Volume 1 – Arco 2
Capítulo 87: Ponto de Ônibus
[ — Tá bom, mãe... tô chegando em casa...
Com a cabeça apoiada no vidro da janela do ônibus, uma mulher voltava exausta para casa após um longo plantão no hospital. Enfermeira há dois anos, seu suor era prazeroso diante da profissão que sempre sonhou em servir.
Vestia uma calça jeans levemente azulada, com uma blusa branca coberta por uma jaqueta vermelha levemente escura. Sua pele clara, suas sardas nas bochechas brincando com seu tom ruivo de cabelo. Seus olhos verdes se perdiam no sono, olheiras visíveis se revelavam atrás dos óculos de grau rosa.
Respondia à sua mãe, mas com um tom arrastado e quase se entregando ao sono, procurando pela janela o próximo ponto, o ponto onde desceria para seguir até sua casa.
Em seu colo, segurava com sua mão esquerda uma bolsa vermelha, com tom quase idêntico ao da jaqueta. Suas unhas com falhas no esmalte vermelho destacavam seu esforço, além do uso frequente de luvas.
O ônibus estava um pouco cheio, embora alguns homens preferissem permanecer em pé do que se sentar ao lado da bela moça. Algo que a deixava mais tranquila, sem risco de ser atazanada com perguntas e cantadas irritantes, ainda mais em um momento em que só desejava descansar e ter paz.
— Fiz costelinha na panela de pressão, tá bom? — A voz carinhosa e acolhedora de sua mãe a fez sorrir discretamente, aliviando parte do cansaço que sentia.
— Tá bom, mãe... Já já tô aí. — Seu tom continuava lento e arrastado, tentando manter-se desperta.
— Ah, e fiz bolo de laranja com cobertura de chocolate também... o que você mais gosta...
— Sisisi... — deu uma risada fraca, cheia de ternura pela preocupação da mãe. — Tá bom, mãe... Te amo... Pode tirar o cadeado do portão, em poucos minutinhos eu chego aí.
— Tá, tchau, Thaís.
A ligação encerrou, e Thaís abaixou o celular junto com o rosto, o colocando em seu bolso frontal direito com uma leve dificuldade, fazendo-a se virar um pouco para encaixá-lo no bolso apertado.
Entretanto, ainda morta de cansaço, se apoiou no assento com a cabeça na mesma posição de antes.
Os postes passavam e passavam, iluminando pontos da rua. A luz amarelada dava destaque às suas sardas com intervalos quase perfeitos. Seus olhos apenas acompanhavam os movimentos, e faltava bem pouquinho para o ponto onde desceria... mas... seu cansaço e o conforto da posição perfeita encontrada a fizeram... dormir.
— Ahrf!
Com um sobressalto assustada, abriu os olhos abruptamente, percebendo o ônibus parado em um ponto, e nem se ligou que o mesmo havia sido bastante esvaziado. Sem pensar em mais nada, segurou sua bolsa, se levantou correndo e desceu as escadas com movimentos automáticos, desesperados, seguindo pela rua... que parecia muito a rua da sua casa.
Em frente ao ponto de ônibus, do outro lado da rua, havia uma pizzaria com alguns clientes... mas, mesmo assim, não foi o suficiente para impedir um evento estranho de acontecer.
Passando por algumas mesas da calçada, um homem alto, com uma tatuagem tribal bem grande no braço direito, segurava uma moça, 20 centímetros mais baixa, de maneira agressiva, puxando-a para fora do estabelecimento.
O homem usava uma redinha branca na cabeça, junto de um avental preto... a moça também.
— Tá doendo, para! — exclamou ela, tentando se desvencilhar, mas o homem não respondeu e nem se importou se alguém via aquilo.
Só a arrastou até o portão da casa ao lado, Scktszt! onde o abriu com sua chave, afobadamente, balançando o chaveiro igual um doente, e entrou, BRANK! batendo-o com raiva.
Thaís presenciou aquilo com um semblante estranho... um arrepio desconfortável em sua pele.
"Que isso...? Como alguém aceita um relacionamento assim?" pensou, angustiada.
