Volume 1 – Arco 2
Capítulo 90: Debi & Loide
[ — Hoooooje, euu voou pararr na gaiiioola, fica de marolaa, senta pro chefinho do jeitinho que ele gosta, vai ficar chapada e vai voltar depois das hora, toma, toma, toma, toma, toma, sua gostooosaa...
Um jovem de 20 anos, pele parda, cabelo baixinho... degradê perfeito. Se arrumava em seu quarto para sair, enquanto cantava a música que colocou para tocar no seu celular sobre a cama. Suas roupas... comuns para o local que iria.
Uma blusa branca, duas correntinhas finas folheadas a ouro, e uma calça jeans, combinadas com um tênis chamativo... de tão feio. Animado, mantinha um sorriso no rosto, Pssh!-Pssh-Pssh! enquanto espirrava diversas vezes um perfume caro em seu corpo.
Vaidoso, gostava de se sentir bonito... gostava de usar roupas e itens de marcas. O que lhe custava caro. Gastava bastante dinheiro com tudo isso, um consumismo desenfreado. "Preciso desse tênis novo", "Preciso dessa 'peita'", "Preciso dessa 'lupa' nova".
Uma coisa que não percebia... era que tudo aquilo não era por ele... era para os outros.
Nada era... seu.
Tudo era para postar nos status... publicar em algum lugar.
Uma foto de bebidas caras em cima de uma mesa. Uma foto em uma casa com piscina, mulheres e cerveja. Um emoji de palhaço, blocos de dinheiro, ou com raiva no rosto, uma música pesada na tentativa de parecer mais... "bandido".
Tudo era para mostrar aos outros.
Sua vida não era sua, pois não a vivia.
Não era nada. Era apenas um teatro "barato".
Um personagem enjaulado na necessidade de ser notado por quem não se importava.
"Invejosos, só por que hoje eu posso." "Inimigos"...
...Por que alguém seria inimigo de alguém cuja vida não passava de uma mentira triste e vazia? O cigarro eletrônico que não saía do bolso. O salário em whisky para os "aliados" valia mais a pena que um pensamento para o futuro?
Para ele... valia.
Acabou a cantoria.
Já arrumado, o celular continuava tocando, enquanto o jovem acabava de ver se estava tudo certinho, ao se olhar no espelho. Puxou uma bala cuja embalagem era um retângulo preto, e colocou a bala de menta na língua, para deixar seu hálito mais fresco.
Brr...
O celular diminuiu o som da música com a notificação de um aplicativo.
— "O motorista está chegando" — leu em voz alta, pegando o celular e o guardando no bolso. Saiu do quarto, indo até a sala, onde sua mãe se retirava para ir dormir. — Tchau, mãe! — falou rápido, quase impaciente.
Sua mãe o olhou com ternura e preocupação. Se aproximou dele, dando um abraço apertado.
— Tchau, meu filho. Vigia, tá? — disse baixinho, olhos fechados, segurando-o como se fosse a última vez.
— Tá bom, mãe. Volto lá pras 3h... Então... não precisa me esperar não, tá? Qualquer coisa pode me ligar que eu atendo.
— Tá.
O abraço acabou.
O menino passou pela mãe, indo até a porta da entrada.
A mulher ficou parada, o olhou sair e fechar a porta, antes de se virar, voltando na direção do quarto. Suas mãos se ergueram até a altura do peito, e, olhando uma pequena cruz com o corpo de Cristo crucificado, pendurada, de decoração na parede do corredor... a mãe fechou os olhos, clamando:
— Ó Senhor, livre meu filho do acidente, da bala perdida, do assaltante, do homem sanguinário... o faça invisível e o livre de tudo quanto é tipo de mal que porventura possa tentar tocá-lo... Em nome de Jesus Cristo... amém.
— Gabriel? — perguntou o motorista, virando-se levemente para confirmar.
— Isso! — respondeu o jovem, entrando no carro com um sorriso relaxado, já colocando o cinto, para o som do carro não lhe lembrar com a chata voz robótica da IA do aplicativo.
Assim que se acomodou, o motorista, um velhinho simpático, iniciou a corrida, puxando assunto:
— Só confirmando... Vai pra balada, né? — perguntou, lançando um olhar rápido pelo retrovisor.
— Isso!
— Haha... Tá acontecendo algo lá hoje? — perguntou com curiosidade.
— Haamm... Acho que não. Só o padrão mesmo.
— Ah... Eu não rodo muito por aqui. Mas já é o sétimo passageiro que tô indo deixar lá.
— Já abriu lá?
