
— Uhum... Nós fomos arremessados depois que nossas espadas se partiram ao tentarmos conter um golpe da anomalia, mas Nino não foi acertado. Ele conseguiu lutar com as anomalias e as matou. Quando fomos arremessados, Nathaly caiu sobre o braço, o machucou, e Arthur bateu muito forte a cabeça em um galho. Convulsionou bastante, mas, quando os soldados chegaram, conseguiram ajudá-lo, embora tenha entrado em coma.
Nina abaixou um pouco a cabeça, antes de continuar:
— Nino ficou muito abalado. Thales era o melhor amigo dele...
Louis se lembrou do passado, ele chorando pelas mortes de seus amigos.
— Espero que Arthur se recupere rápido — finalizou ela.
— Obrigado... Essa dor é algo... muito difícil de superar. Espero que seu irmão consiga seguir a vida. Mesmo que Thales não esteja mais aqui, ainda está vivo dentro do coração dele. Ainda faz parte da vida dele, e não pode ser esquecido. Não é sobre esquecer, é sobre lembrar-se dos momentos e agradecer por ter podido passar um tempo da sua vida ao lado dele...
— Vou passar suas palavras para ele — respondeu com um pequeno movimento de cabeça para baixo.
— Onde ele está?
— ...Provavelmente com Alissa.
— Entendi.
Soquinho erguido... cabeça baixa. Não conseguia abrir e nem bater na porta.
Alissa sentiu alguém parado de forma estranha nas proximidades e controlou toda a extensão do corredor... Em sua porta, achou o alvo. Tentou acessar os poderes, não conseguiu e sacou:
"Nino?"
Pf...
Fechou seu livro, o colocou sobre a mesa, levantou-se e foi até a porta.
Ao abri-la... encontrou Nino com a cabeça baixa. O menino ergueu lentamente o olhar para ela, e Alissa viu a expressão perdida, segurando as lágrimas.
— Oi — sussurrou primeiro.
— ...Oi — depois de dois segundos, Nino respondeu.
Deu espaço na porta e Nino entrou banhado em tristeza.
— Como você está? — perguntou após trancar a porta.
Nino permaneceu de pé, e Alissa passou por ele, sentando-se na poltrona.
— Bem... eu acho. Não sei se foi culpa minha o que aconteceu. Eu deveria ter tido mais cuidado. — Não conseguiu segurar as lágrimas e começou a chorar com força — Não sei! Não sei o que eu fiz, deixei eles morrerem, eu...
Thumpf!
Alissa correu até ele e o abraçou com força.
— Ei, ei!? Não tinha como você adivinhar o que ia acontecer... — Nino chorava muito enquanto Alissa o abraçava — Não se culpe por algo que você não podia controlar. — tentou acalmá-lo, passando a mão em seus cabelos por trás da cabeça.
— Líder... — sussurrou embargado.
— O quê?
— Líder, eu não quero morrer... Essas foram as últimas palavras da Samanta. E-e e-eu estava parado assistindo tudo, sem conseguir me mexer, apenas os vi morrer. E-eu não fiz nada. N-nada! Nada!
— ...
Alissa permaneceu em silêncio, oferecendo um abraço amigo enquanto ele chorava.
...Alice.
Alice os abraçava.
Nino sentia o conforto do abraço que sua mãe queria poder lhe dar em um momento tão difícil, se fosse viva. Sentia-se seguro. Sentia que podia desabar que ninguém iria lhe ver como fraco. Podia chorar que ninguém iria diminuí-lo por isso. Deixou as lágrimas saírem. Deixou suas duas mães lhe abraçarem com carinho e cuidado.
Por que não conseguia enxergar seu pai desta forma?
...Seu pai não seria como sua mãe?
Não iria lhe abraçar... como abraçou quando você nasceu?
Por que sempre o via tão longe e autoritário?
Por que Blacko sempre era representado em seus olhos como um mau encarnado?
Você viu o amor naquelas íris pretas... Valeu a pena forçar-se para esquecer daquele abraço?