Virou-se novamente, caminhando com uma mão na bolsa, sempre a segurando firmemente... mas... não notou um detalhe...
Não havia uma pizzaria na sua rua... e nem mesmo no seu bairro.
Com os olhos pesados, continuou seguindo o caminho que "sempre" seguia.
Brr...
Quando um vibrar em seu bolso atraiu sua atenção.
Enquanto entrava com a mão para puxá-lo, o muro da casa à direita acabou, revelando um lote vago, usado para deixar tijolos, areia e brita, para a construção futura da casa no lote em questão... mas, naquele momento, havia uma pessoa naquele lugar.
Um morador de rua... que, quando viu o corpo da bela moça sendo iluminado pelo poste que a mesma passava por baixo, não resistiu aos instintos carnais, deixando sua humanidade no lixo para fazer algo pior que muitos animais.
Ergueu-se tentando não fazer barulho, com uma motivação certa presente no leve brilho dos seus olhos doentes. Os tremores em seu corpo magro e enfraquecido não eram apenas pelo frio ou pela abstinência das drogas que consumia frequentemente com o dinheiro que conseguia roubando ou pedindo em semáforos pela cidade.
Já nem humano era mais: um escravo da sua mente, das suas vontades, dos seus vícios...
Thaís puxou o celular, olhando a notificação... era sua mãe, e sua mensagem dizia:
"Filha, cadê você? Já faz 30 minutos desde que eu te liguei."
Os olhos da menina se arregalaram, percebendo que havia dormido e perdido o ponto.
"O-onde eu tô?!" seu pensamento explodiu internamente, o coração acelerando enquanto encarava a mensagem em choque. Em um movimento aflito, girou o corpo para retornar ao ponto e pedir ajuda na pizzaria — o único estabelecimento aberto que vira por ali...
Mas, quando se virou, notou o homem se aproximando sorrateiramente com os olhos vidrados, semblante frio e perturbador, praticamente babando. A moça entrou em choque, que logo virou pânico, e sua reação de correr foi mais forte. Logo se virou, correndo pela sua vida, enquanto...
— AAAAAH!
Gritava para chamar atenção... para que alguém lhe salvasse... para que um homem de verdade lhe protegesse de um predador nojento.
O desespero da sua corrida, o choro que surgia se arrastando pelo rosto, voando pelo movimento e o vento colidindo, balançando seus cabelos com fúria, no tempo em que os ecos dos passos do "homem" chegavam cada vez mais perto...
Seu medo se intensificava...
— SOCORRO!
Gritava a plenos pulmões, mas apenas o vazio da noite respondia.
As luzes apagadas das casas não se acendiam.
Ninguém aparecia no portão.
Ninguém.
Ninguém.
Se via sozinha.
E sozinha, se via vulnerável.
O perseguidor chegava cada vez mais perto, os sons selvagens, grotescos e famintos que saíam da boca daquilo a deixavam fraca, cada vez mais se sentindo sem saída. Cada vez mais... aceitando que não conseguiria escapar daquilo naquela noite.
— SOCORRO!
Seu último grito veio... ecoou e morreu no vazio escuro.
Não havia mais forças para correr.
A risada doentia com grunhidos chegava...
Mas ela estava exausta do trabalho...
O medo já dominava todo o seu corpo.
Suas canelas doíam com força, nunca havia tido que correr com tanta garra.
Cada passo ficando mais lento, mais dolorido de aguentar ao menos permanecer em pé...
E foi aí que o choro silencioso escorria por todo o rosto, e não mais era levado pelo vento da sua corrida pela vida. Seu corpo parou, seus músculos rígidos em dor. A mulher apenas aceitou... e permaneceu de costas, chorando e cochichando...
— Por favor... por favor... por favor... Não faz isso...
Soluços profusos do terror em sua alma estampavam cada sílaba.
O medo do desconhecido... a sombra que via chegando e cobrindo a sua no chão... Seus olhos se fecharam, o pavor era demais para sequer tentar reagir agredindo o ser selvagem que a perseguia sem pena.