— Não sei... Acho que não. As meninas que eu deixei lá antes entraram numa fila gigantesca. Talvez estão deixando entrar de pouco em pouco.
— Entendi... Nossa... Já fez sete corridas por agorinha? — puxou papo de novo, descontraído.
— Isso.
— Trabalhar nisso dá dinheiro? Tipo, se eu alugar um carro e entrar no aplicativo, você acha que vale a pena? Eu tô meio desanimado no lava-jato em que trabalho... Sei lá, saca? Se for melhor, acho que eu tento. Pensei em motoboy também, mas, cê é louco, trabalhar igual um maluco embaixo da chuva pra ser humilhado por pleyba... sai fora... — Um leve desabafo, bem sincero, olhando pela janela aberta do carro.
O velho riu, compreensivo.
— Olha... depende muito. Tipo... Carro alugado tem suas vantagens. Eu comecei neles também. O meu carro antigo era bem velho, aí era um pouco ruim trabalhar nele.
— Esse carrão é seu?
— Sim.
— Aaah, então vale a pena, porra! — exclamou ele em tom de brincadeira, rindo um pouco, e o motorista dividiu o momento com uma pequena risada.
— Tipo... Você não precisa se preocupar com seguro, IPVA, manutenção, essas coisas. Só a gasolina ou a energia, caso queira pegar uns carro elétrico. Geralmente é uns 50 reais a diária de um carro mais ou menos. Sua maior preocupação é não tomar multa. De resto, é tranquilo — explicou de forma leve, tranquila, para o menino entender. — Também não pode achar que o carro é seu porque foi lá e pagou por 30 dias. Tem muitas limitações... sair do estado, coisas assim. Já carro próprio, você precisa se preocupar com tudo, né? Manutenção, blá-blá-blá... Mas tem essa liberdade de ir onde quiser e tal.
— ...Não entendi muito bem. Acha que vale ou não?
— ...Não acho que vale. Mas é melhor pra começar. Você não vai ter dinheiro pra pegar um carro bacana pra começar nisso. Ninguém começa algo com o melhor. Óbvio, se for rico, de família boa, aí começa. Mas é bom alugar um carro e começar a fazer, ver se é o que você quer mesmo. Se tá melhor que o seu antigo trabalho, entende?
— Aaah, saquei... — comentou, pensativo, os olhos vagando pela rua deserta iluminada apenas por postes intermitentes.
— Mas é aquilo. Você é jovem. Tá indo pra balada. Esse trabalho é melhor de tarde e noite. Onde mais pessoas saem, vão ao shopping e tal. Acredito que pode ir sim nessas coisas, tirar um dia. Mas saiba que estaria deixando de trabalhar nos melhores dias.
Gabriel ficou um pouco mais pensativo, olhar mais baixo.
— Ah... vou ver isso daí... — Seu rosto se ergueu na direção do homem. — Tá nisso faz tempo?
O carro chegou a um semáforo fechado.
Não havia muito movimento de veículos nas ruas. Mas leis eram leis, e uma multa era um pesadelo para qualquer motorista existente. Parou no semáforo, o motorista ainda com as mãos no volante, quando virou um pouco o rosto para responder ao menino...
Nesse instante, Vruummm! o som de uma moto quebrou a calmaria da conversa e do climinha frio da noite... A moto, com dois jovens adultos, usando capacete para esconder seus rostos, parou de repente na porta do velhinho, e o garupa anunciou o assalto, apontando uma 9mm com a numeração raspada na cabeça do homem:
— DESLIGA O CARRO! — gritou, embora a voz tenha saído um pouco afobada.
O motorista ficou aterrorizado, em choque, e não obedeceu de imediato.
Após o congelamento do seu sistema inteiro, sua mão direita se movia quase que por vontade própria, indo até a chave do carro. Mas o movimento foi suspeito, e o garupa acreditou que o velho estava armado.
Sem pena... apenas... disparou.
Tink-pakt... Pracsh!
A pistola bateu contra a porta do carro, colidindo contra o chão, assim como a moto sem estabilidade... Os dois desapareceram e Gabriel e o motorista continuaram em choque, olhando aquilo.
O velhinho colocou o rosto para fora da janela, vendo que as coisas estavam no chão... Piscou duas vezes, incrédulo, e, com medo... o sinal abriu e ele apenas continuou a corrida.
— O-o que aconteceu...? — gaguejou Gabriel.
— ...Não sei. Não sei o que foi isso — respondeu o velhinho, esquecendo-se completamente da conversa que estavam tendo e focando toda a sua atenção em motos que poderiam surgir nas ruas.