Esquecer daquela carta?
Também vai forçar-se a esquecer de Thales, para não sofrer?
Vai continuar fugindo das coisas que tocavam sua alma?
Por que tentava demonstrar tanto ser inabalável, se isso não passava de uma mentira descarada?
Falar demais... fingir demais não lhe fazia ser o que fingia e dizia ser...
O choro passava pela porta. Uma angústia escutada em tom baixo. Nina continuou sentada no chão, com as costas apoiadas na porta enquanto chorava com o choro de lamento do seu irmão... Alissa sabia de sua presença, mas, assim como com Nino, deixou-a ter seu momento de descarregar as dores da alma.
Louis andava em seu escritório, aguardando Arthur ser preparado na enfermaria, quando recebeu uma ligação urgente:
— Alô?...
— Bom dia. É da ADEDA, certo?
— Sim. Posso ajudar?
— Um prédio perto da minha casa está infestado de anomalias.
— O quê? — Louis ficou surpreso com a palavra "infestado".
— Uma mulher saiu gritando na rua, dizendo que algo matou seu marido no prédio e também tentou matar ela. Primeiro, pensei que ela estava louca ou usando drogas, já que estava quase nua. Mas eu tenho um drone e, usando ele, eu decidi investigar o prédio. Só que... assim que eu entrei por uma janela, um outro drone surgiu na frente do meu. Era igual, mesmo tamanho e tal. Mas parecia ser feito de carne e coisas vivas. Ficou perseguindo o meu drone enquanto eu continuava explorando o lugar. Passei por todos os andares e em quase todos os apartamentos, já que alguns não tinham tela nas janelas e as portas estavam abertas.
"Drone de carne?" Querendo ser objetivo, ignorou perguntas menos importantes. — O que você viu lá?
— Muitas anomalias. As pessoas do prédio estavam todas mortas... mas aí que tá. Assim como o meu drone meio que foi clonado, as pessoas do prédio também. Pareciam zumbis. As pessoas mortas no chão usavam as mesmas roupas dessas coisas em pé, curiosas com o meu drone, tentando derrubar ele.
"De novo isso...? Mas não transformou pessoas em anomalias dessa vez... Realmente clonou elas?"
— ...Eu encontrei o marido da mulher, assim como o zumbi dele e o dela. O homem e sua versão zumbi estavam pelados, então provavelmente estavam no coito antes de tudo começar. Subindo alguns andares, eu vi criaturas diferentes; pareciam insetos, só que muito maiores que o normal. Não sei se fazem parte de tudo isso, ou se foram insetos que também receberam clones. Não sei. Só sei que me distraí pela nojeira e o drone de carne conseguiu derrubar o meu. Talvez você saiba o que está acontecendo. Peço desculpa se eu agi errado em relação a investigar isso.
— Não, não se preocupe com isso. Deixe uma mensagem neste mesmo número, por favor. Para que eu me lembre de estornar o valor do seu equipamento destruído usado para nos informar sobre esta denúncia. Estou recebendo muitas mensagens e ligações. Imagino que seja todos falando sobre esse caso. Vou mandar um esquadrão imediatamente. Por favor, me informe o endereço.
— É na rua Caio Prado. Não sei o CEP, mas a rua está bem movimentada e o condomínio já está cercado por policiais impedindo a entrada de pessoas. Inclusive, um policial chegou próximo demais do prédio e uma versão dele zumbi surgiu literalmente do vento, atacando ele. Os policiais atiraram sem pena. Foram muitos disparos e a possível anomalia foi morta. Parecia aquele soro que sai de sorvete derretido, até que sumiu da mesma forma que surgiu.
— ...Essa informação foi ótima. Obrigado.
Louis desligou... colocou o celular no silencioso e coçou a cabeça, estressado. No tempo que aquilo não parava de vibrar.
— Clones...? Clones? Cópias? Que merda tá acontecendo? — pensava alto, sozinho.
— Não sei o qu... — Mas Katherine não conseguia deixá-lo fazer isso.
