Volume 1 – Arco 2
Capítulo 83: Dinheiro é Dinheiro
Um sorriso malicioso se estendia, cada vez mais, no rosto do menino.
O tesão, o prazer do terror, do sofrimento... da ideia que fervilhava em sua mente. Seu alvo não havia ido tão longe depois do crime. Saíra de Jardim Antartica e se enfiara pelo mato até Vila Santos, onde agora se escondia, aninhado entre o mato e a carcaça de um viaduto inacabado.
Os olhos de Nino brilhavam.
Cada dia frustrado, cada sede de sangue não saciada agora clamava em uníssono dentro dele: "Torture. Elimine. Massacre esses insetos." Mas Nino queria algo mais... Um pequeno jogo. Uma brincadeira macabra. E, para isso, precisava de mais peças...
— Encontre... mais nove!
Uma mulher de pele branca terminava de ajeitar os longos cabelos loiros da filha. A menina, pequena, frágil, de olhos verdes e grandes, abraçava com força um ursinho marrom de olhos de botão escuro. Um abraço silencioso, desesperado... encolhida de medo.
Seu vestidinho branco de cetim, as meias-calças, a tiara falsa cravejada de "cristais" e as sapatilhas delicadas nos pés não eram sinônimos de alegria. Foi vestida de princesinha. Aquele quarto inteiro, montado como um conto de fadas, não passava de uma cenografia cruel.
A penteadeira enfeitada, a cama dossel farta em travesseiros, as estantes abarrotadas de brinquedos de princesa — tudo parecia ter sido projetado para o sonho... o sonho de qualquer menina pequena.
Embora o visual lembrasse uma fantasia de aniversário, não era nem perto o que seria comemorado... e o semblante da criança deixava bem claro. A mãe continuava a arrumando, sem dizer absolutamente nada.
A menina, acuada, não fazia nada além de segurar seu ursinho.
Prriiii!
A campainha tocou... e a mulher sorriu... um sorriso plástico, gelado.
Se ergueu em silêncio, ajustou o vestido longo e caminhou até a porta, deixando a criança à mercê da escuridão.
Fechou a porta, e o escuro tomou conta do ambiente como sempre lhe pertenceu.
O quarto era bem nos fundos.
A pouca luz que entrava era por uma fresta deixada da janela bloqueada, que mal iluminava fios da poeira no ar. Nem mesmo entrava luz no quarto por baixo da porta, e a menina... tinha mais um pequeno detalhe em seu corpo.
Em seu tornozelo... uma corrente presa, fria e grosseira, com o limite de distância sendo menor até de chegar no interruptor. Com medo do escuro mais uma vez, abaixou o rosto no abraço com o ursinho. Sabia o que vinha, sabia que doeria, mas não tinha nenhuma esperança de vida.
— So...corro... — sussurrou, quase sem voz.
Tap, tap, tap...
No corredor, o som dos saltos altos ecoava.
A mulher caminhava até a entrada da casa.
Quando abriu o portão, um homem entrou apressado, os olhos arregalados.
Seguiu direto para dentro da casa, seus olhos varreram cada lado. A mãe fechou a porta e foi ao seu lado.
— Cadê a menina? — perguntou de forma afobada, sua respiração acelerada.
Seu rosto cansado, seus dentes amarelos, seu bafo pobre mostravam o anseio que esperou por aquilo. Sua roupa tinha manchas de cimento seco, seus braços sujos.
O dinheiro que juntou trabalhando por dias não era nada em comparação ao que tanto queria. Não ligava se tinha esposa... e filha. Pegou a própria roupa de um dos aniversários de sua menina, para abusar da criança que foi atrás pensando na própria filha.
Não ligava se teria que arrumar dinheiro e trabalhar feito um escravo para conseguir trazer sustento para sua casa. Seu desejo carnal, seu desejo sexual pela menina que tinha dentro de sua própria casa era imenso, e cada vez que sua filha crescia mais, seus olhares nojentos ficavam mais notórios.
— No quarto, esperando por você — respondeu a "mãe", numa pose sedutora.
Um braço passando em frente à barriga, para dar apoio ao outro, com a mão próxima da boca. Loira de olhos verdes, sua filha era quase um espelho perfeito.
Usava um vestido longo, branco e impecável...
— Tá com a roupa que eu mandei? — A voz do homem tremia, tomado pela abstinência nojenta do que estava prestes a cometer.
— Sim... Exatamente como você pediu. Está uma gracinha, sentada na cama.
O homem deu um passo à frente, mas a mulher estendeu o braço, bloqueando-o com calma.
— O pagamento vem antes.
— V-v-você não pode me fazer mais barato? 400 é muita coisa...
— Não é assim que funciona, meu querido. Ou paga, ou vaza.
— E-e... Eu deixo o vestido pra vocês se me fizer por 300!
"Interessante... Sempre pedem roupas mais fofas mesmo..." pensou a mulher, disfarçando o interesse. — Fechado.