Seu corpo tremia, a dor nas canelas a impedia de seguir... mas... o toque não veio.
Seus olhos abriram...
Sua sombra era única no chão.
Seu corpo permanecia parado no mesmo ponto, sua mente a milhão, mas no chão... encontrou a "paz".
Virou-se de repente, sem se importar por um momento com toda a dor que sentia... e lá... não viu mais o ser que lhe perseguia.
— O-o quê?
Foi dar mais um passo...
Tap...
— A-ai-ai!
Mas a dor violenta se revelou, e a moça, com dificuldade, caminhou até o meio-fio, onde se sentou, tentando processar o que aconteceu, no tempo em que ligava por ajuda. Suas mãos trêmulas e fracas, quase derrubando o celular.
"Não... um motorista não!" Arregalou os olhos, o pavor ainda presente no brilho atrás das lentes do fofo óculos rosa.
Saiu do aplicativo em que entrou, sua respiração moldando os movimentos de todo o corpo exausto... Ligou para a polícia, e quando um homem atendeu... a deixou com medo, recuada no telefone, mas ela precisava daquilo, e mesmo receosa... seguiu a conversa:
— Polícia Militar, emergência!
— U-u... Um homem tá me perseguindo...
— "'Tá'? Deu tempo de ligar?" — O suspeito ainda está por aí, senhora?
— Nã-não sei... ele sumiu. Tô com muito medo...
— Informe o endereço. Enviarei uma viatura agora mesmo!
— E-eu não sei... desci no ponto de ônibus errado, mas posso olhar no celular — respondeu, a voz tremendo violentamente.
— Respire fundo e tente fazer isso, mas permaneça na linha, por favor...
— Ok... Mmm-moço...?
— Diga.
— Pode mandar uma viatura com uma mulher...?
O atendente se assustou com o pedido, compreendendo o desespero e o trauma evidente na voz de Thaís.
— Claro. Não se preocupe, enviarei nossas oficiais para lhe socorrer.
— O-obrigada...
No tempo em que o alívio crescia, mesmo que lentamente, dentro do coraçãozinho de Thaís, tentando dizer com calma e precisão o lugar em que se encontrava... o desespero de estar perante um ser extremamente sádico e perverso.
O medo que o brilho roxo, intenso e maligno, diante de si lhe trazia... era mais... era muito mais que a natureza gloriosa, a herança formidável que aquele ser possuía.
O Imperador da Linhagem Preta lhe olhava, e com aquele olhar que não escondia nada... o humano teve um pico de sanidade, um pico de...
"Se eu me mover... ele me mata..."
Paralisado de medo... sentindo um pouco do que causou em Thaís, o homem se viu de joelhos no chão, de repente. Sua calça rasgada nos joelhos, os mesmos sentindo o frio da terra com mato. Seu corpo e roupa sujos, seus dentes brigados com a higiene.
Seus cabelos com mais areia que a praia.
Aquilo que um dia foi um humano se via diante de sua morte, lhe segurando pelo pescoço, forçando sua boca... forçando com uma raiva calculada para não o matar apenas o apertando, com ódio do nível de abominação que aquele ser havia alcançado.
Nino penetrava com o seu sangue pela garganta do homem, tomando controle de cada nervo, cada tecido, cada glóbulo... tomando controle de todo o corpo do inseto, enquanto o número 6 se gravava na testa do sujeito... escutando uma frase suavemente aterrorizante, passando pelos lábios do jovem demônio:
— Torça... Torça para que alguém lhe mate de uma única vez... Porque, se você sobreviver, perdendo uma ú-ni-ca... rodada que seja... o que você pensava em fazer com aquela humana será exatamente o que vai implorar para ser sua sentença de morte... Vai gritar mais forte do que a fez gritar... e adivinha? Vou rir mais alto do que você jamais riu.
Em uma posição submissa, sendo segurado pelo pescoço como uma vadia, pelo ser que tinha sua vida na palma das mãos... O humano se via sem saída... assim como Thaís se via... mas, diferente dela... de fato... para ele... não havia... mais saída. ]
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