Ao ouvir a voz da mulher, ordenou rapidamente:
— Chame seu esquadrão. Vou chamar o terceiro também.
— O quê?
— Será uma missão conjunta. O terceiro e quarto esquadrão irão juntos. Menos risco de algo dar errado. Com o que o cara me disse, o exterminador provavelmente terá que enfrentar uma cópia de si. Mandando esses dois esquadrões, se juntam e eliminam um por um, se essa coisa não for só Errantes como na outra espécie de infestação que aconteceu esses dias para trás. Minha cabeça está doendo. Não consigo pensar direito, então, já decidi que será isso.
Abriu o aplicativo web de mensagens no computador e mandou o recado diretamente para Nino, Alissa, Nathaly e Nina.
"Aquela desgraçada de novo!" Furiosa com sua prima que não tinha absolutamente nada a ver com aquilo, quebrou o maravilhoso silêncio que Louis teve de dois segundos: — Só o meu esquadrão dá conta. Pode conf...
— CHAME LOGO SEU ESQUADRÃO! — Louis explodiu.
BAPrec! V
isivelmente estressado. Bateu a mão na mesa e um botão do teclado saiu, quebrado. Depois de olhar para ela, notou o medo no rosto de Katherine...
Aliviou:
— Me desculpa... E-eu estou com a cabeça cheia, estou cansado. Por favor, chame seu esquadrão. Não quero que mais nenhum exterminador morra. Por favor, me ajuda.
Katherine não conseguiu olhá-lo no rosto. Virou-se e saiu em silêncio da sala.
"Ele não gritaria comigo... Essa desgraçada vai pagar por fazê-lo me tratar assim!" pensou enquanto se dirigia para buscar seu esquadrão. Passos furiosos, barulhentos. Punhos cerrados. Rosto fechado.
— Está melhor? — perguntou em tom baixo, afastando o abraço.
Nino respondeu com o rosto. Um movimento lento afirmando. O rosto ainda de choro. Olhos um pouco inchados. Olhar baixo.
— Senta — levou a mão na direção da poltrona.
Nino obedeceu. Sentou-se e Alissa sentou-se meio apoiada na mesinha de vidro. Braços cruzados. Olhava-o com compreensão. Nenhum tom de julgamento, só empatia. Nino não conseguia olhá-la.
— Me desculpa...
— Chorar faz bem, não se preocupe — respondeu calmamente.
— Não é isso... É que eu quebrei a sua espada. Me desculpa, mesmo — implorou em voz baixa. Olhar baixo como se fosse inferior à Alissa.
— Hum? Aah, tem problema isso não. Aquilo era só metal com desenho. Eu nem usava — tentou relevar de forma divertida.
— Pra mim não era...
Levou as mãos, protegidas por suas típicas luvas brancas, ao rosto do jovem. Apertou as bochechas, forçou-o a fazer biquinho e direcionou o rosto para olhá-la diretamente no rosto. Como estava meio encostada/sentada, Nino precisou olhar para cima, tendo a sombra dela lhe cobrindo.
— A...
— Foi tudo culpa minha — confessou de forma boba, com o biquinho de peixe forçado, na pressão do olhar que não era nenhum pouco ameaçador. Interrompeu a mulher, que aborreceu um pouco o olhar achando que o jovem voltaria a se culpar por algo que não controlava.
— Não foi culpa sua, para com isso — repreendeu-o com tranquilidade e soltou o rosto.
— Foi sim. Eu pensei que nada iria acontecer de errado, já que estava eu e minha irmã juntos... Antes de entrarmos, eu e ela percebemos que o cara no comando era corrupto.
Alissa cruzou os braços novamente. Uma perna encostada na outra. Ergueu uma sobrancelha e manteve o olhar fixo nos olhos do garoto, desconcertando-o um pouco.
— Diga-me mais...