Estendeu a mão displicentemente.
O homem remexeu o bolso, tremendo de ansiedade, e enfiou nela um maço de notas sujas e amassadas. A mulher aceitou com um sorriso que parecia esculpido em cera, escondendo o desprezo.
"Arrff... Dinheiro é dinheiro..." Puxou o decote para baixo, deixando-o ver mais da sua pele e sutiã. Logo enfiou as notas atrás da renda, sendo amassadas pelos seios e seguiu pelo corredor, chamando-o de forma maliciosa, de costas, apenas com um dedo. — Me siga...
O homem a seguiu, babando igual a um animal selvagem ao ver o tecido justo do vestido marcando cada curva enquanto ela caminhava... mas não fez nada. As luzes mortas do corredor davam um tom de cena de horror.
Seguiram até uma escada que descia, levando a um porão escondido sob montes de tralha.
A mulher acendeu a luz do porão, que fez a menina começar a tremer de medo, vendo quatro sombras de pernas atrás da porta. Logo... a porta foi aberta, e um novo "homem" entrou na sua prisão, indo lentamente, olhando-a com uma fixação doentia, um sorriso estranho... deixando-a cada vez mais apavorada.
O "homem" estendeu a mão, indo até a criança que fechou os olhos em choque mais uma vez...
Mas... a menina os abriu depois de segundos de espera, notando não ter recebido nenhum toque... e o que viu... foi Nino, no canto, próximo da porta, olhando-a diretamente, com a marca preta brilhando e pulsando mais que o escuro, os olhos roxos, iluminados e cegando sua alma.
Fu!
Foi um sopro.
Humanos normais.
Humanos sem magia.
A percepção de movimento, velocidade, era ínfima diante da velocidade dos gêmeos.
Nino arrancou a mulher e o homem de lá, e largou-os na floresta onde seu jogo aconteceria... Enquanto outros Ninos traziam o restante dos jogadores.
Nenhum dos dois sentiu nada, só foram levados, sem mais nem menos.
Em dois pontos diferentes da floresta, no grande quadrado que Nino demarcou para o funcionamento do jogo, os dois se depararam com a mudança de cenário. A mulher arregalou os olhos sem entender, e ao seu lado, um dos dez Ninos a olhava com um olhar aterrorizante, sem dizer absolutamente nada.
— U-u-u... O-o que é-é você!
Nino sumiu da posição, ressurgindo diante dela, que se encontrou, de repente, ajoelhada.
— Sou... a morte.
Segurou-a com muita força pelo pescoço, sua mão direita quase quebrando o mesmo. Com a esquerda, forçou a boca da mulher a abrir...
Trlek!
Fazendo-a deslocar a mandíbula.
— Rrrgrggr!
A mulher apenas pôde gemer de dor, olhos arregalados, enquanto Nino despejava seu sangue preto...
— Glub-Gurp!
...em sua boca, forçando-a a engolir.
O sangue reagiu instantaneamente, travando cada veia, cada nervo, cada órgão... cada centímetro do corpo da mãe... E agora... pronta para o jogo... Scrrrrechh! o sangue rasgou a testa, cravando o número 9, deixando-o brilhante em preto e roxo, enquanto a mãe chorava de dor, olhando o Primordial sorrindo para ela.
No tempo que sua entrada era oficializada, o homem que se encontrava junto anteriormente via outro Nino, caminhando calmamente até ele. Olhando-o da mesma forma que para com a mulher e todos os outros participantes sendo oficializados naquele momento por outros clones.
— Inseto.
Fu!
Nino surgiu diante dele, que, da mesma forma que a mulher, do nada surgiu ajoelhado, com o pavor nos olhos, olhando o Primordial.
— Agrsghh-Glub-Grup!
Nino o forçou a engolir o seu sangue e, em poucos instantes... Scrrrrechh! o número 8 surgiu na testa do novo participante.
[ Instantes antes.
Em um bar, vários homens enchiam a cara de bebida, gritavam e zoavam enquanto jogavam uma partida de truco apostado. Dentre todos, alegres e rindo eufóricos ao efeito do álcool, um homem não se encontrava feliz.
Já havia perdido muitas partidas seguidas, dinheiro e mais dinheiro que ia e ia embora... mas não parava. Continuava e continuava, apostando e apostando, perdendo e ouvindo risadas...
Risadas que cortavam seu orgulho como navalhas recém-retiradas da caixa.
As cervejas não parava de chegar.
A mesa de plástico, repleta de garrafas dentro de isopor para facilitar o manuseio de algo tão gelado, tampava um pouco a visão. Pratos de petiscos — mandioca frita, bolinhos de carne seca — enfeitavam os lados dos vencedores, que debochavam sem piedade do homem que só perdia.
— Cê quê? Cê quê? HAHAHA! — um deles gargalhava, sacudindo um bolinho no ar como se apontasse uma arma para o homem, enquanto gargalhava com todos no bar se divertindo com aquilo.