As janelas foram fechadas, e o ar-condicionado foi ligado.
Gabriel não reclamou, apenas entendeu e aceitou que era mais seguro assim.
— Quê?
Os dois assaltantes surgiram na floresta.
Diferentemente da mãe que vendia a filha, com o homem que comprou o uso, os dois surgiram juntos, um do lado do outro. Quando um escutou o que o outro murmurou, surpreso, se virou e viu seu amigo.
Nem mesmo tiraram seus capacetes.
Ambos usavam bermudas longas, um com estampa de xadrez e o outro com um palhaço — um bem diferente da tatuagem gigante que tinha no braço. Ambos de pele parda. O com tatuagem de palhaço usava uma blusa com uma manga bem larga.
Já o outro usava um corta-vento de marca, algo que no jogo... não o ajudaria.
A blusa comprida era refletiva, e a pouca luz que recebia o fazia brilhar como um vagalume. Seu amigo olhou para ele e começou a rir.
— Que lombra, viado... Cê botou o que na bebida, carai? — perguntou, rindo, olhando seu parceiro brilhando. — Encantou o peitoral? — Pahft! Caiu no chão rindo.
— Tá rindo do quê, desgraça? Onde nóis tá? — Olhou ao redor... vendo Nino olhando para eles fixamente. O escuro sendo nada perto do horror e da escuridão que ele mesmo era.
Os olhos roxos brilhando no breu como faróis do inferno.
— Falei pra não usar nada, buceta. Cadê a pistola? O Cacique vai ficar bolado.
— Levanta, viado — o de xadrez insistiu, seu tom carregado de tensão, olhando para o Primordial parado.
— Levanta o quê, ô cacete? Acha essa merda logo.
— Levanta, porra! — rosnou, agora claramente apavorado.
O jovem se ergueu, olhando para o amigo.
— Que que foi, árvore de Natal? Tssisisi... Estrela cadente, alma penada.
— Para de brincar, porra! — Olhou irritado para o amigo, mas ambos só viam o capacete do outro. A escuridão não os permitia ver pelo visor. — Olha aquilo! — Apontou o indicador na direção de Nino, e o amigo olhou.
— ...
— Tá vendo aquilo?! — insistiu, a voz quase um guincho de medo.
— Carai, viado... Criança feia da porrahahaha! — Começou a gargalhar, e o amigo, embora receoso, não aguentou e começou a rir também.
Fu!
Shhkkhkhkhkkh!
A sensação de um sopro em seus corpos foi sentida com força.
Suas localizações foram alteradas... Nino os separou, e, no mesmo momento, desintegrou em cortes ambos os capacetes.
Os dois, chapados, abriram os olhos após o intervalo imperceptível a olhos fracos — ou, no caso, humanos.
Assim que o fizeram, se viram ajoelhados, com o menino despejando algo em suas gargantas, descendo como fogo, rasgando suas entranhas e dominando cada centímetro do ser que um dia foram.
Engasgos. Asfixia. Terror... Sentiam a dor da pena de morte.
Nino nem dizia nada.
"Dois retardados..." mas pensou, julgando-os pelo que foi mostrado na primeira impressão.
Os dois clones os soltaram ao mesmo tempo, olhando-os apoiarem as mãos no solo, tentando respirar, tentando entender o que era aquilo correndo por suas veias. Juntos... sentiram o detalhe principal do jogo ser feito...
Scrrrrechh!
O número 1 rasgou a testa do pisca-pisca, e o número 2, rasgou a testa do piadista.
— Vamos jogar um jogo bem legal... Já consigo ouvir a música, o choro... — O sorriso de Nino aumentava ao decorrer do prazer que sentia enquanto falava. — As desculpas, o medo... Seus gritos de desespero. Me entretenham. Sejam úteis para algo nessas suas vidas fúteis e insignificantes. Seres inúteis, seres de merda.
Seus olhos mostravam o êxtase — queria mais, o ânimo do que vinha a partir dali.
O olhar de Rag se revelou sobre sua marca, e, mais uma vez, se mostrava orgulhoso, percebendo que o filho do seu melhor amigo ainda seguia o caminho que o pai trilhou por séculos.
"Criança lokona, mane!" pensou 2.
"Porra é essa?!" pensou 1, ambos vendo o clone que lhe fazia companhia se virar de costas... dando breves passos para trás.
As folhas se agitavam... o ambiente ficava mais frio.
O jogo precisava de regras... e as regras viriam para todos... em poucos instantes. ]
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