— Percebemos que tinha algo estranho, mas eu realmente acreditei que iria conseguir protegê-los... Não consegui. Senti muito medo. Medo de usar o sangue e nós sermos descobertos. Eu simplesmente travei... m-mas eu não quero falar sobre isso, quero falar sobre outra coisa.
— Pode continuar — permitiu-o e, desde que Nino começou a confessar, Alissa não piscou em nenhum momento. Sentia o que fazia outras pessoas sentirem... era boa essa pressão toda?
— Eu perdi o controle... fiquei meio atordoado, não lembro muito. Era eu, mas ao mesmo tempo não era. Não sei dizer. Era como dormir e estar acordado. Eu lembro de lutar, mas só pequenos fragmentos de lembranças. Lembro de matar um velho. Ele usava um sobretudo parecido com os nossos, mas era outra cor.
— Um velho de sobretudo?
— Sim. Parecia até um cientista de desenho animado. Tinha alguns equipamentos, mas eu acabei destruindo sem querer. Porém, quando eu o matei, eu não destruí o celular e nem um caderno. Não sei ao certo. É tudo muito embaçado, turvo. Não lembro se eu queria pegar aquilo pra ler e ver o que tinha escrito ali, eu só sei que não faz sentido um velho estar em cima de uma árvore em uma área com anomalias e a merda de um desaparecimento de professor e crianças.
— Lembra de mais alguma coisa?
— Quando eu matei as anomalias, ele tentou ligar para algum lugar. Uma mulher atendeu a ligação e falou o nome dele, mas eu não lembro. Era algo como: Ban, Bin, Bon, Ben, Bun... Algo assim, tinha esse som ao menos.
— Entendi. O que fez com o corrupto?
— Matei... ele tentou fugir de avião, mas o Rag o encontrou e eu fui lá e matei.
— Nino... alguém viu isso? — perguntou preocupada.
— Matei todos que viram — respondeu de bate e volta.
Aborreceu o olhar.
— Não foi esse o combinado.
— O voo era para ir até Espírito Santo, mas estava indo sentido Colômbia. Ou seja, eram corruptos. Tinham armas, drogas, suprimentos e alguns equipamentos militares naquele avião. Por que estariam indo na direção oposta de onde deveriam ir? Coloquei eles como criminosos e matei todos. Rag destruiu o avião completamente. Não há provas ou pistas do que aconteceu.
— ...Faz sentido. Ok então.
— Eu tive vontade de matar todos daquele lugar, mas eu não sabia quem era honesto ou não... Mas eu juro que não te desobedeci! Juro juradinho!
Alissa soltou uma pequena risada divertida com o rosto fofo que Nino deu. O humor do menino havia voltado. Ainda sentia dor de perder dois amigos, mas conseguia pensar em outras coisas além dessa dor, agora.
Toc, toc.
Alguém bateu na porta.
Nina passou as mãos nos olhos para secar as lágrimas e, alguns momentos depois, Nino abriu. Ambos com um semblante normal. Manipularam o sangue para tirar os manchados e inchados do choro.
— Louis está chamando você — avisou.
Nino olhou para Alissa.
— Nos falamos outra hora — disse Alissa.
— ...Tá bom — respondeu o menino, saindo da sala e fechando a porta.
O quarto esquadrão já havia recebido as ordens no escritório de Louis quando Nino e Nina chegaram. Ficaram confusos, e Nino questionou:
— Missão conjunta?
— Sim. Vocês irão junto com o quarto esquadrão.
— Mande o quarto com o quinto — respondeu sem muito ânimo.
— Não posso fazer isso. Eles ainda são inexperientes. O que estiver lá aparentemente vai clonar vocês. Vão precisar vencer a si mesmos. Não sei se as cópias são fortes, então vou mandar todos para eliminarem uma por uma mais fácil. Vocês e o quarto esquadrão são minha escolha.
Nino virou o rosto bufando um pouco.
— Já estou melhor. Podemos ir sim — ponderou Nathaly.
— Não. Apenas eu e a Nina. Você fica — Nino respondeu com firmeza, voltando o rosto rapidamente na direção da garota.