Mas o perdedor continuava ali, firme, amargando cada humilhação, pagando as bebidas, bancando tudo com as suas derrotas, e em um momento... percebeu o homem roubando na cara dura.
Na vez do zombador embaralhar, tentou ser discreto, mas puxou uma carta específica e marcada, deixando-a por baixo, no tempo em que conversava e olhava para os outros ao redor.
O perdedor arregalou os olhos. A bebida fazia efeito, estava bêbado.
O zombador passou o baralho, o homem à esquerda cortou de forma normal. Uma gaveta resolveria, mas o perdedor não passou o sinal. Seus olhos turvos tentaram focar, observando o homem distribuindo as cartas, mandando três para cada sentado à mesa.
Mas quando chegou na última de si mesmo, puxou a de baixo, e neste momento, o perdedor explodiu:
— Tento!
Todos pararam de rir quando o homem se ergueu... recebendo a atenção e olhares de todos.
— Eu vi você roubando! Mostra as cartas!
O zombador apenas sorriu, o sorriso de quem tinha a certeza da vitória.
— ...Tem certeza que me viu roubando? — disse, zombeteiro, virando-se teatralmente para os demais.
— Tenho! — berrou.
— Tá 11 a 3, se eu não roubei, ganho um tento e é jogo nosso... Tcsisisi... Tem certeza que eu roubei? — perguntou, zombando da cara do perdedor.
— Tenho! — gritou ele, quase caindo de bêbado em pé.
Todos o olhavam, mas olhando o perdedor — olhos vermelhos de álcool, sujo de graxa, depois de sair da oficina em que trabalhava e ir direto para lá... — riram dele, vendo o estado deplorável em que já se encontrava.
— Então tá bom...
O homem mostrou suas cartas... Um 4 Coração, 6 Espada e um J Espada... Sendo que a manilha era um J... O homem não havia roubado, e o seu sorriso no rosto ao...
Pah!
— AHAHAHA!
...bater na mesa gargalhando com a sua dupla e os outros... era nojento de tanto bafo.
— 50 pra mim! 50 pro cê! HAHAHA! — exclamou o vencedor, pegando as notas no meio da mesa e dividindo com o amigo.
— HAHAHA! — o bar explodiu em gargalhadas, o ar cheirando a álcool e humilhação.
Nesse momento, um senhorzinho, dono do bar, foi até lá, tentar tirar o perdedor daquele lugar.
— Manuel, vem. Já gastou demais. Vai embora dormir, pô — disse ele, tentando arrastar o homem de lá. Mas Manuel ficou irado com aquilo, e mesmo sendo puxado, seu rosto continuava virado para os homens rindo com o cara que lhe arrancou mais de 400 reais em uma noite.
— Não! Não!
— Cara, cê não tá bem, amanhã cê volt...
— Me solta!
Puxou o braço, se desvencilhando do senhorzinho, que viu o homem voltar na direção da mesa, muito irritado.
— Devolve o meu dinheiro! — gritou ele, olhando o zombador, ainda rindo, segurando uma dose de cachaça.
— Seu dinheiro? Apostou, eu venci, é meu... — disse com um tom zombeteiro, olhando para os lados quase que comicamente. — HAHAHA!
— HAHAHA!
— HAHAHA!
Seguido por uma gargalhada, erguendo o rosto para trás, junto com todos em volta.
Manuel se enfureceu, e sem pensar, puxou um .38 da cintura, apontando para o homem.
Todos se assustaram e começaram a correr.
O bar virou um pandemônio.
Cadeiras voaram, homens se jogaram no chão, garrafas tombaram.
O zombador, ainda sentado, ergueu as mãos, pálido:
— POR FAVOR!
Seu grito veio... mas Manuel puxou seu dedo...
Tink-pakt...
A arma caiu...
Manuel sumiu...
O bar inteiro congelou.
Ninguém entendeu o que aconteceu.
E, na floresta, o bêbado surgiu com o braço esticado para frente, confuso quando notou a escuridão e o ambiente em que se encontrava.
— Ham?
Na direção da sua mão... Nino o olhava, suas íris cintilando no breu, e, sem perder muito tempo...
Bam!
— Blearggh!
Deu um soco na barriga do novo participante, fazendo-o cair de quatro, vomitando até as tripas, cada molécula de bebida, para participar do massacre... sóbrio.
— Argg-blearr... Harrff-Harr...
Nino não esperou o homem se recompor, segurou-o pelo pescoço, arreganhou a boca e despejou seu sangue.
— Glo-cof-Gurp-glu-cof!
Fazendo-o engasgar, mas ingerir à força.
Scrrrrechh!
Sua testa se abriu, e o número 5 se revelou.
Manuel olhava o menino.
Seus olhos tinham medo, seu corpo sentia o frio do sangue que lhe tornava um fantoche, pronto para ser triturado no instante em que Nino bem entendesse. ]
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