— O quê? — Nathaly sentiu uma pontada grosseira.
— Você fica e descansa — ordenou.
Nathaly deu um passo contestando-o.
— V...
— Ele está certo, Nathaly. Descansa mais um pouco para recuperar totalmente o seu braço. — Nina tentou ser mais gentil, impedindo uma possível discussão.
Nathaly olhou a amiga enquanto Nina dizia; quando finalizou, olhou novamente para Nino, que continuava com o mesmo rosto rígido de quando a ordenou.
— Leve o celular. Se precisarem de ajuda, é para me ligar — mandou.
— Ahãm — grunhiu com indiferença.
— Prometa. — Nathaly olhou no fundo dos olhos com seriedade.
— ...Prometo — respondeu Nino.
— Motoristas estão esperando vocês na entrada. Vão ir e voltar de carro — ponderou Louis.
Nino olhou-o.
— Se não vai nos teletransportar, ao menos nos deixe ir correndo.
— Não. Quero que aproveitem o tempo de viagem para se concentrarem. Você principalmente. Acabou de perder alguém muito próximo. Não seja imprudente. Pense antes de agir. Suas espadas já chegaram. Mesmo que você não vá, Nathaly, pegue sua espada personalizada lá na entrada, com um dos agentes que os aguardam.
— Ok.
Nino não gostou dele chamar sua atenção.
— Eu li a mensagem. Parece muito com uma missão que Thales me contou que foi. Tá preocupado com Errantes, sério? — atacou.
— N...
— Nino, chega. Vamos — Nina interrompeu Louis... seu irmão olhou-a e deu as costas.
Nina voltou o rosto ao diretor.
— Ele não gosta de ser chamado a atenção — explicou.
— Como Alissa faz então?
— Ela ele não se importa.
— ...A.
Três carros.
Helena não queria entrar com seu esquadrão. Seus companheiros haviam notado algo estranho havia dias. Um afastamento. Um silêncio. O anúncio do término veio de Vinícius, mas o jovem sempre tentava se aproximar novamente — Helena não abria espaço para isso.
Ignorava o grupo. Ignorava todos. Só respondia quando necessário; de resto, virou um lobo solitário... Viu os gêmeos irem juntos até o terceiro carro. Manoela foi na direção da ex-amiga; Helena passou reto, ignorando-a por completo.
O esquadrão seguiu-a com os olhos... Nina havia entrado no carro; Nino já ia fazer o mesmo. A jovem parou com as mãos juntas, braços esticados para baixo. Rosto igualmente baixo. Nino olhou-a com tédio.
— Posso ir no carro de vocês? — pediu em tom baixo.
Nino continuou encarando-a por um momento.
— Não tem esquadrão, não? — resmungou.
— Não mais — respondeu no mesmo tom inicial.
Nino olhou para Nina; Nina olhou com indiferença. Voltou o olhar na direção da menina.
— ...Vai na frente, e se eu escutar um único pio, arremesso você para fora.
— Obrigada.
Vinícius sentiu ciúmes e até deu um passo na direção... mas então viu Helena entrar no carro e ficou um pouco estressado, entretanto entrou no seu. Manoela sentou do lado, mas, desde o término, ficou completamente de escanteio. Tentava, mas não recebia mais que migalhas. Mas pombos gostavam disso... aprecie.
— Se continuar com essa cara, eu vou te quebrar na porrada — resmungou Nina, sem olhá-lo. Olhava para a janela afora do lado esquerdo do veículo.
— Desculpa. Eu tô mal, e tô sem paciência pra gente que não me importo — desabafou, olhando para fora do vidro do outro lado.
— É... eu sei.
Helena permaneceu em silêncio, assim como o combinado.
Chegaram.
A polícia cercava toda a rua. Pessoas curiosas querendo entender o que se passava naquele condomínio... Foram. Os policiais abriram espaço, e só os exterminadores se aproximavam daquela infestação de zumbis.
Helena caminhava próxima de Nino e Nina. Nem muito longe e nem muito perto. Na distância perfeita para não receber reclamação alguma do Primordial irritadinho... Vinícius não gostou nada e se aproximou de Nino, enquanto continuava o passo.
— Só para deixar claro, não me agrada nada fazer isso junto com você — atacou com indiferença.
— Hãm?... Quem é você? — Nino olhou-o meio confuso.
...Vinícius saiu andando todo bravinho depois disso.
— Quem é ele? — Nino olhou para sua irmã, que, com os olhos entreabertos, continuava andando para frente no automático da preguiça.
— O garoto do duelo — respondeu sem ânimo.
— Aaaaaaah, o fogo de cozinha — zombou e uma pequena risada saiu da boca de Helena, irritando ainda mais o ex-namorado.
Mais à frente:
— Então, esse é o prédio? — Manoela perguntou, com uma expressão estranha, olhando para o local com certo receio.
— Os sons que estou ouvindo não são nada agradáveis — ponderou Pedro.
Os gêmeos atravessaram o grupo parado e continuaram na direção do prédio.
— Vamos acabar com isso logo — ordenou Nino.
— Ei?!... Eu sou o líder aqui! — Vinícius passou na frente dos dois e exclamou: — Vamos entrar e acabar com isso logo!
Nino o olhou com desdém, enquanto o humano andava na frente, achando que era alguém importante... Os clones não surgiram. Creck! Nino arrombou a porta trancada com uma batida de pé e entrou... seu clone, Ploch! surgiu e recebeu um golpe de mão — os dedos juntos como a ponta de uma lança — Nino penetrou seu braço no peito de sua cópia morta-viva, esmagou o coração, Pahf e o deixou cair no chão.
Shk!-Sh-Shk!
Eram clones, mas eram meros Errantes que não conseguiam matar nada além de humanos frágeis. O quarto esquadrão eliminou seus clones com cortes rápidos de espada e Vinícius, em sua tentativa de manter a liderança, não olhou para seu "rival" e seguiu adiante com seu esquadrão... O clone de Nino não havia morrido.
Ergueu-se e o Primordial olhou-o meio indignado.
Ploch!... Pah!
Penetrou mais uma vez o braço no coração. Usou seu pé para retirar o corpo nojento de sujar sua blusa... mas a anomalia não morria. Nina estava na mesma situação. Destruiu o coração da sua cópia mas não morria... Não viram, mas aquela coisa só foi derreter como a de todos, depois que os dois penetraram o coração de seus clones ao mesmo tempo.
Olharam com estranheza para aquilo; depois seus olhares se encontraram.
— Vão demorar muito aí? Pensei que eram fortes — provocou Vinícius, olhando-os da dobra da escada à frente.
Os gêmeos olharam na direção, e Helena entrou no prédio logo depois. Sua cópia havia surgido do lado de fora. Com sabedoria, não enfrentou sem entender seu alvo. Mas quando notou que era fraca, eliminou-a sem mais nenhuma precaução... Nino viu uma boa oportunidade.
— Precisa de ajuda? — perguntou ele, e Helena não entendeu a princípio aquele menino mudar de temperamento tão de repente.
— A-ah... Não, tô de boa — respondeu.
— Cê precisar de alguma coisa, estou aqui — ofereceu com um sorriso gentil.
— Uhum... — respondeu de forma acanhada... Vinícius ficou puto e subiu as escadas.
"Babaca..." pensou Nina.
Mataram tudo que viam... A anomalia clonou tudo que acreditava possuir vida. Pernilongos, até mesmo baratas no encanamento foram clonadas, resultando em vazamentos e cheiros horríveis de merda e mijo vindo de alguns andares... Andares esses que os gêmeos ignoraram e continuaram subindo as escadas.
Helena os seguiu, e isso resultou em Vinícius os seguindo por não querer deixar sua ex-namorada sozinha com Nino. Pedro foi junto. O restante ficou limpando os andares inferiores. Arrombando os apartamentos e executando tudo que se movesse.
Chegaram no último andar.
Não foi planejado, muito menos cronometrado, mas todos se posicionaram em uma porta, Creck! e a arrombaram ao mesmo tempo.
O apartamento de Pedro estava limpo, o de Vinícius também. Shk! No de Helena havia um casal e uma menina pequena transformadas. Matou-as com um pesar no coração, vendo o corpo da pequena menina estirada no chão.
No de Nina aconteceu uma coisa peculiar. O hamster da família, clonado, matou os clones zumbis. Naquele instante, aquela coisa toda falhada em pele, destruída em beleza parecendo um rato sobrevivente de um bombardeio, se alimentava produzindo sons grotescos da carne do seu dono que tanto o amou em vida.
Skrunch!
Aquela anomalia destruiu tanto o crânio do humano que nem parecia que um dia possuíra vida. Aberto, nem sangue mais tinha. Nina eliminou-o, assim como cortou o corpo do humano ao meio para ter certeza que de lá nada sairia.
No apartamento de Nino... uma voz estranha saía:
— Por que você está nos matando? Você também não é humano. Consigo ver nos seus olhos que você é parecido comigo — disse Azul, voz brincalhona enquanto dizia; uma risada estranha foi propagada após finalizar.
Nino mal havia entrado no apartamento. Ainda não havia localizado quem falou aquilo... mas, quando viu um ser azul se movendo dentro de uma garrafa de vidro, Shcrec! avançou e cortou-a ao meio.
Ainda rindo, o brincalhão foi embora.
O que queria já havia acabado fazia tempo. Só queria matar mais algumas pessoas, entretanto os policiais não quiseram diverti-lo mais um pouquinho... Nina e outros três foram até lá no instante que ouviram a voz, e viram o momento que Nino eliminou o Diabinho fazendo decoração em uma estante.
— Por que essa anomalia disse que você é parecido com ela?! — Vinícius confrontou Nino, mas Nino não estava com um pingo de paciência naquele momento.
Virou-se puto, encarando Vinícius e o peitou. Mesmo Vinícius sendo um pouco mais alto, não sustentou e ficou desconfortável, a ponto de desviar o olhar dos olhos do Primordial.
— Tá com o pau no ouvido ou esqueceu como escuta as coisas?! — exclamou com raiva, seus olhos arregalados de irritação. Pensou em matar Vinícius ali mesmo, mas sabia que precisava de uma boa desculpa para Louis... e para Alissa. Vinícius não era um criminoso... Era? "A anomalia matou os seis antes de eu chegar. Não. É impossível isso dar certo." seu sangue sugeriu matar todo o esquadrão quatro, mas era óbvio que só ia piorar as coisas.
Os três exterminadores nos andares inferiores ouviram os gritos e subiram rapidamente.
— O que aconteceu?! — Manoela perguntou ao chegar... mas o confronto aparentemente havia acabado.
— Nada... Só completamos a missão — respondeu Vinícius, embora sua expressão deixasse claro que ele queria mais explicações... Nino e Nina os ignoraram e foram até as escadas.
Enquanto desciam com pressa, ambos pensavam iguais:
"Merda, merda, MERDA!"
Ignoraram câmeras, repórteres e policiais. Entraram no carro em que vieram e mandaram o motorista ir embora. Nem esperaram por Helena, que foi obrigada a conversar com o Semáforo para ir no lugar dele, no carro onde Vinícius e Manoela não estavam.
Assim como os gêmeos, Vinícius e Pedro estavam muito agitados. Helena só um pouco. Não havia entendido muito bem o que aconteceu. Mas, diferente dos carros do quarto esquadrão, Nino e Nina não foram para a escola.
Foram direto para o Bloco Um.
Os carros chegaram na escola.
Vinícius e Pedro saíram disparados pelos corredores sem falar nada. O restante do esquadrão também seguiu sem entender absolutamente nada. O desespero. A pressa. Seguiram mais para saber uma fofoca nova, mal podiam esperar que era uma fofoca fodida de desgraçada.
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